No capítulo das
mulheres, nada de novo no Vaticano
*Carlos Pompe
*Carlos Pompe
Neste
momento, no Vaticano, senhores idosos, vergando batina, que, presumivelmente,
não conhecem as mulheres, ao menos no, digamos assim, sentido bíblico do termo,
preparam-se para indicar o novo chefe supremo da Igreja Católica Romana. Todos
se consideram porta-vozes dos deuses Pai, Filho e Espírito Santo e intérpretes
autorizados da Bíblia, em especial do Novo Testamento. Uma reunião em que
mulher não entra – a não ser para executar serviços de copa e limpeza ou, quem
sabe, lavar os pés dos presentes, como no mito de Madalena e Jesus Cristo.
Jesus,
nos evangelhos, é apresentado como uma pessoa que se comunicava com várias
mulheres, inclusive prostitutas. Acompanhava-se também de mulheres nas suas
pregações itinerantes, mas a posição delas era de dependentes: “Jesus ia
passando pelas cidades e povoados proclamando as boas-novas do Reino de Deus.
Os Doze estavam com ele, e também algumas mulheres que haviam sido curadas de
espíritos malignos e doenças: Maria, chamada Madalena, de quem haviam saído
sete demônios; Joana, mulher de Cuza, administrador da casa de Herodes; Susana
e muitas outras. Essas mulheres ajudavam a sustentá-los com os seus bens”
(Lucas 8.1-3). Mulheres presenciaram sua crucificação e testemunharam sua
ressurreição.
Em
João 4: 1-42, Jesus repreende uma samaritana por adorar um deus quem não
conhece, em vez do deus judaico, e declara ser o Messias. Ela acredita e vai
chamar seu povo, que a segue e também aceita que de fato encontrara o Messias,
mas “não somente por causa do que você disse, pois nós mesmos o ouvimos e
sabemos que este é realmente o Salvador do mundo". Ou seja, a palavra da
mulher não bastava... Marta de Betânia, irmã de Lázaro, a quem Jesus
ressuscitará, foi a primeira a chamá-lo “o Cristo, o Filho de Deus que devia
vir ao mundo".
Na
única referência evangélica à adolescência de Jesus (Luca 2: 41-52), ele foi
esquecido pelos pais em Jerusalém, na festa de Páscoa, quando tinha apenas 12
anos – José e Maria voltaram para Nazaré e só lá deram pela falta do moleque.
Encontraram-no quatro dias depois, pregando a doutores. Maria o repreende por
ter se separado dos pais, mas o garoto, respondão, destrata-a: “Porque me
procuráveis? Não sabíeis que devia estar em casa de meu Pai?” Esse despeito são
as primeiras palavras de Jesus registradas nos evangelhos.
Mas
o Novo Testamento não são só os evangelhos. Pedro ordena a todas as esposas
estarem "sujeitas ao vosso próprio marido". (1 3:1) Em 1 Timóteo 2:
9-14, escreve o apóstolo Paulo: “quero
que as mulheres se vistam modestamente, com decência e discrição, não se
adornando com tranças e com ouro, nem com pérolas ou com roupas caras, mas com
boas obras, como convém a mulheres que declaram adorar a Deus. A mulher deve
aprender em silêncio, com toda a sujeição. Não permito que a mulher ensine nem
que tenha autoridade sobre o homem. Esteja, porém, em silêncio. Porque primeiro foi formado Adão e depois
Eva. E Adão não foi enganado, mas sim a
mulher que, tendo sido enganada, se tornou transgressora”. Em 1 Coríntios 14: 34-35, assevera: “As
mulheres estejam caladas na igreja porque não é permitido falar e se querem
aprender alguma coisa pergunte ao seu marido em casa porque é indecente a
mulher falar na igreja”. Em outro trecho
da mesma epístola (11:3): “Mas quero que saibais que Cristo é a cabeça de todo
o homem, e o homem a cabeça da mulher; e Deus a cabeça de Cristo”. E continua
(6-10): “se para a mulher é coisa indecente tosquiar-se ou rapar-se, que ponha
o véu. O homem, pois, não deve cobrir a cabeça, porque é a imagem e glória de
Deus, mas a mulher é a glória do homem. Porque o homem não provém da mulher,
mas a mulher do homem. Porque também o homem não foi criado por causa da
mulher, mas a mulher por causa do homem. Portanto, a mulher deve ter sobre a
cabeça sinal de poderio, por causa dos anjos”. Assim está escrito na Carta aos
Colossenses: “Esposas, sede submissas aos maridos, como convém no Senhor.”
Intérprete
do Novo Testamento, São Tomas de Aquino considerava que a mulher “era um ser
acidental e falho e que seu destino é o de viver sob a tutela de um homem, por
natureza é inferior em força e dignidade”. Tertuliano dizia que ela “era a
porta do Demônio”.
Naturalmente,
nos vários escritos do Novo Testamento, há também recomendações para que os
homens honrem e respeitem as mulheres, mas é inegável o papel subalterno que
lhes cabe, o que é até hoje mantido na hierarquia da Igreja Católica Apostólica
Romana. Infelizmente, essa visão extrapola as paredes dos templos, pois os
líderes religiosos conseguem impô-la à sociedade e inclusive ao Estado.
Como
escreveu Vinícius,
“E
no longo capítulo das mulheres, Senhor, tenha piedade das mulheres
Castigai
minha alma, mas tende piedade das mulheres
Enlouquecei
meu espírito, mas tende piedade das mulheres
Ulcerai
minha carne, mas tende piedade das mulheres!...
E
se piedade voz sobrar, Senhor, tende piedade de mim”
*Carlos Pompe, jornalista, editor do Vermelho/DF, agnóstico e curioso do |Mundo!
*Carlos Pompe, jornalista, editor do Vermelho/DF, agnóstico e curioso do |Mundo!
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