terça-feira, junho 12, 2012

Neste "Dia dos Namorados", a história de amor de Karl Marx e Jenny!!!



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Marx enamorado

Por Carlos Pompe*

Karl Marx, o pensador alemão que, juntamente com Friedrich Engels, lançou as bases da teoria científica do socialismo, casou-se, aos 25 anos, com Jenny, uma conhecida desde os tempos de adolescente, com quem viveu até a morte da esposa, em 1881. Além de sua produção teórica, ele registrou também na escrita os seus sentimentos pela mulher com quem escolheu viver.

Em 1836, com 18 anos, Karl encheu três cadernos com poemas, que enviou, no Natal, para Jenny – o Livro dos cantos e o Livro do amor, este último dedicado à “minha querida, eternamente amada Jenny von Westphalen” – cujo nome inteiro era Johanna Bertha Julie Jenny von Westphalen. Os cadernos foram considerados por Franz Mehring, amigo e um dos primeiros biógrafos de Marx, "totalmente amorfos em todo o sentido do termo.

A técnica do verso é totalmente primitiva ... São nada além que sons românticos da harpa: o canto dos elfos, o canto dos gnomos, o canto das sereias, as canções às estrelas, o canto do tocador de sinos, o último canto do poeta, a donzela pálida, o ciclo das baladas de Albuino e Rosamunda". O britânico Isaiah Berlin, numa biografia de Marx escrita no início do século passado, considerou “maus versos” os dos cadernos. Já o venezuelano Ludovico Silva, autor de “O estilo literário de Marx”, considera esses poemas juvenis “comovedoramente ruins”.

O próprio autor considerou o conteúdo dos cadernos, posteriormente, “de acordo com minha atitude e todo o meu desenvolvimento anterior, puramente idealista. Meu céu e minha artese tornaram um Além tão distante como meu amor” (à época, Karl estudava em Bonn e Jenny vivia em Trier). “Todo o real começava a se dissolver e a perder seus contornos. Eu atacavao presente, o sentimento era expresso sem moderação ou forma, nada era natural, tudo era feito de lutar; eu acreditava numa oposição completa entre o que é e o que deveria ser, e reflexões retóricas ocupavam o lugar dos pensamentos poéticos, embora talvez houvesse também um certo ardor de emoção e desejo de exuberância. Estas são as características de todos os poemas dos três primeiros volumes que Jenny recebeu de mim”. Num desses poemas, registra que, impulsionado pelo seu sentimento por Jenny

“com desdém jogarei minha luva
bem na cara do mundo, e verei o colapso deste gigante pigmeu
cuja queda não sufocará meu ardor.
Então errarei divino e vitorioso
pelas ruínas do mundo
e, dando uma força ativa às minhas palavras,
me sentirei igual ao criador.”

Depois de casados, Marx enviou várias cartas a Jenny, quando estavam separados por ocasião de alguma viagem de um dos dois, reafirmando seus sentimentos pela esposa. Numa carta de 21 de junho de 1856, chama-a de “Amadinha do meu coração” e escreve: “Beijo-te dos pés à cabeça, caio de joelhos diante de ti” e ainda arremata dizendo que a ama “mais do que o mouro de Veneza” (Otelo, de Shakespeare) “jamais amou”.

Como alertou Marx nO 18 Brumário de Luís Bonaparte, é necessário diferenciar “o que um homem pensa e diz de si mesmo do que ele realmente é e faz”. Não por acaso, a um questionário das filhas, ele respondeu que seu lema favorito era De omnibus dubitandum (Dúvida de tudo). Derramamentos sentimentais de poemas e cartas à parte, em 1851 Karl engravidou a criada da família, Helene Demuth. Engels, em socorro ao amigo, assumiu a paternidade da criança, Frederic Demuth.

O filósofo e economista também faz referências ao amor em textos teóricos, às vezes de forma jocosa. Em A ideologia alemã, por exemplo, critica o filósofo Max Stirner, afirmando que a relação entre a filosofia que este produz e o estudo do mundo real é a mesma que existe entre a masturbação e o amor sexual. Em A sagrada família, escreve sobre Bruno Bauer e seus consortes: "Como podia a absoluta subjetividade, o actus purus, a critica 'pura' não ver no amor sua bête noire, o Satanás personificado; no amor, que é, verdadeiramente, o primeiro que ensina ao homem a crer no mundo objetivo fora dele, que não só objetiva ao homem, mas que também humaniza ao objeto? [...] O amor não pode construir-se a priori, porque o seu é um desenvolvimento real, que ocorre no mundo dos sentidos e entre indivíduos reais".

No escrito Sobre o suicídio, Marx aborda o ciúme da pessoa amada: “O ciumento necessita de um escravo; o ciumento pode amar, mas o amor é para ele apenas um sentimento extravagante; o ciumento é antes de tudo um proprietário privado”.

Quatro meses após a morte de Jenny, Marx escreveu a Engels: “Você sabe que há poucas pessoas mais avessas ao patético-demonstrativo do que eu; contudo, seria uma mentira não confessar que grande parte do meu pensamento está absorvida pela recordação de minha mulher, boa parte da melhor parte da minha vida”.

Karl morreu 16 meses após a esposa. Há biógrafos que dizem que a tristeza causada pela perda da companheira de quase 40 anos de vida conjugal e também da filha mais velha (igualmente chamada Jenny), o levou a ficar desgostoso com a vida, debilitando sua saúde e abreviando sua existência.

Helene cuidou de Karl até seus últimos dias, inventando novos pratos para abrir-lhe o apetite.Ele, porém, preferia alimentar-se com leite, rum e conhaque. Após a morte de Marx, em 14 de março de 1883, ela se mudou para a casa de Engels. Morreu em 1890, e no seu funeral Engels declarou que Marx se aconselhava com ela, “não apenas em questões partidárias difíceis e complexas, mas mesmo em relação aos seus escritos econômicos. Quanto a mim, o trabalho que tenho sido capaz de fazer desde a morte de Marx tem sido em grande parte devido à luz do sol e do apoio de sua presença na minha casa”. Helena foi enterrada no cemitério Highgate, Londres, no mesmo túmulo que Marx e sua esposa.

* Pompe é comunista revolucionario, jornalista e curioso do Mundo e da Vida, editor do "Vermelho/DF"

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