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sábado, dezembro 07, 2013
MANDELA; DO ANTICOMUNISMO À ADESÃO AO MARXISMO!!!
Legenda: Mandela com o dirigente do PCdoB, Vital Nolasco, em 1991
Em sua autobiografia, “Longo caminho para a liberdade”, Nelson Mandela conta de sua
oposição aos comunistas e ao Partido Comunista da África do Sul; de sua convivência e, depois,
amizade com militantes do PC e de como isso o levou a estudar os fundadores do socialismo
científico e à adesão aos seus ideais. Num momento em que se ergue uma unanimidade em
torno do seu nome, descaracterizando, muitas vezes, seu pensamento, vale verificar esse
depoimento desse que foi um dos grandes revolucionários surgidos no século passado.
Em 1947, aos 29 anos, Mandela era dirigente da Liga da Juventude, uma das organizações
que, com o Partido Comunista e outras, formava o Congresso Nacional Africano (CNA). Na
Conferência Nacional do CNA, ocorrida nesse ano, a Liga apresentou uma moção uma moção
exigindo a expulsão dos militantes do PC da organização. “Minha preocupação era que a
intenção dos comunistas fosse apossar-se de nosso movimento usando o disfarce da ação
conjunta. Eu achava que o que nos poderia libertar seria um nacionalismo africano não diluído
e não um marxismo e nem um multirracialismo. Com alguns colegas da liga, cheguei ao ponto
de interromper reuniões do Partido Comunista invadindo o palco, arrancando cartazes e me
apossando do microfone,” relata.
Em 1950, opôs-se à realização de um dia de greve, no 1º de Maio, o Dia da Liberdade,
aprovado pela Convenção de Defesa da Liberdade de Expressão, porque a proposta partiu
do PC e ele achou “que os comunistas estavam tentando tirar a força do Dia Nacional de
Protesto do CNA”. Desta vez, Mandela teve êxito e a greve aconteceu sem o apoio do CNA.
“Mais de dois terços dos trabalhadores africanos ficaram em casa durante a greve de um
dia”, lembra. Dezoito africanos foram mortos e muitos ficaram feridos num ataque realizado
pela polícia a manifestantes que apoiavam a greve. Poucas semanas depois, o governo
tornou ilegal o Partido Comunista. Mandela conta que ouviu de um dirigente do CNA “estas
palavras proféticas: ‘Hoje é o Partido Comunista. Amanhã serão os nossos sindicatos, o nosso
Congresso Indiano, o nosso Congresso Nacional Africano”.
Em resposta a esses acontecimentos, o CNA resolveu promover, em 26 de junho de 1950, um
Dia Nacional de Protesto, juntamente com o PC e outras organizações. “Naquele tempo eu
tinha mais certeza das coisas às quais eu me opunha do que das coisas que apoiava. Minha
oposição ao comunismo vinha de muito tempo, mas estava se desfazendo”. Moses Kotane,
secretário-geral do PC, perguntou-lhe: “O que você tem contra nós, Nelson? Nós todos
estamos lutando contra o mesmo inimigo. Não estamos querendo dominar o CNA; estamos
trabalhando no contexto do nacionalismo africano”. Relacionando-se com vários comunistas,
“e por observar seus sacrifícios, achava cada vez mais difícil justificar meu preconceito contra o
Partido”.
Mandela resolveu conhecer melhor o marxismo, pois, nas discussões políticas com os amigos
“via-me sempre prejudicado por minha ignorância da filosofia marxista”. Comprou as obras
de Marx e Engels, Lênin, Stálin e Mao Zedong “e comecei a sondar a filosofia do materialismo
dialético e histórico. (...) Eu concordava com a frase básica de Marx, que tinha simplicidade e
a generosidade da Regra de Ouro: ‘De cada um conforme a capacidade; a cada um conforme a
necessidade’”.
Tudo mudou: “O materialismo dialético me ajudou a ver a situação de outra maneira que
não pelo prisma das relações entre negros e brancos, pois se quiséssemos que nossa luta
tivesse êxito, precisaríamos transcender as cores. Fui atraído para as bases científicas do
materialismo dialético, pois estou sempre inclinado a confiar no que posso verificar. (...) O
apelo do marxismo à ação revolucionária era música para os ouvidos de um combatente pela
liberdade. A ideia de que a história progride por meio de lutas e que as mudanças ocorrem
em saltos revolucionários também era muito sedutora. Em minha leitura das obras de Marx
encontrei uma grande quantidade de informações relacionadas ao tipo de problemas que um
político prático encontra”.
“Certa vez um amigo me perguntou como eu podia conciliar meus princípios de nacionalista
africano com uma crença no materialismo dialético. Para mim, não havia nenhuma
contradição. Eu era primeiro e acima de tudo um nacionalista africano em luta por nossa
emancipação de um governo minoritário e pelo direito de controlar nosso próprio destino.
No entanto, ao mesmo tempo a África do Sul e o continente africano faziam parte de um
mundo maior. Nossos problemas eram diferentes e especiais, mas não eram completamente
exclusivos e só podia ser válida uma filosofia que colocava esses problemas no contexto
internacional e histórico do mundo como um todo e do processo histórico”, escreve Mandela,
para concluir: “Verifiquei que os nacionalistas africanos e os comunistas africanos geralmente
tinham muito mais elementos os unido que os separando. Os cínicos sempre sugeriam que os
comunistas estavam nos usando. Mas quem poderá dizer que nós não estávamos usando os
comunistas?”.
Pouca gente lembra, mas Mandela é cidadão paulista. O título foi dado pelo então deputado
Vital Nolasco, do PCdoB, e ele foi à Assembleia Legislativa de São Paulo para recebê-lo, em 2
de agosto de 1991.
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