È pelo "Jornal Nacional" que a Globo conspira, insufla o povo contra o governo e tenta manter sua liderança e até inspira golpistas de plantão!
*Paulo Nogueira
Há uma inquietação no ar com
a posse do novo titular da Secretaria de Comunicações da Presidência da
República, Thomas Traumann, que substitui a bizarra Helena Chagas. Tão bizarra quanto o poder dos Marinho: "A Globo tem 60% da
receita publicitária brasileira tendo 20% da audiência. Todo este dinheiro – o
governo colocou 6 bilhões de reais nos últimos dez anos – alimenta uma máquina
que defende os interesses dos Marinhos (...). E defende bem: os herdeiros de
Roberto Marinho têm, juntos, a maior fortuna do Brasil, como mostra a lista de
bilionários da Forbes. São cerca de 55 bilhões de dólares, somados". Não
faltam razões para a tal inquietação. A missão de Thomas Traumann Postado em 31
Jan 2014 por Paulo Nogueira Thomas Traumann foi uma excelente aquisição para a
Secom. Trabalhamos juntos na Época em meados dos anos 2 000. Thomas é um
jornalista competente e um homem de caráter. Fazia, na revista, uma das seções mais
lidas: Filtro. Como o nome diz, era uma filtragem das notícias mais importantes
da política. (O espírito dela está presente em nosso Essencial.) Eu era diretor
editorial, e minha divisa era: “um olho na revista e outro no site”. Thomas,
com seu Filtro, era a representação disso. Na edição semanal, você tinha ali o
principal do mundo político no papel. Diariamente, pela internet, você se
informava por Thomas. O mundo político acompanhava-o. Lembro que uma vez Serra,
então forte candidato à presidência, nos contou que uma de suas leituras
obrigatórias era o Filtro de Thomas. Ele chega à Secom sob uma cínica
desconfiança da mídia. Absurdamente privilegiada há anos, décadas, por
sucessivos governos com coisas como publicidade em doses abjetas e financiamentos
a juros maternos em bancos públicos, a mídia teme que a Secom coloque algum
dinheiro em blogs que representam, hoje, a garantia de que vozes e visões
alternativas chegarão à sociedade. As companhias de jornalismo defendem,
essencialmente, seus próprios interesses – e os do grupo a que pertencem, o
chamado 1%. Antes da internet, elas comandavam – manipulavam – a opinião
pública. Veja o que elas fizeram com Getúlio e, depois, Jango. Com Lula, no
Mensalão, o mesmo comportamento padrão se repetiu – a tentativa de minar
governantes populares. A diferença é que a estratégia não funcionou. A intenção
era a mesma. Foi nesse quadro que a internet surgiu e floresceu como uma vital
contrapartida às empresas de mídia. Colunistas que reproduzem o pensamento
patronal estão criticando a nomeação de Thomas. Reinaldo Azevedo – que tem uma
velha obsessão por mim – é um deles. É até engraçado. Quando dirigiu uma
revista a favor do PSDB, Azevedo recebeu mensalões do governo paulista na forma
de anúncios. Nem isso foi suficiente para salvar a publicação. A revista para a
qual ele trabalha – a Veja – é abençoada com a compra de lotes consideráveis
pelo governo de Alckmin. Os exemplares vão terminar em escolas estaduais cujos
alunos estão na internet. São conhecidos os relatos de gente que vê as revistas
indo para o lixo exatamente como chegam – na embalagem plástica. Alguém pode
imaginar jovens lendo revistas de papel, com a internet à sua disposição? Mas o
governo Alckmin gasta milhões em Vejas que não serão lidas por estudantes que
sequer a conhecem. Thomas Traumann chega com uma missão relevante: dar mais
nexo ao investimento publicitário oficial. Faz sentido a Globo – com audiência
em queda aguda por conta também da internet – continuar a receber tanto
dinheiro em anúncios governamentais? A Globo é uma bizarrice. Graças ao BV
(Bonificação por Volume), uma espécie de propina para as agências, a Globo tem
60% da receita publicitária brasileira tendo 20% da audiência. Todo este
dinheiro – o governo colocou 6 bilhões de reais nos últimos dez anos – alimenta
uma máquina que defende os interesses dos Marinhos, dos Marinhos e ainda dos
Marinhos. E defende bem: os herdeiros de Roberto Marinho têm, juntos, a maior
fortuna do Brasil, como mostra a lista de bilionários da Forbes. São cerca de
55 bilhões de dólares, somados. Durante muito tempo, só o governo pagava tabela
cheia de publicidade quando os anunciantes privados tinham descontos que podiam
passar de 50%. Era uma torração infernal de dinheiro público. Dívidas com
bancos oficiais eram pagas, frequentemente, com anúncios. Nos anos 1980, o
Jornal do Brasil regurgitava de anúncios do governo. Investir no jornalismo
digital é fundamental – sobretudo para a sociedade. Jango não teria sido
derrubado tão fácil se na época houvesse a internet para mostrar o que os
jornais não mostravam. Teríamos evitado, simplesmente, a ditadura militar – a
qual, além de matar brasileiros, construiu um país campeão mundial de
desigualdade. Os militares – apoiados pela mídia – fizeram um governo de ricos,
por ricos e para ricos. Thomas, na Secom, é a esperança de que cheguem ao fim
as mamatas das empresas de mídia no que diz respeito às verbas oficiais. Se
Thomas se sair bem, mais que o governo Dilma, quem ganhará mesmo é a sociedade
brasileira.
*O
jornalista Paulo Nogueira é fundador e diretor editorial do site de notícias e
análises Diário do Centro do Mundo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário