quinta-feira, novembro 29, 2012





Hildegard Angel em seu Blog, www.hildegardangel.com.br

Publicado em 28 de novembro de 2012


O poder pode derivar de muitas forças. Jânio Quadros, ao abrir mão do poder maior da República ou supostamente o maior poder, referiu-se às “forças ocultas”. Até hoje não sabemos quais foram elas.
Hoje, porém, sabemos quais forças estiveram por trás do golpe militar de 1964. E a quem quiser se aprofundar recomendo o vídeo O dia que durou 21 anos que explica tudo em detalhes, sem deixar dúvida sobre dúvida.
A República repousa sobre três poderes: Executivo, Legislativo, Judiciário. Há também o quarto poder, que muitos julgam até ser o primeiro de fato, que é o da Mídia. Por todos os seus méritos, nada define melhor a grande mídia no país do que as Organizações Globo, concentradora de vários segmentos das comunicações, abrangendo as mídias impressa, televisionada, internet, radiofonia etc. É um poder excepcional.
No universo das comunicaçoes, aí compreendendo imprensa, música, cinema, televisão, teatro, internet, literatura, podemos mesmo dizer que há dois brasis. Aquele que está na Globo e o que não está na Globo. Este último é o Brasil dos profissionais de segunda classe, os de menor cotação no mercado.
Recentemente, um articulista do sistema “global” comparou quem não escreve na mídia impressa a sambista de segundo grupo. O poder lhe permite isso.
O quarto poder permite tudo. Permite toda a forma de arrogância. Uma prepotência embriagadora, etílica. Atitudes soberbas. Como a que levou, não faz muito tempo, um conhecido autor de novela a, num concorrido evento literário, destratar aos gritos um estimado crítico de cinema por discordar de apenas uma frase de um artigo a seu respeito.
Nesse porre de poder, as pessoas perdem completamente o senso da realidade, do ridículo, da humanidade, da ética, da compostura.
Também em outras atividades, esse desvario sobe à testa. Está muito em pauta na atualidade discutir-se as transmissões do canal da TV Justiça. Não são atores que as protagonizam. Não são personagens de ficção. São pessoas reais. Um Poder que deveria me trazer conforto e confiança, porém, me perturba, aflige. Me assusta.
E eu que pensei que não viveria novamente, neste país, cenários de silêncio amedrontado…
O último medo emblemático que guardo na memória foi o da atriz Dina Sfat, ao participar, em 1981, como entrevistadora do programa Canal Livre tendo o general Dilermando Monteiro na berlinda. Ela se manteve muda todo o tempo. Quando lhe pediram ao final que fizesse uma pergunta ao general,Dina disse apenas: “Eu tenho medo dos militares”. A frase de Dina virouHistória.
Caros leitores, tenho, agora, como jornalista, reportadora de fatos, observadora dos momentos brasileiros e vítima de alguns deles, a triste missão de lhes informar que o meu medo voltou. E desta vez o medo que sinto não é dos militares…
Dina Sfat tinha medo. E eu tenho uma má notícia para lhes dar: o medo de que falava Dina Sfat voltou!


quarta-feira, novembro 28, 2012

Só Revolução resolve crises do capitalismo!!



Por: Manuel Castells -

Culturas econômicas alternativas teriam sido reforçadas pela crise. Mas sociólogo adverte: sistema não entrará em colapso por si mesmo
Entrevista a Paul Mason | Tradução: Gabriela Leite | Imagem: Binho Ribeiro

O professor Manuel Castells é um dos sociólogos mais citados no mundo. Em 1990, quando os mais tecnologicamente integrados de nós ainda lutavam para conseguir conectar seus modens, o acadêmico espanhol já documentava o surgimento da Sociedade em Rede e estudava a interação entre o uso da internet, a contracultura, movimentos de protesto urbanos e a identidade pessoal.
Paul Mason, editor de notícias econômicas da rádio BBC, entrevistou o professor Castells na London School of Economics (Escola de Economia de Londres) sobre seu último livro, “Aftermath: The Cultures of Economic Crisis” (“Resultado: as Culturas da Crise Econômica”), ainda sem tradução para português.
Castells sugere que talvez estejamos prestes a ver o surgimento de um novo tipo de economia. Os novos estilos de viver dão sentido à existência, mas a mudança tem também um segundo motor: consumidores que não têm dinheiro para consumir.
São práticas econômicas não motivadas pelo lucro, tais como o escambo, as moedas sociais, as cooperativas, as redes de agricultura e de ajuda mútua, com serviços gratuitos – tudo isso já existe e está se expandindo ao redor do mundo, diz ele. Se as instituições políticas vão se abrir para as mudanças que acontecem na sociedade – é cedo para saber. Seguem trechos da conversa.

O que é surgimento de novas culturas econômicas?

Quando menciono essa Cultura Econômica Alternativa, é uma combinação de duas coisas. Várias pessoas têm feito isso já há algum tempo, porque não concordam com a falta de sentido em suas vidas. Agora, há algo mais — é a legião de consumidores que não podem consumir. Como não consomem — por não terem dinheiro, nem crédito, nem nada — tentam dar sentido a suas vidas fazendo alguma coisa diferente. Portanto, é por causa das necessidades e valores — as duas coisas juntas — que isso está se expandindo.

Você escreveu que as economias são culturais. Pode falar mais sobre isso?
Se queremos trabalhar para ganhar dinheiro, para consumir, é porque acreditamos que comprando um carro novo ou uma nova televisão, ou um apartamento melhor, seremos mais felizes. Isso é uma forma de cultura. As pessoas estão revertendo essa noção. Pelo contrário: o que é importante em suas vidas não pode ser comprado, na maioria dos casos. Mas elas não têm mais escolha porque já foram capturadas pelo sistema. O que acontece quando a máquina não funciona mais? As pessoas dizem “bem, eu sou mesmo burro. Estou o tempo todo correndo atrás de coisa nenhuma”.
Qual a importância dessa mudança cultural?
É fundamental, porque desencadeia uma crise de confiança nos dois maiores poderes do mundo: o sistema político e o financeiro. As pessoas não confiam mais no lugar onde depositam seu dinheiro, e não acreditam mais naqueles a quem delegam seu voto. É uma crise dramática de confiança – e se não há confiança, não há sociedade. O que nós não vamos ver é o colapso econômico 
per se, porque as sociedades não conseguem existir em um vácuo social. Se as instituições econômicas e financeiras não funcionam, as relações de poder produzem transformações favoráveis ao sistema financeiro, de forma que ele não entre em colapso. As pessoas é que entram em colapso em seu lugar.

A ideia é que os bancos vão ficar bem, nós não. Aí está a mudança cultural. E grande: uma completa descrença nas instituições políticas e financeiras. Algumas pessoas já começam a viver de modo diferente, conforme conseguem – ou porque desejam outras formas de vida, ou porque não têm escolha. Estou me referindo ao que observei em um dos meus últimos estudos sobre pessoas que decidiram não esperar pela revolução para começar a viver de outra maneira – o que resulta na expansão do que eu chamo de “práticas não-capitalistas”.

São práticas econômicas, mas que não são motivadas pelo lucro – redes de escambo, moedas sociais, cooperativas, autogestão, redes de agricultura, ajuda mútua, simplesmente pela vontade de estar junto, redes de serviços gratuitos para os outros, na expectativa de que outros também proverão você. Tudo isso existe e está se expandindo ao redor do mundo.

Na Catalunha, 97% das pessoas que você pesquisou estavam engajadas em atividades econômicas não-capitalistas.
Bem, estão entre 30-40 mil os que são engajados quase completamente em modos alternativos de vida. Eu distinguo pessoas que organizam a vida conscientemente através de valores alternativos de pessoas que têm vida normal, mas que têm costumes que podem ser vistos como diferentes, em muitos aspectos. Por exemplo, durante a crise, um terço das famílias de Barcelona emprestaram dinheiro, sem juros, para pessoas que não são de sua família.
O que é a Sociedade em Rede?
É uma sociedade em que as atividades principais nas quais as pessoas estão engajadas são organizadas fundamentalmente em rede, ao invés de em estruturas verticais. O que faz a diferença são as tecnologias de rede. Uma coisa é estar constantemente interagindo com pessoas na velocidade da luz, outra é simplesmente ter uma rede de amigos e pessoas. Existe todo tipo de rede, mas a conexão entre todas elas – sejam os mercados financeiros, a política, a cultura, a mídia, as comunicações etc –, é nova por causa das tecnologias digitais.

Então, nós vivemos numa Sociedade em Rede. Podemos deixar de viver nela?
Podemos regredir a uma sociedade pré-eletricidade? Seria a mesma coisa. Não, não podemos. Apesar de agora muitas pessoas estarem dizendo “por que não começamos de novo?” É um grande movimento, conhecido como “decrescimento”. Algumas pessoas querem tentar novas formas de organização comunitária etc.

No entanto, o interessante é que, para as pessoas se organizarem e debaterem e se mobilizarem pelo decrescimento e o comunitarismo, elas têm que usar a internet. Não vivemos numa cultura de realidade virtual, mas de real virtualidade, porque nossa virtualidade – significando as redes da internet – é parte fundamental da nossa realidade. Todos os estudos mostram que as pessoas que são mais sociáveis na internet são também mais sociáveis pessoalmente.

Existem diversos grupos que hoje protestam sobre o assunto A, amanhã sobre o assunto B, e à noite jogam World of Warcraft (jogo RPG online de aventura). Mas será que eles vão conseguir o que Castro e Guevara conquistaram?
O impacto nas instituições políticas é quase insignificante, porque elas são hoje impermeáveis a mudanças. Mas, se você olhar para o que está acontecendo em termos de consciência… há coisas que não existiam três anos, como o grande debate sobre a desigualdade social.

Em termos práticos, o sistema é muito mais forte do que os movimentos nascentes… você atinge a mente das pessoas por um processo de comunicação, e esse processo, hoje, acontece fundamentalmente pela internet e pelo debate. É um processo longo, que vai das mentes das pessoas às instituições da sociedade. Vamos usar um exemplo histórico: a partir do fim do século XIX, na Europa, existiam basicamente os Conservadores e os Liberais, direita e esquerda. Mas então alguma coisa aconteceu – a industrialização, os movimentos da classe trabalhadora, novas ideologias. Nada disso estava no sistema político. Depois de vinte ou trinta anos, vieram os socialistas e depois a divisão dos socialistas… e os liberais basicamente desapareceram. Isso mudará a política, mas não por meio de ações políticas organizadas da mesma maneira. Por quê? Porque as redes não necessitam de organizações hierárquicas.

Onde isso vai dar?
Tudo isso não vai virar uma grande coalizão eleitoral, não vai virar nenhum novo partido, nenhum novo coisa nenhuma. É simplesmente a sociedade contra o Estado e as instituições financeiras – mas não contra o capitalismo, aliás, contra instituições financeiras, o que é diferente.

Com esse clima, acontece que nossas sociedades se tornarão cada vez mais ingovernáveis e, em consequência, poderá ocorrer todo tipo de fenômeno – alguns muito perigosos. Veremos muitas expressões de formas alternativas de política, que escaparão das correntes principais de instituições políticas tradicionais. E algumas, é claro, voltando ao passado e tentando construir uma comunidade primitiva e nacionalista para atacar todos os outros movimentos e, finalmente, conseguir ter uma sociedade excluída do mundo, que oprime seu próprio povo.

Mas acontece que, em qualquer processo de mudança social desorganizada e caótica, todos esses fenômenos coexistem. E o modo como atuam uns contra os outros vai depender, em última análise, de as instituições políticas abrirem suficientemente seus canais de participação para a energia de mudança que existe na sociedade. Então talvez elas possam superar a resistência das forças reacionárias que também estão presentes em todas as sociedades.


sexta-feira, novembro 23, 2012

Artigo de Carlos Pompe relaciona "julgamento do mensalão" com Luiz Fernando Verissimo, Shakespeare e Julio Cesar!!


Verissimo, Shakespeare e o STF
Marlon Brando interpreta o discurso de Marco Antonio diante do cadáver de Julio Cesar!!!  Uma das mais belas cenas do  cinema!


A inovação jurídica do “domínio funcional do fato” usada à revelia de provas factuais no mais badalado processo jurídico em curso no Superior Tribunal Federal (STF) vem causando espanto a quantos acompanham a vida nacional desejando democratização crescente. Luis Fernando Verissimo recorreu a Shakespeare para tentar entender o que se passa no excelso tribunal.
No início de novembro, quando perguntado se sentia desencanto com a política, inclusive com os escândalos atribuídos ao governo Lula, Verissimo respondeu: “Acho que há muito o que criticar no governo Lula, mas a oposição ao PT no poder tem sido tão preconceituosa e desonesta que é preciso cuidar para não ser cúmplice da reação. Quanto às condenações pelo escândalo do mensalão, acho que só se pode dizer dos juízes do Supremo o que disse o Marco Antonio sobre os assassinos de Cesar, na peça do Shakespeare, sem sua ironia: que são todos homens honrados. Acreditar que foram condicionados pelo clima político ou pela imprensa é desacreditar em tudo o mais e cair num vácuo moral. Prefiro a condenação do PT ao vácuo. Mas não deixa de ser estranha a indiferença às origens da prática do mensalão, para favorecer o PSDB em Minas e na compra de votos para reeleger o Fernando Henrique”.
A referência do grande escritor brasileiro ao grande escritor inglês foi mais do que adequada – inclusive sua ressalva sobre a ironia do bardo (estaria sendo irônico?). Na peça Júlio César, um grupo de conspiradores convence Bruto de que César está para tornar-se ditador e que matá-lo é a única forma de impedir esse intento que lhe é atribuído. São apresentados muitos argumentos, mas nenhum fato concreto. Num solilóquio, Bruto chega a admitir que não há provas de que César, renegando toda a sua história, “tornar-se-á um tirano irracional e opressor”, como escreveu Harold Bloom (Shakespeare: a invenção do humano). Eis um trecho da fala de Bruto:
“Para ser franco com relação a César, nunca soube que as paixões ou a razão nele tivessem qualquer preponderância. Mas é coisa sabida em demasia que a humildade para a ambição nascente é boa escada. Quem ascende por ela, olha-a de frente; mas, uma vez chegado bem no cimo, volta-lhe o dorso, e as nuvens, só, contempla, desprezando os degraus por que subira. César assim fará. Antes que o faça, será bom prevenir. E, como a luta não poderá alegar o que ele é agora, argumentemos que se a sua essência vier a ser aumentada, é bem possível que incorra em tais e tais extremidades. Consideremo-lo ovo de serpente que, chocado, por sua natureza, se tornará nocivo. Assim, matemo-lo, enquanto está na casca.”
Como destaca Bloom, “‘argumentemos’ quer dizer inventar uma ficção e, em seguida, considerá-la viável”. E assim, a partir do que hoje poderia ser chamado de “teoria do domínio do fato”, Bruto e seus sequazes julgaram e apunhalam César, não pelo que fez, mas por ser “possível que incorra em tais e tais extremidades”...
Realmente, Verissimo, que no momento em que escrevo se encontra hospitalizado em estado grave, foi feliz (mais uma vez), ao lembrar, com ou sem ironia, os juízes e assassinos de César ao referir-se aos julgadores da ação penal 470 (mensalão).  Assim encerra o pronunciamento de Marco Antônio aludido por Verissimo: “Bons amigos, queridos amigos, não quero estimular a revolta de vocês. Aqueles que praticaram este ato são honrados. Quais queixas e interesses particulares os levaram a fazer o que fizeram, não sei. Mas são sábios e honrados e tenho certeza que apresentarão a vocês as suas razões. Eu não vim para roubar seus corações. Eu não sou um bom orador como Bruto. Sou um homem simples e direto, que amo os meus amigos”.
Desejemos que o novo presidente do STF não volte o dorso para a sua humildade de origem e que não contemple apenas as nuvens, desprezando os degraus que subira. Que não caiamos num vácuo moral, amém.
A íntegra da fala de Marco Antônio sobre a morte de César na peça de Shakespeare, considerado por Umberto Eco, com as catilinárias de Cícero, um dos discursos mais marcantes da história, pode ser lida aqui:
Se preferir o prazer de ler a íntegra de Júlio César, a peça está em domínio público, cedida pelo tradutor Nélson Jahr Garcia, em arquivo .PDF, aqui:


Sinopse do filme roteirizado e dirigido pelo grande cineasta Joseph L. Mankiewicz
Em Roma, (exatamente nos idos de março de 44 A.C., como tinha sido previsto) César (Louis Calhern) é assassinado, pois os senadores alegam que sua ambição o transformaria em um tirano. Mas Marco Antonio (Marlon Brando) consegue, em um inflamado discurso, reverter a situação e os conspiradores são obrigados a fugir. A partir de então dois exércitos são formados, um comandado por Marco Antonio e Otávio (Douglass Watson) e o outro por Cássio (John Gielgud) e Brutus (James Mason), sendo que este segundo exército é numericamente inferior, mas os conspiradores preferem cometer suicídio a serem capturados.

quinta-feira, novembro 22, 2012

A justificação bíblica do racismo


Noé amaldiçoa Canaã, filho de Cam
O doutor em genética humana Sérgio Pena, no artigo Desinventando as raças, contido no livro Charles Darwin em um futuro não tão distante (Instituto Sangari) considera que a “cristalização do conceito de raças e a emergência do racismo coincidiram historicamente com dois fenômenos: o início do tráfico de escravos da África para a América e o abandono da então tradicional interpretação religiosa da natureza em favor de interpretações científicas”.
No caso do cristianismo, seita dominante nos países que traficavam escravos, foi mudada a ênfase na origem da humanidade a partir de Adão e Eva e enfatizada a descendência dos humanos a partir de três filhos de Noé: Cam, Sem e Jafé. Cam, que flagrou o pai bêbado e nu, foi condenado por Noé a ter toda a sua descendência tornada escrava – e os descendentes de Cam, a partir de Canaã, seriam os negros africanos. Já os judeus se consideram descendentes de Sem e com esse pressuposto os sionistas justificam a matança de palestinos por Israel, como tristemente assistimos nestes dias. Mas voltemos ao “mundo cristão”. O que fazer com os africanos – e, depois, os nativos do Novo Continente – convertidos ao cristianismo? Pena prossegue: “Postulou-se que os escravos convertidos podiam ser mantidos em servidão porque, apesar de cristãos, eram descendentes de ateus”.
Os avanços da ciência a partir do XVIII acabaram reforçando o critério racial que evoluiu dos princípios bíblicos. Até hoje muitos argumentos e classificações adotados por cientistas do passado repetem classificações racistas entre os seres humanos, embora os avanços da genética molecular e o sequenciamento do genoma humano tenham desautorizado qualquer significado biológico para distinguir “raças” entre os Homo Sapiens Sapiens, como nos denominamos na atualidade.
Contudo as “raças” continuam a existir como construções sociais. Em Trabalho assalariado e capital, Marx escreveu: ““Um negro é um negro... Porém sob determinadas condições se converte em escravo. Uma máquina de fiar algodão é uma máquina de fiar algodão. Terão que ocorrer condições especiais para que se converta em capital”. As condições para um negro se converter em escravo mudaram mas, assim como a escravidão converteu-se em escravidão assalariada, no Brasil, o último país a abolir a escravidão, o negro foi convertido no assalariado pior remunerado...
Em São Paulo, a mulher negra chega a ganhar 47,8% do rendimento do homem não negro por hora. No Distrito Federal, a proporção é de 49,5%. Em Salvador, Recife, Porto Alegre, Fortaleza e Belo Horizonte, o homem não negro ganha quase 50% a mais do que as mulheres negras. Os dados da Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados (Seade) e do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) sobre as regiões metropolitanas, com base na pesquisa de emprego e desemprego (PED) de 2011, reafirmam a frase da canção de John Lennon, que diz que a mulher é o negro do mundo, devidamente completada com a constatação de que, se além de mulher, for negra, a situação piora.
Há alguns anos, foi realizada a campanha “Onde você guarda o seu racismo?”, que incentivava a não guardá-lo, mas jogá-lo fora. A campanha passou, mas o racismo continua, como demonstram os fatos do dia-a-dia, incluindo a discriminação de gênero evidenciada nos salários de homens e mulheres, brancos e negros.

terça-feira, novembro 20, 2012

ONDA DE VIOLÊNCIA ORIGINARIA EM SÃO PAULO SE ESPALHA POR OUTROS ESTADOS!!


Chame o Bandido


JAIME SAUTCHUK*

A onda de ações criminosas -- matança de policiais, de cidadãos comuns e queima de ônibus – demonstra em primeiro lugar que o crime organizado está muito mais organizado do que se imagina, em todo o país. O revide de policiais, matando bandidos, apenas revela fragilidade e sequer trisca no comando da bandidagem.

Fica mais que evidente, em primeiro lugar, que os criminosos estão mais avançados que a polícia em tecnologia. Basta ver as armas que usam e, principalmente, o emprego das telecomunicações. Afinal, falam com quem bem quiserem onde quer que estejam, a partir de bases localizadas até dentro de presídios de segurança máxima.

Do lado de fora, estão interlocutores de todas as graduações. Há desde parceiros de comando em suas organizações até o Zé-mané, em geral drogado que mata para pagar dívidas e que, caso morra, não lhes fará a mínima diferença. E pior: a teia não está apenas nas capitais, pois se emaranha país afora, em cidades de todo porte.

Esse não é um problema de hoje, já é histórico. A diferença está no tipo de ações. E a polícia, por seu lado, demonstra fragilidade mais que conhecida. Começa pela existência de várias polícias – Civil,  Militar e Federal -- que não se comunicam entre elas, a ponto de a toda hora baterem cabeças em campo, em tarefas idênticas.

Pela Constituição de 88, nos estados, as funções de cada uma deveriam ficar bem definidas em leis específicas, que nunca foram criadas. A investigação e a inteligência em geral deveriam ficar com a Civil. À Militar caberia a atividade prática de contato com as comunidades, detenções e garantia da ordem pública.

A Federal tem atribuições mais bem definidas, como conter o crime de dimensão nacional, controlar as fronteiras internacionais e por aí vai. Mas, mesmo assim, volta e meia também se depara com a sobreposição de atividades.

As polícias militares de todos os estados têm seu próprio serviço de inteligência, que faz de tudo, inclusive investigação, o que vai muito além de vigiar a própria corporação e seus membros.

Aliás, o controle interno não impede que, muitas vezes, o policial de qualquer agremiação aja de modo a ser confundido com bandidos, desvio que, pelas estatísticas, tem diminuído ano a ano, mas ainda é marcante. O mesmo ocorre com o abuso de poder, que vai desde o carteiraço até o tiro letal e silencioso.

A chance desses deslizes ocorrerem decresce de modo acentuado quando há movimentos organizados de integração com o cidadão, como ocorre nas Unidades Pacificadoras, no Rio de Janeiro. Por mais abrangente que sejam, porém, ainda são experiências isoladas.

A integração das polícias esbarra em problemas de toda ordem, inclusive salarial. Só a Federal tem um plano de carreira definido e unificado nacionalmente. Com as outras, esse aspecto é confuso e tem visíveis discrepâncias de estado para estado.

A Civil ganha mais que a Militar em todos os estados e no Distrito Federal. A única explicação apresentada por quem de direito é a diferença de nível de escolaridade exigido. Mas, a rigor, os trabalhos são os mesmos, só que um ganha três vezes mais que o outro, em vários estados.

Sem falar que na própria Civil, a dos salários melhores no plano estadual, há diferenças brutais de estado para estado. O DF e os ex-territórios federais (Amapá, Roraima, Tocantins e Rondônia) têm salários bem superiores aos demais, como herança do passado, um incentivo que virou regra.

Um policial civil do DF, por exemplo, atravessa uma rua e encontra um colega de Goiás, que ganha menos da metade que ele. Assim, não conseguem atuar conjuntamente numa vasta área de fronteira entre as duas unidades da federação, que virou “terra de ninguém”.

De qualquer modo, ambos estão em greve no momento, por plano de carreira e, claro, melhores salários. O mesmo ocorre nas polícias militares. E não há movimentos claros para assegurar parâmetros nacionais, em termos salariais.

Quando qualquer uma dessas instituições prende alguém, vai se deparar com um problema ainda maior, que é a Justiça. Pelo que se vê na imprensa e nos laudos oficiais, a maioria dos bandidos que são presos diariamente já tem mais de uma passagem pela polícia e pela justiça. E estão nas ruas por quê?

Por que algum juiz soltou. Só vai para a cadeia, mesmo, ladrão de galinha. É disso que os presídios estão cheios. É a esmagadora maioria dos 540 mil presos que temos hoje, para um sistema carcerário que, em condições minimamente decentes, abrigaria no máximo 300 mil.

Há alguns anos, quando o Supremo Tribunal Federal (STF) mandou averiguar quem são os hóspedes de nossos presídios, grupos de trabalho formados em conjunto com o Ministério Público e a OAB ficaram boquiabertos. Nos presídios femininos, então, a maioria cumpre penas por delitos que mal mereceriam alguma punição alternativa, como trabalhos sociais por curto tempo.

Sem falar em casos e mais casos de gente com pena já cumprida, mas sem condições de mover a burocracia para cair fora. Num vapt-vupt, esses grupos do Supremo puseram em liberdade mais de 30 mil presos. Mas o projeto parou. Ninguém sabe, ninguém viu.

O mesmo juiz ou juíza que aplica penas severas a essa gente põe em liberdade, na maior sem-cerimônia, perigosos assaltantes de bancos, com crimes de homicídio e muito mais. Se rola uma graninha por fora ou não nem sempre é fácil de comprovar, mas os fatos são evidentes e mais do que recorrentes.

Além do mais, em muitas comunidades, inclusive pequenas cidades, junto aos grandes centros ou bem remotas, o juiz faz parte de uma espécie de conluio, que envolve as polícias, advogados, servidores públicos, religiosos e a bandidagem. Fazem ali uma espécie de armistício, um pacto de boa vizinhança, um jogo da cabra-cega em que reina plena paz (!).

Mas, ali, acontece de tudo. A Amazônia é só um exemplo. Tem grilagem de terras, trabalho escravo, extração ilegal de pedras preciosas e ouro, tráfico de drogas e recursos genéticos, desvio de dinheiro público, comércio de seres humanos e o que mais vier à imaginação.

Se o cidadão de bem precisar de ajuda, que fale com qualquer um desses donos do poder. Ou fique bem quietinho.

 *Jaime è jornalista, coordenador do Cebrapaz no Distrito Federal, ambientalista e curioso do Mundo







quarta-feira, novembro 14, 2012

"Justiça" a serviço das classes dominantes!!


Nota do Deputado Edinho Silva:

ZÉ, A PENA NÃO Ē PARA VOCÊ



Zé, quando me filiei ao PT em 85, aos 20 anos, vindo da Igreja, e a minha maior inspiração para ser um petista foi o Lula, notei, já no primeiro Encontro Estadual que participei - 
se não me engano em 86 - que naquele Partido tinha um dirigente que suas posições polarizavam debates, disputavam os rumos, mobiliavam a militância. Ali nascia uma grande admiração. Mesmo quando eu discordava das suas posições eu ficava por dias pensando e tentando entender os seus movimentos políticos.


Companheiro e amigo Zé Dirceu, você inspirou a mim e a minha geração dentro do PT. Você doou a sua vida por uma causa e ela foi vitoriosa. O nosso projeto está sendo implantado e colocado em prática, os sonhos que moveram militantes por décadas, que levaram muitos a entregarem suas vidas acreditando na luta que estavam travando. Você representa esse esforço em construir as condições para que o Brasil, de fato, caminhasse na busca de um "novo tempo", esse esforço que uniu gerações, vivências e experiências. Você representa tudo isso, por esse motivo acumula tanto respeito e a sua imagem é indestrutível no seio da militância.


Zé ontem foi um dia muito difícil para mim. Quando vi pela internet a sua pena, eu, confesso, fiquei transtornado. Não conseguia organizar meus pensamentos... tampouco meus sentimentos. Nada disso tem coerência, não há lógica. Onde está a materialidade? Cadê a presunção de inocência? Onde foi parar o Estado de Direito? E a pergunta não se calou: quem de fato está recebendo essa pena?

Não tenho dúvidas que essa pena não é sua, não é do Genoíno...


Mesmo com todos os possíveis erros que cometemos - e qual o partido político que não cometeu nas regras eleitorais que aí estão? - o braço que desce sobre você não é para você. A sentença que foi ontem anunciada, definitivamente, não é para você. E não vou aqui entrar no debate jurídico que já congestionou nossa audição e razão nos últimos meses. Zé, só há uma razão para tamanho ódio, nós vencemos.


Eu sei que a partir de hoje começa uma nova fase na sua vida. É difícil para mim conceber, imagino para você. Acredite na sua história, ela te trouxe até aqui, ela te fez lutar por sonhos, superar dores, criar o PT, fazer desse Partido um instrumento capaz de juntar forças e eleger o primeiro operário presidente da República, a primeira mulher presidenta. A sua história se mistura com a história de tantas lideranças latinas que olham para o Brasil com a esperança que esse país lidere um continente na busca de uma "nova ordem mundial".


É essa história que vai te dar forças para os novos desafios. É inegável que uma parte dos enfrentamentos colocados é individual. Mas, o grande embate é coletivo, é de projeto.


Tenho certeza que a síntese histórica não é essa que está estampada na imprensa. A defesa da sua biografia é a defesa do nosso projeto, é a defesa das nossas vitórias.


É redundância dizer, mas conte sempre comigo.


Abraço. Edinho.

Tratamento de "rei"!!


Este é o Hotel San Marco, em Brasilia! 

Divino mesmo!
Estou morando no Hotel San Marco, aqui no Setor Hoteleiro Sul de Brasilia, há uns 8 meses. Já havia morado por mais de dois anos aqui há uns 6 anos atrás. O tratamento é dos melhores e se aprimora a cada dia.  Divino Silva, o gerente é de uma atenção e fidalguia para com os moradores e hóspedes, que não se encontra em hotel ou Flat do Mundo( e eu conheço porque já morei fora). Divino e sua equipe, como o advogado Roque, o pessoal da recepção como Gilson, Bruno e outros, os mensageiros como Getulio e seus colegas, mais as arrumadeiras como Elisa, Deusi, Adriana e suas  colegas, são de uma gentileza e prestatividade ímpares. 

Assim como o pessoal do Restaurante como Amorim, o barmen Delfino e os garçons começando por Neto, José e demais, sabem tratar e atender um hóspede e morador com inigualável satisfação. Os cozinheiros que fazem a deliciosa feijoada de sabado e os saborosos pratos do dia a dia. E como não falar do pessoal da governança, dos maitrês, dos ajudantes, dos rapazes da manutenção, pesssoal que faz o hotel funcionar e termos conforto e segurança Enfim, esta equipe capitaneada por Divino Silva é para se tirar o chapéu e propagandear mesmo. Até  porque morar ou se hospedar no San Marco é como estar em casa, com  conforto, comodidade e carinho. Parabens a todos!!

domingo, novembro 11, 2012

ARTISTAS REVOLUCIONARIOS DE TODO MUNDO APOIARAM ALN E MARIGHELLA!!!


Jean-Luc Godard financiou guerrilha de Marighella

Jean-Luc Godard (cineasta francês), Glauber Rocha (diretor de cinema), Jean-Paul Sartre (filósofo francês),
Luchino Visconti (cineasta italiano) e Augusto Boal (dramaturgo): apoio direto à guerrilha de Carlos Marighella


Artigo de Euler de França Belem
O baiano Carlos Marighella financiou a guerrilha contra a ditadura civil-militar, no fim da década de 1960, com dinheiro basicamente de assaltos a bancos e empresas. O líder da Ação Libertadora Nacional (ALN), que se intitulava “terrorista”, também recebeu dinheiro de Cuba (que bancou o treinamento militar dos guerrilheiros), da Coreia do Norte (200 mil dólares atualizados) e de artistas e intelectuais do Brasil e de outros países.

No Brasil, Marighella teve no diretor de cinema Glauber Rocha uma permanente fonte de apoio. Em 1967, revela o jornalista Mário Magalhães, no livro “Marighella — O Guerrilheiro Que Incendiou o Mundo” (Companhia das Letras, 732 páginas), o cineasta baiano enviou “uma carta a Alfredo Gue­vara, chefe do instituto cinematográfico cubano. Pretendia dirigir ‘uma fita radical violenta, divulgando abertamente (e justificando) a criação de diferentes Vietnãs’”. Não deu pé, mas a história foi adaptada em “Terra em Transe”.

Em Roma, Glauber tornou-se “colaborador” da ALN. “Jean-Luc Godard filmava ‘O Vento do Leste’, Glauber falou com ele, e o francês destinou verbas da produção para a ALN.” Irrequieto, o cineasta baiano idealizou “um longa-metragem com a atriz Norma Benguell segurando fo­tos de Marighella e pelada na cordilheira dos Andes. Não seria mera representação, caso o projeto não tivesse sido abortado. A musa do Cinema Novo apoiava a ALN, da qual se considerava simpatizante, e escondia militantes. Por conta de declarações contra a ditadura, sequestraram-na e a levaram para a PE”.

Em 1970, outro cineasta, o italiano Luchino Visconti, que estava filmando “Morte em Veneza” (baseado na novela de Thomas Mann, escritor alemão filho de uma brasileira), “doou dinheiro aos marighellistas. Já se incorporara à” ALN “seu compatriota Gianni Amico, corroteirista de ‘Antes da Revolução’, película de Bernardo Bertolucci, e ‘Leão de Sete Ca­beças’, de Glauber Rocha, outro baiano vinculado à ALN”.

Jean-Paul Sartre iniciou a publicação de textos de Marighe­lla na Europa, “em 1969, na revista ‘Les Temps Modernes’”. A “linguagem direta” dos textos, traduzidos para o francês pela guerrilheira brasileira Ana Corbisier, agradou o autor de “O Ser e o Na­da”. Ao frade Oswaldo Re­zen­de e ao advogado Aloysio Nunes Fer­reira Filho (hoje tucano), ambos da ALN, o fi­lósofo francês disse “que contassem com ele”.

Mário Magalhães conta que “o pintor catalão Joan Miró doou para a ALN esboços que renderam mais de 3 mil dólares. No Bra­­sil, a italiana Lina Bo Bardi, autora do projeto arquitetônico do Museu de Arte de São Paulo, foi anfitriã de Marighella em sua Ca­sa de Vidro paulistana”. Nessa casa, Marighella dialogou com o capitão Carlos Lamarca.

O dramaturgo e encenador Augusto Boal, amigo de Marighella e do segundo homem da ALN, Joaquim Câmara Ferreira, co­laborou com a guerrilha. Chegou a ceder sua casa para reuniões de Câmara Ferreira.

sexta-feira, novembro 09, 2012

Amazonas e Grabois!!


Imperdível!! Hoje(sexta-feira) as 15 horas, no Plenário Ulisses Guimarães, da Câmara dos Deputados, em Brasilia. sessão de homenagens aos 100 anos de nascimento de dois heróis da história moderna do Brasil e dos povos oprimidos de todo Mundo. João Amazonas e Mauricio  Grabois. Convido amigos, camaradas, simpatizantes da causa socialista, democratas e defensores do bem estar da humanidade a comparecerem e levar outras pessoas. È um ato de cidadania e defesa da democracia!! Vamos lá!!!

quinta-feira, novembro 08, 2012

GOVERNO PAULISTA NA MÃO DA DIREITA ENFRENTA BANDIDOS ATINGINDO O POVO!!!





Breve dossiê revela: onda de assassinatos que apavora Estado foi iniciada e radicalizada pela PM. Governo Alckmin omite-se. Mídia silencia
I.
Ao descrever, num ensaio recente (breve em português, em Outras Palavras), a situação tormentosa vivida pela Grécia, o jornalista Paul Mason, da BBC, recorre à história da Alemanha, às portas do nazismo. Só uma sucessão de erros crassos, mostra ele, pôde permitir que Hitler chegasse ao poder. Mas havia algo sórdido por trás destes enganos. Embora não fosse conscientemente partidária do terror, a maior parte das elites alemãs desejava o autoritarismo, pois já não conseguia tolerar o ambiente democrático da república de Weimar.
As circunstâncias são distintas: não há risco de fascismo no cenário brasileiro atual. Mas é inevitável lembrar de Mason, e de sua observação sobre a aristocracia alemã, quando se analisa a espiral de violência que atormenta São Paulo há cinco meses. Em guerra com a facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC), parte da Polícia Militar está envolvida numa onda de assassinatos que já fez dezenas de vítimas, elevou em quase 100% o índice de homicídios no Estado e aterroriza as periferias.
Pior: a escalada foi iniciada (e é mantida e aprofundada) por integrantes da própria PM, a força que deveria garantir a segurança e o cumprimento da lei no Estado. Mas apesar de inúmeras evidências, o governo do Estado não age para refrear tal atitude. E a mídia omite, ao tratar da onda de mortes, a participação e responsabilidade evidentes da polícia. É como se tivessem interesse em manter, em São Paulo, um corpo armado, imune à lei e ao olhar da opinião pública, capaz de se impor à sociedade e diretamente subordinado a um governador cujos laços com a direita conservadora são nítidos.
Para ocultar o papel de parte da PM na avalanche de brutalidade, a mídia criou um padrão de cobertura. As mortes de autoria do PCC são noticiadas, corretamente, como assassinatos de PMs. Informa-se que o número de crimes deste tipo cresce de modo acelerado — já são 90 vítimas, este ano. Mas se associa a insegurança que passou a dominar o Estado apenas a estes atos. Também informa-se sobre parte das mortes praticadas pela PM — seria impossível escondê-las por completo. No entanto, aceita-se, sempre sem investigação jornalística alguma, a versão da polícia: morreram “em confronto”, depois de terem reagido.
Este estratagema permite silenciar sobre três fatos essenciais e gravíssimos: a) parte da PM abandonou seu compromisso com a lei e a ordem pública e passou a agir à moda de um grupo criminoso, colocando em risco a população e a grande maioria dos próprios policiais, honestos e interessados em cumprir seu papel; b) diante desta subversão do papel da PM, o comando da corporação e o governo do Estado estão, ao menos, omissos; c) procura-se preservar este estado, evitando, recorrentemente, caracterizar a atitude do setor criminoso da polícia e, muito menos, puni-lo.
II.
Algumas iniciativas permitiram, nos últimos dias, começar a quebrar a cortina de silêncios e omissões. O jornalista Bob Fernandes, editor-chefe do Terra Magazine, sustentou, numcomentário corajoso, em noticiário da TV Gazeta, que havia algo além do crime organizado, por trás da onda de assassinatos. “Rompeu-se um pacto entre polícia militar e PCC”, frisou Fernandes — e atribuiu a esta ruptura tanto a “guerra” entre os dois grupos como a espiral de morte que se seguiu. “Criminosos matam de um lado? Vem a resposta: alguns, quase sempre em motos, com munição de uso exclusivo de forças policiais, dão o troco e também matam.”
A fala do editor do Terra Magazine teve o mérito de romper o consenso que a mídia fabricava, até então, em torno de uma explicação inconsistente. Mas a que se referiria ele, ao mencionar, em linguagem quase enigmática, a ruptura de um pacto?
Uma das pistas, para encontrar a resposta, é seguir o fio da meada da onda criminosa. Quando ela teria começado? Por quais motivos? Entre o final de maio e o presente, os jornais estão fartos de notícias sobre os assassinatos, sempre no padrão descrito acima. Mas não é difícil encontrar um ponto de inflexão, o momento a partir do qual o cenário se transforma.
Ele situa-se precisamente em 29 de maio. Nesta data, quando ainda não adotava a confirmação sem checagem das versões da Polícia Militar, O Estado de S. Paulo registra um massacre. Seis pessoas foram mortas pela ROTA, uma unidade da PM conhecida pela truculência. Estavam num estacionamento, próximo à favela da Taquatira, Zona Leste da capital. Foram vítimas de um comando constituído por 26 policiais. A própria PM afirmou, na ocasião, que eram integrantes do PCC. Alegou-se que estariam reunidas (num estacionamento?) para “traçar um plano de resgate de um preso”. Segundo as primeiras versões, teriam “atirado contra os policiais”. Apesar de numerosas (segundo a PM, 14 pessoas, das quais três foram capturadas e cinco fugiram), e “fortemente armadas”, nenhum soldado sequer se feriu.
Esta versão fantasiosa foi desmentida logo em seguida. Pouco depois da ação policial, um dos mortos “em confronto” seria executado a sangue frio, por parte dos PMs que haviam participado da operação. Os assassinos agiram em pleno acostamento da rodovia Ayrton Senna, e em área habitada. Uma testemunha presenciou o crime e o denunciou, enquanto acontecia, pelo telefone 190. A sensação de impunidade dos assassinos levou-os a ser fotografados pela próprias câmeras de vigilância da estrada. Nove dos 26 policiais foram presos, horas depois. Destes, seis foram soltos em dois dias. Três — apenas os que teriam praticado diretamente a execução — permaneceram detidos. Não é possível encontrar, nos jornais, informações sobre sua situação atual.
Atingido, o PCC reagiu recorrendo, embora em escala limitada, ao método que marcou sua atuação em 2006. Na região de Cidade Tiradentes, uma das mais pobres da cidade e local de moradia de um dos mortos, o grupo obrigou a população a um toque de recolher no dia do enterro do comparsa, 31 de maio. Tiveram de fechar as portas, entre outras, as escolas municipais Adoniran Barbosa e Wladimir Herzog… Mas, também repetindo o que fizera em 2006, a facção não se limitou a isso. Começaria, logo em seguida, a longa série de assassinatos de policiais militares.
No ano passado, 47 PMs paulistas foram mortos, em serviço ou suas folgas. Não é um número excepcional, para uma corporação que reúne quase 100 mil soldados, exerce atividade de risco e vive sob tensão permanente (o índice anual de suicídios é muito próximo ao das vítimas de homicídio). Em 2012, tudo mudou. Até o incidente fatídico de 29/5, haviam sido contabilizadas 29 mortes de PMs — pouco acima da média registrada no ano anterior. Entre 29/5 e 4/11, os ataques disparam. São 61 novos assassinatos, em apenas cinco meses. Há casos dramáticos: uma policial morta diante de sua filha; um garoto assassinado apenas por ser filho de policial, ocasiões em que as próprias bases da PM são atacadas. Inúmeros relatos narram a situação de pânico vivida por milhares de soldados honestos, cuja vida foi subitamente colocada em risco numa “guerra” provocada por uma minoria.
Mas aos poucos — e aqui começa um dos pontos mais obscuros de todo o episódio –, a PM parece inclinar-se em favor de sua banda violenta. Além de ter provocado o PCC à luta no final de maio, num ataque cujo caráter criminoso está demonstrado, a polícia paulista empenhou-se, nos meses seguintes, em tornar a disputa cada vez mais sangrenta e mais letal para a população civil.
Alguns episódios são emblemáticos desta tendência e da barbárie produzida por ela. Em 10 de outubro, por exemplo, um soldado de 36 anos foi executado em Taboão da Serra, oeste da Grande São Paulo. Dois homens dispararam seis tiros em seu corpo. Nas horas seguintes, no mesmo município, nove pessoas foram assassinadas. Duas delas foram vítimas da ROTA —execuções, segundo testemunhas. As sete outras, em circunstâncias nunca esclarecidas, mas muito assemelhadas às descritas por Bob Fernandes, em seu comentário recente. Poucos dias antes, na Baixada Santista, um outro episódio, em condições muito semelhantes, deixou, em cinco dias, um rastro de quinze mortos. Em nenhum destes casos houve investigações sobre o comportamento dos policiais — nem por parte de seus pares, nem da mídia…
A esta altura é perturbador, porém inevitável, traçar um paralelo. Radicalizar ao máximo a guerra contra o PCC; afogar o “inimigo” em sangue, sem se importar com o risco de atingir a população como um todo, foi a estratégia que prevaleceu na PM em 2006, quando a força enfrentou pela primeira vez o grupo criminoso. Entre 12 e 20 de maio daquele ano, mais de 500 pessoas foram assassinadas em chacinas e execuções na capital, região metropolitana, interior e litoral de São Paulo. A grande maioria não tinha relação alguma com o PCC, como denunciam, desde então, as Mães de Maio. Adotou-se aparentemente a ideia de que deflagrar terror indiscriminado contra a população forçaria o grupo criminoso a recuar, temeroso de perder apoio de suas bases sociais.

III.
Um personagem destacado é comum aos episódios de 2006 e aos de hoje: o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin. Não estava diretamente à frente do Palácio dos Bandeirantes, durante a primeira rebelião do PCC (deixara o posto um mês antes, para concorrer à presidência da República). Mas havia governado o Estado nos seis anos anteriores e executara uma política de segurança considerada ao mesmo tempo brutal e ineficiente. Sua ligação com os acontecimentos ficou patente ao abandonar, de modo abrupto, uma entrevista em que jornalistas britânicos (ao contrário da grande mídia brasileira) questionaram-no sobre o ocorrido.

Apontado como membro da organização ultra-direitista Opus Dei, até mesmo por integrantes de seu partido (o PSDB), Alckmin é visto, por parte da elite brasileira, como uma liderança importante a preservar. As declarações que tem dado, desde maio, em favor das posições mais belicosas e agressivas, no interior da PM, são eloquentes.
Falta muito a apurar, na trilha tenebrosa e caótica para a qual descambou a segurança (?) pública em São Paulo, desde maio. Por que, após uma tentativa fugaz de investigar ações ilegais e criminosas de parte de seus integrantes, a PM desistiu do esforço? Que levou a imprensa — que também denunciou a truculência, num primeiro momento — a silenciar e a repetir, desde junho, uma versão insustentável? Um setor de policiais especialmente violento terá conseguido impor sua postura? De que forma estarão envolvidos o governador e a imprensa?
O certo é que, para interromper a escalada sangrenta, a sociedade precisa agir — o quanto antes.

quarta-feira, novembro 07, 2012

O futebol arte, o esporte, a serviço da TV e dos "cartolas"!!


TV no Futebol

JAIME SAUTCHUK*

Antes que a gangue de Ricardo Teixeira e José Maria Marin, na Confederação Brasileira de Futebol (CBF), resolva avançar na ideia do uso de imagens da TV na arbitragem de jogos, é bom atentarmos para uns aspectos dessa mudança. Começa por saber quem iria produzir as imagens, a CBF ou alguma emissora de TV?
No plano internacional, a Fifa já autorizou experiência com dois sistemas de confirmação de gols a partir do Mundial de Clubes no Japão, no mês que vem. Nesses casos, porém, não haverá interferência humana nos equipamentos.
Um dos artefatos é o de um chip dentro da bola e outro na trave, que anuncia quando a bola ultrapassa a linha de gol. O outro são seis câmeras, afixadas nas traves e fundo de gol, que apenas avisam quando a bola passa da linha. Em ambos os casos, o aviso é dado com um sinal no relógio do juiz da partida.
O que se discute no Brasil, contudo, é o uso de imagens produzidas para a transmissão de jogos. As maiores pressões para que esse árbitro eletrônico seja adotado vêm das emissoras, interessadas em abocanhar mais algum quinhão nas já lucrativas (para elas) transmissões. E já é histórica a troca de benesses entre a direção da CBF e a Rede Globo, por exemplo.
A mais dramática interferência da TV no futebol tupiniquim é a dos horários de partidas em dias de semana. A CBF de Ricardo Teixeira adotou os jogos às 22h para que ocorram depois da principal novela da Globo. Não levou em conta o torcedor, que fica sujeito a maratonas para chegar em casa já na madrugada do dia seguinte.    
Seja qual for o gerador de imagens, há a interferência de pelo menos uma pessoa, que é o operador da mesa de corte. Sua função é selecionar as imagens que vêm de oito ou mais câmeras e colocá-las no ar, no caso de transmissões ao vivo, ou editá-las para posterior uso, o que é feito por critério pessoal, ainda que hajam regras gerais.
E até aí é só um pedaço do imbróglio. No modelo atual, caso a TV possa ser usada, será um novo elemento para alargar o tempo de jogo. Cada parada para checar imagens de um lance significa tempo correndo, ou seja, a duração dos jogos será ainda maior, já que no futebol o cronômetro não para, como no tênis e futsal, por exemplo.
O uso de câmaras iria, também, afrouxar a arbitragem. O juiz e o bandeirinha poderão marcar o que bem entenderem, pois haverá câmeras de TV com apito na boca. Se já são frequentes os descuidos – ou olhares de cabra-cega – de árbitros, é de se imaginar o que iria ocorrer com a adoção da nova técnica.
E o pior: seguindo este caminho, daqui a alguns anos teremos só um árbitro em campo. Dois outros ficarão em uma sala de TV, com cerveja e uísque, em São Paulo, Rio ou Brasília, avisando ao que estiver lá nos cafundós do Judas, em campo, que apite isso ou aquilo.  Vai ser uma gracinha.
Isto significaria, é claro, o fim do futebol. O mais correto, no entanto, seria profissionalização da atividade de arbitragem e a CBF treinar mais seus árbitros. E, ao mesmo tempo, o Ministério Público, a Justiça e a polícia devem cair em cima das quadrilhas que agem nesse meio, para controlar resultados.
Isso tudo, com a ressalva de que a maioria dos árbitros brasileiros é de gente séria e honesta. E que nada tem a ver com a direção da CBF.
*Jaime Sautchuck é jornalista, presidente do Cebrapaz/DF e defensor do meio ambiente e das causas nobres.