Jaime Satuchk*
A eleição do economista Rafael Correa para novo mandato na presidência do Equador e o retorno do presidente da Venezuela, coronel Hugo Chávez, que tratava um câncer em Cuba, mereceram algum destaque na grande mídia brasileira. Com a costumeira má vontade com que esta trata os vizinhos sul-americanos.
Mesmo que cobertos, contudo, os dois eventos obtiveram menor destaque que a visita que faz ao Brasil a cubana Yoani Sanchéz. Ela se diz jornalista, mas sua atuação em blogs na internet, meio pelo qual se tornou conhecida, tem caráter marcadamente político-ideológico, panfletário. Bem pouco jornalístico, pois.
Mas a coincidência é meio estranha. Ocorre em um momento em que intenso debate é travado em toda a América Latina a respeito da liberdade de expressão. Alguns acham que este é um direito sem limites, ainda que usado como instrumento de opressão e exploração. Muitos outros a querem como um direito de todos, pra valer.
De um lado, os governos progressistas e anticolonialistas de Chávez, Correa e outros, como os de Evo Morales, na Bolívia, de Cristina Kirchner, na Argentina, e de José Mujica, do Uruguai, recebem uma cobertura arrevesada. Carrega nítido viés ideológico, preconceituoso até. Morales, por exemplo, não passa de um índio!
Mas a História é implacável. Lembremos que essa é a mesma mídia que por décadas apoiou golpes e regimes fascistas na região. Não raro, vemos órgãos classificarem Cháves de “caudilho”. Só que ele e o parlamento venezuelano, onde ele tem maioria, foram eleitos por sistema de urnas eletrônicas tão (ou mais) transparente que o brasileiro.
Acusam-no de ter se beneficiado da mudança de legislação, durante seu primeiro mandato, para permitir sua reeleição, o que é verdade. Mas fingem se esquecer de que processo idêntico ocorreu no Brasil, no primeiro governo de Fernando Henrique Cardoso, o que permitiu sua reeleição. Só que FHC é o ideólogo de boa parte dessa mídia, de modo que...
Chávez recebe porradas dos Estados Unidos o tempo todo, mas vende seu petróleo pros ianques. E a grande mídia brasileira, por fidelidade à matriz, bate firme também. Ou critica o hábito milenar do uso da folha de coca em todos os países andinos. Mas a coca, por lá, é como a erva-mate no Brasil. Não é cocaína.
Eu estive na Venezuela antes e depois do advento de Chávez. As diferenças são sensíveis na busca do bem-estar de todos. Em todos os cantos, é outro país. E não existe apenas Caracas, a hoje bem organizada capital. Tem também Cerrado, Amazônia e Andes. São 30 milhões de habitantes.
A vinda da blogueira cubana, por outro lado, recebeu simpática cobertura, como se ela fosse a expressão maior da liberdade de expressão. Justamente ela, que é polêmica desde que divulgou, há alguns anos, agressões que teria sofrido em um breve sequestro de que teria sido vítima, sem nunca tê-lo comprovado, apesar de estar com sua máquina fotográfica até ser libertada, minutos depois.
Yoani Sanchéz sempre teve grande espaço na mídia americana, que ela atinge através da internet, livremente. Isto, apesar de em Cuba a internet ainda não ser de largo uso, pelas conhecidas dificuldades que ilha tem de acesso a sinais que circulam no espaço, até pela proximidade geográfica com os Estados Unidos.
Ela critica o fato de Cuba ter cerca de 50 presos políticos, detidos por receberem dinheiro de Washington. Ou seja, por serem agentes americanos. E todos foram julgados e condenados. Mas não critica os Estados Unidos por manterem presos políticos ali mesmo, na sua base de Guantânamo, encravada em território cubano, todos sem julgamento.
Tampouco critica o embargo econômico, que impede inclusive que cidadãos americanos façam turismo em Cuba. Mesmo que sem eficácia, já que a maioria dos três milhões de turistas estrangeiros que vão para lá todos os anos é de estado-unidenses. Eles usam caminhos alternativos, especialmente via Panamá.
De todo jeito, é mais do que evidente o fato de que a visita da blogueira ao Brasil e a vários outros países neste momento tem um motivo claro: defender a grande mídia. Em vários desses países, estão em debate novas regras que regulam o controle dos meios de comunicação, combatendo os grandes monopólios ou oligopólios.
Como no Brasil, em todos esses países o Estado concede o direito de uso de canais de rádio e TV ao setor privado. Na Venezuela, há três anos, venceu a concessão de uma grande rede, e não foi renovada, por razões diversas. Mas as mídias americana e brasileira divulgaram que a rede teria sido “cassada”.
Na Argentina, já entrou em vigor lei aprovada pelo Congresso que restringe o tamanho dos conglomerados privados de comunicação de massa. Normas parecidas estão em debate, por exemplo, no Uruguai e no Equador do reeleito Rafael Correa. São medidas que visam a democratização dessa atividade.
É um conceito que, em verdade, tem evoluído no mundo inteiro, talvez por efeito da expansão do sistema de redes de computadores, embora este também esteja sujeito a controles.
O fato é que, cada vez mais, a blogueira vai falar pra menos gente, até porque a grande mídia tem perdido influência.
Se vão cortar os rendimentos dela não se sabe.
A eleição do economista Rafael Correa para novo mandato na presidência do Equador e o retorno do presidente da Venezuela, coronel Hugo Chávez, que tratava um câncer em Cuba, mereceram algum destaque na grande mídia brasileira. Com a costumeira má vontade com que esta trata os vizinhos sul-americanos.
Mesmo que cobertos, contudo, os dois eventos obtiveram menor destaque que a visita que faz ao Brasil a cubana Yoani Sanchéz. Ela se diz jornalista, mas sua atuação em blogs na internet, meio pelo qual se tornou conhecida, tem caráter marcadamente político-ideológico, panfletário. Bem pouco jornalístico, pois.
Mas a coincidência é meio estranha. Ocorre em um momento em que intenso debate é travado em toda a América Latina a respeito da liberdade de expressão. Alguns acham que este é um direito sem limites, ainda que usado como instrumento de opressão e exploração. Muitos outros a querem como um direito de todos, pra valer.
De um lado, os governos progressistas e anticolonialistas de Chávez, Correa e outros, como os de Evo Morales, na Bolívia, de Cristina Kirchner, na Argentina, e de José Mujica, do Uruguai, recebem uma cobertura arrevesada. Carrega nítido viés ideológico, preconceituoso até. Morales, por exemplo, não passa de um índio!
Mas a História é implacável. Lembremos que essa é a mesma mídia que por décadas apoiou golpes e regimes fascistas na região. Não raro, vemos órgãos classificarem Cháves de “caudilho”. Só que ele e o parlamento venezuelano, onde ele tem maioria, foram eleitos por sistema de urnas eletrônicas tão (ou mais) transparente que o brasileiro.
Acusam-no de ter se beneficiado da mudança de legislação, durante seu primeiro mandato, para permitir sua reeleição, o que é verdade. Mas fingem se esquecer de que processo idêntico ocorreu no Brasil, no primeiro governo de Fernando Henrique Cardoso, o que permitiu sua reeleição. Só que FHC é o ideólogo de boa parte dessa mídia, de modo que...
Chávez recebe porradas dos Estados Unidos o tempo todo, mas vende seu petróleo pros ianques. E a grande mídia brasileira, por fidelidade à matriz, bate firme também. Ou critica o hábito milenar do uso da folha de coca em todos os países andinos. Mas a coca, por lá, é como a erva-mate no Brasil. Não é cocaína.
Eu estive na Venezuela antes e depois do advento de Chávez. As diferenças são sensíveis na busca do bem-estar de todos. Em todos os cantos, é outro país. E não existe apenas Caracas, a hoje bem organizada capital. Tem também Cerrado, Amazônia e Andes. São 30 milhões de habitantes.
A vinda da blogueira cubana, por outro lado, recebeu simpática cobertura, como se ela fosse a expressão maior da liberdade de expressão. Justamente ela, que é polêmica desde que divulgou, há alguns anos, agressões que teria sofrido em um breve sequestro de que teria sido vítima, sem nunca tê-lo comprovado, apesar de estar com sua máquina fotográfica até ser libertada, minutos depois.
Yoani Sanchéz sempre teve grande espaço na mídia americana, que ela atinge através da internet, livremente. Isto, apesar de em Cuba a internet ainda não ser de largo uso, pelas conhecidas dificuldades que ilha tem de acesso a sinais que circulam no espaço, até pela proximidade geográfica com os Estados Unidos.
Ela critica o fato de Cuba ter cerca de 50 presos políticos, detidos por receberem dinheiro de Washington. Ou seja, por serem agentes americanos. E todos foram julgados e condenados. Mas não critica os Estados Unidos por manterem presos políticos ali mesmo, na sua base de Guantânamo, encravada em território cubano, todos sem julgamento.
Tampouco critica o embargo econômico, que impede inclusive que cidadãos americanos façam turismo em Cuba. Mesmo que sem eficácia, já que a maioria dos três milhões de turistas estrangeiros que vão para lá todos os anos é de estado-unidenses. Eles usam caminhos alternativos, especialmente via Panamá.
De todo jeito, é mais do que evidente o fato de que a visita da blogueira ao Brasil e a vários outros países neste momento tem um motivo claro: defender a grande mídia. Em vários desses países, estão em debate novas regras que regulam o controle dos meios de comunicação, combatendo os grandes monopólios ou oligopólios.
Como no Brasil, em todos esses países o Estado concede o direito de uso de canais de rádio e TV ao setor privado. Na Venezuela, há três anos, venceu a concessão de uma grande rede, e não foi renovada, por razões diversas. Mas as mídias americana e brasileira divulgaram que a rede teria sido “cassada”.
Na Argentina, já entrou em vigor lei aprovada pelo Congresso que restringe o tamanho dos conglomerados privados de comunicação de massa. Normas parecidas estão em debate, por exemplo, no Uruguai e no Equador do reeleito Rafael Correa. São medidas que visam a democratização dessa atividade.
É um conceito que, em verdade, tem evoluído no mundo inteiro, talvez por efeito da expansão do sistema de redes de computadores, embora este também esteja sujeito a controles.
O fato é que, cada vez mais, a blogueira vai falar pra menos gente, até porque a grande mídia tem perdido influência.
Se vão cortar os rendimentos dela não se sabe.
*Jaime Sautchuk é jornalista, coordenador do Cebrapaz/DF, ambientalista e lutador das causas populares
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