segunda-feira, abril 20, 2009

Vida, trajetória & Revolução

Minha gente amiga!!!

Neste último sábado dia 18 de abril, filmamos na casa do Chico Martins, em Santa Cruz, aprazível balneário perto de Aracruz no Espírito Santo, a primeira parte de um filme documentário sobre minha trajetória de vida e militância política, desde 1962 até agora, passando pelos anos de chumbo da ditadura militar. Este documentário que esta sendo dirigido pelo cineasta/artista plástico Tião Fonseca, com a colaboração do publicitário Osmario Cavalcante, faz parte de um projeto que inclui ainda um livro(já sendo escrito) pelo historiador brasiliense Pablo Emanuel Moura.

O projeto nasceu de uma idéia de um “Centro de Memória Revolucionário”, da Nanda Tardin, do Celso Lungaretti e outros camaradas das “antigas”, do PCdoB, pessoal que sobreviveu à ALN (Aliança Libertadora Nacional) que era dirigida por Carlos Marighela e Joaquim Câmara Ferreira e amigos do peito. Esperamos que até novembro próximo, consigamos terminar o vídeo-documentario e o livro esteja no prelo.

Até lá temos ainda um longo percurso, como batalhar patrocínio e ajuda para editar e finalizarmos o vídeo, encontrar uma editora arrojada pra editar o livro e preparar depois o lançamento das duas peças, que espero contribuam para enriquecer a história recente do Brasil e lançar luzes polemicas sobre os caminhos e perspectivas da revolução brasileira.

História de vida

No meu depoimento no vídeo-documentario e no livro, narro minha trajetória desde quando ainda em Penápolis, no interior paulista. entre os 13/14 anos, por volta de 1962,
tive contato com as idéias socialistas e revolucionarias. Comecei a militar numa base incipiente dirigida pelo velho PCB, chamada Organização Operária, Estudantil Camponesa, naquela pequena cidade do interior paulista onde fui criado. Depois do golpe militar e decepcionados com PCB, ajudamos a organizar a Dissidência Comunista de São Paulo, que acabou fornecendo os quadros que fundaram a ALN e outras organizações revolucionarias que optaram pela luta armada e guerrilha urbana para enfrentar a ditadura.

Militei na ALN até compreender que aquela forma de luta estava equivocada e esgotada e caminhávamos celeremente para o aniquilamento e extinção, como acabou ocorrendo. Falo dos meus dois encontros com Toledo, o lendário dirigente Joaquim Câmara Ferreira, o segundo depois de Marighela no comando da ALN. Um dos encontros foi logo depois de entrar na organização e o segundo quando pedi meu desligamento, explicitando o porque dele.

Fui depois para a APML, que nesta época, por volta de 1972, já discutia e formulava a adesão ao PCdoB, considerado pela maioria como o único partido com condições de dirigir a luta revolucionaria conseqüente no Brasil. Falo também dos períodos de clandestinidade forçada e das inúmeras (4) prisões que sofri, das barbáries das torturas sendo a pior delas em setembro de 1973. Depois, por volta de 1976 saio da prisão já integrado à Estrutura 1 do PCdoB, engajado na luta política da época pela anistia, constituinte e democracia plena.

No Espírito Santo

Em janeiro de 1979 a Estrutura 1 do PCdoB me manda para o Espírito Santo, com a missão de reorganizar o partido que tinha sido praticamente dizimado e desestruturado pela ação da repressão da Ditadura. Aqui encontro Gildo Ribeiro, Dines Brozeghini , Paulo Mossoró, Nilo Walter e uns poucos outros espalhados pelo Estado. Iniciamos então a batalha para reorganizar e ampliar o numero de quadros e militantes do partido e integrarmos a vida política do Estado, sob o manto dissimulado do MDB, hoje PMDB.

Em 1985 volto para São Paulo para integrar a Comissão de Propaganda do Comitê Central e militar no Comitê regional de São Paulo. Depois vou para Brasília militar no partido e trabalhar, mas mantendo sempre um vinculo muito forte com o Espírito Santo e os camaradas e amigos que lá deixei.

O vídeo narra esta época e o livro vai mais fundo, detalhando estas fases e períodos, chegando até os dias atuais, quando vitima de uma doença que praticamente me paralisou o corpo todo, passo por um ano praticamente de tratamento e operação para estancar o processo de paralisia do meu organismo e volto ao Espírito Santo para estar com minha família, minha esposa Polyana, minha filha Elza Maria e meu filho Paulo Roberto e concluir o tratamento fisioterápico e me preparar para novas lutas e embates que a vida, a revolução e o socialismo exige ainda de nós.

segunda-feira, abril 13, 2009

Vale a pena ler. MESMO!

Continuo convalescendo, aqui em Fundão dos Indios, no interior do Espírito Santo da terrivel doença que me atingiu a medula. Superei a pior parte, mas a recuperação é lentísima e os movimentos de minhas mãos continuam semiparaliza.dos Por isto, e também porque vale a pena, tenho reproduzido aqui artigos e trechos de materias escritas por amigos e companheiros. As que estão ai embaixo valem a pena ser lidos. MESMO!!!

O DIA A DIA DE QUEM RESISTIA A DITADURA!





Reproduzo aqui trecho de um magnífico artigo de meu amigo e companheiro de lutas contra a Ditadura fascista que assolou o Brasil durante 22 anos,Celso Lungaretti, onde ele responde as acusações e baboseiras que a direita e os mal informados, dizem sobre os militantes da esquerda, armada ou não, nos tempos da Ditadura. Eu mesmo vivi durante vários períodos esta situação que ele descreve aqui. Luiz Aparecido



“OS "BENEFÍCIOS" DOS ASSALTOS - Além de agradecer ao jornal por dar aos brasileiros “a noção exata de quem podem colocar para dirigir um país”, ele repetiu a cantinela habitual dos sites fascistas: “Quem se beneficiou do produto dos assaltos, sequestros, guerrilhas e assassinatos cometidos em nome da ideologia? Apenas eles, os ilegais, que hoje estão no poder...”.

Fiquemos por aqui, pois não quero provocar náuseas nos meus leitores.

Eu militei na VPR entre abril/1969 e abril/1970, quando fui preso pelo DOI-Codi/RJ, sofri torturas que me deixaram à beira de um enfarte aos 19 anos de idade e me causaram uma lesão permanente.

Nesse ano em que me beneficiei do produto dos assaltos praticados pelas organizações de resistência à tirania implantada pelos usurpadores do poder, como foi minha vida de nababo?

Na verdade, recebia o estritamente necessário para subsistir e manter a minha fachada de vendedor autônomo.

No início, fui obrigado a me abrigar em locais precaríssimos, como o porão de um cortiço na rua Tupi, próximo da atual estação do metrô Marechal Deodoro, na capital paulistana. Era só o que eu conseguia pagar com o produto dos assaltos.

Cada quarto era um cubículo mal ventilado. Enxames de pernilongos me atacavam durante o sono. Afastava-os com espirais que mantinha acesos durante a noite inteira... e me faziam sufocar.

O que mudou quando minha organização fez o maior assalto da esquerda brasileira em todos os tempos, apossando-se dos dólares da corrupção política guardados no cofre da ex-amante do governador Adhemar de Barros? Quase nada.

Era dinheiro para a revolução, não para gastos pessoais. Apesar de integrar o comando estadual de São Paulo e depois exercer papel semelhante no Rio de Janeiro, continuei levando existência das mais austeras.

Meu último abrigo foi o quarto alugado no amplo apartamento de uma velha senhora do Rio Comprido. Fazia tanto calor que eu era obrigado a dormir despido sobre o chão de ladrilhos, que amanhecia ensopado de suor.

Quando tinha de abandonar às pressas um desses abrigos, todos os meus bens cabiam numa mala de médio porte. Vinham-me à lembrança os versos de Brecht, “íamos pela luta de classes, desesperados/ trocando mais de países que de sapatos”.

Havia, sim, um dinheiro extra, que equivaleria a uns R$ 10 mil atuais. Mas, tratava-se do fundo a que recorreríamos caso ficássemos descontatados e tivéssemos de sobreviver ou deixar o país por nossos próprios meios, sem ajuda dos companheiros que já estariam presos ou mortos.

Nenhum de nós gastava essa grana, era ponto de honra. Os fundos de reserva acabaram chegando, intactos, às garras dos rapinantes que nos prendiam e matavam. Nunca prestaram conta disso, nem dos carros, das armas e até das peças de vestuário que nos tomaram.

E, mesmo que tivéssemos dinheiro para esbanjar, como o gastaríamos? Éramos procurados no país inteiro, com nossos nomes e fotos expostos em cartazes falaciosos.

Eu, que nunca fizera mal a uma mosca, aparecia nesses cartazes como “terrorista assassino, foragido depois de roubar e assassinar vários pais de família”. O Estado usava o dinheiro do contribuinte para me fazer acusações mentirosas e difamatórias!

Para manter as aparências, éramos obrigados a sair cedo e voltar no fim do dia. Os contatos com companheiros eram restritos ao tempo estritamente necessário para discutirmos os encaminhamentos em pauta; dificilmente chegavam a uma hora.

Sobravam longos intervalos, com nada para fazermos e a obrigação de ficarmos longe de situações perigosas. Tínhamos de procurar locais discretos, tentando passar despercebidos... por horas a fio. Sujeitos a, em qualquer momento, sermos surpreendidos por uma batida policial.

Vida amorosa? Dificílima. Cada momento que passássemos com uma companheira era um momento em que a estávamos colocando em perigo. Ninguém corria o risco de ir transar em hotéis, sempre visados (e nossa documentação era das mais precárias, passei uns oito meses tendo apenas um título eleitoral falsificado). E as facilidades atuais, como motéis, quase inexistiam.

Aos 18/19 anos, senti imensa atração por duas aliadas, uma em São Paulo e outra, meses mais tarde, no Rio de Janeiro. Com ambas, o sentimento era recíproco. E nos dois casos mal passamos dos beijos apaixonados com que nos cumprimentávamos e despedíamos. Qualquer coisa além disso seria perigosa demais.

Enfim, esta é a vida que levávamos, acordando a cada manhã sem sabermos se estaríamos vivos à noite, passando por freqüentes sustos e perigos, recebendo amiúde a notícia da perda de companheiros queridos (eu até relutava em abrir os jornais, tantas eram as vezes que só me traziam tristeza).

Sobreviver alguns meses já era digno de admiração. Ao completar um ano nessa vida, eu já me considerava (e era considerado pelos companheiros) um veterano. Caí logo em seguida.

Dos tolos que saem repetindo essas ignomínias marteladas dia e noite pela propaganda enganosa da direita, nem um milésimo seria capaz de encarar a barra que encaramos, não pelas motivações ridículas que nos atribuem, mas por não agüentarmos viver, e ver nosso povo vivendo, debaixo das botas dos tiranos!”



* Jornalista, escritor e ex-preso político, mantém os blogs

http://naufrago-da-utopia.blogspot.com/

http://celsolungaretti-orebate.blogspot.com/

domingo, abril 05, 2009

Verdade seja dita!

Não poderia deixar de fora o artigo abaixo, enviado pelo meu amigo baiano Celso Mathias, blogueiro dea revista eletronica VidaBrasil.

VEJA, MST, DASLU e luta de classes Por: Galindoluma (*)
“Assim como ser pobre não é qualidade, ser rico não é um crime, ao contrário do que esperneiam os demagogos de credo esquerdista” (Veja, 1º de Abril)
Não é novidade pra ninguém que a Veja é porta-voz da direita brasileira - a direita mais empedernida. O deputado federal Aldo Rebelo do PC do B em São Paulo chegou a dizer que a publicação é a única revista americana escrita em português. Uma das últimas capas estampou o presidente americano como o “camarada Barack Obama”, uma cópia mal feita das matrizes nos Estados Unidos que também exploraram esse gancho.
A receita deles é velha conhecida e aplicada semanalmente: esculhambar com Chaves, achincalhar a “ditadura” cubana, desmoralizar qualquer manifestação do povo organizado em luta; atacar o governo Lula e enaltecer o deus mercado, o capitalismo, o liberalismo, e tudo que represente os interesses da elite avarenta e corrupta que domina o mundo.
Na edição dessa semana, a Veja traz na capa o caso da prisão de Eliana Tranchesi, dona da Daslu, loja de luxo onde milionários/perdulários torram grana sem limites em produtos importados fraudulentamente. Para se ter uma idéia, uma bolsa adquirida no exterior por R$4 mil era contabilizada pelo insignificante valor de 12 reais, o que gerou uma sonegação de R$600 milhões, podendo chegar a R$1 bilhão.
A proprietária foi condenada a 94 anos por uma série de crimes e provocou reações diversas, entre as quais a do jurista Luís Flávio Gomes, ouvido por veja:: Não é porque a justiça é injusta para alguns que deve ser assim para todos”. Tanto a frase que abre esse texto como a desse jurista, são manifestações de solidariedade da nata da burguesia desse país a um de seus pares. A Veja acha que ser rico não é crime, mas é bom saber que não existe riqueza acumulada que não tenha origem na exploração de trabalhadores, uma espécie de crime não previsto no código penal. Quem é verdadeiramente demagogo nessa história? São eles próprios, que consideram crime o fato de pobres se organizarem e lutarem por uma vida melhor.
E sobre a perplexidade do jurista diante da “elástica” pena de Eliana, deve-se ao fato de nos acostumarmos nesse país a à prisão e condenação de pessoas pobres e negras. Fôssemos mais rigorosos, um cidadão que subtrai do erário R$ 600 milhões mereceria o que mesmo? Na China, bandidos assim são fuzilados e a família ainda arca com o custo da bala. Quantas casas populares poderiam ter sido construídas com esses recursos surrupiados? Quantos sem-terra poderiam ser assentados?
Agora nos lembremos de uma outra matéria, estampada em capa, onde os trabalhadores rurais sem-terra são rotulados de delinqüentes, bandidos, fora-da-lei e outros termos depreciativos. Alguns ingênuos e/ou mal intencionados rejeitam a tese marxista da existência da luta de classes na sociedade. Para estes, eis aí como funciona essa batalha encarniçada! A família Civita fica consternada com a prisão de um de seus e ataca ferozmente os pobres coitados que estão na miséria, vivendo em condições desumanas e que tentam conquistar um pequeno pedaço de terra para plantar e sobreviver. Luta de classes é assim. Cada qual no seu campo de batalha. Eu estou do lado do MST. E você?
(*) Galindoluma escreve quando bebe e bebe quando escreve