*Carlos Pompe
Joaquim Aurélio
Barreto Nabuco de Araújo sempre é referido nas escolas como um dos políticos
que se destacaram na luta pela abolição da escravatura. Esse deputado federal,
diplomata, jurista e jornalista pernambucano, nascido em 1849, também foi um
grande defensor do Estado laico. Vale lembrar seus ensinamentos sobre o tema,
emitidos na segunda metade do século XIX e início do século XX (morreu no
início de 1910).
Ele criticou a Igreja Católica Apostólica Romana por ter se
valido do trabalho escravo: "A Igreja Católica, apesar do seu imenso
poderio em um país ainda em grande parte fanatizado por ela, nunca elevou no
Brasil a voz em favor da emancipação", disse.
Num período em que o clero gozava de todas as benesses
governamentais, Nabuco defendia a separação entre Estado e Religião e a
laicidade do ensino público. Discursou, em 15 de maio de 1879, quando tinha 30
anos: "Eu desejava concordar com os nobres deputados, em que se deveria
deixar a liberdade a todas as seitas; mas, enquanto a Igreja Católica estiver,
diante das outras seitas, em uma situação privilegiada (…), os nobres deputados
hão de admitir que (…) ela vai fazer ao próprio Estado, de cuja proteção se
prevalece, uma concorrência poderosa no terreno verdadeiramente leigo e
nacional do ensino superior. Se os nobres deputados querem conceder maiores
franquezas, novos forais à Igreja Católica, então a separem do Estado."
"É a Igreja
Católica que em toda a parte pede a liberdade do ensino superior. Essa
liberdade não foi pedida em França pelos liberais; mas pela Igreja. (…) É por que
reconheça que o ensino deva ser livre? Não. Aí está o Syllabus que fulmina de
excomunhão quem o sustentar". O que ela pretenderia é "a partilha do
monopólio para, quando achar-se senhora exclusiva (…), fechar a porta à
liberdade e à ciência". Infelizmente são palavras que guardam intensa
atualidade neste século XXI. Em tempo: o
Syllabus errorum foi uma lista de erros proclamada pelo papa Pio IX, em
1864, condenando o panteísmo, naturalismo, racionalismo, indiferentismo,
socialismo, comunismo, franco-maçonaria,judaísmo, igrejas cristãs adversárias e
outras formas de liberalismo religioso.
Vai além, o orador: "A Igreja Católica foi grande no
passado, quando era o cristianismo; quando nascia no meio de uma sociedade
corrompida, quando tinha como esperança a conversão dos bárbaros, que se
agitavam às portas do Império minado pelo egoísmo, corrompido pelo cesarismo,
moralmente degradado pela escravidão. A Igreja Católica foi grande quando tinha
que esconder-se nas catacumbas, quando era perseguida. Mas, desde que
Constantino dividiu com ela o império do mundo, desde que de perseguida ela
passou a sentar-se no trono e a vestir a púrpura dos césares, desde que, ao
contrário das palavras do seu divino fundador, que disse: - O meu reino não é
deste mundo, - ela não teve outra religião senão a política, outra ambição
senão o governo, a Igreja tem sido a mais constante perseguidora do espírito de
liberdade, a dominadora das consciências, até que se tornou inimiga
irreconciliável da expansão científica e da liberdade intelectual do nosso
século!"
Encerra seu
pronunciamento com palavras, que para serem mais atuais, só bastava juntar à
Igreja Católica as seitas evangélicas: "Quando o catolicismo se refugia na
alma de cada um, eu o respeito; é uma religião da consciência, é um grande
sentimento da humanidade. Mas do que sou inimigo é desse catolicismo político,
desse catolicismo que se alia a todos os governos absolutos, é desse
catolicismo que em toda a parte dá combate à civilização e quer fazê-la retroceder".
*Carlos Pompe, jornalista, comunista, editor do Vermelho?DF
Nenhum comentário:
Postar um comentário