quarta-feira, novembro 30, 2011

Politica externa brasileira vacila diante das agressões imperialistas!!!!


José Reinaldo Carvalho: Um retrocesso na política externa


Um dos pontos fortes do governo das forças democráticas brasileiras, desde o primeiro mandato do ex-presidente Lula, tem sido a política externa. Altiva, assertiva, soberana, em muito contribuiu para mudar a imagem do Brasil no mundo e elevar a autoestima dos brasileiros. 

Por José Reinaldo Carvalho*


Foi-se para sempre o famigerado complexo de vira-latas e o Brasil distinguiu-se no cenário internacional não mais pelas humilhações que sofria nem pelos gestos de subserviência com que governos anteriores favoreceram os potentados internacionais. Pertencem a uma era definitivamente pretérita frases como “O que é bom para os Estados Unidos é bom para o Brasil” (Juracy Magalhães), assim como gestos servis, como o de Otávio Mangabeira beijando a mão de Eisenhower ou um ex-chanceler obedecendo a ordens de tirar os sapatos emitidas por um meganha de aeroporto nos Estados Unidos. 

O ministro das Relações Exteriores, Antonio Patriota, nada tem a ver com essa malsinada tradição entreguista. Frequentou outra escola e se distinguiu na nova geração da Casa de Rio Branco como um alto funcionário esmerado na boa técnica diplomática. É seu mérito e pode ser também o seu defeito. Porque como em toda e qualquer atividade estatal, não há técnica que resulte em ações progressivas sem a boa política no posto de comando.

Talvez seja por isso que o chanceler, em nenhuma ocasião desde que assumiu o comando do Itamaraty, tenha feito uma crítica sequer às ações do imperialismo estadunidense e seus aliados da União Europeia e Otan, mesmo nos momentos em que cometeram crimes de lesa-humanidade como no caso da guerra contra a Líbia, ou quando elevaram o tom das ameaças de sanções e intervenção contra o Irã.

Quiçá, isto sirva ainda para explicar por que o Brasil tem adotado algumas mudanças em sua conduta nos fóruns internacionais, dando votos que não se coadunam com uma política externa de país progressista. 

Pode ser uma questão de estilo e de formação do chanceler, mas não o isenta de críticas. Do ponto de vista das forças democráticas, populares, internacionalistas, nada justifica a adesão de nosso país à política intolerante de sanções levada a efeito pelas potências imperialistas. O Itamaraty não é ingênuo. Seus pós-doutores em geopolítica, defesa e diplomacia sabem que não há neste mundo hobbesiano defesa desinteressada dos direitos humanos, letra morta quando defendida por superpotências cuja história é feita por genocídios.

Também é conhecido que está em plena aplicação a estratégia de reestruturar o Oriente Médio, plataforma que encanta os think tanks democratas e republicanos, que alternadamente fazem a cabeça do Pentágono e do Departamento de Estado. O Brasil tem justas ambições de desempenhar um novo papel e ocupar um novo lugar no mundo, o que seria suficiente para agir de acordo com o interesse nacional e em benefício de países e povos amigos, tomando a devida e necessária distância dos planos geopolíticos imperiais, nunca coadjuvando-os. 

Não só o voto pelas sanções à Síria é um contrassenso, como é no mínimo uma platitude defender, como fez o chanceler nesta terça-feira (29), a “desmilitarização” da Síria como alternativa para encerrar a onda de violência no país que dura oito meses. 

Mais estranha ainda foi a afirmação de que a mediação de um acordo de paz na região deve ser feita pela Liga Árabe. Seria, não fosse a circunstância, que o ministro não desconhece, de que a Síria, país membro da Liga, está suspensa do bloco, porque este se encontra sob a égide de uma orientação pró-imperialista e paradoxalmente anti-árabe. 

Antonio Patriota expôs suas dúvidas sobre a eficácia de uma intervenção militar na Síria. Recorreu ao discurso técnico para argumentar que a intervenção militar “tem de ser autorizada pelo Conselho de Segurança [das Nações Unidas], que tem estado muito dividido em relação à Síria. Isso porque não está claro o que uma intervenção militar poderia realizar de positivo para a população e a democracia na Síria”, disse. 

Seria desejável, em nome da boa imagem do Brasil progressista, perante as forças que internamente dão sustentação política ao governo, e aqueles países e forças políticas que têm no Brasil um aliado solidário das causas da paz e do contra-hegemonismo das grandes potências imperialistas, que o chanceler condenasse ou no mínimo descartasse por convicção a intervenção militar contra o país árabe. 

Ao que tudo indica, o chanceler brasileiro já tem opinião formada sobre a situação da Síria, sem levar em conta as informações, opiniões e medidas de um governo que tem sólidas relações bilaterais com o Brasil. Deu crédito absoluto às conclusões da Comissão de Investigação de Direitos Humanos das Nações Unidas, de que “as forças de segurança ligadas ao presidente sírio são responsáveis por torturas, assassinatos, estupros e desaparecimentos na região”. Isto foi o suficiente para que o chanceler sentenciasse: “As acusações são muito graves, estamos examinando o seu conteúdo [o relatório da comissão da ONU tem 40 páginas]. Lembro que o Brasil se posicionou sempre a favor das manifestações por melhor governo, mais democracia, melhores oportunidades econômicas e de emprego e organização para os países árabes. Ao mesmo tempo deixou claro que é inaceitável a utilização do aparato do Estado para a repressão violenta e armada contra manifestantes”, disse.

As declarações do chanceler brasileiro são feitas no mesmo momento em que a União Europeia anuncia a intensificação das sanções contra o país árabe e em meio à reiteração pelas autoridades estadunidenses de que Bashar Assad tem de ser deposto. 

Não pode haver unidade entre progressistas e reacionários quando se trata de tomar posição sobre um regime político como o vigente na Síria. 

Os povos árabes têm direito a lutar pela democracia e a escolher o tipo de governo que querem para fazer suas sociedades avançarem. A liberdade política é um pressuposto para a construção de sociedades justas, progressistas, soberanas. O regime sírio tem lacunas a preencher em termos de vida democrática e vigência plena dos direitos humanos. Mas não é disso que se trata para o imperialismo e seus aliados sionistas e na Liga Árabe. Não é a democracia nem o respeito aos direitos humanos que estão em causa. Figuram no caso em tela como meros pretextos para instrumentalizar uma intervenção. No caso da Líbia o resultado foi uma guerra de agressão e o magnicídio.

Mesmo não tendo identidade política com o governo sírio, o Brasil deve tomar distância de tais manobras e intentos imperialistas. 

As declarações do ministro das Relações Exteriores são, assim, no mínimo precipitadas. O Brasil não tem por que se somar à política de sanções ditada pelas potências imperialistas. 

Com informações da Agência Brasil

*José Reinaldo Carvalho é editor do Vermelho

sábado, novembro 26, 2011

sexta-feira, novembro 25, 2011




 Massacre de índios em acampamento em Amambaí

Por Aline Crespe
Professora e antropóloga

Ontem pela amanhã(dia 18 de novembro), ao abrir meu e-mail, recebi mais uma triste notícia de uma situação de violência contra um grupo indígena acampado em uma área em litígio e a espera da continuidade do processo de regularização fundiária da terra indígena. O acampamento se localiza em Amambaí, sul de Mato Grosso do Sul, a menos de cem quilômetros da fronteira com o Paraguai. O acampamento está localizado em uma pequena parte da área de ocupação tradicional chamadaGuaiviry. A área esta inserida no conjunto de terras indígenas que deverão ser demarcadas no Mato Grosso do Sul. O processo de identificação destas áreas começou em 2007 e desde então vem sido repetidamente interrompido pelos conflitos políticos que o envolve. Enquanto isso, repetidos atos de assassinatos contra grupos indígenas que aguardam pela identificação e demarcação destas áreas vem ocorrendo.

 A situação de insegurança e medo vivido pelas populações indígenas é insustentável.  No ano passado a Survival Internacional publicou um importante relatório denunciando a situação das populações guarani no estado de Mato Grosso do Sul. Fiquei chocada com o que aconteceu e sabia que não tinha como ficar quieta, não falar nada ou fingir que estava tudo bem.

Sou professora na Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul na unidade de Amambaí, no curso de ciências sociais. Fique pensando como daria aula para os estudantes indígenas naquele dia. Então, fui conversando com os alunos, um a um, e marcamos de nos reunirmos todos para conversamos, até que eles decidiram por escrever uma carta. A carta foi escrita por eles ficando como minha responsabilidade a divulgação dela. Na carta, como vocês poderão ver, um aluno da história e morador da aldeia de Amambaí fala algo muito parecido com o que Marcos Homero Ferreira Lima, antropólogo do MPF de Dourados diz para a Survival sobre um acampamento de beira de estrada localizado as margens da BR 163 no município de Dourados.

 Homero diz: Não se trata de hipérbole quando se fala em genocídio, pois, a série de eventos e ações perpetradas contra o grupo, como se objetivou demonstrar, desde o final da década de 1990, tem contribuído para submeter seus membros a condições tolhedoras da existência física, cultural e espiritual. Crianças, jovens, adultos e velhos se encontram submetidos a experiências degradantes que ferem diretamente a dignidade da pessoa humana. O modo de vida imposto àqueles Kaiowá é revelador de como os brancos vêem os índios.

O preconceito, o descaso, o descuido, a não consideração dos direitos à terra, à vida, à dignidade são patentes. A situação por eles vivenciada é análoga àquela de um campo de refugiados. É como se fossem estrangeiros no seu próprio país. É como se os 'brancos' estivessem em guerra com os índios e a estes últimos só restasse a fina faixa de terra que separa a cerca de uma fazenda e a beira de uma rodovia.

A crueldade do caso envolvendo o acampamento e a truculência dos assassinos não pode ser tratada como mais um caso de violência. Estamos vivendo uma guerra de fato, mas é uma guerra que só morrem pessoas de um lado. 

Segue a carta dos estudantes Guarani e Kaiowa dos cursos de ciências sociais e história. As informações contidas na carta foram recebidas por pessoas que estavam no acampamento na hora do massacre. Peço, por gentileza, que ajudem na divulgação para que possamos agregar mais gente na luta contra a violência contra os povos indígenas.


Por volta das seis horas chegaram os pistoleiros. Os homens entraram em fila já chamando pelo Nísio. Eles falavam segura o Nísio, segura o Nísio. Quando Nísio é visto, recebe o primeiro tiro na garganta e com isso seu corpo começou tremer. Em seguida levou mais um tiro no peito e na perna. O neto pequeno de Nísio viu o avô no chão e correu para agarrar o avô. Com isso um pistoleiro veio e começou a bater no rosto de Nísio com a arma.

 Mais duas pessoas foram assassinadas. Alguns outros receberam tiros mas sobreviveram. Atiraram com balas de borracha também. As pessoas gritavam e corriam de um lado para o outro tentando fugir e se esconder no mato. As pessoas se jogavam de um barranco que tem no acampamento. Um rapaz que foi atingido por um tiro de borracha se jogou no barranco e quebrou a perna. Ele não conseguiu fugir junto com os outros então tiveram que esconder ele embaixo de galhos de árvore para que ele não fosse morto.

Outro rapaz se escondeu em cima de uma árvore e foi ele que me ligou para me contar o que tinha acontecido. Ele contou logo em seguida. Ele ligou chorando muito. Ele contou que chutaram o corpo de Nísio para ver se ele estava morto e ainda deram mais um tiro para garantir que a liderança estava morta. Ergueram o corpo dele e jogaram na caçamba da caminhonete levando o corpo dele embora.

Nós estamos aqui reunidos para pedir união e justiça neste momento.
Afinal, o que é o índio para a sociedade brasileira?

Vemos hoje os direitos humanos, a defesa do meio ambiente, dos animais. Mas e as populações indígenas, como vem sendo tratadas?

As pessoas que fizeram isso conhecem as leis, sabem de direitos, sabem como deve ser feita a demarcação da terra indígena, sabem que isso é feito na justiça. Então porque eles fazem isso? Eles estão acima da lei?

O estado do Mato Grosso do Sul é um dos últimos estados do Brasil mas é o primeiro em violência contra os povos indígenas. É o estado que mais mata a população indígena. Parece que o nazismo está presente aqui. Parece que o Mato Grosso do Sul se tornou um campo de fuzilamento dos povos indígenas. Prova disso é a execução do Nísio. Quando não matam assim matam por atropelamento. Nós podemos dizer que o estado, os políticos e a sociedade são cúmplices dessa violência quando eles não falam nada, quando não fazem nada para isso mudar. Os índios se tornaram os novos judeus.

E onde estão nossos direitos, os direitos humanos, a própria constituição? E nós estamos aí sujeito a essa violência. Os índios vivem com medo, medo de morrer. Mas isso não aquieta a luta pela demarcação das terras indígenas. Porque Ñandejara está do lado do bom e com certeza quem faz a justiça final é ele. Se a justiça da terra não funcionar a justiça de deus vai funcionar.
 Estudantes Guarani e Kaiowá dos cursos de ciências sociais e história e moradores da aldeia de Amambaí.

quarta-feira, novembro 23, 2011

Novo livro de Roberto Ponciano alerta a esquerda para a escuridão do dogma e prega alegria e luta!!







Convido a todos e todas para o lançamento do meu livro, Notas Políticas e relançamento do meu livro, Feitiços, segunda-feira, dia 28 de novembro, às 19 horas no Sisejufe, Presidente Vargas, 509, 11 andar.
    
    Vejo todos lá.
    Um abraço, Roberto Ponciano

   
A Esquerda Raivosa

Na década de 60 foi cunhado epíteto jocoso para os companheiros de uma esquerda debochada e não programática: “A Esquerda Festiva”, chamada por alguns de PCI, ou Partido Comunista de Ipanema. Este rótulo, como tantos outros estereótipos, acabou sendo uma pecha que pegou e até companheiros engajados em partidos políticos (como Albino Pinheiro, militante do bom e velho Partidão) acabam sendo alcunhados com o apelido.
Assim como o apelido urubu (racista e preconceituoso, que quer dizer que o torcedor do flamengo é negro e favelado, mas que foi incorporado com orgulho proletário pela torcida rubro-negra), o que foi criado de maneira pejorativa, o que antes era xingamento passou a ser título. Nossa Esquerda Festiva produziu a maior parte de nosso melhor humor, e boa parte de nossa melhor literatura, crítica literária, crítica artística e crítica política, nos últimos 40 anos. Uma esquerda festiva, inteligente e erudita, capaz de zombar das estreitezas, pernosticismos, sectarismos, preconceitos, ranzinzices, superstições e das crenças ingênuas e messiânicas de parte da esquerda tradicional.
Há que se recuperar e recontar a história de uma esquerda que entendeu que a utopia não é um dogma, uma religião, que é possível fazer socialismo com carnaval, samba e futebol. Que João Saldanha trajado de baiana à frente da banda de Ipanema não vai ser menos comunista, marxista, revolucionário por conta deste fato. A Esquerda Festiva, com verve e sensibilidade, conseguiu aproximar-se do povo; esta esquerda viu um Marx humano, freqüentador das tabernas e apaixonado pelas mulheres, e não um puritano fundador de uma nova seita abstêmia e celibatário, um quaker de discurso operário.
Faço a apologia desta Esquerda Festiva, lutadora e engajada – cujos membros foram perseguidos, perderam seus empregos, foram presos, torturados, exilados, mortos – com forma de dizer que o socialismo não pode e não deve ser triste, taciturno, amargo, moralista, estéril, uma revivescência do puritanismo vitoriano, uma forma laica de moral religiosa anglo saxônica, uma nova inquisição vermelha; com rituais novos de bom mocismo e falso moralismo, a condenar sob uma nova cartilha do “politicamente correto” os recém criados pecados laicos.
Quando se compara a Esquerda Festiva com esta nova Esquerda Raivosa, fundamentalista e sectária, as comparações são sempre desfavoráveis a esta. A Esquerda Raivosa do falso moralismo, do ascetismo “marxista”, a esquerda que pensa, como bem dizia Lênin, que vai mudar as coisas apenas mudando seus nomes (como se a Revolução fosse uma questão lingüística, de semântica e não concreta, real). Que vê preconceito em tudo e todos e se comporta como portadora de uma nova verdade revelada, com os 10 mandamentos do profeta Marx trazidos diretos do Monte Sinai. Como nas seitas pentecostais, os nomes malditos são os populares, os que não devem ser ditos. Ficam ruborizados se alguém se utiliza da palavra puta. Aí eles gritam de forma raivosa, machismo! Preconceito! Mas o que é puta, o que é quenga, senão as formas populares de dizer prostituta, garota de programa? Assim como bunda é o nome africano e gostoso das pudicas nádegas (à forma popular é sempre a mal dita, à linguagem proletária eles preferem a linguagem polida, culta, de elite branca da USP e da PUC). Qual a diferença afinal de se dizer um ou outro? Vai mudar algo na sociedade se em lugar de uma palavra se usar outra? Se hoje uma mulher é condenada por que é uma puta, o que vai mudar se em lugar de puta ela for garota de programa? A condenação social vai ser reduzida por conta disto? Ou simplesmente vamos jogar a sujeira por debaixo do tapete, discutindo filigranas, quando deveríamos efetivamente discutir as maneiras de acabarmos com a exploração sexual das mulheres e os preconceitos subjacentes a isto? Gabriela Leite, umas das maiores militantes dos direitos das prostitutas (a quem tive o prazer de entrevistar) diz que o nome que mais a agrada ser chamada é o de puta. E que as prostitutas tem de enfrentar o estigma, agarrar o touro à unha, e o sonho dela é o dia em que a palavra puta não carregue mais nenhum sentido pejorativo, para ela o estigma não está na palavra, mas na sociedade, uma palavra não vai mudar nada (só varrer o preconceito através do “politicamente correto”).
Já a esquerda raivosa varre a sujeira para debaixo do tapete. Puta, quenga, meretriz são nomes “feios”. Então troquemo-nos! Prostituta! Não! Ainda é a prostituta uma puta, no final das contas. Ora usemos garota de programa... Bem, como o estigma não está no nome, mas na condição social, logo, logo garota de programa vai ter o mesmo valor sintático de... puta! Então troquemos garota de programa por algum eufemismo que mais parece uma tese de mestrado: mulher advinda das camadas menos favorecidas da população e que, malogrados outros meios de garantir a sua subsistência de maneira produtiva teve de vender o que há de mais íntimo, seu corpo, para auferir meio de sustentar a si mesma e a sua família. Tradução: prostituta, garota de programa, quenga, puta, meretriz.
A Esquerda Raivosa, puritana e eufemista pensa mudar as coisas mudando nomes. Pensa combater o racismo no Brasil simplesmente fixando um termo como criminoso. Fala de preconceito e racismo, mas não conhece um ponto de macumba, um terreiro de candomblé, não sabe sambar, desconhece Paulo da Portela e Candeia, mas finge defender os interesses dos negros. No fundo seu vocabulário e sua cultura são a do dominador branco, o da colônia. Escrevem uma petição contra o racismo de dia e à noite vão curtir um show de rock num bar de elite da cidade, nunca foram e não conhecem os rumos das Escolas de Samba da periferia, onde a cultura negra é celebrada em música e dança. Já a Esquerda Festiva celebrou o samba, subiu os morros, resgatou Cartola, resgatou Zé Keti, resgatou Candeia, tingiu de negro os acordes brancos da bossa-nova, fez o que realmente interessa para combater o racismo no Brasil, valorizar nossa raiz negra e seu legado na cultura brasileira atual.
Isto não quer dizer que defendo que não haja racismo e machismo no Brasil e de que suas manifestações não devam ser combatidas de forma dura, com cadeia inclusive para as manifestações ostensivas de preconceito. O Brasil é um país racista, machista em sua cultura e em sua organização social (as mulheres e os negros fazem parte da base da pirâmide, são os mais pobres, os mais explorados). Mas não se combate isto combatendo-se simplesmente nomes, combate-se isto mudando a forma de ver e pensar das gerações, e isto está ligado a reprodução de uma nova cultura que leve em conta a maravilhosa e grandiosa influência negra na nossa formação e que resgate o papel de igualdade da mulher na sociedade (antítese, por exemplo, do que se prega no funk hoje em dia, no qual a mulher é depreciada como um pedaço de carne no açougue, uma cadela, ou algo pior).
A questão do machismo tem de ser enfrentada de frente, sem eufemismos. Ela é, acima de tudo, a questão da supremacia do macho na sociedade, e isto vai muito além da questão de semântica, só pode ser mudada com uma nova co-relação nos papéis. Precisamos de muitas Naras Leão e muitas Leilas Diniz para rompermos com as barreiras que ainda colocam as mulheres como encosto de cadeira no falso elogio “atrás de todo grande homem existe uma grande mulher”. Questões fundamentais como o retorno do conservadorismo, da revalorização do casamento tradicional, da virgindade, da condenação da liberação sexual das mulheres são pouco ou nada valorizadas enquanto ficamos discutindo a criação de vocábulos que contemplem tanto o gênero masculino quanto o feminino (e que não mudam em nada a compreensão e a visão da sociedade).
A Esquerda Raivosa e puritana cala-se quando se quer discutir a questão do orgasmo feminino, por exemplo. Consideram que esta questão não é de bom tom, quando, na verdade, esta é toda a questão. Desde o momento que os homens escravizaram as mulheres, no início do patriarcado, as mulheres tiveram sacrificado seu prazer em nome da “família” e dos “filhos”. Durante milênios o assunto do gozo feminino foi um tabu (ainda o é na nossa sociedade, na qual as heroínas de novela e romance sacrificam seu prazer em pró da família ou são sacrificadas no fim, como Ana Karenina), e continua como proibido em várias culturas, nas quais as mulheres se casam virgens e sem conhecerem seus maridos. Na verdade, a Esquerda Raivosa não consegue ver o quanto há de machismo em sua atitude de não discutir este assunto, o da emancipação sexual da mulher e o do direito de gozar em plenitude do seu próprio corpo. No fundo, reproduzem a moral conservadora dominante, baseada na religião, aplicável teoricamente a todos os indivíduos, cuja perfeição é a monogamia. Atacam a prostituição somente em um dos seus dois pilares, o econômico, deixando o outro lado do pilar, a moras sexual conservadora e compulsiva. Na verdade reproduzem esta de maneira automática, até porque rechaçam Freud, Reich e todos os pensadores progressistas que lançaram luzes sob o comportamento sexual do ser humano..
A Esquerda Raivosa não vê o quanto há de machismo ao não querer falar de sexo com as mulheres, como se a questão sexual fosse de interesse restrito aos homens. A prostituição é a válvula de escape de uma sociedade que vive em permanente tensão entre o desejo e a repressão dele, entre uma propaganda hedonista e sexista do gozo, e uma moral sexual repressora familiar que sacrifica o orgasmo. Paradigma de comportamento que todos pregam e que quase ninguém cumpre (pelo menos sem o sacrifício de sua saúde física e mental). O acesso igualitário ao orgasmo entre homens e mulheres, a propaganda do direito à plena satisfação sexual, devia ser uma das bandeiras primordiais do movimento feminista. Todavia, este é um assunto incômodo, que vai de encontro à moral reinante e que, portanto, é deixado de lado pela maioria dos movimentos feministas, que chegam a falar ao direito da mulher ser dona do seu corpo e, portanto, ter direito ao aborto; mas pouco falam de que o direito ao pleno uso deste corpo significa o direito a gozar sem ser vítima de estigmas, sem ser ridicularizada, sem ser condenada, porque, afinal, uma vida sexual plena é, desde o fundamento da civilização um direito apenas do homem. O que a sociedade não consegue enxergar é que não é possível uma sociedade livre quando apenas a metade de seus membros é livre. Não é possível homens livres e plenos sexualmente, sem mulheres aptas a serem suas parceiras, que também sejam livres e plenas; posto que não são tolhidas por uma moral vitoriana atrasada, que lhes faz ser pouco mais do que uma fábrica de bebês.
Para terminar, na questão dos negros, já tocada superficialmente lá em cima, a posição da esquerda raivosa é ainda pior. Resumem a luta do negro à questão da luta contra a discriminação e pela igualdade social. Isto é importante, claro que é. Mas eu acuso: Isto não basta! Ainda que hoje fizéssemos uma revolução socialista e distribuíssemos os bens igualmente entre brancos e negros e que construíssemos leis violentas contra a discriminação, ela continuaria vigorando, porque sua raiz não foi cortada. A raiz da discriminação é a valorização da cultura do colonizador branco e a desvalorização da cultura negra. Uma revolução socialista que não compreenda isto vai continuar a reproduzir o eurocentrismo, reproduziria em uma sociedade que se pretendesse nova a velha cultura racista européia em toda sua extensão. A Esquerda Raivosa, como eu já disse, não freqüenta terreiros, não freqüenta pagodes, quadra das escolas de samba, festas populares, Candeia, para ela, é apenas o instrumento que alumia. Mas ainda assim, pretende ser o porta-voz dos explorados e oprimidos, explorados e oprimidos que ela não conhece, porque não segue a lição que deu Ho Chi Min, viver com eles, sofrer com eles, comer com eles.
E, ai de mim que levantei estas questões, estou apenas esperando que reação violenta, que altercação, a que tribunal de inquisição serei levado, já que a reação comum da Esquerda Raivosa é a de condenação, de xingamento, de execração pública.
A inquisição, nos nossos dias, ganhou forma laica e de “esquerda”.
Tem razão a Esquerda Festiva quando dizia que esta é a esquerda que a direita gosta. O discurso é de esquerda, a moral e a prática é de direita.
Incapazes de compreender o povo, de por isto inventar o novo, estão condenados à imitação. E já dizia Simón Rodríguez, o grande idealizador da liberdade dos povos da América, ou inventamos ou erramos.
A Esquerda Raivosa erra, construindo suas hipóteses sem conhecer o povo e a cultura brasileira.

segunda-feira, novembro 21, 2011

Vera Paiva, filha do ex-deputado desaparecido Rubens Paiva, não pode falar na instalação da "Comissão da Verdade". Começou mal!!!


Rubens Paiva, preso e desparecido pela Ditadura.Este carro foi devolvido a familia pelo DOI-CODI! Havera prova maior da ação dos terroristas militares!
Vera procura o pai, Rubens Paiva até hoje!!!


[A COMISSÃO DA VERDADE É SÓ PRA CUMPRIR TABELA? AQUI TAMBÉM ESTAMOS EM FINAL DE CAMPEONATO?]
O DISCURSO QUE NÃO FOI LIDO
Na sexta-feira, durante o ato de assinatura em Brasília, pela presidenta da República Dilma Rousseff, da lei que cria a Comissão da Verdade, estava previsto, entre outros, o pronunciamento de Vera Paiva, filha do ex-deputado socialista Rubens Paiva, assassinado e desaparecido durante a ditadura militar. Ela acabou não falando. Sua participação teria sido cancelada por pressão dos militares. "Assim começa muito mal... Não fui desconvidada, simplesmente não falei!", relata Vera Paiva.
Vera Paiva
Seguem as anotações da minha fala que foi cancelada, segundo os jornais, por pressão dos militares. Assim começa muito mal... Não fui desconvidada, simplesmente não falei! A minha volta diziam que a Presidenta Dilma tinha que viajar e encurtaram a cerimônia, que alguém tinha falado um tempo a mais. Sai para uma reunião na UNB, ainda emocionada com o carinho que dispensou aos familiares e ex-presos políticos, um a um. Agora entendo o pedido de desculpas da Ministra Maria do Rosário.

Sexta-feira, 18 de Novembro de 2011, 11:00. Palácio do Planalto, Brasília. 


Excelentíssima Sra. Presidenta Dilma, querida ministra dos Direitos Humanos Maria do Rosário. Demais ministros presentes. Senhores representantes do Congresso Nacional, das Forças Armadas. Caríssimos ex-presos políticos e familiares de desaparecidos aqui presentes, tanto tempo nessa luta.

Agradecemos a honra, meu filho João Paiva Avelino e eu, filha e neto de Rubens Paiva, de estarmos aqui presenciando esse momento histórico e, dentre as centenas de famílias de mortos e desaparecidos, de milhares de adolescentes, mulheres e homens presos e torturados durante o regime militar, o privilégio de poder falar. 

Ao enfrentar a verdade sobre esse período, ao impedir que violações contra direitos humanos de qualquer espécie permaneçam sob sigilo, estamos mais perto de enfrentar a herança que ainda assombra a vida cotidiana dos brasileiros. Não falo apenas do cotidiano das famílias marcadas pelo período de exceção. Incontáveis famílias ainda hoje, em 2011, sofrem em todo o Brasil com prisões arbitrárias, seqüestros, humilhação e a tortura. Sem advogado de defesa, sem fiança. Não é isso que está em todos os jornais e na televisão quase todo dia, denunciando, por exemplo, como se deturpa a retomada da cidadania nos morros do Rio de Janeiro? 

Inúmeros dados indicam que especialmente brasileiros mais pobres e mais pretos, ou interpretados como homossexuais, ainda são cotidianamente agredidos sem defesa nas ruas, ou são presos arbitrariamente, sem direito ao respeito, sem garantia de seus direitos mais básicos à não discriminação e à integridade física e moral, que a Declaração dos Direitos Humanos consagrou na ONU depois dos horrores do nazismo em 1948.

Isso tudo continua acontecendo, Excelentíssima Presidenta. Continua acontecendo pela ação de pessoas que desrespeitam sua obrigação constitucional e perpetuam ações herdeiras do estado de exceção que vivemos de modo acirrado de 1964 a 1988.

O respeito aos direitos humanos, o respeito democrático à diferença de opiniões assim como a construção da paz se constrói todo dia e a cada geração! Todos, civis e militares, devemos compromissos com sua sustentação.

Nossa história familiar é uma entre tantas registradas em livros e exposições. Aqui em Brasília a exposição sobre o calvário de Frei Tito pode ser mais uma lição sobre o período que se deve investigar.

Em março deste ano, na inauguração da exposição sobre meu pai no Congresso Nacional, ressaltei que há exatos 40 anos o tínhamos visto pela última vez. Rubens Paiva, que foi um combativo líder estudantil na luta “Pelo Petróleo é Nosso”, depois engenheiro construtor de Brasília, depois deputado eleito pelo povo, cassado e exilado em 1964. Em 1971 era um bem sucedido engenheiro, democrata preocupado com o seu país e pai de 5 filhos. Foi preso em casa quando voltava da praia, feliz por ter jogado vôlei e poder almoçar com sua família em um feriado. Intimado, foi dirigindo seu carro, cujo recibo de entrega dias depois é a única prova de que foi preso. Minha mãe, dedicada mãe de família, foi presa no dia seguinte, com minha irmã de 15 anos. Ficaram dias no DOI-CODI, um dos cenário de horror naqueles tempos. Revi minha irmã com a alma partida e minha mãe esquálida. De quartel em quartel, gabinete em gabinete passou anos a fio tentando encontrá-lo, ou pelo menos ter noticias. Nenhuma notícia. 

Apenas na inauguração da exposição em São Paulo, 40 anos depois, fizemos pela primeira vez um Memorial onde juntamos família e amigos para honrar sua memória. Descobrimos que a data em que cada um de nós decidiu que Rubens Paiva tinha morrido variava muito, meses e anos diferentes...Aceitar que ele tinha sido assassinado, era matá-lo mais uma vez.

Essa cicatriz fica menos dolorida hoje, diante de mais um passo para que nada disso se repita, para que o Brasil consolide sua democracia e um caminho para a paz.

Excelentíssima Presidenta: temos muitas coisas em comum, além das marcas na alma do período de exceção e de sermos mulheres, mãe, funcionária pública. Compartilhamos os direitos humanos como referência ética e para as políticas públicas para o Brasil. Também com 19 anos me envolvi com movimentos de jovens que queriam mudar o pais. Enquanto esperava essa cerimônia começar, preparando o que ia falar, lembrava de como essa mobilização começou. Na diretoria do recém fundado DCE-Livre da USP, Alexandre Vanucci Leme, um dos jovens colegas da USP sacrificados pela ditadura, ajudei a organizar a 1ª mobilização nas ruas desde o AI-5, contra prisões arbitrárias de colegas presos e pela anistia aos presos políticos. Era maio de 1977 e até sermos parados pelas bombas do Coronel Erasmo Dias, andávamos pacificamente pelas ruas do centro, distribuindo uma carta aberta a população cuja palavra de ordem era

HOJE, CONSENTE QUEM CALA.

Acho essa carta absolutamente adequada para expressar nosso desejo hoje, no ato que sanciona a Comissão da Verdade. Para esclarecer de fato o que aconteceu nos chamados anos de chumbo; quem calar consentirá, não é mesmo?

Se a Comissão da Verdade não tiver autonomia e soberania para investigar, e uma grande equipe que a auxilie em seu trabalho, estaremos consentindo. Consentindo, quero ressaltar, seremos cúmplices do sofrimento de milhares de famílias ainda afetadas por essa herança de horror que agora não está apoiada em leis de exceção, mas segue inquestionada nos fatos.

A nossa carta de 1977, publicada na primeira página do jornal o Estado de São Paulo no dia seguinte, expressava a indignação juvenil com a falta de democracia e justiça social, que seguem nos desafiando. O Brasil foi o último país a encerrar o período de escravidão, os recentes dados do IBGE confirmam que continuamos um país rico, mas absurdamente desigual... Hoje somos o último país a, muito timidamente mas com esperança, começar a fazer o que outros países que viveram ditaduras no mesmo período fizeram. Somos cobrados pela ONU, pelos organismos internacionais e até pela Revista Economist, a avançar nesse processo.

Todos concordam que re-estabelecer a verdade e preservar a memória não é revanchismo, que responsáveis pela barbárie sejam julgadas, com o direito a defesa que os presos políticos nunca tiveram, é fundamental para que os torturadores de hoje não se sintam impunes para impedir a paz e a justiça de todo dia. Chile e Argentina já o fizeram, a África do Sul deu um exemplo magnífico de como enfrentar a verdade e resgatar a memória. Para que anos de chumbo não se repitam, para que cada geração a valorize.

Termino insistindo que a DEMOCRACIA SE CONSTRÓI E RECONSTRÓI A CADA DIA. Deve ser valorizada e reconstruída a CADA GERAÇÃO.

E que hoje, quem cala, consente, mais uma vez.

Obrigada.

***

Depois de saber que fui impedida de falar ontem (sexta-feira), lembro de um texto de meu irmão Marcelo Paiva em sua coluna, dirigida aos militares:

“Vocês pertencem a uma nova geração de generais, almirantes, tenentes-brigadeiros. Eram jovens durante a ditadura (…) Por que não limpar a fama da corporação? Não se comparem a eles. Não devem nada a eles, que sujaram o nome das Forças Armadas. Vocês devem seguir uma tradição que nos honra, garantiu a República, o fim da ditadura de Getúlio, depois de combater os nazistas, e que hoje lidera a campanha no Haiti."


domingo, novembro 20, 2011

Mulheres de minha vida!!! Estou voltando!!!


A saudade ta batendo forte de meu “bebe” Elza Maria e de “dona Polyana. Mesmo aqui neste  Pantanal  bonito e ameaçado pelo “progresso” e descaso das autoridades de Cuiabá, Varzea Grande e governo do Mato Grosso, as lembranças são doidas. Mas to chegando minhas “negas” e meus amigos!!!!

sexta-feira, novembro 18, 2011

Juventude se levanta em todo Mundo contra barbarie e capitalismo!!


Revoltas lembram os 60 do Século Passado.Vale ler e refletir esta entrevista!!!!

O TRANSBORDO DO COPO DE CÓLERA 

Entrevista com Michael Löwy
 
Quando era um jovem de 18 anos, estudante de ciências sociais na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (FFLCH-USP), ainda nos tempos da Rua Maria Antônia, ele assistia às conferências de Florestan Fernandes, Fernando Henrique Cardoso, José Arthur Giannotti, Otávio Ianni e Paul Singer, mentores que o convidaram a participar do prestigiado núcleo de estudos de O Capital. Aos 26, pupilo de Lucien Goldmann e laureado sociólogo pela Sorbonne, em Paris, foi estudar hebraico num kibutz e lecionar história na Universidade de Tel-Aviv, em Israel. Aos 30, com o Maio de 68 sacudindo a França, recebeu (e aceitou) um convite para lecionar na Universidade de Manchester, na Inglaterra. Em 1970, ainda longe dos 40, descobriu-se persona non grata no Brasil do general Médici, tornou-se um judeu paulistano sem passaporte brasileiro e se estabeleceu definitivamente em Paris para estudar Marx, Lukács e Guevara.

Agora, rejuvenescido aos 73, o sociólogo Michael Löwy anda entusiasmado com a volta dos estudantes às ruas brandindo livros de Marx e Walter Benjamin. "Não pode haver um movimento que não se refira às lutas, às vítimas, aos mártires e aos pensadores do passado porque nós nunca partimos do zero", diz. Objeto de estudo em As Utopias de Michael Löwy: Reflexões sobre um Marxista Insubordinado, de Ivana Jinkings e João Alexandre Peschanski (Boitempo, 2007), organizador de Revoluções (da mesma editora) e atualmente pesquisador do Centre National de la Recherche Scientifique (CNRS) de Paris, nas últimas semanas Löwy acompanhou o noticiário da ocupação (e a posterior desocupação) da reitoria da USP.

Interpretou como "faíscas" o clamor dos estudantes contra a presença policial e os berros por liberdade para se fumar maconha no câmpus. "O que se passa é muito maior que isso. Há uma indignação com a ordem das coisas no mundo. Um sentimento de cólera. E, diante dessa percepção de injustiça, os estudantes têm um papel essencial, começando movimentos de protesto. Não podemos subestimá-los."


Estudantes ocupando praças em Nova York, Madri, ruas em Santiago, a reitoria na USP. Estamos diante de um arrastão de rebeldia ou são episódios isolados?

MICHAEL LÖWY  Não são episódios isolados. São parte de um processo internacional que lembra os anos 1960. Quando há um sentimento de injustiça e insatisfação na sociedade, os estudantes são os primeiros a se organizar e a protestar. Agora, na maioria dos casos, seja na Europa, no Chile ou nos Estados Unidos, não são apenas estudantes. É a juventude em geral. Os estudantes naturalmente têm um papel importante, mas é um movimento bem mais amplo, ao qual vão se agregando outros grupos - desempregados, trabalhadores, sindicalistas. Torna-se algo muito plural. O que há de comum é a indignação. Essa palavra está servindo como um sinal de identidade dos protestos. Há uma indignação muito grande que pode estourar por com um pretexto mínimo. No caso de São Paulo foi uma intervenção policial na USP. Mas poderia ter sido outra faísca.

Indignação com o quê? No caso da USP, pode-se ter a impressão de que é com a impossibilidade de fumar maconha no câmpus.

MICHAEL LÖWY  É muito maior que isso. Há uma indignação com a ordem das coisas no mundo. Um sentimento de cólera - e cólera com alta qualidade ética e política. O começo de qualquer movimento ou mudança social sempre se dá com um estado de espírito indignado, a começar na juventude. E fácil de entender o porquê de tanta indignação. Estamos numa situação em que a ordem social parece cada vez mais irracional, promovendo desigualdades gritantes, promovendo os excessos do mercado financeiro, a destruição do meio ambiente. As razões para a indignação são evidentes. Têm a ver com o sistema. Por mais que comece com uma história de maconha e confronto com a polícia, acaba se transformando em um protesto antissistêmico. Em última análise, o objeto de indignação é o poder exorbitante do capital mostrando a sua irracionalidade e desumanidade. Muitas vezes, isso é formulado explicitamente nesses termos. Outras, não. Mas a questão está subjacente em todos os protestos recentes. Nós, sociólogos, precisamos tentar entender por que isso não começou mais cedo. Porque as razões para a indignação já existiam. Pelo jeito, foi necessário uma acumulação de descontentamento e um sentimento de que não é mais possível tolerar tal situação. E de que é preciso se revoltar, sabendo ou não se se conseguirá impor alguma mudança. Há um imperativo categórico de revolta, no sentido kantiano. Há coisas que você precisa fazer, mesmo sem ter certeza de em que vai dar. E quanto maior a participação ativa dos jovens, dos estudantes e de outros setores, cria-se uma relação de forças que pode pelo menos impor limites ao sistema e, sobretudo, criar uma tomada de consciência. Isso talvez seja o mais importante: a tomada de consciência. OOcupe Wall Street não conseguiu arranhar o capital financeiro, mas despertou consciência crítica em grandes setores. Eis um evento importante. Histórico até.

Ocupações, greves e passeatas ainda são formas eficazes de protesto?


MICHAEL LÖWY  São as formas clássicas de protesto, que reaparecem sempre. Mas também há formas novas surgindo. Por exemplo, a comunicação através dos meios eletrônicos, como o Facebook e oTwitter, que permitem uma mobilização muito rápida. E as mobilizações de agora têm um caráter festivo, lúdico, com música, dança, festa, o que é próprio da expressão da juventude. O Facebook e o Twitter têm lugar importante, mas não é o caso de mitificá-los. Eles não bastam. Para que alguma coisa aconteça, você tem que sair de sua casa, descer à rua, reunir-se com outras pessoas, ir lá, brigar, protestar, talvez enfrentar a polícia. Então, o Facebook é um suporte, não vai substituir a ação direta das pessoas.

A juventude tem voz além do Facebook? Ela se sente representada politicamente?

MICHAEL LÖWY  Pouco, porque a representação política está nas mãos de setores sociais mais acomodados e de "mais idade". Os jovens não se sentem representados. Há uma grande desconfiança em relação aos partidos e às instituições políticas existentes. Há certo rechaço a isso, muitas vezes com razão. Uma atitude cética diante da política institucional. Mas isso não quer dizer que haja desinteresse por eventos políticos. No meu tempo de aluno da FFLCH, nos anos 50, poucos estudantes achavam necessário ou sentiam vontade de se engajar em organizações políticas. Havia politização, mobilização em torno de determinadas causas, mas atividade política organizada era para uma minoria. Tenho a impressão de que atualmente a politização e a militância política são maiores do que nos anos 50, mas menores do que nos 60 e 70, durante a ditadura militar.

E podemos interpretar os protestos como um grito por participação política?


MICHAEL LÖWY  Analisemos o caso do Chile, que teve o movimento mais amplo até agora. Não é só um grito, é um protesto em cima de uma questão concreta: a privatização do ensino público desenvolvida no governoPinochet, que não foi mudada pelos governos de centro-direita ou centro-esquerda que o sucederam. Trata-se de uma questão que concerne a todos os estudantes: o quase desaparecimento do ensino público gratuito, os preços exorbitantes da educação. E isso se coloca também no Brasil, na Inglaterra. Por toda a parte há essa tendência de transformar a educação em mercadoria, em indústria que deve dar lucro. E assim vai desaparecendo a educação pública gratuita, que era uma conquista de muitos anos de luta. O protesto dos estudantes chilenos começou criticando a privatização do ensino e depois tomou um caráter mais amplo, porque eles perceberam que os problemas na educação são parte de uma orientação geral de um sistema neoliberal. Notaram que esse modelo de educação é inseparável de questões maiores e, assim, o movimento ganha apoio de outros setores da sociedade.

A ideia de autonomia universitária está sendo colocada em xeque?


MICHAEL LÖWY  Autonomia universitária significa que o papel da universidade é transmitir conhecimento, cultura, ciência - e não mercadorias. Quando o papel do ensino se resume a permitir que estudantes adquiram um diploma, ou a prepará-los para encontrar um posto a serviço do management, do marketing, perde-se a qualidade humana, cultural e pedagógica da universidade. As universidades estão se tornando meras empresas voltadas para a produtividade, a racionalidade instrumental mercantil. E, obviamente, boa parte dos estudantes e professores resiste a isso, defende o estatuto da universidade como lugar de produção de cultura e conhecimento, com autonomia em relação ao mercado, à economia e às empresas.

No caso da USP, os estudantes se tornaram massa de manobra de partidos e sindicatos?

MICHAEL LÖWY  Não, pelo contrário. Há uma relação de desconfiança dos estudantes em relação aos sindicatos e sobretudo aos partidos. Uma parte do movimento sindical, geralmente a parte mais radical, se aproxima do movimento estudantil em busca de aliança. Mesmo que haja certo interesse dos jovens nessa aliança, ela não se dá com facilidade, porque os objetivos dos sindicatos são mais limitados. Os ritmos não são os mesmos, a cultura política não é a mesma. Então, há uma diferença que dificulta essa aliança. Mas, para os estudantes, é importante conseguir criar uma situação em que os sindicatos resolvam participar da mobilização. Isso tem acontecido no Chile, na Espanha, na Grécia, nos EUA. Longe de serem manipulados pelos sindicatos, esses movimentos de protesto têm grande autonomia. Eles buscam estabelecer a aliança, mas não no sentido de se tornarem apêndice dos sindicatos. Com os partidos políticos é mais complicado, porque a desconfiança é maior. Não há um único partido que controle ou manipule esses movimentos mundo afora.

Ao serem presos, estudantes da USP brandiam livros de Marx, Foucault e Walter Benjamin, imagens de Mao e Che Guevara. Essas referências continuam atuais?

MICHAEL LÖWY  É normal que cada vez que apareça um movimento de crítica antissistêmica as pessoas se refiram a personagens e pensadores que já exprimiram essa crítica. Então, Marxaparece como referência importante, porque ele foi o primeiro a elaborar uma crítica radical do sistema capitalista. Em muitos pontos, essa crítica é até mais atual hoje do que na época em que ele a escreveu. Fico feliz de saber que há estudantes que se referem ao pensamento desses autores.Benjamin tem uma reflexão profunda sobre o que é a modernidade capitalista, a ideologia do progresso. Ele dá elementos que Marx não dava.Guevara também é importante, sobretudo, como homem de ação e símbolo do compromisso ético com os ideais de libertação e emancipação. Tudo isso é necessário. Não pode haver um movimento, qualquer que seja, que não se refira às lutas, às vítimas, aos mártires e aos pensadores do passado, porque nós nunca partimos do zero. Mas, evidentemente, isso não basta. Precisamos também pensar com novos instrumentos teóricos para dar conta das questões que estão aparecendo neste começo do século XXI. Por exemplo, a catástrofe ecológica que está se perfilando. Ela precisa de uma reflexão atual, utilizando elementos teóricos mais atualizados.

O sr. é um estudioso das revoluções dos séculos 19 e 20. Qual foi o papel dos jovens e estudantes nelas?


MICHAEL LÖWY  Depende, porque as revoluções são diferentes entre si. Em geral se pode dizer que a juventude sempre jogou um papel importante em qualquer movimento revolucionário. É uma constante. Movimentos revolucionários são levados por jovens, muitas vezes. Agora, se são estudantes ou não, isso depende da época, do país. Na Revolução Russa os estudantes não tiveram muito espaço. Na Revolução Cubana, sim. O Maio de 1968 em Paris foi um movimento totalmente estudantil. E um dos gatilhos foi a invasão da Sorbonne pela polícia. Na França, ainda hoje, a polícia entra raramente na universidade. Justamente porque se sabe que há o estatuto de autonomia das universidades e intervenções policiais provocam a reação dos estudantes. A polícia simboliza o autoritarismo do Estado contra a juventude, contra os estudantes. Esse choque com a polícia é frequente e, em certas circunstâncias, se transforma na faísca que mencionei antes, a que faz um protesto eclodir. Não podemos subestimar o papel dos estudantes nas revoluções.

Os da USP foram chamados de bichos grilos de grife, filhinhos de papai, rebeldes sem causa, maconheiros mimados... Como o sr. avalia esse tipo de tratamento?

MICHAEL LÖWY  Qualquer questionamento da ordem sempre é ridicularizado. Agora, sobre os estudantes serem meninos ricos... É uma mitificação, porque a maioria deles é de origem popular. Não são filhos de latifundiários, como eram os estudantes de antes da 2ª Guerra Mundial. Hoje em dia, a educação se tornou mais popular. Sobre a maconha: na minha opinião, não há razão para transformar o consumo de maconha em assunto de polícia. A maconha não é nem melhor nem pior do que o tabaco e a cerveja e tem um caráter bem diferente das drogas mais perigosas, como cocaína e crack. Então, essa reivindicação de descriminalizar o consumo da maconha me parece bastante razoável. Mas isso foi só um pretexto, porque em cima do tema se armou uma briga e, quando se manifestou o autoritarismo da polícia e do governo, aí assim o protesto cresceu. Muitos estudantes que aderiram à manifestação não o fizeram devido à questão da maconha e sim devido à repressão indiscriminada e arbitrária sobre alunos.

A sociedade brasileira clama por ordem?

MICHAEL LÖWY  Não é a sociedade em seu conjunto que se volta contra os estudantes com esse discurso de ordem e repressão. É a imprensa e os representantes da ordem e do governo. Eu me pergunto se parte da população não simpatiza com esses protestos da USP. Pelo menos foi o caso em outros países onde protestos dos jovens e estudantes se tornaram a expressão de um grande movimento popular. Não estou dizendo que isso vá acontecer já no Brasil, mas não há essa dicotomia entre jovens e estudantes de um lado e o restante da sociedade do outro. Essa separação é do interesse da classe dominante, dos governantes mais reacionários, como tentativa de mobilizar a população contra os estudantes.

O governador Geraldo Alckmin disse que os estudantes da USP precisavam de uma aula de democracia...


MICHAEL LÖWY  Nós sabemos que no Brasil não há nada mais democrático do que a Polícia Militar (risos). Ela tem uma tradição de várias dezenas de anos de democracia, não é? Democracia do cassetete - que não acho que deva ser a forma mais avançada de democracia. Não deve ser muito sério o argumento do sr. Alckmin. Uma intervenção policial brutal não tem nada de democrático.

Alguns autores contemporâneos, como o irlandês John Holloway, valorizam a articulação dos novos movimentos. Ao contrário do que dizia Marx, agora é possível mudar o mundo sem tomar o poder?

MICHAEL LÖWY  - Holloway me deu o livro dele e pediu para que eu fizesse uma resenha, sabendo que eu iria criticá-lo. O livro Mudar o Mundo sem Tomar o Poder tem muitas ideias interessantes e toda a crítica que ele faz ao sistema me parece muito profunda. Mas acho que a proposta dele não faz sentido, porque qualquer ação social e política inevitavelmente implica uma forma de poder ou de contrapoder. O que se coloca é garantir que esse poder seja efetivamente democrático. O movimento, ele mesmo, tem formas de poder, de organização e de gestão democrática. Protesto, revolta e revolução, tudo isso não pode existir se não houver uma organização de uma forma de poder. Não podemos contornar a questão do poder, porque na política não existe vazio. A necessidade é que esse poder seja democrático. Essa é a resposta.

No livro Revoluções, o sr. destaca como os revolucionários muitas vezes são vencidos pela história. Os estudantes de hoje serão vencidos?


MICHAEL LÖWY  Não posso dizer. Mas podemos já constatar, nos países árabes concretamente, que esses movimentos de protestos da juventude não foram vencidos. Eles derrubaram duas ditaduras sinistras, na Tunísia e no Egito, com uma mobilização desarmada. Não estou dizendo que isso será uma regra, mas mostra que não há nenhuma fatalidade. As revoluções são sempre imprevisíveis, acontecem onde ninguém espera.

Juliana Sayuri, O Estado de S. Paulo, 15/11/2011

quinta-feira, novembro 17, 2011

Velho comunista comenta as mudanças que estão ocorrendo em Cuba!!!


Esta é a sempre bela e acolhedora Havana, onde as coisas vão mudando pra melhor!!!


[leiamos com as devidas ressalvas de edição jornalística/(ideológica). Não devemos nos surpreender se o entrevistado, ao ler o resultado da entrevista, disser: ‘disse isso, mas a afirmação está atrofiada, visto que falta as devidas ressalvas e constextualização de minha resposta’ etc. etc.]

'Aqui há um capitalismo de Estado'  
Na casa em que vive com a mulher, na Rua Animas, centro de Havana, o filósofo e economista Félix Sautié Mederos recebe com desconfiança inicial quem quer saber "o que está ocorrendo em Cuba". Fundador do Partido Comunista Cubano, conhece a engrenagem e a mentalidade do partido. Ele é um militante incômodo e um intelectual respeitado o suficiente para dar sua opinião entre os camaradas. Nesta entrevista, ele credita a nova leva repressiva à falta de liberdade de expressão "que tem de acabar".

As reformas econômicas de Raúl Castro estão produzindo mudanças na prática?

Félix Sautié Mederos - Antes de mais nada, é preciso ver essa questão com uma grande dose de realismo político e pés no chão. Uma coisa é a realidade que desejamos e outras, bem diferentes, são os planos que nos querem impor e a realidade de fato. Tudo caminha em ritmo muito lento e as reformas idealizadas nas "diretrizes" aprovadas pelo 6.º Congresso do Partido Comunista de Cuba não são suficientes para enfrentar a situação econômica, política e social que atravessamos. Faltam muitos aspectos que não foram abordados; como a necessidade de estabelecer um controle dos trabalhadores nas empresas e entidades estatais. Tampouco foram apresentadas medidas para garantir uma participação da população no desenvolvimento econômico. Mas é possível observar algumas mudanças. É preciso apostar nelas, porque o mais importante é romper o imobilismo e derrotar as forças burocráticas, que inibem o avanço.

Que sistema econômico existe hoje em Cuba?

Félix Sautié Mederos - A centralização excessiva em Cuba há muitos anos e o estabelecimento de um pensamento único derivaram das tentativas de estabelecer um sistema socialista num verdadeiro capitalismo de Estado. Enquanto se puser em prática a concepção do trabalhador assalariado que não decide sobre as projeções econômicas e não participa da distribuição dos resultados econômicos, o que existirá será um capitalismo de Estado. Para que haja o socialismo, é imprescindível implementar os conceitos mais amplos de democratização e socialização, estabelecendo o conceito de trabalhador associado imaginado por Karl Marx e não o de um assalariado que deve apenas cumprir as orientações de cima, conceito próprio do stalinismo. E aqui está a diferença essencial, que determinou o nascimento de uma corrente de pensamento segundo a qual Cuba precisa de um socialismo participativo e democrático, mais humano. É por isso que muitos revolucionários estão lutando neste momento, e me incluo entre eles.

Por que o sr. acha que não houve renovação de líderes do PC?


Félix Sautié Mederos - Isso tem a ver com as concepções esquemáticas de um continuísmo político caracterizado por um conceito messiânico, determinado pelo ego que personificava uma geração histórica que negou durante anos a participação das novas gerações na direção da sociedade. Trata-se de uma contradição com a própria essência do movimento revolucionário dos jovens dos anos 50, que derrubou a tirania deFulgencio Batista, do qual, modestamente, sou um dos participantes. Por isso, não estou livre desse problema. Escrevi e afirmei que fui ao mesmo tempo algoz e vítima. No entanto, desde o fim dos anos 60, quando fui diretor da Juventud Rebelde, defendi a necessidade de canalizar a crítica popular e propiciar o diálogo sobre os problemas sociopolíticos cubanos. Em 1967, publiquei dois artigos intitulados "No bando dos inconformistas" e "Resposta aos que nos criticam", nos quais defendi a renovação no processo revolucionário. Pouco depois, encontraram motivos para substituir-me e punir-me. Hoje, percebi como muitos companheiros de minha geração foram sendo substituídos e até apagados da memória histórica. Isso foi se repetindo com as gerações que foram surgindo até chegarmos à situação atual, em que não há substitutos para os que se mantêm em seus cargos dobrando a curva dos 75 e 80 anos de idade, o que é preocupante.

Qual é a saída para a corrupção geral que se vê hoje em Cuba?

Félix Sautié Mederos - Esse é um problema básico de um sistema errôneo no qual a pessoa não é um sujeito econômico que pode se sustentar por si mesmo, mas um objeto que participa e determina muito pouco. A solução é um rearmamento moral da sociedade cubana em seu conjunto porque foram jogados por terra muitos dos valores estabelecidos desde tempos imemoriais em Cuba, tendo havido um enfraquecimento do papel da família, que se pretendeu substituir pela educação fornecida pelo Estado. Além da centralização de um pensamento único capaz de decidir tudo, criaram uma situação caótica na qual se desenvolveram desvios próprios de uma economia subterrânea de subsistência propiciadora. Para solucioná-lo, são necessárias reformas e mudanças econômicas, as liberdades de expressão, crítica, associação e o mais estrito respeito a todos os direitos humanos.

Como o sr. vê o fato de terem libertado "os 75" e já não se falar dos demais presos políticos? A Igreja Católica deveria intermediar a libertação deles também?

Félix Sautié Mederos - Isso dependerá de se conseguir uma mudança total de concepções de governabilidade com o mais pleno respeito às opiniões diferentes, aos direitos inalienáveis das pessoas, e de que se faça o mais amplo processo de reencontro, reconciliação e perdão com justiça entre todos os cubanos. A Igreja Católica é a casa de todos. Dos que estão a favor e dos que estão contra. Portanto, ela tem um papel de mediadora por excelência.

Rodrigo Cavalheiro, O Estado de S. Paulo, 13/11/2011

Reflexão de Karl Max, "o cara" sobre consciencia de classe! Tá no livro "Ideologia Alemã!

Ronaldo da Luta que me mandou. Tem que ler com atenção!


Karl Marx,em Ideologia Alemã;


Os pensamentos da classe dominante são também, em todas as épocas, os pensamentos dominantes, ou seja, a classe que tem o poder material dominante numa dada sociedade é também a potência dominante espiritual. A classe que dispõe dos meios de produção material dispõe igualmente dos meios de produção intelectual, de tal modo que o pensamento daqueles a quem são recusados os meios de produção intelectual está submetido igualmente à classe dominante. Os pensamentos dominantes são apenas a expressão ideal das relações materiais dominantes concebidas sob a forma de idéias e, portanto, a expressão das relações que fazem de uma classe a classe dominante; dizendo de outro modo, são as idéias do seu domínio.

 Os indivíduos que constituem a classe dominante possuem entre outras coisas uma consciência, e é em conseqüência disso que pensam; na medida em que dominam enquanto classe e determinam uma época histórica em toda a sua extensão, é lógico que esses indivíduos dominem em todos os sentidos, que tenham, entre outras, uma posição dominante como seres pensantes, como produtores de idéias, que regulamentem a produção e a distribuição dos pensamentos da sua época; as suas idéias são, portanto, as idéias dominantes da sua época. Consideremos por exemplo um país e um tempo em que o poder real, a aristocracia e a burguesia disputam o poder e onde este é portanto partilhado; vemos que o pensamento dominante é aí a doutrina da divisão dos poderes, por isso enunciada como “lei eterna”.

MANIFESTA-SE IGUALMENTE NO SEIO DA CLASSE DOMINANTE !!