*92% dos alemães orientais preferem o comunismo no país *
Para marcar a data da queda do Muro de Berlim, o *Der Spiegel* fez uma
pesquisa, divulgada neste sábado (10), com mil alemães que cresceram nos
dois lados do país dividido até 9 de novembro de 1989. A conclusão, para
desespero do semanário alemão, é que, mesmo depois de 18 anos da queda do
muro, 92% dos germânicos orientais, de 35 a 50 anos, ainda preferem o regime
comunista ao capitalista. Já 60% dos jovens, de 14 a 24 anos que moram no
Leste, lamentam que nada tenha restado do comunismo na sua pátria.
Por Carla Santos
Junto com a TNS Forschung, o *Spiegel* fez a pesquisa com duas gerações
distintas de alemães orientais e ocidentais com o objetivo de obter um
retrato dos resultados da unificação na psique nacional. A conclusão é que o
muro ideológico ainda permanece nas mentes alemãs, quase duas décadas após a
reunificação.
Foram entrevistadas 500 jovens na faixa etária de 14 a 24 anos e seus 500
pais na faixa de 35 a 50 anos. A primeira, tinha no máximo seis anos quando
o muro caiu e, evidentemente, possui uma experiência temporal menor do
período em que o país estava dividido pela Guerra Fria.
Já a segunda geração tinha pelo menos 17 anos, e no máximo 32, quando
ocorreu a debacle do muro. O método da pesquisa constatou que praticamente
não há diferenças entre as gerações mais jovens e mais velhas na sua forma
de pensar a reunificação.
*Socialismo, uma boa idéia*
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As maiores diferenças na pesquisa aparecem quando os entrevistados orientais
e ocidentais compartilham suas opiniões sobre a vida na antiga Alemanha
Oriental. O Estado comunista recebe notas muito mais altas dos que moram no
Leste com relação aos que moram no Oeste.
Dos alemães orientais de 35 a 50 anos, 92% acreditam que um dos maiores
atributos da antiga Alemanha Oriental foi sua rede de segurança social; 47%
dos jovens no Leste também pensam assim. No item ''padrão de vida'', os
jovens do Leste avaliam a Alemanha comunista de maneira ainda mais positiva
que seus país.
Por outro lado, apenas 26% dos jovens ocidentais e 48% dos seus pais
expressaram a opinião que a Alemanha Oriental tinha um sistema mais forte de
bem estar social comparado com o de hoje.
Os alemães orientais também estão menos satisfeitos e menos otimistas com
sua situação do que os que vivem nos Estados que compunham a antiga Alemanha
Ocidental. Eles estão muito menos convencidos das virtudes do capitalismo do
que seus colegas ocidentais. Muitos acreditam que o socialismo é uma boa
idéia que simplesmente não foi bem implementada no passado.
Contudo, apesar da nostalgia pela Alemanha Oriental, a maior parte dos
alemães orientais diz que preferiria morar no Oeste, caso um novo Muro de
Berlim fosse construído hoje. O que não é de todo contraditório, já que
durante a Guerra Fria, com o apoio de todo tipo dos EUA ao Oeste, e também
todo tipo de boicote ao Leste, a Alemanha Ocidental oferecia muito mais
riqueza, ainda que com alguma desigualdade, do que a Oriental.
*Identidades diferentes*
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Os dados da pesquisa revelam que as diferenças ideológicas se refletem na
identidade de cada grupo, já que 67% dos jovens alemães, e 82% de seus pais,
orientais e ocidentais não sentem que possuem as mesmas identidades.
Quanto tempo, entretanto, levará para a Alemanha se unificar
ideologicamente? Para 25% dos jovens alemães ocidentais, e só 5% dos
orientais, ''não levará mais do que cinco outros anos''. Apenas 12% e 4%,
respectivamente, de pais concordaram com os filhos.
Muitos jovens alemães orientais vêem a Alemanha de hoje como um lugar onde
seus pais têm dificuldades para encontrar um caminho. Apesar da geração mais
nova praticamente não ter vivenciado a vida sob o socialismo, o compartilhar
das lembranças, opiniões e histórias de seus pais naturalmente os
influênciam.
*Jovens pensam como seus pais*
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Esta talvez seja a explicação - que os comentários do *Spieguel* tentam
manipular a favor do Oeste - para que os jovens alemães do Leste vejam a
antiga Alemanha Oriental sob uma luz mais otimista do que seus compatriotas
no Oeste, e vice-versa.
''É uma opinião [as dos jovens da Alemanha Oriental] de lentes cor-de-rosa,
que vê uma Alemanha Oriental com emprego para todos, creches para todas as
crianças e um sistema de bem estar social que acompanhava o cidadão do berço
ao túmulo. É claro, essa geração não foi exposta aos aspectos negativos da
vida sob o domínio comunista - como filas de comida e repressão da
polícia'', argumenta o *Spiguel*.
Porém, a pesquisa indica que o mesmo argumento de ''lentes cor-de-rosa' '
para desqualificar a opinião dos jovens do Leste, sobre a Alemanha
Oriental, também serve aos jovens do Oeste, com relação a Alemanha
Ocidental, com pelo menos um ponto de vantagem para os primeiros. Quem viveu
a Alemanha comunista agora está vivendo a capitalista, enquanto que o
inverso não foi possível.
*Tiro no pé*
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Como toda manipulação não se sustenta por muito tempo, o próprio *Spiguel* é
obrigado a admitir a realidade, um verdadeiro tiro no pé, no último
parágrafo da matéria que noticiou a pesquisa neste sábado.
''Ainda assim, os sentimentos positivos para certos aspectos da antiga
Alemanha Oriental continuam altos. Dos jovens alemães orientais
entrevistados, 60% disseram que achavam ruim que nada tivesse restado das
coisas que se podiam orgulhar da Alemanha Oriental''.
Os resultados da pesquisa fazem lembrar o seriado alemão que - devido ao
imenso sucesso no país - virou filme lançado em 2003, chamado *Adeus, Lênin!
*, do diretor alemão Wolfgang Becker.
*''Adeus, Lênin!''*
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No longa, Christiane Becker (Kathrin Sa), que mora na então Alemanha
comunista, é abandonada pelo marido, tendo que criar seus dois filhos,
Alexander (Daniel Brühl) e Ariane (Maria Simon), sozinha.
Uma vez recuperada do trauma da separação, Christiane torna-se uma cidadã
ativa e exemplar, transformando o país em um substituto de seu marido,
abraçando assim, o ideal comunista.
Mas ao ver Alexander participando de uma revolta anti-socialista, ela fica
gravemente doente e acaba entrando num longo coma que a faz dormir durante a
queda do Muro de Berlim e a adaptação ao capitalismo de sua Alemanha
Oriental.
Ela acorda do coma, mas frágil demais para se deparar com o choque das
mudanças do mundo ao seu redor. Comovido, Alexander precisa forjar a vitória
da ideologia do comunismo e sapatear para criar a ilusão na mãe de que nada
mudou.
** *Socialismo vivo*
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Quatro anos após o lançamento do filme, que teve como pano de fundo o dilema
da reunificação sob a égide capitalita com o fim da Guerra Fria, a pesquisa
reafirma que o ideal comunista não morrerá tão cedo nos corações dos alemães
que viveram as primeiras experiências mais duradouras do regime no mundo.
A manifestação com 50 mil pessoas pessoas em Moscou (Rússia), no último dia
7 de novembro, por ocasião das comemorações dos 90 anos da Revolução Russa,
é apenas mais uma fotagrafia do quanto por lá esse sentimento continua
extremamente vivo.
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