Para a História do Socialismo
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www.hist-socialismo.net
Tradução do russo e edição por CN, 20.09.2013
(original em:
http://rkrp-rpk.ru/content/view/7102/1/)
_____________________________
O último Congresso do PCUS
…Antes que a história seja reescrita
V.A. Tiúlkine1
Em
2011 assinalou-se um triste aniversario: os 20 anos da destruicao da URSS. Este
foi
um acontecimento tragico nao so na historia dos povos da Uniao Sovietica mas de
todo
o mundo. Ate hoje ainda nao se apaziguaram os animos em torno deste
acontecimento,
tanto por parte dos partidarios do socialismo como de fervorosos
anticomunistas.
Sem duvida que no exame das razoes da derrota do socialismo na
URSS
(temporaria, estou convencido disso), a analise da actividade, erros e
degenerescencia
do proprio PCUS ocupa um papel central. Nao foi em vao que Lenine
preveniu:
≪Ninguem
nos pode arruinar senao os nossos proprios erros≫.2 Ou seja, as
principais
razoes da derrota devem ser procuradas, antes de mais, em nos proprios, e
nao
em intrigas nos bastidores internacionais do imperialismo inimigo, apesar de
indubitavelmente
terem existido e desempenhado um papel relevante. O ultimo
congresso
do PCUS no poder teve lugar em Julho de 1990. Em grande medida,
segundo
a expressao do seu ultimo secretario-geral, M.S. Gorbatchov, o Congresso foi
fatal
para a Uniao Sovietica, para o povo
sovietico e para o proprio PCUS.
Como
participante, proponho-me, por um lado, descrever uma vez mais alguns
momentos
cruciais, e outros simplesmente curiosos, dos acontecimentos desses anos:
Como
se passou? Isto porque sao cada vez menos os
participantes que continuam
vivos,
em contrapartida sao cada vez mais aqueles que reescrevem a historia. Por outro
lado,
com a distancia de 20 anos, procurarei responder a pergunta: ≪O que e que
aconteceu?≫. Isto e
particularmente importante porque, do nosso ponto de vista, nao
se
pode dizer de forma alguma que o movimento comunista da Russia, das republicas
1
Viktor Arkadievitch Tiulkine e primeiro secretario de
Partido Comunista Operario da
Russia
– Partido Revolucionario dos Comunistas (PCOR-PRC). Foi delegado ao XXVIII
Congresso
do PCUS e ao Congresso Fundador do Partido Comunista da Republica Socialista
Federativa
Sovietica da Russia (Junho-Setembro de 1990). O presente artigo foi publicado
no
site
indicado do PCOR-PRC, em 17 Abril de 2012, com o titulo original ≪Vinte anos para
aprender
a licao… e muitos continuam sem passar de classe≫ (≪Двадцать лет на изучение
урока…, а многие все в том же классе≫). (N.
Ed.)
2
≪Relatorio
sobre o papel e as tarefas dos sindicatos na reuniao da fraccao comunista do
II
Congresso dos Mineiros de Toda a Russia≫, Janeiro de 1921, V.I. Lenine, Obras
Escolhidas
em
seis tomos, Ed. Avante, Lisboa, 1986, t. 5, p. 224. (N.
Ed.)
2
da
URSS e do mundo retiraram as devidas licoes do ocorrido. Poderia ate usar a
expressao
de que muitos partidos comunistas ainda nao passaram de
classe e
continuam
a insistir nos mesmos erros que, de modo geral, conduziram a derrocada do
PCUS.
Doente de não comunismo
Ao
abordarmos os acontecimentos daqueles anos, antes de mais e preciso notar que
o
Congresso Constituinte do Partido Comunista da Republica Socialista Federativa
Sovietica
da Russia [PC da RSFSR], que se realizou em duas fases (20-23 Junho e 5 e 6
em
Setembro de 1990), e o XXVIII Congresso do PCUS (3-13 de Julho de 1990) devem
ser
examinados como encadeamento unico de acontecimentos. Isto porque nao so a
maioria
dos delegados ao XXVIII Congresso do PCUS era composta por membros das
organizacoes
do PC da RSFSR (2700 num total de 4610), como pelo facto de as
delegacoes
das organizacoes do PC da RSFSR serem integradas pelos seus membros
mais
activos, que representavam na altura as principais correntes no PCUS, seja a
corrente
comunista, seja diferentes tipos de anticomunistas. No Congresso
Constituinte
do PC da RSFSR, que se realizou poucos dias antes da abertura do XXVIII
Congresso
do PCUS, foi travada uma batalha bastante seria contra Gorbatchov, e a
agudeza
da discussao por vezes chegou a superar significativamente a tensao dos
trabalhos
no XXVIII Congresso.
Para
a compreensao deste processo e util expor desde ja o ponto de vista dos
comunistas
ortodoxos do Partido Comunista Operario da Russia (PCOR) – entao ainda
Movimento
Iniciativa Comunista (MIC) da Russia – segundo o qual, no momento do
XXVIII
Congresso, o PCUS ja nao era de longe um partido comunista revolucionario
ortodoxo,
de acordo com a definicao leninista de partido de novo tipo. Na sequencia
dos
esforcos feitos nos XX e XXII congressos do PCUS, o partido rejeitou pedras
angulares
do marxismo tais como a doutrina sobre a ditadura do proletariado ou a
nocao
de Estado com um estrito instrumento da classe dominante. Fora igualmente
abandonada
a ideia de que a luta de classes se mantem nas condicoes do socialismo, e
as
reformas realizadas na economia conduziram ao enfraquecimento do caracter
social
directo
da producao e ao desenvolvimento da orientacao monetario-mercantil.
Desde
o tempo de Khruchov que o Estado passou a ser designado como ≪Estado de
todo
o povo≫, e ate mesmo o partido comunista era entendido e
apresentado, com
crescente
frequencia, como o ≪partido
de todo o povo≫. Penso que se pode dizer que se
no
XXII Congresso do PCUS, sob a direccao de Khruchov, o partido abandonou as
posicoes
comunistas e passou para os trilhos do revisionismo, mantendo contudo a
designacao
de comunista e a correspondente fraseologia, entao no XXVIII Congresso,
sob
a direccao de Gorbatchov, o partido adoptou abertamente, como armas, teses nao
comunistas,
sociais-democratas e ate mesmo anticomunistas. Todavia manteve
igualmente
a sua designacao de comunista, cobrindo-se com a bandeira vermelha e
jurando
fidelidade a escolha comunista.
(Pessoalmente ouvi Gorbatchov afirmar que
permaneceria
comunista ate ao fim dos seus dias).
3
Temos pluralismo…
Nao
obstante, penso que a diferenca estava no facto de que a maioria dos delegados
do
XXII Congresso eram provavelmente, expressando-me na linguagem de Lenine,
oportunistas
honestos e revisionistas involuntarios, o que se devia ao baixo nivel da
sua
preparacao marxista, apesar de serem mais ou menos uma massa homogenea de
militantes
leninistas, como se julgavam. Ja no XXVIII
Congresso do PCUS observavase
com
total clareza uma peculiar mixordia ideologica de diferentes elementos
politicos
heterogeneos:
desde marxistas ortodoxos ate furiosos anticomunistas. Nao foi por
acaso
que, quando o professor A.A. Sergueiev iniciou a sua intervencao no XXVIII
Congresso,
em nome Movimento Iniciativa Comunista (MIC), se dirigiu aos delegados
da
seguinte maneira: ≪Camaradas
comunistas! Camaradas marxistas legais! Mas
tambem
socialistas, sociais-democratas de esquerda e de direita e outros membros do
nosso
partido (...)≫ – as suas palavras tenham sido
recebidas com risos e aplausos.
E
no relatorio do MIC ao Congresso Constituinte do PC da RSFSR, que os
camaradas
me incumbiram de apresentar, a situacao era assim descrita:
≪Quer os lideres da esquerda quer da direita sao membros do nosso
partido. Quer
na
Frente Unificada dos Trabalhadores3 quer
na Frente Popular.4 E quer aqueles que
sao a
favor do comunismo quer os que sao contra, todos sao membros do nosso
partido.
(Aplausos) E
aquele que la em cima acompanha tudo isto e diz: “Muito
bem!
pluralismo!” – esse e o principal ideologo do partido≫. (Aplausos)
A
unidade e uma grande palavra. Mas nos defendemos a unidade dos marxistas e
nao a
unidade dos marxistas com os deturpadores do marxismo≫. (Aplausos)
5
No
Congresso Constituinte do PC da RSFSR colocamos a questao da necessidade da
demarcacao,
da depuracao do partido dos elementos alheios e da politica nao
comunista.
Os acontecimentos posteriores, quer ainda no decorrer destes congressos
quer
depois, em particular depois de Agosto de 1991, mostraram que as nossas
analises
eram
justas. Por exemplo, no XXVIII Congresso do PCUS, no momento da elaboracao
das
listas para a nova composicao do Comite Central foi feita a tentativa de
excluir o
nome
do economista adepto do mercado, S. Chataline, com o argumento de que ele
proprio
se designava social-democrata. No entanto, o proprio Gorbatchov saiu em sua
defesa,
alegando que as exclusoes pertenciam ao passado nao democratico, e que o
camarada
Chataline nao se tinha ele proprio excluido da lista. Na votacao, esta
questao
nao voltou a ser levantada e, assim, um declarado e deste modo reconhecido
social-democrata
entrou na composicao do CC do Partido Comunista da Uniao
Sovietica
(o qual, nessa altura, naturalmente, ja nao era comunista).
3
A Frente Unificada dos Trabalhadores (Объединённый фронт трудящихся) foi formada
em
Julho de 1989 por comunistas descontentes com o curso da perestroika
e a
descaracterizacao
do PCUS. Foi a partir das suas fileiras que se constituiu, em Novembro de
1991,
o Partido Comunista Operario da Russia. (N. Ed.)
4
A Frente Popular (народный фронт) foi criada inicialmente
em Leningrado e existiu
enquanto
organizacao informal entre 1988 e 1990, dando origem a outras frentes
populares,
nomeadamente
nas republicas do Baltico. Apoiavam a perestroika e a chamada
≪democratizacao≫, a partir de posicoes claramente anti-sovieticas. (N.
Ed.)
5
Boletim, Registo Estenografico do
Congresso Constituinte do PC da RSFSR (Бюллетень.
Стенографический
отчет Учредительного сьезда КП РСФСР).
4
Na
mesma ocasiao, durante a eleicao do Comite Central, foi tambem questionado o
nome
de V.H. Chostakovski, reitor da Escola Superior do Partido adstrita ao CC do
PCUS,
nao so porque representava a chamada Plataforma Democratica no PCUS, mas
tambem
porque, ja naquele tempo, exortava os partidarios da sua linha a abandonar o
partido
e a criar um novo partido democratico (a principal razao que os conteve foi o
desejo
de resolver a questao da partilha do patrimonio do partido). Refiro estes
aspectos
como exemplos para que os leitores possam fazer uma ideia mais aproximada
do
tipo de quadros que eram caldeados na Escola Superior do Partido, que ja fora
uma
forja
de revolucionarios profissionais em tempos idos, e da atmosfera que dominou o
XXVIII
Congresso do PCUS.
No
periodo que se seguiu ao Congresso, a assuncao de posicoes claramente
anticomunistas,
por parte de figuras como E. Chevardnadze, P. Bunitch, A. Iakovlev, O.
Latsis,
A. Sobatchak, B. Eltsine, A. Rutskoi, V. Lissenko, V. Chostakovitch, A. Tsipko,
I.
Boldiriev
e outros activos delegados democratas,
confirmou a extrema
heterogeneidade
nao so do Congresso, como tambem, apesar de em menor grau, de
todo
do PCUS. Mesmo posicoes abertamente revisionistas ja nao geravam consenso
geral,
e ate os limites ideologicos esboroados se revelavam apertados para muitos
dirigentes
do PCUS, que aspiravam ao papel de ideologos e teoricos de diversas
correntes.
O oportunismo honesto
Naturalmente
que e preciso reconhecer que a grande massa de membros do partido,
nao
sendo marxistas teoricamente bem preparados, eram pessoas honestas e que
acreditavam
no comunismo, na palavra, nas citacoes e na autoridade dos lideres. Mas
isto
fez com que inicialmente apoiassem oportunistas honestos, e depois revisionistas
conscientes.
Nunca esquecerei o momento em que Egor Kuzmitch Ligatchov, sem
duvida
pessoalmente um individuo dedicado ao partido, subiu a tribuna e sob a
pressao
do ambiente geral, quando todos repetiam mercado, mercado, mercado,
tambem
ele se afirmou favoravel ao mercado, mas
do mercado socialista. Alias, ele ate
escreveu
um livrinho de propaganda sobres as posicoes de mercado.
O
oportunismo honesto manifestou-se de forma
particularmente nitida quando se
abordou
as relacoes com a direccao do PCUS, em particular com Gorbatchov, e a
questao
da unidade do partido. Assim, antes da eleicao do secretario-geral do PCUS, na
reuniao
de delegados da organizacao de Leningrado, o secretario do Comite de Oblast
para
a Ideologia, Iuri Pavlovitch Belov (actual ideologo do PCFR), conhecido como
opositor
a ditadura do proletariado, apelou ao voto em Gorbatchov com o seguinte
argumento:
≪E
certo que Gorbatchov e mau, mas… e o Presidente e so
ele pode
defender
o partido. E preciso votar em Gorbatchov≫, e suspirou profundamente. E foi
assim
que elegeram o seu defensor, e ainda hoje suspiram. Com a mesma sinceridade,
manifestando-se
em prol da unidade do partido, apoiaram Gorbatchov contra
Eltsine e
contra
os criticos a esquerda de Gorbatchov.
5
Corrigir ou reconstruir
Outro
sinal revelador da fraca preparacao teorica da grande massa dos membros do
PCUS
esta na utilizacao do proprio termo ≪perestroika≫ para designar a linha
estrategica
do partido. E conhecido a forma como, no IX Congresso dos Sovietes de
Toda
a Russia (finais de 1921), Lenine reagiu as perestroikas e perestroikos6 daquele
tempo:
≪Depois de uma grande revolucao politica levanta-se, no entanto,
uma outra
tarefa
que e preciso compreender: e preciso digerir esta revolucao e realiza-la na
vida,
nao se dar a desculpa de que o regime sovietico e mau e que e preciso
reconstrui-lo.
Temos entre nos um numero terrivelmente grande de aficionados das
reorganizacoes
de todo o tipo, e destas reorganizacoes [perestroikas]
resulta uma
calamidade
tao grande como nunca conheci na vida. Que existem insuficiencias no
aparelho
de organizacao das massas, sei-o perfeitamente, e por cada dezena de
insuficiencias
que qualquer um de vos me pode indicar, acrescentarei no mesmo
instante
uma centena de outras. Mas a questao nao esta em melhorar o aparelho
atraves
de uma reorganizacao rapida, mas no facto de que e necessario digerir esta
transformacao
politica para alcancar um outro nivel economico e cultural. E nisto
que
reside a questao. Nao se trata de reorganizar, mas, pelo contrario, e preciso
ajudar
a corrigir as numerosas insuficiencias que existem no regime sovietico e em
todo
o sistema de administracao, a fim de ajudar milhares e milhoes de pessoas. E
necessario
que toda a massa de camponeses nos ajude a digerir esta grandiosa
conquista
politica que obtivemos. Nesta materia temos de ser lucidos e ter presente
que
alcancamos esta conquista, mas ela ainda nao penetrou no coracao da vida
economica
quotidiana e nas condicoes de existencia das massas. Isto requer um
trabalho
de decadas inteiras, e e preciso consagrar-lhe enormes esforcos. Esta tarefa
nao
pode ser realizada com o mesmo ritmo, a mesma rapidez e nas mesmas
condicoes
em que realizamos o trabalho militar.≫7
Depois
de tais afirmacoes de Lenine, como se pode chamar ≪perestroika≫ a politica
estrategica
do partido numa dada etapa? E dificil explicar. Resta-nos pressupor que tal
se
deveu a uma total impreparacao teorica da maioria da direccao honesta
ou, hipotese
que
nos parece mais provavel, a ma-fe de refinados anticomunistas do tipo de
Aleksandr
Iakovlev, principal ideologo de Gorbatchov. Com efeito, o termo
≪perestroika≫ tambem pode ser entendido como mudanca de regime. O mais
provavel
e
as duas coisas se terem conjugado com o nivel escandalosamente baixo de
preparacao
teorica
por parte da grande massa de membros do partido, habituados a acreditar nos
dirigentes.
(Entre os membros do partido, sei-o por experiencia propria, havia muitos
que
nem sequer tinham lido o programa do PCUS). Aderiram a ≪perestroika≫ com
entusiasmo,
mas sem qualquer ideia clara sobre o que era preciso fazer.
6
O termo russo perestroika significa literalmente reconstrucao, reorganizacao ou
reestruturacao.
O prefixo ≪pere≫ transmite neste
caso a ideia de refazer, repetir, e a palavra
stroika
significa construcao, obra. Porem,
neste termo esta tambem contida a palavra stroi, que
significa
regime, formacao (por exemplo: sotsialistitcheski stroi significa regime socialista. Dai
que
a palavra perestroika tambem possa ser
interpretada como mudanca de regime. (N. Ed.)
7
A Politica Externa e Interna da Republica, Relatorio do Comite Executivo
Central e
Conselho
de Comissarios do Povo ao IX Congresso dos Sovietes de Toda a Russia, 23 de
Dezembro
de 1921, V.I. Lenine, Obras Completas (em
russo), Moscovo, 1970, t. 44. pp. 326-
327.
6
A oposição ao gorbatchovismo
Tenho
ouvido muitas vezes opinioes de camaradas de outros paises de que tambem
na
Russia, alegadamente, tanto o XXVIII Congresso como o PCUS em geral cederam
posicoes
sem luta: supostamente todos seguiram docilmente Gorbatchov, votaram a
favor
do mercado, do socialismo democratico de rosto humano, a favor da perestroika,
etc.
Isto nao e justo. A oposicao a Gorbatchov e a sua linha politica existiu
inquestionavelmente,
alias. de forma organizada, e se nao logo desde os primeiros dias
da
sua governacao, seguramente pelo menos a partir de 1987. Inicialmente, com o
apoio
do Comite do Oblast de Leningrado do PCUS, foi criada uma
associacao de
comunismo
cientifico, que no essencial juntou cientistas representantes das ciencias
sociais.
Mais tarde surgiram os clubes politicos de operarios ≪Pelo Leninismo≫. Depois
estas
organizacoes unificaram-se e alargaram-se, formando a Frente Unificada de
Trabalhadores,
primeiro em Leningrado e em Moscovo, depois ao nivel de toda a
Russia,
com o apoio do Conselho Central da Uniao de Sindicatos da URSS, e
finalmente
em 1989 foi criado no PCUS o Movimento Iniciativa Comunista. Os
congressos
da ≪Iniciativa≫ foram a sua actividade mais conhecida, o primeiro dos
quais
teve lugar em Abril de 1990, em Leningrado, onde estiveram representados mais
de
um milhao de comunistas de organizacoes da Russia.
A
luta contra a transicao da economia para as relacoes de mercado foi a questao
fundamental
da oposicao a perestroika de Gorbatchov. No
relatorio politico do Comite
Central,
Mikhail Gorbatchov procurou apresentar esta questao decisiva para ele,
socorrendo-se
da teoria economica. Todavia, o secretario-geral nao encontrou melhor
forma
do que apoiar-se na lei fundamental do capitalismo – a lei do valor:
≪Antes de mais, sobre o mercado em si. Ele teve uma evolucao
milenar – da troca
espontanea
de mercadorias ate ao mecanismo altamente organizado. Devemos evitar
atitudes
voluntaristas, aprender a regular os processos economicos, apoiando-nos na
lei
do valor, e assim criar novos e poderosos estimulos a actividade economica
pratica≫.
Aqui,
dando-se conta da inconsistencia e falsidade das suas posicoes, perante
pessoas
honestas mas nao muito versadas em questoes da economia politica,
assegurou:
≪Mas somos resolutamente contra a estratificacao baseada em
rendimentos que
nao
provenham do trabalho ou com origem em privilegios ilegais≫.
Mais
adiante Gorbatchov soltou umas perolas que so podem ser apreciadas pela
maioria
das pessoas a luz dos conhecimentos de que hoje dispoem:
≪O mercado, no seu conceito actual, nega o monopolio de uma forma
de
propriedade,
exige a sua diversidade, a igualdade de direitos economicos e politicos.
Quer
as empresas estatais, quer a propriedade colectiva, cooperativa ou de
companhias
accionistas, a propriedade laboral do agricultor, do artesao ou das
familias
– tudo isto fortalece as bases democraticas da
sociedade, porquanto os
trabalhadores
se tornam donos genuinos dos meios de producao e dos resultados do
trabalho,
e estao interessados pessoalmente na eficacia do trabalho e em altos
resultados
finais≫.
E,
neste instante, Gorbatchov passa da necessidade da reforma da economia de
mercado
para a justificacao da reforma politica em curso e do modelo do
parlamentarismo,
o qual os camaradas do PCFR e do PCU [Partido Comunista da
Ucrania]
continuam ate hoje a apregoar como poder popular:
7
≪Afirmamos aqui de viva voz a necessidade de materializar na vida a
concepcao
leninista
de poder popular≫.
Alem
disso, Gorbatchov sublinha a continuidade e afinidade ideologica da
perestroika
com o XX Congresso do PCUS de Khruchov:
≪Antes de mais, devo repetir aquilo que ja disse varias vezes: a
concepcao da
perestroika
nao e uma subida iluminacao de um grupo de pessoas. Desde o XX
Congresso
do PCUS que no partido e na sociedade se desenvolvem buscas≫.
Estas
buscas conduziram naturalmente Gorbatchov a negacao do caracter proletario
do
partido e a adopcao do conceito khruchoviano de ≪todo o povo≫: ≪Nos
somos o
partido
da perestroika, e
por conseguinte o PCUS intervem hoje como uma
organizacao
politica de todo o povo.≫8
Naturalmente
que todos estes raciocinios teoricos estao cosidos com fio de
alinhavar.
Deste os tempos do primeiro programa do POSDR9
que qualquer comunista
mais
ou menos instruido sabe que a producao mercantil gera todos os dias e a todas
as
horas
relacoes capitalistas. Por isso, o lema ≪Viva a economia de mercado≫ e os
argumentos
do tipo ≪nao
ha alternativa ao mercado≫, ≪nao
ha outro caminho≫
tiveram
no partido e nos circulos de cientistas economistas uma oposicao bastante
seria.
Os cientistas antimercado (N. Khessine, E. Ilienkov, R. Kossolopov, A Eriomine,
V.
Elmeiev, A, Kachenko, N. Moissienko, A. Pokritane, M. Popov, D. Dolgov, A.
Segueiev
e muitos outros) defenderam posicoes de principio diferentes. Um dos mais
prestigiados
filosofos sovieticos, E. Ilienkov, escreveu:
≪Aqueles economistas que deformaram a teoria marxista do valor,
prestaram um
muito
mau servico a nossa teoria e pratica (…) Nao
sao economistas aqueles que
consagraram
tantos esforcos a demonstrar o indemonstravel (…) nomeadamente que
a “producao socialista, em geral, e uma producao mercantil”≫.
E
mais adiante prossegue:
≪E certo que na sua “fase socialista” de evolucao, o comunismo continua a
conservar
(“a arrastar atras de si”)
relacoes monetario-mercantis, expressas na
forma
de valor que nao lhe e propria. Esta forma nao so nao tem nada em comum
com a
organizacao comunista do trabalho social, como constitui um seu concorrente
e
antagonista≫.
Os
participantes nestas discussoes sobre economia afirmam que os gorbatchovistasmercantilistas
nao
ganharam nenhuma discussao teorica aberta nem nenhum debate
publico
serio sobre economia. Por isso, os mercantilistas viram-se obrigados a agir
pela
calada,
utilizando a sua enorme vantagem em materia de recursos administrativos,
como
hoje se diz, e de meios de informacao de massas.
Decidindo
o assunto secretamente, na mais alta cupula do partido e do Estado,
inclusive
sob a influencia de governantes do imperialismo internacional (Gorbatchov ja
se
tinha encontrado com Thatcher e Reagan, que o receberam com um entusiastico
optimismo),
colocaram efectivamente o partido e o povo perante o facto de uma
escolha
ja feita, apresentando o assunto como se a via do mercado fosse um designio
incontornavel,
alegadamente reconhecido pela ciencia, experiencia internacional e ate
pela
teoria marxista-leninista. Como prova da ultima afirmacao, inventaram e
difundiram
a chamada ≪metodologia
da NEP≫. E aquele que nao compreendesse ou
8
XXVIII Congresso do PCUS, t. 1., p. 86.
9
Partido Operario Social-Democrata da Russia. (N.
Ed.)
8
nao
aceitasse a linha do mercado, era simplesmente rotulado de retrogrado,
dogmatico,
elemento atrasado.
Ja
assinalamos que estes alegados elementos atrasados, nas suas intervencoes no
XXVIII
Congresso do PCUS e no Congresso Constituinte do PC da RSFSR, nao so
fizeram
uma critica construtiva de principio a defeccao de Gorbatchov e da sua equipa,
como
em grande parte previram as consequencias que teria para o pais e o povo a
transicao
para o mercado, ou seja, na realidade, a restauracao do capitalismo.
Assim
o representante do MIC, professor A.A. Sergueiev, com a logica ferrea da
ciencia
da Economia Politica, demonstrou insistentemente no seu relatorio que estava
em
causa o regresso ao capitalismo:
≪Alem do mercado de mercadorias, existem ainda dois outros
mercados. Ha o
mercado
do capital privado, representado nas bolsas de valores, e o mercado da
forca
de trabalho. Temos, pois, que estes dois mercados tomados em conjunto
resultam
inevitavelmente em mercado capitalista classico, mesmo que lhe chamemos
regulado.
E daqui nao se pode sair.
Neste
sentido queria chamar a atencao para o seguinte facto. Recentemente, a
revista
Voprossi Economiki publicou
a plataforma economica da Alianca
Democratica.
E de repente tornou-se evidente a existencia de demasiadas
semelhancas
entre esta plataforma abertamente pro-capitalista e aquilo que o
governo
agora propoe. Eis, pois, em que consiste o verdadeiro sentido da
desideologizacao
e da despolitizacao da economia. (Aplausos)
Nesta armadilha,
habilmente
colocada por uma parte dos inter-regionais e pela Alianca Democratica,10
ja
ficou firmemente preso Boris Nikolaievitch Eltsine.
Nikolai
Ivanovitch [Rijkov] sera
que ainda nao viu que esta preparado um lugar
para
si nesta armadilha?≫ (Risos, aplausos)
Sergueiev,
por incumbencia dos delegados do MIC, insistiu na necessidade de
analisar
a via alternativa de desenvolvimento comunista, em conformidade com a
tendencia
do progresso cientifico-tecnico:
≪E nossa conviccao de que a unica abordagem cientifica na
elaboracao da linha
social
e economica consiste em nos apoiarmos no processo objectivo de socializacao
material
da producao, que se desenvolve em toda a economia mundial. E um
processo
complexo, contraditorio, que avanca por vezes em ziguezague, mas toda a
experiencia
do seculo XX, incluindo as ultimas decadas, mostra que e um processo
imparavel.
Adoptar nestas condicoes a linha da chamada desestatizacao, que se
revelara
uma dessocializacao primitiva, significa, em termos figurados, remar
contra
a necessidade economica. (Aplausos)
10
O Grupo de Deputados Inter-regionais (Межрегиональная
депутатская группа)
formou-se
no I Congresso dos Deputados do Povo, reunido em Moscovo entre os dias 25 de
Maio
e 9 de Junho de 1989. Entre os seus lideres estavam Boris Eltsine, Andrei
Sakharov, Iuri
Afanassiev
ou Gravil Popov. Com o apoio tacito da equipa de Gorbatchov, bateram-se pela
eliminacao
do papel dirigente do PCUS.
A
Alianca Democratica (Демократический союз) foi formada como partido politico de
oposicao,
em Maio de 1988, por um grupo de dissidentes anti-sovieticos, com o objectivo
de
derrubar
o sistema socialista e instaurar um regime parlamentar burgues. Entre os seus
dirigentes
estava Vladimir Jirinovski, que mais tarde se tornou conhecido com lider da
extrema-direita.
No final dos anos 90, apos varias cisoes internas, cessou a sua actividade como
partido
politico. (N. Ed.)
9
Mas
quanto mais se inculcar na consciencia das massas sovieticas, com a ajuda
dos
meios de informacao monopolizados pelas forcas radicais de direita,
estereotipos
incompativeis
com a sua essencia colectivista, formada nao apenas durante os anos
do
poder sovietico, mas, sublinho, no decurso do desenvolvimento historico
multisecular,
mais
brusca sera a arrancada do povo em direccao a escolha condizente com
Outubro.
E que estas pessoas, Mikhail Sergueievitch [Gorbatchov], o
povo, nao tem
para
onde emigrar≫.
O
orador sublinhou ainda que esta concepcao cientifica – ≪alternativa baseada no
processo
de socializacao material da producao em desenvolvimento, e apoiada nao
apenas
por economistas caidos em desgraca. Ideias semelhantes sao desenvolvidas
por
conhecidos academicos sovieticos. E o caso do academico Legassov, ja falecido,
ou
dos academicos Struminski, Semenikhi, Moissiev, e Paton. Por que razao as
ideias
destas
pessoas, que conhecem perfeitamente os mecanismos actuais do progresso
cientifico-tecnico,
nao sao levadas a pratica no ambito da reorganizacao economica.
Dir-se-a
que nao sao economistas. Isso e verdade, em contrapartida sao verdadeiros
academicos.≫ 11 (Aplausos)
O
debate decorria num ambiente muito emocional, e nos pretendiamos tambem
mostrar
a imoralidade da ideologia de mercado. Assim, Segueiev continuou a sua
intervencao
com a seguinte comparacao:
≪Aleksandr Nikolaievitch Iakovlev lembrou ao Congresso que Jesus
expulsou do
templo
os vendilhoes e usurarios. Deviamos repetir hoje essa accao. (Aplausos, risos)
Porem,
ao abrir o [jornal] Moskovski Komsomolski, de 27
de Abril deste ano, li o
seguinte:
“Ninguem confessa que ganhou dinheiro no mercado negro
ou em
actividades
ilicitas. Entao como saber qual a origem do dinheiro? (…) Melhor seria
pensar
na maneira de ‘captar’ esse
dinheiro de modo a poder ser aplicado. E possivel
utilizar
o capital accionista, por a venda pequenas lojas e oficinas, arrendar terras”
(…).
Leio e vejo que estao a convidar os usurarios a fazer “um festim no templo”. E
quem
convida e Aleksandr Nikolaievitch Iakovlev.≫ (Aplausos)
O
orador terminou com uma referencia que encostou literalmente Gorbatchov a
parede:
≪No seu relatorio a este Congresso, Mikhail Sergueievitch
Gorbatchov afirmou que
o
Programa do Partido, adoptado no XXVII Congresso, esta desactualizado. E
natural.
A vida nao para. Mas considero que certas teses que foram proclamadas no
XXVII
Congresso continuam a ter hoje grande actualidade e merecem ser repetidas
nos
documentos do XXVIII Congresso. Refiro-me, antes de mais, as seguintes
palavras
do relatorio de Mikhail Sergueievitch ao XXVII Congresso: “Se comecarem
a
manifestar-se tendencias para a propriedade privada, isso significa que algo
esta
errado
na escolha da via e dos meios no nosso trabalho, e isso tem de ser corrigido.”
Obrigado
por esta possibilidade.≫ (Aplausos)
No
Congresso Constituinte do PC da RSFSR, o representante do MIC, Mikhail
Vassilievitch
Popov, membro do Comite do Partido do Oblast de Leningrado e
professor
na Universidade Estatal de Leningrado, defendeu a necessidade de analisar
uma
concepcao alternativa de desenvolvimento da sociedade:
≪Precisamos desta concepcao para podermos definir o nosso futuro,
porque sem
futuro
o partido morre, a juventude nao o seguira. Penso que devemos promover um
11
O termo ≪academico≫ e aqui utilizado no sentido de membro da Academia das
Ciencias da
URSS.
(N. Ed.)
1 0
amplo
debate sobre esta questao, caso contrario os comunistas serao acusados de
nao
terem conduzido o povo na direccao inscrita na nossa bandeira vermelha:
“Proletarios
de todos os paises uni-vos!”; mas na direccao oposta: ≪Trabalhadores de
todas
as republicas da Uniao separai-vos e matai-vos uns aos outros!≫
Assinale-se
que a ultima previsao veio a confirmar-se nas republicas da URSS e da
Russia
com tragicos resultados. A concepcao alternativa, apresentada de um ponto de
vista
cientifico, foi descrita do seguinte modo:
≪No que respeita a essencia desta concepcao, consideramos que o
socialismo nao e
um
modelo, mas uma necessidade objectiva, uma etapa normal no desenvolvimento
da
sociedade humana. Consideramos que no socialismo ha condicoes para a
ocorrencia
nao so de fenomenos positivos, mas tambem de fenomenos negativos. Nao
precisamos
de ir ao estrangeiro para os encontrar, eles tambem se desenvolvem no
nosso
pais devido as contradicoes na base economica. Consideramos que e atraves da
luta
entre tendencias contrarias que se produz o avanco da sociedade. Consideramos
que
estas contradicoes se resolvem orientando a economia para o valor de uso, para
as
pessoas, e nao para o valor, para o rublo (…)
Quero
salientar que a principal tese desta concepcao consiste no facto de que, hoje,
no
nosso pais, se confrontam duas linhas; uma comunista e outra nao comunista.
Uns
procuram o enriquecimento de toda a sociedade e o desenvolvimento de todos, a
diminuicao
da desigualdade social na base do desenvolvimento geral. Outros
procuram
ficar com a maior fatia de um bolo cada vez menor. Devo dizer,
camaradas,
que esta nao e uma luta ideologica. A verdade e que cada um de nos tem
estes
dois interesses. Eu tenho-os, tal como todos. E cada um de nos que aqui esta
tem
de
resolver este problema consigo proprio. Esta e a nossa vida socialista. Mas so
sao
comunistas
aqueles que resolvem esta contradicao do seguinte modo: apesar de tudo
devemos
enriquecer todos e dessa forma cada membro da sociedade. E porque somos
comunistas,
fazemo-lo agora, e nao nos limitamos a encarar o comunismo como
perspectiva,
de tal forma que do socialismo apenas nos resta a escolha. (Aplausos)
Consideramos
que a questao central e o restabelecimento do poder dos sovietes≫.
Estas
questoes fundamentais, nas suas diferentes variantes, continuam a ser hoje
desenvolvidas
no plano teorico e na pratica politica dos partidos que se consideram
comunistas.
De quem é este partido?
Assim,
uma das questoes centrais, e provavelmente a mais palpitante, e a de saber
quais
os interesses de classe que o PCUS deveria exprimir e como os exprimiu na
pratica?
Esta questao foi abordada de uma ou de outra maneira por muitos delegados,
nomeadamente
por alguns que nao eram grandes conhecedores das subtilezas da
essencia
politico-economica do mercado.
Por
exemplo, Maria Terentievna Kabelkova, professora no Instituto Pedagogico
Estatal
de Abakan,12 tocou
no cerne da questao:
12
Abakan ou Abaca (Абакaн) e a capital da Republica Russa da
Cacassia (Хакасия), ao Sul
da
Siberia. (N. Ed.)
1 1
≪Penso que a principal tarefa do XXVIII Congresso e dar esperanca
aos povos e
justificar
os seus anseios, entao sera possivel superar todas as dificuldades. Caso
contrario,
cedo ou tarde, surgira a pergunta: sera que o povo precisa deste partido
para
alguma coisa?≫. (Aplausos)
Respondendo
a esta questao, o primeiro secretario do CC do PC da Quirguizia e
Presidente
do Soviete Supremo da Republica, camarada Abssamat Massilievitch
Massiliev,
fez a seguinte observacao:
≪Hoje como nunca sao actuais as palavras de Lenine escritas ha
quase 70 anos.
Passo
a citar: “E preciso ter coragem de olhar de frente a
amarga verdade. O partido
esta
doente. O partido treme de febre. Toda a questao esta em saber se a doenca
atingiu
apenas as ‘cupulas atacadas de febre’,
e talvez exclusivamente as de Moscovo,
ou se
todo o organismo foi atingido pela doenca (…) Que e
preciso fazer para
alcancar
a cura mais rapida e mais segura? E preciso que todos os membros do
partido,
com absoluto sangue frio e a maior atencao, comecem a estudar 1) a essencia
das
divergencias e 2) o desenvolvimento da luta no partido.”13
O
nosso partido e um organismo complexo e vivo, que exige cuidados e atencao
constantes.
Sucede que nos ultimos tempos esta atencao deixou de ser prestada e o
PCUS
comecou a perder prestigio. Em muitas organizacoes surgiram manifestacoes
de
descrenca, de abandono das posicoes de principio. O partido esta a perder apoio
mesmo
no seio da classe operaria, cujos representantes comecaram a abandonar as
suas
fileiras. Como travar esta tendencia negativa? O caminho e so um: voltarmonos
de
frente para os operarios e para o campesinato≫.
Por
sua vez, Evgueni Vassilievitch Maksimov, escritor da regiao de Smolensk,
exprimiu-se
sobre este tema com a simplicidade camponesa:
≪Para escutar a terra, falar cara a cara com os agricultores e
conhecer o seu
pensamento,
em Abril fui para as profundezas dos campos de Smolensk e da regiao
de
Kalinine. Ali todos esperam um Partido Comunista renovado, anseiam pela a sua
ajuda,
caso contrario, daqui a dois ou tres anos, ela ja nao sera precisa (…). Eis um
telegrama
dos meus conterraneos: “Diga aos detractores do recem
fundado Partido
Comunista
da Russia que nos esperamos mais de meio seculo por ele, temos
esperanca
nele, uma vez que o PCUS nos esqueceu.”≫ (Aplausos)
De
forma nao menos definida e clara exprimiu-se a maneira dos operarios Valentine
Alekseievitch
Gaivoronski, soldador na empresa de construcao de maquinas
Azovmach, de Mariupol, no Oblast de Donetsk:
≪Da antiguidade chegou ate nos um aforismo sabio: “num
Estado sao florescem os
oficios
e as artes, num Estado doente ha muitos chefes e palavreado sobre a ordem”.
(Aplausos)
(…) Na caminhada para o poder coloca-se a qualquer partido a questao
de
ganhar
as massas. E o momento determinante e quando se torna claro quem tem o
apoio
da classe operaria. Neste sentido, a indefinicao das plataformas no Comite
Central
e alarmante. Nao e normal uma situacao em que a classe mais numerosa e
influente
nao disponha da sua vanguarda, que defenda e lute pelos seus interesses
politicos.
Se o partido perder o seu caracter de classe, os operarios criarao
inevitavelmente
o seu partido. Um partido e-o precisamente porque nao reune toda a
gente
sob a sua bandeira.≫
13
A Crise no Partido, 19 de
Janeiro de 1921, V.I. Lenine, Obras Escolhidas em seis tomos,
Ed.
Avante!, Lisboa, 1986, t. 5, pp. 210-211. (N. Ed.)
1 2
Sobre
a mesma questao abordada pelo soldador de Donetsk, pronunciou-se o
primeiro-secretario
do CC do PC do Cazaquistao, Nursultan Nazarbaev:
≪Penso que ha muito chegou a hora de o partido declarar que o PCUS
e o partido,
antes
de mais, da classe operaria, que nao apenas exprime mas defende os seus
interesses
estrategicos. Infelizmente, no relatorio do CC, nao encontramos uma
posicao
clara sobre esta questao de principio (…) Camaradas,
a mim pessoalmente,
esta
preparacao febril, apressada da transicao para as relacoes de mercado lembrame
um
exercito desesperado em debandada porque nao preparou previamente linhas
na
retaguarda≫.
E
certo que Nazarbaev nao precisou porque e quando o partido se afastou da classe
operaria.
Tambem
os inimigos ja assumidos do partido haviam compreendido a importancia
desta
questao. Assim, B.N. Eltsine, com aleivosia e brusquidao, serrou o ramo em que
o
PCUS
estava sentado:
≪A principal questao que esta em debate no Congresso nao e a
reorganizacao
[perestroika]
do pais e as vias do seu desenvolvimento. Essa questao e decidida
pelo
povo
do lado de la das paredes deste edificio, e decidida nos sovietes de deputados
do
povo.
Neste Congresso, a questao que se coloca e, antes de mais, qual o destino do
proprio
PCUS (…) Num Estado democratico e inevitavel a passagem
para o
multipartidarismo≫.
Como
e evidente, numa tal situacao muito dependia do estado-maior do partido, do
seu
Comite Central, o qual por inercia ainda era chamado de CC leninista. Porem, a
sua
essencia
ja era completamente diferente, circunstancia que alguns delegados
assinalaram
com ironia. Foi o caso de Nikolai Nikolaievitch Sidorkine, secretario do
Comite
do Partido do combinado mineiro-metalurgico Petchenganikel, pertencente ao
conglomerado
Norilski Nikel:
≪E tempo de reconhecermos honestamente que o CC do PCUS, orgao que
devia
reflectir
a razao colectiva do partido, exprime na realidade um qualquer
desarrazoado
colectivo.≫
Este
desarrazoado tem agora de ser destrincado pelos comunistas nos seus
documentos
programaticos. O que esta a ser feito, se bem que de formas diferentes. A
opiniao
actual dos camaradas do PCFR resume-se a ideia de que o PCUS nao percebeu
a
tempo as alteracoes estruturais na sociedade, que reflectiam mudancas
qualitativas
nos
meios de producao. Que, alegadamente, com o desenvolvimento decorrente do
progresso
cientifico-tecnico, emergiu em primeiro plano uma certa nova camada
progressista
da intelectualidade cientifico-tecnica: uma classe tecnocratica. O PCUS,
supostamente,
nao percebeu a tempo estas alteracoes e nao pode reflectir os interesses
desta
camada que estava a crescer ate se tornar uma classe. Continuou assim a dirigirse
para
a classe operaria tradicional e por isso foi derrotado.
Nos
discordamos categoricamente deste ponto de vista. Do ponto de vista dos
comunistas
ortodoxos, representantes do MIC no XXVIII congresso e do PCOR hoje, o
PCUS
deixou de exprimir os interesses da classe operaria tradicional e,
consequentemente,
de todas as outras camadas de trabalhadores. Precisamente por
isso,
deixando-se arrastar por apelos anti-sovieticos, os mineiros da URSS entraram
em
greve e exigiram a eliminacao do artigo 6.o da Constituicao. Precisamente por
isso,
no
XXVIII Congresso, Razumovski, secretario do CC, relatou:
≪Aumenta o numero de membros que saem do PCUS. No ano passado foram
136,6
mil,
neste ano, tudo indica que serao muitos mais (so no primeiro trimestre sairam
1 3
82
mil). Entre eles ha muitas pessoas para quem a sua filiacao no partido se
tornou
inconveniente,
mas tambem ha aqueles que nao entendem a actual situacao≫.
Secretarios
de comites do partido de grandes empresas relataram condoidos a saida
de
milhares de operarios do partido. E precisamente por isso a classe operaria
reagiu
com
quase total indiferenca a interdicao da actividade do PCUS, decretada por
Eltsine
apos
os acontecimentos de Agosto de 1991. Este ja nao era o seu partido. Se
quisessemos
responder de forma muito breve a pergunta: ≪Porque e que o PCUS e o
socialismo
na URSS foram derrotados?≫ – Entao diriamos que a razao principal foi
porque
o PCUS deixou de ser o partido da classe operaria.
Este
facto de resto e testemunhado por um episodio curioso.
Em
redor do Hotel Rossia, onde ficaram
alojados os delegados ao Congresso,
concentraram-se
todo o tipo de grupos de anticomunistas ≪democratas≫ com cartazes
azuis,
amarelos e brancos. E so o grupo da Frente Unificada dos Trabalhadores [FUT]
ostentava
um cartaz vermelho com o lema ≪Transformemos
o PCUS num partido
comunista!≫.
A
noite, tendo ja vestido calcas de ganga e uma camisa axadrezada, fui para a rua
fumar
e aproximei-me daquele grupo. Na cartolina estavam inscritas outras exigencias,
nomeadamente,
≪Ligatchov,
Sergueiev, Makachov e Tiulkine ao CC≫. Pergunto-lhes:
≪Os tres primeiros ainda va, compreende-se. Mas esse Tiulkine,
porque para o CC?
(tinham
ouvido falar da minha intervencao no Congresso, mas naturalmente nao
podiam
reconhecer-me). A resposta foi o mais clara possivel: ≪Vai-te embora daqui,
focinho
de Gorbatchov, ou vamos-te a tromba nao tarda≫. E foi assim que travei
conhecimento
com os meus futuros camaradas de luta da FUT de Moscovo.
Para o mercado – para o capitalismo sob a bandeira vermelha
O
XXVIII Congresso do PCUS aprovou, numa resolucao especifica, a linha da
passagem
para a economia de mercado. A sua analise e aprovacao demoraram apenas
20
minutos. O documento nao foi colocado a discussao separadamente. No entanto,
foi
precisamente
sobre este aspecto da luta teorica que os representantes do MIC e da
Plataforma
Marxista travaram a principal batalha contra Gorbatchov e os
≪mercantilistas≫. Tratou-se de um
confronto algo estranho e de inicio pouco explicito,
pelo
menos na aparencia. Comecou com as intervencoes dos nossos representantes
defendendo
o Congresso Constituinte do PC da RSFSR, continuou na seccao sobre
Economia
do XXVIII Congresso, depois o professor Sergueiev apresentou o seu
relatorio
na sessao plenaria, que teve um acolhimento significativo e ate massivo por
parte
dos delegados. O Presidium viu-se na
necessidade de exercer uma pressao
constante
sobre a sala, utilizando a vantagem do microfone para impor a sua conducao
dos
trabalhos. O seguinte episodio e revelador.
Quando
foram criadas as comissoes do Congresso para preparar os documentos, foi
definido
que uma delas prepararia a resolucao sobre a Economia, tendo sido
previamente
designada de ≪Comissao
do XXVIII Congresso do PCUS para a
preparacao
da Resolucao sobre a Passagem para a Economia Regulada de
Mercado≫. (Propunha-se que
fosse integrada por 57 pessoas).
Todavia,
os delegados ao Congresso discordaram justamente da circunstancia de
esta
decisao lhes ser apresentada como um facto consumado. O camarada Abramov,
1 4
secretario
do Comite do Partido da Fabrica de Construcoes Mecanicas de
Krasnogorski,
do Ministerio da Defesa da URSS, no Oblast de Moscovo, tomou a
palavra
para salientar:
≪Camaradas comunistas. Tenho uma objeccao a fazer. Nao considero
correcto a
forma
como e apresentada a “Resolucao sobre a Passagem para a
Economia
Regulada
de Mercado”, designadamente no que respeita a escolha
do seu nome. Isto
porque
ele pressupoe que o Congresso ja reconheceu, mesmo sem a ter debatido, a
consensualidade
e inquestionabilidade desta via de desenvolvimento da economia.
Isto
lembra-me a situacao ocorrida no Congresso do PC da RSFSR, em que, depois de
muitos
intervenientes terem discordado de que a palavra socialismo fosse
adjectivada
[socialismo
de mercado, de rosto humano, etc. (N. Ed.)], apesar disso, todos os
adjectivos
foram mantidos na resolucao aprovada. Maior perplexidade me causou a
resposta
de Mikhail Sergueievitch Gorbatchov, dizendo que falariamos sobre esse
conceito
no XXVIII Congresso do PCUS. Pergunta-se, qual e a logica do nosso
comportamento?
Por
isso proponho que a resolucao sobre a questao da construcao economica passe
a
chamar-se: ≪Sobre a Politica do PCUS para a Realizacao
da Reforma Economica e
Adopcao
de Medidas Inadiaveis para a Estabilizacao da Situacao Social e Economica
do
Pais≫. (Aplausos)
Se
nao discutirmos estes problemas e nao definirmos a posicao do Congresso sobre
eles,
entao nao teremos nada para levar para os nossos colectivos.
Recordo
a tese de Lenine, na sua intervencao no VIII Congresso do PCR(b), de que
o
programa do partido nao pode ser apenas o programa do partido. Deve
transformar-se
no programa da construcao economica, de outro modo nao serve
como
programa do partido.
Da
deliberacao da ultima sessao do Soviete Supremo da URSS, “Sobre
a
Concepcao
da Passagem a Economia Regulada de Mercado”, do
relatorio da direccao
do
partido ao presente Congresso, apresentado por Mikhail Sergueievitch
Gorbatchov,
tiro a conclusao de que, tal como tem vindo acontecer, foi anunciada
mais
uma complicada receita para a cura das nossas doencas, sem que a direccao do
pais
e do partido tenha assimilado a tecnologia da sua composicao e administracao.
Pode
ser que nao seja assim, mas os comunistas nas regioes nao estao convencidos de
que
assim nao e, uma vez que o partido foi excluido deste processo.
Do
nosso Congresso esperam que esta lacuna do trabalho do CC e do Politburo seja
colmatada.
Esta tarefa, tendo em conta a nova situacao do partido na sociedade, e
complexa,
mesmo muito complexa, mas nos temos a obrigacao de propor a nossa via
alternativa
para a sua resolucao.
Peco
que esta proposta seja debatida e votada. Penso que os delegados terao
outras
propostas sobre esta resolucao que o Congresso deve aprovar. Obrigado.
(Aplausos)
Resultados
da votacao:
Numero
minimo necessario para a aprovacao da proposta – 2205
Votaram
a favor – 3745
Votaram
contra – 468
Abstiveram-se
– 134.
Total
de votantes – 4347
Nao
votaram – 61
A
proposta foi aprovada.≫
1 5
A
maioria votou expressamente a favor do procedimento proposto, todavia, depois,
quando
a Comissao apresentou os resultados do seu trabalho ao Congresso, manteve o
antigo
nome da resolucao, alegando simplesmente que nao podia ser de outro modo.
Alem
disso, a Comissao recusou analisar e propor a votacao a resolucao alternativa
apresentada
por representantes do MIC e da Plataforma Marxista, afirmando que esta
proposta,
alegadamente, se distinguia da sua ≪de mercado≫ apenas porque defendia a
realizacao
de um debate no partido, o que levaria a uma perda de tempo e (preste-se
atencao)
ao desfasamento do partido em relacao a medidas aplicadas pelo
governo e
pela
direccao do Estado. Ou seja, os homens da equipa de
Gorbatchov nao so
arrastavam
o partido e o povo para o capitalismo, como tinham pressa, receavam
atrasar-se,
reconhecendo que a direccao do Estado e o governo ja se tinham
precipitado
nessa direccao.
Tenho
ideia de que, mesmo nos circulos mais altos da direccao do partido e do
Estado,
a passagem para o mercado foi aceite com dificuldade. Todos nos recordamos
de
Nikolai Ivanovitch Rijkov, um ≪bolchevique choramingas≫, entao presidente do
Conselho
de Ministros da URSS, que perante o Congresso de Deputados do Povo, com
o
coracao a doer, perguntou solenemente: ≪E vos, perguntastes ao povo? Sera que ele
quer
o capitalismo?≫.
Naturalmente
que ninguem perguntou ao povo. Pelo contrario, ao povo prometeram
socialismo
de rosto humano e mercado socialista. Mas apesar dos nossos esforcos, nao
foi
possivel ter uma conversa substantiva com Rijkov durante o XXVIII Congresso.
Uma
vez, no final do dia, eu com um grupo de camaradas fomos ter com ele e
comecamos
a conversa dizendo-lhe que a sua posicao era diferente da daqueles que ja
na
altura apelavam activamente a desestatizacao e a privatizacao. Propusemos-lhe
que
nos
encontrassemos para falarmos a sos.
Rijkov
aparentava estar muito cansado, fixou algo ao nosso lado e disse uma frase
que
jamais esquecerei: ≪Ah,
homens, voces nem imaginam ate que ponto e tudo uma
porcaria≫. Combinamos que
arranjariamos tempo para conversar mas... nunca se
proporcionou.
O
facto de que as coisas estavam mas era perceptivel para muitos delegados que
tinham
vindo dos diferentes confins da Uniao e das mais diferentes esferas de
actividade.
Alguns extractos das suas intervencoes sao ilustrativos.
Assim,
o primeiro-secretario do CC do PC da Letonia, A. Rubiks, com o coracao a
doer,
disse que o socialismo ja estava a ser destruido abertamente:
≪O Estado socialista esta a ser alterado e substituido pelo Estado
burgues.
Restaura-se
nao so o regime estatal, mas tambem o direito a propriedade privada de
quaisquer
meios de producao, incluindo as terras dos kolkhozes. A terra esta a ser
devolvida
aos que a possuiam no periodo burgues ou aos seus herdeiros, incluindo
aqueles
que residem no estrangeiro.≫
O
primeiro-secretario do Comite do Partido da Regiao de Itchalkovski, na
Republica
de
Mordovia, Aleksandr Nikolaievitch Burkanov, frisou que o povo comum nao aceita
o
mercado:
≪O mercado para nos e simplesmente um choque. E isto que ele
significa para os
kolkhozianos
e operarios≫.
Confirmando
que os kolkhozianos nao se alegravam particularmente nem
acreditavam
na ideia do mercado, V.A. Starodubtsev, presidente do kolkhoz Lenine
de
agro-pecuaria
em Novomoskovski, no oblast de Tula, afirmou:
1 6
≪Nao e por acaso que no nosso Congresso Campones se ouviram
palavras como:
“Mercado
facinora! Mercado cruel!” Ha aqui materia para
reflexao. E que os
camponeses
serao obrigados a responder na mesma moeda: menos producao, mais
caro.
E entao toda a concepcao da perestroika
caira por terra≫.
Ja
o primeiro-secretario do CC do PC do Uzbequistao e presidente da Republica,
Islom
Abduganievitch Karimov, falou dos riscos e precaucoes a tomar antes de se
prosseguir
a linha do mercado:
≪As pessoas so poderao compreender e aceitar todas as dificuldades
do periodo de
transicao
para as relacoes de mercado se isso lhes for dito de forma clara e aberta, se
lhes
forem dadas garantias de proteccao social, sobretudo para as camadas mais
desfavorecidas
da populacao. Alem disso e muito importante ter em conta as
especificidades
e o ponto de partida de cada republica e regiao. Em suma, so se pode
passar
para a economia de mercado quando convencermos as pessoas e alcancarmos
um
consenso nacional≫.
Todavia,
os apologistas do mercado nao queriam esperar ate que se chegasse a um
consenso
popular, e forcaram o processo de forma categorica e vigorosa. L.I. Abalkine,
vice-presidente
do Conselho de Ministros da URSS e presidente da Comissao Estatal
do
Conselho de Ministros da URSS para a Reforma Economica, disse a este proposito:
≪Se queremos ter uma economia eficaz, flexivel, orientada para o
progresso
cientifico-tecnico,
se queremos ter lojas cheias de artigos diversificados e de alta
qualidade,
se queremos acabar com a vergonha das filas de espera, com a
especulacao
e a distribuicao em circuito fechado, se queremos criar estimulos
poderosos
para o trabalho, entao nao temos outra opcao senao a passagem para a
economia
de mercado. (Barulho na sala)
Com
estes cientistas mercantilistas
faziam coro os representantes daquela
intelectualidade
artistica igualmente adepta do mercado, esse cerebro da nacao, cuja
argumentacao
era de um simplismo primitivo. D.N. Kulgultinov, escritor e membro do
Presidium
do Soviete Supremo da URSS, afirmou:
≪Entramos agora na humanidade civilizada, da qual estivemos
apartados 60-70
anos≫.
Decerto
que foi por terem superado esse hiato que elegeram Kulgultinov para o
Polituburo
do CC do PC da RSFSR.
O
destino da reforma economica, isto e o destino do povo, e o destino do partido
estavam
indissociavelmente ligados. I.A. Prokofiev, primeiro-secretario do Comite de
Moscovo
do PCUS, reflectiu sobre este assunto:
≪O partido encontra-se hoje numa encruzilhada de tres caminhos. O primeiro
e o
regresso
ao sistema de comando-administrativo. Se formos por ele, ver-nos-emos na
periferia
da civilizacao mundial. O segundo caminho e o da democratizacao radical,
da
renovacao do partido, no fundo trata-se da sua refundacao como organismo
politico.
E por fim, a terceira opcao, dividirmo-nos e criarmos a partir dos
fragmentos
do PCUS novas estruturas politicas≫.
A
direccao do partido afastou categoricamente a possibilidade de se examinar uma
verdadeira
alternativa cientifica ao mercado, tendo impedido ao longo de dez dias de
trabalhos
que o Congresso a discutisse. Chegamos ao decimo primeiro dia, ao ultimo
do
Congresso.
1 7
O último dia do Congresso
Em
resultado do trabalho coordenado dos delegados do MIC e da Plataforma
Marxista
e dos camaradas nossos convidados, acabamos por conseguir que nos fosse
cedida
a palavra para expor as nossas posicoes. Para poderemos apresentar a nossa
proposta
de resolucao, reunimos mais 150 assinaturas de delegados (o regulamento
exigia
um minimo de cem assinaturas) e entregamos a respectiva peticao ao
secretariado.
Mas o tempo passava sem que nos dessem a palavra. Nas diligencias que
fizemos
junto do secretariado e dos membros do Presidium que presidiam ao
Congresso
percebemos que estavam ≪a fingir-se de parvos≫: o responsavel pelo
secretariado,
A. Iline, jurava que tinha entregue tudo ao Presidium, e o Presidium (na
pessoa
de A. Lukianov e outros) dizia que nao tinha recebido nada. Decorria o ultimo
dia
do Congresso e os delegados ja comecavam a fazer as malas. Foi entao que os
nossos
representantes (delegados e respectivos convidados) se apoderaram dos 23
microfones
que estavam espalhados pela sala e recusaram entrega-los, ignorando os
apelos
do Presidium, numa atitude algo
ameacadora. Na sala, os delegados comecaram
a
sentir o aumento da tensao e todas a atencoes se desviaram dos oradores para se
concentrar
neste confronto por enquanto silencioso entre Gorbatchov e os
≪iniciativistas≫. Nessa altura
sentei-me na primeira fila, uma vez que os camaradas me
tinham
incumbido de apresentar a nossa proposta de resolucao. Vendo que a situacao
nao
se resolvia com meros apelos, Gorbatchov fez-me sinal com a mao para que fosse
ao
Presidium, indicando a
seguranca que me deixasse passar. Subi ao palco, passei por
detras
da primeira fila do Presidium e acerquei-me do
secretario-geral.
Cumprimentamo-nos
com um aperto de mao, e ele, olhando-me nos olhos, de forma
tao
penetrante, diz-me num tom amigavel: ≪Viktor, que estas a fazer? Temos-te como
um
dos nossos, e tu…? Respondo-lhe:
≪Pois
bem, Mikhail Sergueievitch, naturalmente
que
sou um dos nossos, manifesto-me apenas pelo cumprimento do regulamento.
Esta
estabelecido dar a palavra, e preciso que o facam. A questao mais importante –
a
politica economica – foi tratada em 20 minutos
para concluiram que nao ha
alternativa.≫
≪Quais 20 minutos?≫ – replica Gorbatchov – ≪Ha 11 dias que estamos a falar≫.
Respondo-lhe:
≪Mais
razao me da. Falamos ha 11 dias, mas nao houve oportunidade
de
nos pronunciarmos sobre a essencia desta questao central. Assim, Miklhail
Sergueievitch,
peco-lhe, em conformidade com o regulamento, conceda-nos os cinco
minutos
estabelecidos.≫
Gorbatchov
lanca-me um olhar fixo, sombrio e envolvente. Nao era facil afastar-me
dele,
tanto mais que continuava a ser o secretario-geral, mas consigo distanciar-me,
as
ultimas
palavras tinham sido minhas, e regresso ao meu lugar. Durante minuto e meio,
Gorbatchov
permanece no lugar com uma expressao tenebrosa, agita os dedos
nervosamente,
depois levanta-se bruscamente, pega na sua pasta e sai do Presidium
pelas
traseiras do palco. Muitos delegados tinham deixado de prestar atencao ao que
se
dizia
da tribuna, e acercaram-se de mim procurando saber o teor da conversa com
Gorbatchov.
Digo-lhes em tom de gozo que ele me pedira cem rublos emprestados ha
mais
de uma mes e nao havia maneira de mos devolver, e estando eu a viver num hotel,
o
dinheiro comecava a fazer-me falta. Brincava, naturalmente, mas o principal
tinha
sido
feito. A presidencia dos trabalhos passou para Stanislav Ivanovitch Gurenko,
que
nos
deu logo a palavra. Transcrevo a seguir na integra a intervencao estenografada
sobre
as ≪posicoes
da minoria≫:
1 8
Tiúlkine, V.A. Camaradas
comunistas! Precisamos de falar. Em primeiro lugar
proponho
que assinalemos a democraticidade do nosso Presidium, que
concede a
palavra
nao so a pessoas que abandonam o navio do partido, mas tambem aqueles
que
decidiram permanecer para sempre comunistas.
(Aplausos)
Em
segundo lugar, agora falando a serio, o que me traz aqui sao as decisoes
aprovadas
sobre a politica social e economica do partido. Falo em nome do grupo de
delegados
ao Congresso, participantes no Congresso de Iniciativa de Leningrado e de
parte
dos camaradas da Plataforma Marxista.
Humanamente
compreendemos a posicao dos organizadores deste Congresso de
fazer
aprovar de qualquer maneira a linha, eventualmente ainda nao completamente
esclarecida,
da passagem para a economia de mercado. E e preciso assinalar que a
Comissao
sob a presidencia de Rijkov e Abalkine conseguiu com assinalavel sucesso e
rapidamente,
no espaco de 20 minutos, fazer aprovar a linha de Abalkine-Rijkov.
Gurenko, C.I. Peco
ao orador e a todos os presentes que respeitem as normas
estabelecidas
no inicio dos trabalhos.
Tiúlkine, V.A. Concerteza,
Stanislav Ivanovitch.
Gurenko, V.A. Peco-lhe
que continue.
Tiúlkine, V.A. Consideramos
que nao foi dada possibilidade aos delegados de
examinarem
devidamente esta questao e que tudo foi feito apressadamente a revelia
dos
procedimentos aprovados. A resolucao mais importante foi debatida e aprovada
sem
que o projecto alternativo tivesse sido previamente reproduzido e distribuido.
Por
isso fazemos a seguinte declaracao: Consideramos que a votacao da resolucao
sobre
questoes da estrategica do partido, das quais depende o destino do pais, o
destino
do partido e da perestroika, foi
feita de forma apressada, negligenciando-se
normas
regulamentares. As nossas propostas foram rejeitadas liminarmente, sob a
alegacao
de que nao representavam uma reforma alternativa. A nossa posicao,
sendo
hoje uma posicao minoritaria, foi praticamente ignorada. Nao foi sequer
colocada
a votacao a proposta de realizacao de um debate no partido sobre este
conjunto
de problemas, Consideramos necessario alertar todos os comunistas do pais
para
o seguinte: A passagem irreflectida para o mercado, enquanto sistema geral,
incluindo
o mercado de capitais e o mercado de mao-de-obra, ira inevitavelmente
conduzir
ao incremento das relacoes capitalistas. E a cura forcada do socialismo com
o
capitalismo, contrariando processos objectivos, arrastara consigo, nao um
aumento
da producao e do nivel de vida, mas a sua inevitavel queda, suscitara uma
ampla
contestacao social e provocara duros sofrimentos ao povo. Existem varias
outras
concepcoes de reorganizacao economica que nao significam o regresso ao
passado:
nem ao regime burgues, nem ao sistema de comando-administrativo.
Consideramos
necessario que esta opiniao de uma minoria de delegados fique
registada
neste Congresso para que, por iniciativa das bases do partido, se possa
realizar
um amplo debate sobre projectos alternativos e estejamos preparados para
intervir
em provaveis confrontos nos tempos mais proximos, com vista a evitar a
falencia
total da actual linha economica adoptada.
Resumindo
– e esta e a ideia principal –
o partido nao pode realizar uma
perestroika
que provoque uma acentuada deterioracao das condicoes de vida do
povo.
O Partido Comunista nao podera resistir a um tal abalo, e deixara de haver
quem
defenda os fins ultimos do movimento.
O
projecto de resolucao foi entregue apenas a um decimo das delegacoes. Peco que
sejam
colocados a votacao a presente declaracao e o projecto de resolucao, e que
1 9
fiquem
registados como opiniao de uma minoria do Congresso. Obrigado pela
atencao.
Gurenko, V.A. Um
momento! Fique por favor na tribuna, porque surgiu aqui
uma
situacao embaracosa. Colocar a votacao, votar a favor ou contra, uma
resolucao
que 90 por cento dos delegados nao viram, como afirma, e de algum modo
problematico.
Eu nao colocaria o Presidium e vos proprios nessa situacao
embaracosa.
Por isso proponho que registemos a opiniao da minoria, como
estabelece
o nosso regulamento. Ficara na acta estenografada do Congresso. Peco
que
se tenha em conta que os materiais do Congresso serao analisados pelo Comite
Central,
e serao tiradas conclusoes a este respeito. Mas agora propor que votemos a
Resolucao,
nao posso sequer prever quais os resultados de semelhante votacao. E vos
podereis
interpreta-los como uma ofensa aos principios democraticos.
Tiúlkine, V.A. Stanislav
Ivanovitch! Justica seja feita, quando elaboramos a
Resolucao
cem delegados subscreveram o pedido para o uso da palavra. Todavia,
por
qualquer razao, nao nos deram a palavra. Isto em primeiro lugar. Em segundo
lugar…
Gurenko, V.A. De
acordo.
Tiúlkine, V.A. Um
momento. A palavra foi pedida para apresentar a Resolucao.
Mas
pediria entao que seja colocada a votacao so a declaracao que acabei de ler.
Gurenko, V.A. De
acordo. Quero apenas, justica seja feita, que olhe para a lista
de
oradores que usaram da palavra na sessao plenaria do Congresso. Segundo
penso,
intervieram representantes da Plataforma Marxista e representantes da
Plataforma
Democratica. Os seus pontos de vista ficaram esclarecidos. O camarada
Tiulkine
quer que coloquemos esta questao a votacao. Quem vota a favor da sua
declaracao?
Quem vota contra a sua declaracao? (Vozes
indecifraveis, barulho na
sala)
Gurenko, V.A. Nao
sao admissiveis gestos ameacadores, o direito da minoria
esta
consagrado no regulamento. Vamos votar: quem apoia que vote ≪a
favor≫,
quem
nao apoia que vote ≪contra≫. O
Congresso actuara em conformidade com os
resultados
da votacao. Peco que votemos para encerrar este assunto.
Resultados
da votacao
Maioria
para a aprovacao da decisao – 1923
Votaram
a favor – 1259
Votaram
contra – 2012
Abstiveram-se
– 414
Total
de votantes – 3685
Nao
votaram – 160
A
decisao nao foi aprovada
Gurenko, V.A. Portanto,
isto pode e deve constar nos materiais do nosso
Congresso
como opiniao da minoria. Obrigado.≫14
14
XXVIII Congresso do Partido Comunista da Uniao Sovietica,
13 de Julho de 1990, Boletim
N.o
14, Moscovo, 1990.
2 0
***
Note-se
que Gurenko procurou evitar a votacao, com o argumento de que os
delegados
nao dispunham do texto da resolucao, propondo o mero registo da
declaracao.
No entanto, nos estavamos preparados e insistimos entao na votacao da
declaracao
lida e ouvida pelos delegados. Obtivemos assim 1259 votos a favor e, desse
modo,
a Declaracao da minoria ortodoxa, em conformidade com os Estatutos, foi
registada
como ≪uma
opiniao particular≫.
Os
acontecimentos posteriores ao XXVIII Congresso confirmaram a justeza das
nossas
previsoes, tanto a respeito do descalabro da economia e empobrecimento do
povo,
como a respeito do destino do proprio PCUS. Anos depois, nas comemoracoes do
10.o
aniversario da chegada de Gorbatchov ao poder, Vadime Bakatine, um
proeminente
membro da sua equipa, antigo presidente do KGB, a pergunta dos
jornalistas
– ≪Quais
foram os fracassos e os erros mais importantes por si cometidos
sob a
direccao de Gorbatchov?≫ –, respondeu: ≪O maior fracasso foi, talvez, o facto
de
nao se ter conseguido substituir pacificamente os valores programaticos do PCUS
por
valores inteiramente sociais-democratas.≫ Nos, isto e, o
Movimento Iniciativa
Comunista,
tivemos uma participacao directa na resistencia a este processo, de que em
geral
nos orgulhamos. Mas nao tivemos forca suficiente para travar a restauracao do
capitalismo.
O socialismo de mercado
A
marcha para o capitalismo sobre a bandeira vermelha – o sonho de Gorbatchov –
esta
hoje em grande parte integrada nos principios programaticos do PCFR e de toda
uma
serie de partidos de outros paises que se designam de comunistas.
E
revelador que no circulo proximo de Ziuganov, bem como nas direccoes do PCFR
e
da Uniao de Partidos Comunistas-PCUS,15 nao haja ninguem que tenha intervindo
contra
Gorbatchov e contra a passagem para o mercado no XXVIII Congresso do
PCUS.
Nem um! Uns foram varridos, outros sairam por si proprios: Makachov,
Abaliane,
Chenine, Ligatchov, Rubiks, Kossolopov, Beneditktov, Boltovski, Kozlenkov,
Iakuchev,
etc.
Em
contrapartida, os dirigentes e quadros do aparelho do antigo PCUS estao
fortemente
representados nas administracoes das novas estruturas comerciais (bancos,
bolsa,
consorcios e holdings, sociedades accionistas e outras).
Isto faz-me lembrar a
15
A Uniao dos Partidos Comunistas-PCUS (UPC-PCUS) e uma
organizacao que associa
partidos
comunistas com actividade no territorio da antiga URSS. Foi criada apos a proibicao
do
PCUS, em Agosto de 1991, por um grupo de membros do CC do PCUS que se manteve
activo.
Em Junho de 1992 realizam um plenario em que decidem a expulsao de Gorbatchov e
em
10 de Outubro do mesmo ano organizam a XX Conferencia de Toda a Uniao do PCUS,
que
examinou
um novo projecto de Programa e Estatutos e decidiu convocar o XXIX Congresso do
PCUS,
que viria a ter lugar em 26-27 de Marco de 1993, em Moscovo. Neste Congresso
foi entao
adoptada
a designacao de Uniao dos Partidos Comunistas-PCUS (UOC-PCUS), que se reclamou
legitima
herdeira do PCUS. O partido esteve sob a lideranca de Oleg Semeonovitch Chenine
(1927-2009)
ate a sua cisao com o PCFR em 2000-2011. Com a saida de Chenine, a presidencia
passa
a ser assumida por G.A. Ziuganov. Ate a data a UPC-PCUS realizou seis
congressos, o
ultimo
deles (designado XXXIV, ja que foi mantida a numeracao dos congressos do antigo
PCUS),
teve lugar em Moscovo, a 31 Outubro de 2009. (N. Ed.)
2 1
seguinte
historia, que me foi contada pelo secretario do Comite do Komsomol do
Oblast
de Leningrado:
Junto
a janela do seu gabinete, Dmitri Filipov, secretario do Comite do PCUS do
Oblast
de Leningrado, observa grupos da Frente Popular que andam pela Praca da
Ditadura
do Proletariado, agitando palavras de ordem do genero ≪Abaixo o PCUS≫.
Num
tom entristecido exclama: ≪O
nosso povo quer o capitalismo e vai te-lo. So que
seremos
nos os capitalistas.≫
Efectivamente,
Filipov conseguiu entrar num grande negocio ligado a industria
petrolifera,
mas, nos duros anos 90, foi vitimado por um atentado a bomba a entrada
da
sua casa.
Os
dirigentes do PCFR apregoam a teoria do chamado ≪mercado socialista≫,
invocando
abusivamente a experiencia da NEP de Lenine, sem se apoiarem em
qualquer
citacao, e a experiencia actual do desenvolvimento economico na China, sob a
direccao
do PCC. Todavia, no seu programa ignoram simplesmente que a NEP de
Lenine
se realizou nas condicoes de um Estado da ditadura do proletariado e nao no
sistema
parlamentar tradicional, que os actuais comunistas mercantilistas, em regra,
apresentam
como poder popular, pretendendo
apenas a introducao de regras eleitorais
≪justas≫ e prometendo utilizar a regulacao estatal para dar um
sentido social a
economia,
mediante apelos a consciencia dos poderosos possidentes.
O
gorbatchovismo, ou seja a linha anti-operaria sob fachada comunista, continua
hoje
a operar tanto na Russia como no movimento comunista internacional. Se no
tempo
do PCUS de Gorbatchov a nomenclatura degenerada do partido explorava o
tema
da submissao da classe operaria ao partido dirigente (e ate fez alguma coisa
para
que
estas palavras fossem confirmadas por actos), entao hoje, encontrando-se na
oposicao,
o partido gorbatchovista dispondo de uma bancada no parlamento, explora o
tema
da defesa dos interesses da classe operaria, falando em nome dos trabalhadores.
Mas
a sua politica actual, tanto no plano teorico como pratico, e mais
pequenoburguesa
do
que operaria.
Tal
como no seu tempo Marx e Engels caracterizaram criticamente, no Manifesto
do
Partido
Comunista, os diferentes tipos de socialismo
nao cientifico (utopico, cristao,
pequeno-burgues,
e outros), hoje e necessario compreender e identificar os tracos
principais
do socialismo de mercado de Gorbatchov, uma variante moderna
do
socialismo
pequeno-burgues. Do nosso ponto de vista, tais tracos estao relacionados
com
os seguintes aspectos:
–
A proclamacao do parlamentarismo burgues como poder popular e a colocacao da
exigencia
de eleicoes parlamentares ≪justas≫ e do objectivo da
vitoria eleitoral no topo
das
tarefas prioritarias;
–
A defesa do modelo economico de socialismo de mercado, pretensamente na base
de
diferentes formas de propriedade, mas no essencial assente na propriedade
privada
capitalista,
sob o poder politico da burguesia.
A
politica do Partido Comunista da China constitui o exemplo e modelo para a
maioria
dos partidos que partilham esta concepcao. Todavia, para os operarios da
industria
petrolifera da provincia de Manguistau, no Cazaquistao, que entraram em
greve
em 2011, – contra os quais o poder reaccionario e os proprietarios chineses
utilizaram
nao so o aparelho repressivo, os tribunais e as prisoes, como depois
organizaram
o assassinio de operarios e seus familiares e a seguir deram ordem para as
forcas
policiais dispararem sobre os manifestantes – a linha da construcao
do
socialismo
com propriedade privada capitalista e tudo
menos socialista. Alias,
2 2
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