TV
no Futebol
JAIME SAUTCHUK*
Antes que a gangue de
Ricardo Teixeira e José Maria Marin, na Confederação Brasileira de Futebol
(CBF), resolva avançar na ideia do uso de imagens da TV na arbitragem de jogos,
é bom atentarmos para uns aspectos dessa mudança. Começa por saber quem iria
produzir as imagens, a CBF ou alguma emissora de TV?
No plano internacional, a
Fifa já autorizou experiência com dois sistemas de confirmação de gols a partir
do Mundial de Clubes no Japão, no mês que vem. Nesses casos, porém, não haverá
interferência humana nos equipamentos.
Um dos artefatos é o de um
chip dentro da bola e outro na trave,
que anuncia quando a bola ultrapassa a linha de gol. O outro são seis câmeras,
afixadas nas traves e fundo de gol, que apenas avisam quando a bola passa da
linha. Em ambos os casos, o aviso é dado com um sinal no relógio do juiz da
partida.
O que se discute no
Brasil, contudo, é o uso de imagens produzidas para a transmissão de jogos. As
maiores pressões para que esse árbitro eletrônico seja adotado vêm das
emissoras, interessadas em abocanhar mais algum quinhão nas já lucrativas (para
elas) transmissões. E já é histórica a troca de benesses entre a direção da CBF
e a Rede Globo, por exemplo.
A mais dramática
interferência da TV no futebol tupiniquim é a dos horários de partidas em dias
de semana. A CBF de Ricardo Teixeira adotou os jogos às 22h para que ocorram
depois da principal novela da Globo. Não levou em conta o torcedor, que fica
sujeito a maratonas para chegar em casa já na madrugada do dia seguinte.
Seja qual for o gerador de
imagens, há a interferência de pelo menos uma pessoa, que é o operador da mesa
de corte. Sua função é selecionar as imagens que vêm de oito ou mais câmeras e
colocá-las no ar, no caso de transmissões ao vivo, ou editá-las para posterior
uso, o que é feito por critério pessoal, ainda que hajam regras gerais.
E até aí é só um pedaço do
imbróglio. No modelo atual, caso a TV possa ser usada, será um novo elemento
para alargar o tempo de jogo. Cada parada para checar imagens de um lance
significa tempo correndo, ou seja, a duração dos jogos será ainda maior, já que
no futebol o cronômetro não para, como no tênis e futsal, por exemplo.
O uso de câmaras iria,
também, afrouxar a arbitragem. O juiz e o bandeirinha poderão marcar o que bem
entenderem, pois haverá câmeras de TV com apito na boca. Se já são frequentes
os descuidos – ou olhares de cabra-cega – de árbitros, é de se imaginar o que
iria ocorrer com a adoção da nova técnica.
E o pior: seguindo este
caminho, daqui a alguns anos teremos só um árbitro em campo. Dois outros
ficarão em uma sala de TV, com cerveja e uísque, em São Paulo, Rio ou Brasília,
avisando ao que estiver lá nos cafundós do Judas, em campo, que apite isso ou
aquilo. Vai ser uma gracinha.
Isto significaria, é
claro, o fim do futebol. O mais correto, no entanto, seria profissionalização
da atividade de arbitragem e a CBF treinar mais seus árbitros. E, ao mesmo
tempo, o Ministério Público, a Justiça e a polícia devem cair em cima das
quadrilhas que agem nesse meio, para controlar resultados.
Isso tudo, com a ressalva
de que a maioria dos árbitros brasileiros é de gente séria e honesta. E que
nada tem a ver com a direção da CBF.
*Jaime Sautchuck é
jornalista, presidente do Cebrapaz/DF e defensor do meio ambiente e das causas
nobres.
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