Vaticano contra a mulher
na Rio+20
Carlos Pompe*
A reação clerical teve uma atuação coordenada e
abrangente contra os direitos femininos durante a Conferência Rio+20, na semana
passada. O embaixador da Santa Sé na Organização das Nações Unidas (ONU),
Francis Chullikatt, e o representante oficial do Vaticano na Conferência, o
cardeal brasileiro dom Odilo Scherer, foram os intrépidos defensores do ideário
medieval a respeito do sexo feminino no encontro internacional.
Durante os trabalhos de elaboração do documento final da
Rio+20, coube a Chullikatt o triste papel de articular a retirada dos direitos de
sexualidade e reprodução das mulheres, que eram consagrados desde a quarta
Conferência Mundial para as Mulheres, realizada em Pequim em 1995. As modificações
foram feitas no parágrafo 16, e se referem à Declaração de Pequim e à
Plataforma de Ação, aprovada posteriormente no Cairo. Ambas estabelecem o
direito das mulheres sobre sua vida reprodutiva e lhes garantem acesso a
métodos de planejamento familiar.
Graça à ação nefasta
do Vaticano e de alguns chefes de estado que são religiosos, substituiu-se a
promoção de "direitos de sexualidade e reprodução" por "serviços
de saúde" da mulher. A redação final menciona apenas "saúde
reprodutiva", referindo-se ao direito de acesso a métodos de planejamento
familiar. O representante da Igreja Católica tentou retirar outras referências
à Declaração de Pequim, de 1995, sobre os direitos sexuais femininos, mas não
teve êxito.
Átila Roque,
diretor-executivo da Anistia Internacional do Brasil, considerou a atitude um
ataque aos direitos igualitários da mulher. "É uma questão que abrange a
participação das mulheres sobre todas as políticas que têm impacto sobre a vida
delas, como garantir sua autonomia sobre decisões que afetam o próprio
corpo".
O chanceler Antônio Patriota se declarou "particularmente
frustrado pela exclusão do termo, mas o papel do Brasil como anfitrião é buscar
o consenso". A presidenta Dilma Rousseff, por sua vez, disse que "é
preciso recuar de argumentos para permitir outros".
No dia 22, o representante da oligarquia clerical
brasileira, dom Odilo, usou a Conferência como palanque para despejar seus
preconceitos contra o direito ao aborto. A Igreja proíbe seus seguidores, a
quem chama de ovelhas, de usar qualquer tipo de anticoncepcional. O Vaticano
aceita apenas que o casal deixe de fazer sexo durante o período fértil da
mulher – se o marido permitir, é claro, pois a mulher, na ótica da Igreja
Católica, deve subserviência ao homem – é o que reza a carta de Pauto de Tarso
aos Coríntios 1, 11:4-16: “O homem não deve cobrir a
cabeça, visto que ele é imagem e glória de Deus; mas a mulher é glória do
homem. Pois o homem não se originou da mulher, mas a mulher do homem; além
disso, o homem não foi criado por causa da mulher, mas a mulher por causa do
homem. Por essa razão e por causa dos anjos, a mulher deve ter sobre a cabeça
um sinal de autoridade.” É esse o ideário defendido pelo papa Bento XVI e seus
representantes.
O milenar desprezo do alto comando católico pelas mulheres chega às
raias provocação. Em 2009, o jornal semioficial do Vaticano, o L'Osservatore
Romano, editado pela cúpula clerical, por ocasião do Dia Internacional da
Mulher, publicou um artigo, assinado por uma mulher, com o título "A máquina
de lavar e a liberação das mulheres – ponha detergente, feche a tampa e
relaxe". No texto, afrontava: “O
que no século XX fez mais para liberar as mulheres ocidentais? O debate é
acalorado. Alguns dizem que a pílula, alguns dizem que o direito ao aborto, e
alguns o direito a trabalhar fora de casa. Alguns, porém, ousam ir além: a
máquina de lavar."
Carlos Pompe, é jornalista, comunista, curioso do Mundo e das coisas e revolucionario editor do "Vermelho/DF"
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