quarta-feira, junho 04, 2014

Cadeira de rodas, infelismente!



Após quase 4 anos livre do uso da cadeira de rodas, infelismente com a regressão de minha recuperação e perda de mobilidade, eis me de volta ao uso  da cadeira de rodas. Espero que seja por breve período e que minha recuperação seja breve!!!

sábado, maio 10, 2014

Virose incomoda!

Peço de novo paciencia a meus amigos, camaradas, leitores, mas peguei uma virose gripal que os médicos que não pesquisam e só dizem é uma virose fortíssima. Muito bem. E eu aqui praticamente trancado há quase 15 dias em casa, evitando até chegar perto das pessoas, por receio de transmitir. Meu amigo Wanderson, que conviveu muito comigo estes dias, foi acometido da mesma “virose” e está há 4 dias de cama!

E nesta situação, fico  sem escrever, sem sair, com um mal estar e um cansaço anormal. Creio eu, que minha debilidade adquirida com o AVC temporal que me pegou de jeiito na semana  de carnaval, juntando tudo isto, o resultado é este. Estou mal, impossibilitado de realizar as mais simples tarefas porque meu corpo não  responde a minha vontade e ao meu racicionio! Me resta esperar que a natureza aja e me livre deste vírus maldito. Ou alguem    sugira um tratamento que faça efeito. Já tomei caixas de remédios e nada. Mas estou na luta pra vencer este mal. E ai, volto com a corda toda, postando material o meu blog do Luiz Aparecido, no Face e em outras redes sociais. Um baita abraço a todos e mais uma vez, desculpem pela     ausência das minhas postagens!!!

quarta-feira, abril 23, 2014

Boletim de doença 2

Boletim de doença!2
Meus  amigos e camaradas, desde a segunda feira anterior ao Carnaval, quando sofri um AVC Temporal que me atingiu o lado direito  do   corpo, não ando nada bem! Várias seqüelas apareceram, e agora nos últimos dias um forte virose gripal, que me deixa o corpo todo dolorido, febril e praticamente sem voz. Consegui com a ajuda dos camaradas e amigos  Marcos Tenório,  Caio Carneiro Campos  e Andréia Barbosa, fazer o exame de ressonância cerebral, pedida pelo meu médico Hudson Mourão Mesquita! Fica pronta hoje e a partir daí ele vai investigar a origens dos AVCs Temporais, que já chegaram a três.  Vamos ao tratamento que ele prescrever!
Mas o que mais ta incomodando nestes últimos dias é esta virose gripal que veio para derrubar.  Há muito não tinha este tipo ou qualquer outro de gripe. Nem me lembrava mais como era isto! Mas estou me medicando adequadamente, creio, e estarei em forma para as batalhas  da vida, da revolução e do amor nos próximos dias. Agradeço a paciência e a preocupação dos amigos e camaradas com esta situação, mas podem me aguardar que já já estarei no front!

São tantos problemas de doença,  que me esqueci de citar uma crise espasmódica que tive na terça passada. Tremedeira, frio e suor intenso, e descontrole do corpo que durou uma tarde inteira.  Daí começaram os problemas com  a virose gripal.

Boletim de doença!!

Boletim de doença!
Meus  amigos e camaradas, desde a segunda feira anterior ao Carnaval, quando sofri um AVC Temporal que me atingiu o lado direito  do   corpo, não ando nada bem! Várias seqüelas apareceram, e agora nos últimos dias um forte virose gripal, que me deixa o corpo todo dolorido, febril e praticamente sem voz. Consegui com a ajuda dos camaradas e amigos  Marcos Tenório,  Caio Carneiro Campos  e Andréia Barbosa, fazer o exame de ressonância cerebral, pedida pelo meu médico Hudson Mourão Mesquita! Fica pronta hoje e a partir daí ele vai investigar a origens dos AVCs Temporais, que já chegaram a três.  Vamos ao tratamento que ele prescrever!

Mas o que mais ta incomodando nestes últimos dias é esta virose gripal que veio para derrubar.  Há muito não tinha este tipo ou qualquer outro de gripe. Nem me lembrava mais como era isto! Mas estou me medicando adequadamente, creio, e estarei em forma para as batalhas  da vida, da revolução e do amor nos próximos dias. Agradeço a paciência e a preocupação dos amigos e camaradas com esta situação, mas podem me aguardar que já já estarei no front!

segunda-feira, abril 21, 2014

Artigo de Salvador Bonomo





LEI DA ANISTIA E A COMISSÃO DA VERDADE

chamada “Lei da Anistia” (nº 6.683|79), no seu artigo 1º, prescreve que: “É concedida anistia a todos quantos, no período compreendido entre 02 de setembro de 1961 e 15 de agosto de 1979, cometeram crimes políticos ou conexo com estes, crimes eleitorais, aos que tiveram seus direitos políticos suspensos e aos servidores da Administração Direta e Indireta, de fundações vinculadas ao poder público, aos Servidores dos Poderes Legislativo e Judiciário, aos Militares e aos dirigentes e representantes sindicais, punidos com fundamento em Atos Institucionais e Complementares (vetado)§ 1º - Consideram-se conexos, para efeito deste artigo, os crimes de qualquer natureza relacionados com crimes políticos ou praticados por motivação política. § 2º - Excetuam-se dos benefícios da anistia os que foram condenados pela prática de crimes de terrorismo, assalto, sequestro e atentado pessoal. § 3º - Terá direito à reversão ao Serviço Público a esposa do militar demitido por Ato Institucional, que foi obrigada a pedir exoneração do respectivo cargo, para poder habilitar-se ao montepio militar, obedecidas as exigências do art. 3º”.
Extrai-se do texto legal acima transcrito que os agentes estatais (policiais e militares) foram anistiados (perdoados)pelos crimes que praticaram. Por essa razão, a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) ingressou, no Supremo Tribunal Federal, com uma Ação de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF), objetivando a anulação do perdão concedido aos citados agentes (policiais e militares), acusados da prática de sequestros, torturas e assassinatos durante o Regime Militar. Com parecer favorável da Advocacia Geral da União, o Supremo Tribunal Federal (STF) julgou, por maioria de votos (7x2), improcedente o referido pedido.
Parece-nos que, assim procedendo, a nossa Corte Suprema, que, por vezes, avança nos seus julgamentos, dessa feita, a nosso ver, retrocedeu. Senão, vejamos: 1) – o Brasil é signatário de Convenções Internacionais que consideram a tortura crime imprescritível; 2) – a Corte Interamericana de Direitos Humanos tem consolidado o entendimento de que os crimes de lesa humanidade (entreos quais a tortura) não podem ser anistiados por legislação interna, em especial por leis que surgiram após o fim de ditaduras militares”,  natureza da nossa Lei de Anistia; 3) - recentemente, os Governos da Argentina, do Chile e do Uruguai observaram, rigorosamente, as citadas regras internacionais, para punirem todos aqueles que perpetraram crimes daquela natureza; 4) – naquela oportunidade, mais de uma centena de juristas pátrios, através de Manifesto, sustentaram que era “consenso na doutrina e da jurisprudência internacionais que os atos cometidos pelos agentes do governo durante as ditaduras latino-americanas foram crimes contra a humanidade”. Em sendo assim, parece-nos não restar dúvida de que o Governo brasileiro, no caso em tela, atravessou, desafinou, destoou de boa parte do Continente, na medida em que o STF, validando a Lei da Anistiaequiparou torturados atorturadores. A propósito, atribui-se a Rui Barbosa a seguinte sentença: “Na casa da Justiça, por vezes, mora é a injustiça mesma.”  
Anistia Internacional, o Tribunal Penal Internacional e a Organização das Nações Unidas (ONU)Não concordadocom a citada decisão do Supremo Tribunal Federal, passaram a pressionar o Brasil para que investigue e, finalmente, puna, exemplarmente, todos aqueles que, durante o Regime Militar, ocultaram cadáveres, torturaram, sequestraram e assassinaram muitas pessoas, dentro e fora do País. A par disso, o  Ministério Público Federal, com fulcro na configuração da imprescritibilidade e no crime continuado, decidiram iniciar investigações (e a primeira ação já foi proposta, no Pará, no “caso Curió”) e propositura das consequentes ações contra os autores de tais crimes. Baseia-se, também, o MPF, numa decisão recente do próprio STF, que, tendo reconhecido serimprescritível o crime de tortura, autorizou a extradição de dois torturadores argentinos, escondidos no Brasil.
Pelo andar da carruagementendemos que, inevitavelmente, esta matéria será objeto dedesdobramentos de natureza judicial, ou legislativa, e administrativa, sendo que esta já se iniciou com a criação e a instalação da Comissão Nacional da Verdade, objeto da Lei nº  12.528|12, cujo escopo é descrito no seu artigo 1º, vazado nos seguintes termos: “É criada, no âmbito da Casa Civil da Presidência da República, a Comissão Nacional da Verdade, com a finalidade de examinar e esclarecer as graves violações de direitos humanos praticadas no período fixado no art. 8o do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias, a fim de efetivar o direito à memória e à verdade histórica, e promover a reconciliação nacional”.

Salvador Bonomo.
Ex-Deputado Estadual e Promotor de Justiça, aposentado.

quinta-feira, abril 17, 2014

Até que enfim, a Ressonancia!!!



Com o apoio pessoal de Marcos Tenório e Wanderson Anunciação, infraestrutura bancada  por Caio Carneiro Campos  e Andréa Barbosa, nesta quinta finalmente fiz meu exame de ressonância cerebral pedida por meu médico Hudson Mourão Mesquita. Agora é esperar quarta que vem o resultado e enviar para Dr. Hudson para descobrir de onde tem vindo estes AVCs temporais, que tem me acometido nos últimos tempos! Na foto ai, tirada Marcos Tenório, to eu ai me preparando para entrar no tubo da Ressonancia. Até que enfim uma novela que durou mais de um mês. Obrigado a todos que me ajudaram e estiveram  comigo nos momentos mais dificeis. Agora é tocar a vida e esperar uma solução para o problema!

sábado, abril 12, 2014

Porque hoje é sábado!!



Feijoada no San Marco Hotel!

Porque hoje é sábado, dia da  deliciosa feijoada do Hotel San Marco, aqui no setor hoteleiro Sul. Quem  está em Brasilia e não tem programa, este é imperdível.  Musica de excelente qualidade e tratamento VIP para todos os presentes. San Marco Hotel!Esta é minha morada em Brasilia. Na pérgula da piscina curte-se uns drinks, no restaurante os pratos bolados pelas grandes chefs de cozinha e a famosa feijoada! Venham curtir!

quinta-feira, abril 10, 2014

Filme sobre "Osvaldão está sendo produzido!

Osvaldão ganha filme sobre sua trajetória


Osvaldo Orlando da Costa, o Osvaldão, é a figura mais emblemática da Guerrilha do Araguaia. Mineiro de Passa Quatro, foi um dos primeiros da família de ex-escravos a abandonar a cidade interiorana para estudar no Rio de Janeiro. Negro, forte, com mais de dois metros de altura, era uma figura inconfundível.


Na cidade maravilhosa, foi campeão carioca de boxe pelo Club de Regatas Vasco da Gama, na década de 1950. Teve que abandonar a carreira após conseguir a oportunidade de estudar engenharia em Praga, na antiga Checoslováquia, onde viveu por alguns anos. Membro do Partido Comunista do Brasil (PCdoB), com treinamento na China, voltou para o Brasil para ser um dos principais guerrilheiros do país.

Até hoje é lembrado pelo povo local por sua coragem e generosidade. É considerado um grande herói em Araguaia e muitas pessoas o enxergam como um ser mítico. Em todo Brasil, o guerrilheiro se transformou em um dos exemplos mais extraordinários de dedicação em defesa da liberdade. Osvaldão morreu na Guerrilha do Araguaia em 1974, durante o regime militar. Teve sua cabeça decepada, exposta em público, e sua ossada continua desaparecida até os dias de hoje.

Sua trajetória será retratada no filme “Onde está Osvaldão?”, com estreia prevista para junho deste ano. O trailer oficial foi lançado neste primeiro de abril, data que “descomemora” os 50 anos do golpe militar no Brasil. "Onde está Osvaldão?” oferece uma contribuição ao debate sobre a herança da ditadura e ao restabelecimento da memória do país.

Onde está Osvaldão?
O longa-metragem “Onde está Osvaldão”, produzido por Renata Petta e dirigido por Vandré Fernandes, Ana Petta, Fabio Bardella e André Michiles, está em fase de produção. A realização é da Fundação Mauricio Grabois, Clementina Filmes e Estrangeira Filmes. O filme foi gravado em Passa Quatro, Araguaia e Rio de Janeiro, além de conter imagens exclusivas de um documentário do Praga Filme Pujikovna, que retrata o cotidiano de alunos de várias partes do mundo em Praga, em 1961. Osvaldão foi protagonista do documentário.

Osvaldão 
A história de Osvaldão ilustra um dos muitos desvios radicais de trajetória determinados a partir do golpe de 1964. O guerrilheiro foi o primeiro combatente a chegar no sul do Pará, na região do Araguaia, em 1967, com a missão de implantar uma guerrilha junto com outros companheiros. O maior conhecedor da área entre os demais guerrilheiros morreu em 1974, com 35 anos, desarmado e faminto. Teve seu corpo pendurado em um helicóptero para provar ao povo que estava morto, afinal, virou lenda e todos achavam que era imortal. Até hoje os ossos de Osvaldão não foram encontrados.


Chegou a hora dos petistas mostrarem de que lado estão, no Maranhão e no Brasil!

O Maranhão, a oligarquia e um falso dilema petista


O sarneysismo comanda o Estado do Maranhão há 50 anos – a mesma idade do golpe militar -, com o interregno do governador deposto Jackson Lago, eleito com o apoio do anterior, José Reinaldo, que havia migrado para o PSB. 

Por Walter Sorrentino*


Flávio Dino
Flávio Dino
Hoje, Flávio Dino, do PCdoB, candidato da renovação, está com índices sustentados há 20 meses em torno dos 50-56%. Em 2010 Roseana Sarney fora eleita por ínfima margem, com o PT como vice-governador, depois alijado. Mesmo assim, o sarneysismo “exige” de novo o apoio do PT ao governo do Estado. O clã quer sequestrar a imagem de Dilma e Lula para seu projeto eleitoral de sobrevivência.

Sarney senador deu apoio importante ao governo Lula e Dilma. Reciclou-se no pós-ditadura e cumpriu papel democrático nacionalmente. Roseana o acompanhou. Mas fora do plano nacional, o sarneysismo no Maranhão é a mais longeva, nefasta e última oligarquia política do país. Um esquema de poder em que as coisas degeneraram há tempos, enquanto bloco político, capacidade administrativa e padrão moral, onde os integrantes do núcleo de comando locupletam-se com o Estado.

O PT pode ter razões em manter a aliança com Sarney no Maranhão. A inteligência política – ou coragem – separaria isso. Na realidade política brasileira, as eleições a governador não são meras extensões mecânicas dos arranjos feitos para a eleição presidencial, e isso pode ser constatado para todos os partidos e Estados.

No plano nacional, há lugar para Sarney ou seus indicados no atual governo central, no Ministério e outros órgãos. A própria governadora Roseana poderia integrar este ou o futuro governo. É próprio da coalizão nacional nos marcos atuais.

Mas manter o Estado do Maranhão nas mãos da oligarquia, será condenar seu povo a mais um período dissociado do ciclo desenvolvimentista e distribuidor de rendas vivido no país. O Maranhão é um Estado rico, cujo povo foi deixado à margem quanto aos índices sociais, econômicos e que mantém padrões políticos quase-selvagens, um vale-tudo sem fim que se infiltra em todos os poderes sob o mando do clã. É um esquema de governo falido, um fim de jornada.

A encruzilhada do PT em não proclamar apoio ao PCdoB não representa meramente mais um marco de pragmatismo político ou apenas falta de compromissos com seus parceiros duradouros. Se volta a apoiar o sarneysismo, a que título seja, o PT dará as costas a tudo que prega como força dominante no governo nacional nestes últimos doze anos. Se lança candidato próprio, não tem apelo nem chance alguma e pode ser reserva indireta de Roseana, laranja útil por assim dizer. Em ambos os casos, seria pagar um preço já bem pago ao sarneysismo, com os resultados conhecidos. No fundo, é um pretenso dilema: uma ou outra seriam opções políticas falsas para o Brasil e para os maranhenses.

Flávio Dino empalma a esperança progressista dos brasileiros no Maranhão. Fará o combate de cabeça erguida, que pode olhar nos olhos dos maranhenses e propor com clareza programática o que precisa ser feito para alinhar Maranhão e Brasil. O PCdoB, seu partido, sustentará coerentemente a continuidade do atual ciclo, com a reeleição de Dilma. A candidatura a governador se abrirá a todos os apoios necessários para vencer, sob a liderança de Flávio Dino.

Nesta hora, o Maranhão é Brasil, nós brasileiros de todos os rincões somos maranhenses, para levar o progresso, civilidade política e desenvolvimento ao povo maranhense. A campanha de Flávio Dino merece, por isso, o apoio mesmo fora do Estado, na forma de uma grande corrente para torná-la vitoriosa, com o sentimento, apoio moral e material de todos os democratas e progressistas brasileiros e do pedido de voto aos familiares por parte dos maranhenses que se espalharam por todo o país.

*Walter Sorrentino é secretário nacional de Organização do Partido Comunista do Brasil (PCdoB)


terça-feira, abril 08, 2014

OSSOS DO BAÚ!



JAIME SAUTCHUK*


        Revirar os porões da ditadura militar não é um anseio apenas de familiares de mortos e desaparecidos ou de agremiações políticas. Virou um clamor do povo brasileiro. E, pelo que se pode deduzir de ações práticas, já é também um pleito dos militares das três forças armadas, que acham de bom tom retirar os ossos desse soturno baú.

A ação das comissões da verdade e a ampla divulgação de atrocidades cometidas durante o regime militar, na descomeração do 50º aniversário do golpe de 1964, causam forte impacto. A oficialidade que hoje está nos postos de comando nas três forças armadas, na sua esmagadora maioria, não teve participação alguma no regime que vigorou até 1985.

No entanto, é inevitável a vinculação das fardas e estrelas aos eventos e atrocidades apontadas na mídia convencional, nas redes sociais da net, nas escolas, praças e auditórios. Assim, cresce muito, de modo sensível, a posição de que não é justo macular a imagem dessas instituições por conta do que classificam como erros ou excessos do passado.

Afinal, argumentam, golpes de Estado sempre estiveram presentes na história do Brasil. A própria Independência da ex-colônia portuguesa não foi fruto de revolução popular, mas de um golpe da própria família real. E o mesmo ocorreu na derrubada de D. Pedro II e do Império, com a proclamação da República que até hoje vigora.

Contudo, nossa gente se acostumou a relacionar a palavra golpe com ações militares. Desde a velha República até o mais dramático dos golpes, que implantou o regime militar em 1964, o substantivo “golpismo” e o adjetivo “golpista” pareciam fazer parte de algum dicionário exclusivo da caserna.

Este, contudo, é um grande equívoco. Militar nenhum faz golpe se não contar com o apoio político de setores da sociedade. Em nosso caso, a maior parte das elites sempre foi merecedora do adjetivo, porser adepta do golpismo, com ou sem militares. Basta que seus interesses sejam ameaçados para que a democracia esmoreça.

Usam e abusam das instituições estabelecidas, sejam parlamentos ou instâncias judiciárias. E contam com as poderosas armas dos meios de comunicação de massa por elas controlados. Com estes, manipulam grande parte da opinião pública, que passa a respaldar ações rasteiras, desleais e, é claro, elitistas.

Com isso, ao longo dos séculos o golpismo passou a fazer parte da vida das pessoas comuns. Virou parte da cultura nacional. Seja de maneira subliminar, seja de forma escancarada, os conceitos éticos da lealdade e da solidariedade humana perdem com frequência seu sentido, parecem coisa de filósofo grego.

Para termos uma visão clara de como esse processo acontece, podemos usar o exemplo da grande mídia. O tratamento por essa dado a um tema qualquer tem sempre dois pesos e duas medidas, aplicados sob o comando do pensamento das elites, que podem estar aqui, em solo tropical, ou nos Estados Unidos. Tanto faz.

No mais das vezes, a interferência é direta dos controladores ou donos dessa mídia e pode ser percebida no próprio vocabulário por ela utilizado. Um exemplo do Oriente Médio: o rei da Arábia Saudita é chefe de estado, já o presidente da Síria é ditador. A explicação para esse tratamento diferenciado é simples: o primeiro é alinhado com as políticas de Washington; o outro, não.

        Todos nós sabemos que, durante a ditadura, boa parte da grande mídia brasileira era editada pelo Palácio do Planalto. Em todos os governos. Mas, a relação de jornalistas com o chefe da Casa Civil do general Ernesto Geisel, o também general Golbery do Couto e Silva, chegava a ser promíscua. Poderia citar nomes de jornalistas da grande mídia que mandavam textos pra Golbery ler, antes de publicá-los.

        Mas isso não é privilégio da ditadura. Durante os governos de FHC, ocorria algo parecido. A linha editorial de muitos veículos e de muitos jornalistas era ditada pelo próprio FHC e por outras lideranças tucanas, em especial José Serra. Essa influência não terminou com o fim do reinado tucano, de modo que muitos colunistas de meios de todas as modalidades seguem até hoje a orientação dessas “fontes”.

        Ou seja, o golpismo é algo cultural e está presente em nosso cotidiano, por mais que tentemos extirpá-lo de nosso dicionário. Mas, a tortura, os maus tratos, as mortes e desaparecimentos nunca foram nem serão toleradas. E o melhor jeito de preservar uma boa imagem dos militares de hoje é esclarecendo a história toda, tintim por tintim.


*Jaime Sautchuk, é jornalista, escritor, militante revolucionanrio e ambientalista!

segunda-feira, março 31, 2014

DITADURA NUNCA MAIS! PUNIÇÃO E PRISÃO PARA OS TORTURADORES, ASSASSINOS E SEUS ACÓLITOS!

Gostaria de estar presente neste ato! Fui preso e levado pra este "inferno" duas vezes, a ultima e mais longa temporada, em setembro de 1973, onde fui tão barbaramente torturado, que sequelas me atingem até hoje. Lá junto com o pessoal do Hospital Central do Exército em São Paulo, alí no Cambuci, tive um rim tão esmagado que está em mim necrosado até hoje, perdi a maioria dos dentes arrancados a alicate e outras "cosistas" mais. Mas na primeira vez em 1971. tambem experimentei o pau de arara, a "cadeira do dragão" e todos os outros tipos de torturas que nos submetiam, homens, mulheres, jovens indistintamente. Sou um sobrevivente daquele que junto com o DOI-CODI do Rio de Janeiro, na Barão de Mesquita, onde também fui "hospede" algumas semanas e passei pela famosa "geladeira e outras atrocidades. DITADURA NUNCA MAIS! PUNIÇÃO E CADEIA AOS TORTURADORES E SEUS ACÓLITOS!
Relato de Adalberto Monteiro hoje no Facebook:Participei, neste 31 de março, do Ato Ditadura nunca mais, no pátio do antigo DOI-CODI/OBAN, na rua Tutóia, em São Paulo. Neste local funcionou um verdadeiro centro de extermínio. Mais de oito mil pessoas aqui foram presas e torturadas e cinquenta delas assassinadas. Punição aos torturadores, ditadura nunca mais, e mais e mais democracia hoje e amanhã.

quinta-feira, março 27, 2014

50 anos da ditadura militar/civil! DITADURA NUNCA MAIS!!!

Ivan Seixas: O homem do Consulado dos EUA que visitava o DOPS



Especial – 50 anos do golpe

Um golpe contra o Brasil
por Ivan Seixas* — publicado 25/03/2014 08:55, última modificação 25/03/2014 09:23
Da CartaCapital 
Engana-se quem acha que a ditadura foi implantada, em abril de 1964, com uma quartelada ou alguma ação improvisada de militares furiosos. Foi um golpe de Estado anticomunista, antioperário e antinacional, dentro da histeria da Guerra Fria, em uma agressão escancarada para impor um minucioso projeto econômico e social desenvolvido segundo os interesses do capitalismo estrangeiro e seus aliados nacionais.
Para impor esse projeto econômico e social era necessário impor o arrocho salarial e medidas impopulares sem precedentes. E para que isso se efetivasse era necessário o terrorismo de Estado e a cumplicidade e cooperação do empresariado nacional.
A grande maioria dos sindicatos de trabalhadores sofreu intervenção, que passaram a ser dirigidos por gente de confiança da ditadura e dos patrões. Para garantir a repressão, uma extensa rede de repressão se instala desde os primeiros momentos da ditadura sob o comando do temido SNI — Serviço Nacional de Informações, complementada por agentes de repressão particular dentro das fábricas, contratados pelos empresários. Essa cooperação é prevista no organograma do SISNI – Sistema Nacional de Informações, que destaca as “Comunidades Complementares” com os convênios com “Entidades privadas conveniadas”.
Toda essa rede de arapongas a serviço do empresariado foi detectada pela Comissão Estadual da Verdade Rubens Paiva, de São Paulo, com base em documentos oficiais do SNI, guardados no Arquivo Nacional. Do mesmo modo, o Arquivo do Estado de São Paulo guarda documentos que mostram que as empresas entregavam as fichas funcionais de seus empregados ao DOPS – Departamento de Ordem Política e Social para que fossem perseguidos pela temida repressão política e essa perseguição servir de desculpas para demitir e colocar o nome do perseguido nas “listas negras” daqueles que não poderiam conseguir emprego mais. Suas famílias passavam fome e os empresários impunham assim o medo da demissão e a submissão dos trabalhadores dentro do projeto implantado em abril de 1964.
A Comissão Estadual descobriu também os livros de entrada e saída no DOPS. Não o livro de entrada de presos, mas o de visitantes do departamento. Sem nenhuma dúvida, o visitante mais constante era um funcionário da FIESP – Federação das Indústrias do Estado de São Paulo, Geraldo Resende de Mattos, homem de confiança do chefe da entidade patronal. Suas visitas nem sempre têm registrado o horário de saída. Numa dessas vezes, a entrada foi pouco antes das seis da tarde e sua saída se dá no dia seguinte quase sete horas da manhã. Óbvio que o funcionário da FIESP ia lá organizar a repressão ao movimento sindical já amordaçado, reprimido e duramente perseguido. Mais uma vez o projeto econômico e social implantado em 1964 era garantido pela repressão política da ditadura sem nenhum disfarce, bem longe da civilidade ou legalidade.
Outro que visitava muito aquele órgão de repressão, tortura e extermínio e opositores à ditadura militar era Claris Halliwell, graduado membro do consulado geral dos EUA, que entrava e saía com muita frequência e também não tinha horário de saída registrado ou só saía no dia seguinte. Em geral, sua presença lá coincidia com os dias em que aconteciam terríveis sessões de tortura a membros da resistência ao estado de terror imperante. Sua entrada acontecia junto com conhecidos torturadores do DOI-CODI de São Paulo como o tenebroso Capitão Ênio Pimentel Silveira, notório torturador e assassino de presos políticos. A entrada dos dois indica que participavam das sessões de torturas, como é o caso do dirigente do Movimento Revolucionário Tiradentes (MRT), Devanir José de Carvalho, Comandante Henrique, barbarizado por quase três dias seguidos e assassinado ao fim dessa jornada.
Torturas, assassinatos e desaparecimentos de opositores militantes de organizações revolucionárias de luta armada aconteciam no mesmo lugar e com a mesma atenção que a repressão ao movimento sindical e de trabalhadores em geral. A ligação que há entre Mister Halliwell e Geraldo Resende de Mattos é o projeto econômico e social implantado em 1964, com orientação, apoio e acompanhamento do governo americano ao Estado usurpado pelos golpistas civis e militares, que se perpetuaram por longos 21 anos seguidos no poder. Causaram danos em, pelo menos, três gerações de brasileiros e estão impunes até hoje.
Nesse momento em que se marcam os cinquenta anos do assalto ao poder por gente que não tinha compromisso com a democracia e menos ainda com o País, devemos refletir o que se pode fazer para o Brasil continuar e aperfeiçoar suas instituições. Cometeram crimes de lesa-humanidade e também crimes de lesa-pátria, pois causaram danos ao povo trabalhador, aos jovens, à cultura nacional, à economia nacional e às instituições nacionais. E continuam impunes. As mortes são imperdoáveis, mas o que se pode dizer da fome causada aos trabalhadores colocados nas chamadas “listas negras”? Não eram “apenas” os trabalhadores, mas todos os componentes de suas famílias. Danos morais, políticos e econômicos em mulheres, crianças e idosos. Não há como perdoar. Tudo cometido em nome de um maldito projeto econômico e social de uma potência estrangeira.
*Ivan Seixas, ex-militante do Movimento Revolucionário Tiradentes (MRT), foi torturado ao lado do pai, assassinado pelo regime. Hoje Seixas preside o Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana. Seu relato faz parte da série de 50 depoimentos coletados para o especial Ecos da Ditadura, sobre os 50 anos do golpe civil-militar de 1964

quarta-feira, março 19, 2014

BOLETIM DE DOENÇA!

Estou há duas semanas esperando providencias para fazer uma ressonância do cérebro e um  doupler na perna  direita. Fui vitima de um AVC Temporal na segunda feira antes do Carnaval.Me deixou com o lado direito do corpo praticamente paralizado. Aos poucos os movimentos foram voltando, mas as seqüelas(dor e fraqueza na perna direita, continuam). Meu médico, o eficiente e genial Hudson Mourão Mesquita, alem de me medicar urgentemente, como de praxe, me pediu os dois exames. Começou ai minha peregrinação.

Clinica particular nem pensar, pois gastaria mais de 1.500 reais(o que não tenho), fui apelar  aos amigos. Messias de Souza, meu camarada e amigo, administrador de Brasilia, passou dias tentando conseguir via SUS os exames na rede publica do DF. Colocou até uma funcionária sua para acelerar as coisas. Até o Secretário de Saude, meu amigo de priscas eras, Rafael foi acionando, mas nada. Cai na malha da burocracia que me exigiram tantas coisas que estou até hoje, dia 19 de março, aguardando um sinal e uma data para os exames. Nada até agora.


Se tiver um novo AVC pode não ser temporal e ser mais  agudo, pois meu médico não pode tratar das causas, sem descobrir as origens, só reveladas pela ressonância e pelo doupler. Mas fico aqui no aguardo e torcendo para que meu organismo, que já resistiu a três tiros na cabeça, uma lesão na medula,  que me deixou paralítico por mais de dois anos,torturas infindáveis nos DOI-CODIs, um rim triturado e necrosado e outras barbaridades, resista a mais  um ataque natural contra ele. Sou forte e resistirei a tudo. Mas não me  conformo de uma burocracia que não obedece sequer o Secretario da Saude. Mas vamos lá. A Revolução e o socialismo  triunfará, apesar deles e até de nós!

"PROCURANDO MONICA"

José Trajano

Acabei de ler “Procurando Monica”, de José Trajano. Emocionante, fácil e prazeiroso de ler, mas ficou aquele sentimento de “Deja Vu”. Trajano fica nos devendo o “grand finale”, em outro livro talvez. E ainda, já que começou como memorialista, um livro sobre sua trajetória de jornalista esportivo e que revolucionou a profissão e a crônica esportiva, mais suas andanças pelo Brasil e pelo Mundo afora vivendo e trabalhando ao mesmo tempo.
Em “Procurando Monica”, ao final fiquei esperando a cena entre Zézinho e Monica, como Jofre Soares  e Mirian Pires, se amando  carnalmente como no memorável filme de 1977, de Cacá Diegues, “Chuvas de Verão”. Quem sabe na continuação...
Me vi retratado ali, como diria minha amiga Maria Luiza Araújo, na cena inacabada como eu e a moça penapolense de Sorocaba, que nem ata nem desata. Ela resistindo a nova vida e eu frustrado e incompleto, indo em busca de não um  amor intenso, mas uma paquera dos tempos de juventude na querida Penápolis e que finalmente pode render algo de novo em minha vida!
Por fim, reproduzo aqui mensagem de meu amigo Luiz Carlos Antero no Facebook:

Luiz Carlos Antero mencionou você em um comentário.
Luiz escreveu: "O José Trajano é o protagonista do meu primeiro emprego, no Rio de Janeiro, nos anos de chumbo da ditadura civil-militar, Luiz. Fui ao Jornal dos Sports indicado por um amigo comum e ele me disse: "a Sheila (era a viúva do Mário Filho, nome de batismo do Maracanã, irmão do Nelson Rodrigues) não está empregando ninguém". No entanto, deu o jeito dele e me manteve por lá por uns dois meses. Foi quando o Celso Itiberê, editor de Esportes do Globo, solicitou que ele indicasse dois repórteres. Eu fui um deles. Entre diversos episódios notáveis, minha primeira cobertura (pauta dele) foi de um jogo entre os times juvenis do Vasco e do Flamengo, em São Januário. Quando cheguei na redação, ensaiei um texto manual; ele rasgou o papel e disse, imperativo: na máquina (ao que lembro, uma Olivetti do tipo gigante). É com orgulho que lembro de ter conhecido esse comunista sanguíneo, solidário, de luta, torcedor do América e rubro até nas opções esportivas. Entre as lendas que corriam ao seu respeito, uma delas é que tomava porres de cointreau (kkkk, um dia, em Brasília, experimentei; é brabo). Mas o melhor mesmo é que eu soube: no ESPN, foi Trajano que inspirou vídeos documentários sobre o período da ditadura, temas políticos diversos, envolvendo inclusive heróis como o Osvaldão. Quero ler esse livro "procurando Mônica".

Eu acrescento que além de Trajano, na ESPN tem o Helvidio Mattos, figura impar com quem trabalhei nos “Diários Associados”, de São Paulo, que fez realidade as idéias e projetos de Trajano!


Noite memorável

Joelson Meira*


Quem assistiu ao encerramento dos Jogos Olímpicos em Sochi , na Rússia, conseguiu vislumbrar valores da civilização que deixou o maior legado de conquistas sociais , históricas , culturais e vigilância sobre o fascismo , o nazismo e o retrocesso da barbárie que ronda a humanidade . 

Quem presenciou , hoje , o lutador de artes marciais Vladimir Putin reafirmando a soberania da Rússia sobre um território que foi entregue à Ucrânia por um gesto fanfarrão do contra-revolucionário Nikita Kruchov , sabe , muito bem , o significado desta data perante a máquina de guerra intervencionista chamada Estados Unidos . 

Ao retomar a Chechênia , ao promover a re-estatização de setores estratégicos - construídos pelos trabalhadores da União Soviética e entregues aos mafiosos capitalistas de Gorbachov e Ieltsin - ao enfrentar a OTAN em questões relevantes da geopolítica mundial , o Tenente - Coronel de São Petesburgo , com mandato presidencial até 2018 manda o maior recado da luta antiimperialista da atualidade àqueles que se consideram os donos do mundo . 

O Referendo na Crimeia , o apoio e ajuda à maioria russa naquele território , a Política econômica e o fortalecimento do Petróleo e Gás nacionais , o investimento em indústria nuclear e defesa , a elevação de índices na indústria naval com satélites de última geração , fabricação de caças sukov em co-gestão com a Índia ( proposta feita ao Brasil e , por medo , recusada ) e , por último, a independência com os EEUU e Reino Unido nas políticas externas , defendendo a não intervenção em outras nações , fazem do atual presidente da Rússia , Vladimir Putin , um pólo aglutinador de grande porte , na resistência à sanha criminosa e bestial da história contemporânea , chamada Estados Unidos da América . 

Confesso que hoje à noite , ao presenciar o discurso de Putin no Parlamento Russo , - guardada a devida diferença temporal da revolução de 1917 - voltei na história da minha jovial militância de sonhos e entrega da vida por uma nova ordem internacional , socialista e longe do domínio cruel , opressor e violento patrocinado pelos Bushs e Obamas da vida , bonecos de ventriloucos do capitalismo de guerra , perverso e suicida que domina os povos do planeta ! 

As ameaças americanas , até agora , se prendem a embargos econômicos , anunciando a supressão de 300 bilhões de dólares em investimentos externos, dos capitalistas gananciosos do mundo ocidental na Rússia . Ogivas nucleares e Mísseis balísticos de última geração , apontados para Washington e uma frota moderna nuclear de navios e submarinos , mostram a Obama que a Rússia não é a Síria , o Iraque , o Afeganistão , a Líbia , quando a covardia do império trucidou aqueles povos indefesos ! 

As resistências aparecem , deixam minha geração entusiasmada e animam as gerações que nos sucedem mostrando caminhos tortuosos na busca da paz , emancipação , liberdade , fraternidade e progresso social . O socialismo vive . Viva o socialismo !


Joelson Meira é advogado, militante politico e representa os baianos em Brasilia

terça-feira, março 18, 2014

O Amor não morre!!!!


Comecei a ler hoje, “Procurando Monica” do jornalista e cronista esportivo José Trajano, editado pela Cia. Das Letras. Não acabei ainda, mas estou adorando. È uma história parecida com as que tenho vivido ultimamente com uma bela e sensual senhora que vive hoje em Sorocaba e foi um grande amor da minha vida, que perdi na juventude, para a vida e outro cabra. O texto e a narrativa de José Trajano é deliciosa e perspicaz.
Depois deste maravilhoso livro, José Trajano fica devendo a nós leitores e ao Brasil, um outro livro, narrando suas histórias como jornalista e cronista esportivo. Deve ter muitas coisas que viveu ou ouviu falar que merecem ser narradas. E devo dizer ainda, que José Trajano em seu livro “Procurando Monica”, passa por vários momentos do Brasil, que vão da década de 60 do século passado, até quase os dias de hoje. E ele não se inibe e denuncia a Ditadura, alguns de seus algozes e seus efeitos na alma dos brasileiros. Grande livro e grande José Trajano!!

Surtando pelas páginas do livro de José Trajano, “Procurando Mônica”, me vem a memória a musica de Lupiscinio Rodrigues, imortalizada por Paulinho da Viola, “Nervos de Aço”, que me remetem aquela garota que amei loucamente em Penápolis e se foi um dia com outro e depois a revi em Sorocaba, linda, charmosa e teimosa, como sempre. Ai vai a letra da musica para quem sabe recordar e viver:
Nervos de Aço
Você sabe o que é ter um amor, meu senhor?
Ter loucura por uma mulher
E depois encontrar esse amor, meu senhor,
Ao lado de um tipo qualquer?
Você sabe o que é ter um amor, meu senhor
E por ele quase morrer
E depois encontrá-lo em um braço,
Que nem um pedaço do seu pode ser?
Há pessoas de nervos de aço,
Sem sangue nas veias e sem coração,
Mas não sei se passando o que eu passo
Talvez não lhes venha qualquer reação.

Eu não sei se o que trago no peito
É ciúme, é despeito, amizade ou horror.
Eu só sei é que quando a vejo
Me dá um desejo de morte ou de dor.

segunda-feira, março 17, 2014

Obscurantismo de filhos, afasta a mãe de relacionamento!

Meus  queridos   amigos de Penápolis e do Mundo 2
Como anunciei há semanas atrás aqui, meu reencontro com “Belinha”, a Isabel Prouvot e o inicio de um relacionamento que tinha tudo para dar certo, volto a este espaço para dizer que nosso caso acabou. Os filhos  de “Belinha” não concordaram com nosso relacionamento e exigiram da mãe o rompimento. Ela diante das pressões capitulou e para continuar vivendo  em harmonia com seus filhos, decidiu se afastar de mim.

Discordei de sua posição, pois ela merece ser feliz, depois de mais de 4 anos de viúves, mas respeito  sua decisão e me afasto definitivamente. Agora é tocar minha vida, mesmo chocado com o comportamento de filhos que não querem ver a felicidade de sua mãe!

terça-feira, março 11, 2014

Estou de amor!!! Embevecido!!!

Meus queridos amigos de Penápolis e do Mundo!
Reencontrei uma paquera e paixão recolhida dos tempos de juventude lá de Penapolis; Nossa querida “Belinha”,  a Isabel Prouvot. Hoje uma linda e charmosa   senhora que mora em Piracicaba, viúva e com seus filhos.  Foi um reencontro  fugaz, rápido, mas  que, como  uma  fagulha que incendeia uma pradaria, despertei nela o amor e a paixão que naqueles idos de 60 me tocava e se recolhia.

Acho que nos redescobrimos também e a paixão   aflorou, desembestada como um corisco. Agora estamos nos preparando para curtir a paixão  que esta em nós e procurarmos  sermos felizes sem magoar ninguém e  agregando todos  que em torno de nós gravita! Ela  se transformou na minha musa e inspiração para superar os problemas e agruras que a  vida nos interpõem! Aos amigos peço que torçam pela nossa  felicidade e que sei  vai ser eterna como a vida e contagiar todos que em volta de nós vive e torce!

quinta-feira, março 06, 2014

Em homenagem a "Osvaldão", o guerrilheiro do Araguaya que sempre foi líder e respeitado!

ARTIGO
A propósito do Araguaia

Osvaldo Orlando da Costa era um homem grande e simples, como seu nome. Tinha mais de dois metros de altura, era negro e bonito. Eu o conheci quando ele terminava o curso de Engenharia na Universidade de Praga, na Checoslováquia, no início dos anos 60. Eu estava chegando para estudar e ele já estava quase de saída.
Osvaldão, como era mais conhecido, era um líder inato. Aliava o bom humor contagiante com uma bondade infinita. Sempre disponível para estudar com os colegas checos e latino-americanos, andava permanentemente rodeado de estudantes, falando alegremente e chamando a atenção dos circunstantes. Sua capacidade de liderança era inconteste: chegou a participar da organização de um dos primeiros centros acadêmicos da Universidade de Praga. Alguns anos mais tarde esse tipo de atividades desembocaria na Primavera de Praga, um movimento que se iniciou a partir da mobilização de intelectuais e de estudantes.
Figura exótica no contexto europeu dos anos 60, Osvaldão era foco de curiosidade por onde quer que andasse:
- “Quando cheguei, os meninos passavam saliva no dedo e esfregavam meu braço, para ver se a cor saía! As pessoas passavam a mão no meu cabelo! Nunca tinham visto um negro antes.” - ele me contava.
Chegou até a figurar em vários filmes na Checoslováquia. Sua estampa era cobiçada pelos cineastas também no Brasil, onde queriam que ele interpretasse Zumbi
dos Palmares.
Uma vez foi um grupo de brasileiros a uma festa de comemoração do aniversário da independência do Quênia. Osvaldão fez o maior sucesso! Um dos integrantes do grupo de repente virou-se para os demais e disse:
- “Vou-me embora, gente! As checas que estão nessa festa estão a fim de preto, não a fim de branco! Aqui o preconceito existe, sim. É francamente favorável aos negros!” - completou. E saiu.
Osvaldo Orlando da Costa, o Osvaldão: “desaparecido” em Xambioá, em 1974
Em outra ocasião estávamos percorrendo o Campus da Escola de Engenharia da Universidade de Praga e Osvaldão cruzou com alguns amigos africanos, que conversaram com ele em francês por alguns minutos. Quando se afastaram, pôs-se pensativo e comentou:
- “É, Sandrinha. Preciso mesmo voltar pro Brasil! Onde já se viu preto falando francês? Tô ficando besta, sô!” - e soltou aquela gargalhada.
Já estava preparando sua volta. Tinha uma namorada loiríssima, quase da sua altura. Quando chegou a época de voltar pro Brasil, a checa queria acompanhá-lo. Mas ele ponderava, decidido:
- “Você acha que eu vou poder passear com uma lourona dessas na calçada de Copacabana? Vou ser linchado !!!”
Pouco tempo depois regressou à terra natal, deixando a loira em Praga, inconsolável.
Nunca mais o vi. Um dia eu também voltei ao Brasil. Alguns anos mais tarde fiquei sabendo que Osvaldão era um dos líderes mais destacados da guerrilha do Araguaia. Levou consigo para Ximbioá Gilberto Olímpio, com quem havia estudado em Praga.
Gilberto não chegou a terminar o curso de Engenharia, preferindo seguir as pegadas de seu amigo. Osvaldão foi um dos últimos a “desaparecer” no Araguaia, em 1974.
Hoje, 21 anos depois, procuro ansiosa seu nome entre os desaparecidos.
Percorrendo a lista por ordem alfabética, passo primeiro pelo nome de Gilberto Olímpio Maria, estudante, PC do B - Araguaia, 1973. E mais adiante, para meu espanto, leio: Osvaldo Orlando da Costa, lutador de boxe, PC do B - Araguaia, 1974.
Meu susto foi por não ver “engenheiro”, no lugar da profissão, ao lado de seu nome.
Sandra Negraes Brisolla, professora aposentada e voluntária do Depto. de Política Científica e Tecnológica da Unicamp, morou dois anos na Checoslováquia, entre 1962 e 1964
Mas não sei por quê me espantei! Afinal, “lutador de boxe” combina melhor com seu porte e sua cor! E foi então que concordei com ele! Pois é, Osvaldão! Você estava coberto de razão! Não dava pra trazer uma loira de quase dois metros de altura com você em 1963! Você teria sido linchado! Onze anos antes de ser desaparecido!
Dizia-se na época que perto de Xambioá havia uma reserva de mineral radioativo, que era alvo de contrabando por helicópteros norte-americanos que pousavam no campo, seus tripulantes desciam com roupas especiais e abriam a porta para que os moradores locais carregassem o minério, sem proteção nenhuma, a troco de algum dinheiro. Não sei se era lenda!
Hoje estão revirando o terreno de Xambioá em busca dos restos de Osvaldão e seus companheiros, 30 anos depois do massacre de que foram vítima.
Homens como Osvaldão, sacrificados na luta contra a ditadura, teriam feito muita diferença na construção de um Brasil melhor, depois da democratização! Osvaldão não era o ser insensível que se acredita encarnar nos guerrilheiros por força das condições adversas. Transpirava solidariedade e o que o movia não era nenhum complexo ou frustração, a não ser com as condições inumanas em que vivem seus concidadãos. Foi por isso que se transformou em lenda! Osvaldão antes disso já era um caso de sucesso!
Encontrar neste momento seus restos mortais, assim como o de seus companheiros, e prestar-lhe uma homenagem, não vai reparar o mal causado por seu assassinato, mas vai manter viva sua memória, para que outros se mirem em seu exemplo, tirando dele a lição de que mais importante que ter sucesso na vida é dar a ela algum sentido! Um sentido que resgate a dignidade do homem brasileiro!

quarta-feira, fevereiro 26, 2014

Uma revolução geracional: Um artigo longo, porem lucido, inquietante e que merece ser lido e discutido!!!


Arquiteto, professor da FAU (USP), autor de "O mito da cidade-global"
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Uma revolução geracional
No meio de tantas manifestações, e das reações tão confusas da mídia e dos políticos, uma coisa começa a aparecer claramente: a manipulação constante dos grandes órgãos de imprensa -- e da oposição ao governo -- para criar um clima de "insegurança e insatisfação" supostamente generalizado, com motivações claramente eleitorais. A aposta é ousada: seriam os protagonistas dessas manifestações -- na maioria jovens de menos de 30 anos -- tão ingênuos para não perceber que se tenta fazer dar à sua voz um outro sentido? Não se sentiriam eles, ao contrário, manipulados? É claro que isso não importa, pois os protagonistas são apenas instrumento do jogo dos jornalões, cujo alvo é o da opinião pública ingênua, dos leitores de Veja e afins que, do conforto de seus lares, se assustam cada vez mais com notícias falsamente alarmantes.
Ocorre que talvez a tática não dê certo (espera-se), pois o que não se percebe é que dentro mesmo dos lares da "opinião pública ingênua" com a qual a grande mídia acredita tratar, há jovens desconfortáveis com essa manipulação, em todos os estratos da sociedade. Podem não ser a maioria, mas estão espalhados e se multiplicam graças às redes sociais, que eles dominam. Pois acontece no Brasil uma mudança até agora sutil, que se esconde nessas manifestações. No mundo da hiperinformação, mil interpretações escamoteiam seu aspecto comum. Em São Paulo, começou a aparecer no "churrascão da gente diferenciada", em protesto contra o "veto" da elite dos moradores de Higienópolis a uma nova estação de metrô no bairro, há alguns anos. Continuou em manifestações como a do "Há amor em São Paulo", ou o Festival Baixo Centro. Escancarou-se nas manifestações de junho, e continua ressurgindo, em diversos acontecimentos como os "rolêzinhos" em shoppings centers.
Há quem fale em conflito de classes, o que em parte é verdade. Mas, acima de qualquer outra clivagem, a que caracteriza e une todos esses fenômenos é mesmo uma só: a mudança geracional. Ela está está pondo pouco a pouco de cabeça para baixo os padrões pelos quais se organiza a nossa sociedade: segregação, racismo, corrupção, clientelismo, favores, injustiças de toda ordem, pobreza indecente, machismo, homofobia, preconceitos de toda ordem. Muitos jovens, de pobres a ricos, mesmo que seja ainda sem plena consciência do fenômeno, começam a dizer que se cansaram. 2014 promete, e muito.
Jovens mudando o mundo

Mudanças geracionais são recorrentes na história, e ocorrem por uma conjunção de dois fatores: a chegada à idade adulta de uma nova geração, e um contexto socioeconômico cultural e político razoavelmente estável, que lhe tenha permitido crescer em um ambiente de liberdade crítica e acesso à informação. Esses são os ingredientes para insuflar os ventos de transformação. Há provavelmente na história muitos exemplos, mas vamos nos ater a alguns mais recentes.
Uma das mais marcantes, que alavancou profundas mudanças nas sociedades desenvolvidas, foi a perpetrada pela geração de 1968. Naquele ano, faziam vinte anos os nascidos após o término da Segunda Guerra Mundial. Na Europa, mas também, nos EUA, cresceram em um ambiente de construção de novas sociais-democracias, com forte participação do Estado Providência, com acesso à escola e à saúde públicas e liberdade de informação e de expressão. Chegavam à universidade, assimilavam o pensamento crítico da fecunda intelectualidade da época, e passavam a expressar sua insatisfação. Por isso, essa geração questionou todos os parâmetros políticos e sociais que tinham norteado os anos de crescimento capitalista do Pós-Guerra, os chamados trinta gloriosos: O moralismo cultural, social e religioso, a massificação do consumo, as políticas imperialistas e belicosas de seus governos, foram confrontadas pela contracultura norte-americana, pelos negros e suas lideranças como Luther King e Malcom X, pelas mulheres e o movimento feminista, pelos pacifistas, pelos hippies. Exigiam liberdade de comportamento, mudanças sociais e políticas, respeito às minorias, e assim por diante. Na França, as manifestações de maio de 1968 só não lograram, por pouco, a revolução, porque a reação conservadora, em grande arte liderada pelas gerações mais velhas e marcada pelo medo, acabou sendo mais forte. Mas aqueles anos transformaram profundamente a sociedade capitalista ocidental e o que viria a ser o que David Harvey chamou de pós-modernidade.
No Brasil, foi essa geração, que tinha os Josés, Dirceu e Serra, entre seus líderes, que começou a enfrentar a ditadura de maneira mais intensa, e pagou por isso o terrível preço do AI5 e da definitiva degringolada do regime para o mundo das trevas e da tortura. Ao contrário da Europa, onde 1968 representou a abertura de horizontes para uma geração portadora de novos sonhos (embora os anos que se seguiram também tenham sido duros e repressivos), no Brasil ele representou a consolidação definitiva do obscurantismo militar, cortando pela raiz e da maneira mais brutal os anseios de mudanças daquela geração.
Uma outra revolução geracional, menos importante politicamente mas muito alardeada hoje em dia, é aquela que afetou o mundo empresarial a partir dos anos 80. Iniciada com figuras como Bill Gates e Steve Jobs. Foi quando a mesma geração dos jovens de 68, mas talvez não exatamente os mais revolucionários, chegava aos quarenta, trazendo novas atitudes de gestão de negócios e inovação. Nos anos 90 e já neste século, montados sobre a revolução da informática, jovens ainda mais jovens quebraram mais barreiras e trouxeram à vitrine do mundo dos negócios empresas bilionárias, cujos chefes vestem jeans e tênis surrados, e revolucionam as comunicações e o comportamento social.
No Brasil, a ditadura ceifou uma geração e deixou uma herança política maldita

No Brasil, como disse, a ditadura ceifou essa geração de maneira brutal. Quando conseguiu voltar ao poder, o fez com avanços históricos na reconquista da democracia. Mas, ao mesmo tempo, não logrou um rompimento efetivo das relações de poder. Talvez tenha sido culpa da própria ditadura, que moldou combatentes em suma muito parecidos. Cada um em seu campo e à sua maneira, tanto Serra quanto Dirceu, uma vez no poder, consolidaram um fazer político agressivo, em que a luta pelo poder passa acima de tudo, os fins justificando os meios.
Mesmo que tenhamos visto esses líderes de 1968 darem a volta por cima, e mesmo tendo um líder metalúrgico dos anos 70 conseguido alcançar a presidência e lançado um movimento virtuoso sem precedentes (que o país hoje festeja euforicamente ou combate raivosamente), ainda assim a falta de uma alteração mais radical nas estruturas dominantes faz com que o Brasil ainda sofra, e muito, das suas heranças mais arcaicas. Sem nunca ter vivido a experiência do Estado de Bem Estar Social para todos (aqui os benefícios do Estado são sempre só para poucos), o país organiza-se ainda pela lógica do patrimonialismo, quando se confundem as dimensões do público com as do privado, sempre para privilegiar os interesses dos mais poderosos.
Se este artigo pudesse ser (mais) longo, valeria a pena destrinchar os avanços recentes. Sou daqueles que os festeja, mas com reticências, e não faço parte dos que tentam igualar tudo dizendo que as transformações atuais se deram igualmente sob FHC ou Lula. O "Lulismo", tão bem analisado por André Singer (ler aqui), mudou para melhor muitos paradigmas. O aumento histórico do salário-mínimo a patamares decentes e o (muito) maior acesso ao trabalho estão sem dúvida entre os mais significativos, assim como políticas distributivas e reestruturadoras da base econômica local, em especial no Norte e Nordeste. Nisso, por exemplo, Lula e FHC foram muito diferentes.
Mas independentemente da polarização petista-tucana que anda nivelando por baixo qualquer análise política mais sensata, o fato é que apesar das boas mudanças, e mesmo com a sensação de que uma potência econômica de classe média começa a se movimentar, nosso país ainda amarga muitos, mas muitos problemas. Formar classe média consumidora não é tudo, e a aposta na melhoria da renda das faixas médias e do seu acesso ao consumo aquece, ao mesmo tempo, uma economia demasiadamente liberal e altamente destruidora (citemos, por exemplo, o poder exacerbado do setor financeiro, a destruição da Amazônia ou o papel predador, no campo, do agrobusiness).
Se o aumento do que vem sendo chamado erroneamente de "nova classe média" (ver sobre isso o trabalho de Márcio Pochmann sobre o aumento da base assalariada com acesso ao consumo, que não é exatamente uma "classe-média" - leia aqui) por um lado abre para muitos o "fantástico" mundo do consumo, ele não garantiu em nada, por outro lado, uma alteração dos valores éticos e comportamentais da nossa sociedade, nem uma mudança repentina de classe social dos beneficiados pelo aumento da oferta de trabalho. Pelo contrário, os valores éticos que predominam na nossa classe-média parecem ainda ser aqueles inculcados pelo regime militar, da mediocridade cultural, da aceitação robótica das informações da mídia, da passividade cívica e da alienação política (não é à toa que tanta gente diz hoje, sem noção nenhuma da monstruosidade que está falando, que tem saudades dos militares). Como diz Pochmann, "é um equívoco entender a elevação de renda como mudança de classe social". O aumento da capacidade de consumo, que, no fundo, foi o motor do lulismo, talvez tenha, isto sim, amplificado ainda mais o pensamento fútil, as interpretações rasas e a intolerância, típicas de uma sociedade que se move pela religião do consumismo, por natureza a cristalização do individualismo, da competição, do desprezo àquele que "não tem", ou seja, ao mais pobre.
Como disse com rara clareza o ministro Gilberto Carvalho (citado no blog da Rudá Ricci, clique aqui para ler): "Neste momento nos damos conta que as conquistas importantes que tivemos estão dadas. Foram importantes, mas absolutamente insuficientes. Tivemos um processo de inclusão social inegável e devemos nos orgulhar disso. Mas temos que reconhecer que foi absolutamente insuficiente. A corrida veloz para o consumo não foi acompanhada de um grande debate em torno de outros valores".
A mudança "pelo consumo" não alterou os fundamentos éticos da sociedade nem a lógica da política

Sobre tal contexto, pesa um outro problema, sobre o qual o PT tem, aí sim, grande responsabilidade. Ao decidir "fazer política como os outros" para conquistar o poder, o que fez com sucesso, e sabendo que esse "fazer política" tem a ética como último de seus valores, o partido deixou para trás os ideais de uma transformação mais profunda das estruturas políticas do país. Jogando pesado com as regras que todos sempre jogaram, e pagando o preço por isso (o mensalão, que não era sequer um esquema novo - a compra de votos para a reeleição de FHC e o mensalão mineiro o provam), o PT ajudou a cristalizar ainda mais os velhos esquemas políticos que imperavam (e imperam) no país.
Assim, mesmo com boom econômico, com avanços indiscutíveis no trato da questão social, não houve uma grande transformação no sistema político brasileiro e nas suas perversas formas de funcionamento. Ao contrário, parecem ter-se fortalecido no século XXI práticas que remontam às nossas piores heranças históricas, e que os vinte anos de ditadura só fizeram enraizar-se ainda mais, em todas as esferas de poder (ou talvez SOBRETUDO nos Estados e Municípios): o clientelismo, a corrupção generalizada, a ilegalidade como regra, o favor como modus operandi, as negociações de favores e dinheiro na relação executivo-legislativo (sempre em nome da "governabilidade"), o abuso descarado do dinheiro e da máquina pública, os partidos de aluguel; são marcas do nosso cotidiano político (embora existam exceções).
Talvez incomode tanto aos petistas ou simpatizantes (em que me incluo) a exageradíssima (e fortemente alimentada pela mídia) alcunha de "petralhas" porque mesmo sabendo que a maioria dos governos do partido conseguiu levar adiante transformações que o país há tempos precisava, mesmo sabendo que há gestões realmente diferenciadas e éticas (por exemplo a de Haddad em SP), a adoção do "modus operandi" político tradicional e a decisão de "jogar o jogo de todos" permitiu situações das quais os petistas históricos realmente se envergonham. Fazendo política "à brasileira" em vez de optar por, antes, transformar as estruturas políticas do país (teria conseguido? eis a questão), o PT produziu ele mesmo o combustível que a oposição, os conservadores e a mídia tanto precisavam.
Confundiu tudo e igualou tudo "por baixo", mesmo que o partido geralmente se diferencie nas gestões que assume, e por isso mesmo ainda é, de longe, a maior e mais forte agremiação de esquerda do país, com indiscutível (e odiada pela mídia e a oposição) popularidade. Porém, a tática do PT em ser "partido grande que faz como todos" deu aos corruptos uma chace de ouro. Podem, não com certa razão, colocar "tudo no mesmo saco", e por isso não é raro ver políticos historicamente corruptos vestindo um manto ético e gritando contra a "corrupção generalizada" ou leitores conservadores de pensamento ralo achando nos comentários de internet que "nesse governo de petralhas todo mundo rouba", como se nunca tivessem apoiado o Janismo ou o Malufismo (ou outros mais recentes). Um dos mais graves erros políticos de Lula, um aperto de mão com Paulo Maluf tem certamente seu preço na imagem do partido. Uma questão de estratégia, mas que alimenta ainda mais a confusão generalizada.
O avanço neoliberal da década de 90, que abriu as portas a novos players na nossa economia (ver artigo de Silvio Caccia Brava aqui), não ajudou nada nesse processo. Nada mais útil ao capitalismo liberal desenfreado que aqui adentrou do que a desregulação total, a concessão ilegal de privilégios, a prática de lobbies, os carteis, a corrupção (vide a maneira da francesa Alstom atuar no metrô de SP), os financiamentos de campanha para abocanhar contratos públicos, a fraude fiscal e tributária, a liberdade na aplicação de margens de lucro impensáveis, etc., etc.. Economia e política parecem ter-se juntado para a satisfação de seus objetivos: o uso de meios questionáveis para o lucro econômico para uns, o lucro político para outros. Em ambos os casos, ficou bem longe a questão do interesse público pelo país. O PT, chegando ao poder, escolheu não enfrentar essa dinâmica mas utilizar-se dela, como todos sempre fizeram. Associou-se a empreiteiras, a grandes financiadores de campanha, aos interesses do setor financeiro. .A vitória para ter Copa e Olimpíadas, que levou Lula às lágrimas de felicidade, e por um longo tempo fez a unanimidade do empresariado brasileiro (que hoje bem cinicamente adere ao discurso anti-copa), é o exemplo de como essa opção pode ser perigosa: quando as regras corruptas e indecentes impostas pelos players internacionais envolvidos, quando a implicação de capital público, quando a expulsão de comunidades inteiras em nome do progresso da copa chegaram ao conhecimento da juventude, o preço político tornou-se talvez caro demais. E a oposição e a mídia, antes tão entusiasmadas com esses eventos, subitamente mudaram de lado.
As gerações mais velhas se habituaram, as mais jovens não entendem (ainda bem)

De um lado, as gerações mais velhas dos estratos sociais mais ricos, que sempre se locupletaram com a política perversa do nosso país, com os privilégios a eles assegurados, grita "corrupção" para todos os lados, ataca o governo e a democracia com pretensões claramente golpistas, mas no fundo não acha tão ruim que as mudanças até hoje não tenham de fato alterado as estruturas de poder, de seu poder.
De outro lado, as gerações mais velhas de todas as faixas sociais, que buscavam a mudança do país (em que me incluo), se não tomaram parte dessa "regra do jogo", talvez tenham aceitado demais que era necessário utilizar-se dela; habituaram-se talvez demais ao fato de que políticas públicas não são de fato "públicas", ou talvez deram-se por vencidas face à força da opção de "fazer política como todos". Carregaram é verdade um caminhão de mudanças históricas, de vitórias políticas, das Diretas Já ao Governo Lula, mas que parecem não terem sido suficientes. Cansaram-se de talvez de lutar por coisas que parecem imutáveis. Festejam genuinamente os avanços recentes porque de fato, para os que conheceram no passado, são avanços históricos.
Para os mais jovens, porém, fica muito difícil entender o que realmente poderia diferenciar o partido que governa hoje o país "do resto", do "antes" que eles sequer conheceram, embora muitos deles se esforcem, por respeito à história, aos pais militantes, ou por perceber em algumas gestões de esquerda um respeito sim muito maior às questões humanas e sociais. Basta ver, por exemplo, a política de Haddad na Cracolândia, em comparação à intervenção a ferro e fogo que era a regra anteriormente. Mas, no geral, mesmo com esses esforço, mesmo os partidos de esquerda (e o PT) ainda sendo a opção majoritária de voto por parte dos jovens, ainda há uma (enorme) insatisfação no ar.
A impressão que têm da política é a de que se trata de um grande teatro, com bandidos e mocinhos para "alimentar" a classe média nas capas das Vejas, mas, no fundo, jogando o mesmo jogo. Todos cumprem seus papéis, as vezes ganhando ou as vezes perdendo, conforme os ventos das batalhas de momento. Cumprem-se as determinações dos vitoriosos das pequenas disputas (prisões, escândalos, cassações, acusações de corrupção) mas, no fundo, não se mexe no status quo. Sempre há um jeito, purgado o tempo da "punição", de voltar ao jogo que interessa. Ou não temos um ex-presidente cassado que hoje é Senador?Tem-se claramente a impressão de que, se fossemos realmente escarafunchar, não sobrava nem pó. Acabava-se a República. Não é à toa que ao ser acusado pelo mensalão mineiro do PSDB, o ex-governador Eduardo Azeredo pôs novamente o Lula na linha de mira ("sou tão culpado quanto o Lula, ou seja, não sou culpado", disse ele). O jogo é esse: quer me acusar, eu acuso você e desmoronam todos, do mais poderoso ao simples soldado, do mais popular ao mais obscuro, em todos os partidos, em todas as agremiações políticas que de fato usufruem do poder econômico e político. Porque no nosso país as regras políticas, sem reforma, quase que só funcionam na base de acertos e negociatas. O que seria terrível é que caso tudo desmorone, iriam juntas todas as conquistas da redemocratização, abrindo espaço para um discurso e um jogo de "recomeçar do zero em uma folha em branco" que geralmente tem tudo para levar ao autoritarismo e a regimes de exceção. Daí a insegurança com todo o cenário, e o medo da polarização conservadora que ronda no ar. Não à toa aparecem cada vez mais gaiatos relembrando saudosamente a ditadura.
Pois, mesmo que o PT tenha adotado a mesma receita política, não se deve nunca esquecer que esse cenário foi essencialmente construído ANTES dele chegar ao poder. Se o partido pode ser cobrado por ganhar o poder sem mudar as estruturas do sistema político (teria como fazê-lo se não fosse assim? dirão os petistas no poder), por outro lado deve-se dar a ele o crédito que merece. Não tenho dúvidas que o país não seria o que é hoje sem a era Lula-Dilma. Apesar de todas as críticas, foram esses governos os responsáveis por avanços inegáveis no âmbito econômico e social, por uma redução importante (mas ainda não suficiente) da pobreza, pelo aumento do emprego e da renda. Há ai um enorme antagonismo, que com certeza soa como injustiça aos ouvidos da presidenta: se hoje a sociedade e os jovens vivem um cenário econômico muito melhor que há dez ou quinze anos e têm liberdade para reivindicar avanços ainda maiores no campo político, econômico e social, isso se deve em muito ao seu governo e ao de Lula.
Mas não é no campo econômico que os avanços alcançados na era Lula geram os maiores antagonismo, mas sim no campo do comportamento social. Pois ao evoluir sutilmente em áreas como a dos direitos sociais e humanos, o país se confronta com suas raízes arcaicas e conservadoras. Negros de periferia ascenderem socialmente não é aceitável para uma parte da sociedade acostumada ao regime do apartheid social. Ver pobres em shoppings ou pegando aviões é inaceitável para os estratos da classe média e acima. Ver pessoas reivindicando nas ruas ainda não é um cenário para o qual a classe média esteja preparada. Ver um governo dar valor à defesa dos direitos humanos - dos mais pobres - é inaceitável para a enorme massa de pessoas que ainda acha que pretos e pobres devem mesmo ser amarrados a postes pelas ruas. Tudo isso, fruto do inegável avanço do governo brasileiro no combate ás desigualdades, é muito difícil para uma sociedade que ainda não se liberou da sua herança esclavagista, como muito bem escreveu José de Souza Martins (ver aqui). A polarização decorrente gera instabilidade social, dada a violência da reação conservadora, e a oposição conservadora se aproveita para construir em torno disso um ambiente de insegurança social, com contornos claramente golpistas. Mais uma vez, o governo se vê vítima de um processo que decorre de seus próprios méritos.
Impossível portanto achar um único responsável por tudo isso. Impossível apontar para um ou outro partido, muito embora a direita tenha para si o indiscutível controle da grande mídia, o que desequilibra bastante o jogo. Mas, não sendo ingênuos, e graças também ao papel impressionante da mídia eletrônica alternativa, os jovens, na dúvida, e mesmo que pareça um tanto genérico e acabe colocando todo mundo no mesmo saco, apontam, não sem uma boa dose de razão, para os políticos em geral.
A revolução geracional

Pois temos hoje, no Brasil, uma nova geração que chega à idade adulta. São aqueles nascidos DEPOIS da redemocratização, e até mesmo depois da Constituição de 1988. Cresceram em um ambiente inédito de relativa liberdade política, de lutas por conquistas sociais, de relativa democracia, de acesso aberto à informação. Cresceram também ao longo da maior revolução comunicativa jamais vista, sob um novo paradigma de acesso e troca de informações. E muitos, muito mais do que a média histórica, tiveram acesso ao ensino superior, em grande parte graças ao "lulismo", o ProUni e à ampliação dos campi de universidades federais.Essa geração tem, hoje, entre 20 e 30 anos. Não só chegaram à idade adulta como os mais velhos já são pais, são formadores de opinião, são professores de escola ou da universidade, já acessam a cargos e posições importantes. Começam a ser promotores, juízes, chefes de redação, cineastas, etc. Todos com no máximo trinta e poucos anos. Todos com uma outra perspectiva de país, muito diferente daquela que moveu o tradicionalismo conservador da direita e dos militares, mas também bem diferente daquela das lideranças de esquerda da geração de 68, talvez mais propensa a "negociar" e jogar o jogo político tradicional.
Esses jovens, para muito além das clivagens partidárias e da polarização tucano-petista, movidos por novos parâmetros de civilidade, pelo conhecimento comparativo do que ocorre mundo afora (muito também porque vários deles puderam e podem viajar, e isso graças também ao "lulismo"), por um genuíno sentimento de indignação com as injustiças do mundo e do Brasil, por um verdadeiro impulso de solidariedade, passaram a questionar. Questionar o que? Tudo.
Esses jovens simplesmente não acham normal que gente rica impeça a construção de uma estação de metrô para não "popularizar" um bairro. Não entendem porque políticas são chamadas de "públicas" se de fato não beneficiam a todos. Não aceitam que se continue usando o carro como meio de transporte preferencial (e que canaliza os investimentos públicos) quando o mundo pede pelo transporte público ou por formas alternativas não poluentes. Não entendem que o mesmo transporte público nas nossas grandes cidades seja caro, mais do que muitas grandes capitais pelo mundo afora. Se indignam ao ver que nossas cidades mantém quase metade de sua população excluída e vivendo em barracos precários. Acham absurdo, quando mais ricos, ver o quanto os pais tiveram que pagar para sua educação elitizada e mercantilizada, e acham inaceitável, quando mais pobres, que tenham tido que escolarizar-se em um sistema "público" falido, sem professores, em escolas de lata. Não acham normal que os mais ricos possam tratar-se em hospitais que mais parecem shopping-centers de luxo, e que os mais pobres morram em filas de espera nas portas do sistema público de saúde. Não aceitam que as melhores universidades públicas e gratuitas sejam o privilégios das classes mais altas. Não entendem nada das disputas partidárias intestinais dos mais velhos, mas têm certeza de que tratam-se de disputas que geralmente não levam à nada. Não conseguem aceitar que não haja dinheiro para transporte gratuito para todos se há milhões para a corrupção, para avenidas e pontes superfaturadas. Indignam-se com o racismo, o preconceito, a homofobia, o machismo que ainda correm à solta na nossa sociedade. E assim por diante, a lista é interminável.
Há 15 anos, quando dava aulas sobre favelas e precariedade urbana em faculdades com alunos de classes sociais mais altas, a reação era de conformismo, e até mesmo de certa impaciência com aquele professor esquerdista que ficava mostrando aquelas "coisas chatas" (se comparadas aos belos projetos arquitetônicos dos grandes arquitetos de mercado, que na verdade almejavam virar). Nos últimos 5 anos, o ambiente mudou completamente. O sentimento que predomina, hoje, é no mínimo o de indignação, quando não o de uma legítima vontade de se envolver nessa discussão para "ajudar a resolver" esse quadro urbano trágico. Daí, face à falta de alternativas profissionais para isso, a grande frustração que muitos jovens sentem, sobre a qual já falei para o caso da arquitetura e do urbanismo (leraqui).
Meu amigo urbanista Valter Caldana atentou para um outro fenômeno interessante: se antigamente os moradores das periferias das grandes cidades eram os imigrantes que vieram a elas em busca de trabalho, hoje isso já não é o caso. Os pais e avós vieram para a cidade grande com certa expectativa e aceitação da condição precária que teriam que enfrentar, ainda assim melhor que a seca e a fome em suas cidades de origem. Submeteram-se corajosamente e até certo ponto pacificamente à indecente segregação urbana que lhes foi imposta, a espoliação urbana de que falou o professor Lúcio Kowarick. Mas seus filhos já não pensam da mesma forma. Têm uma reivindicação de pertencimento à cidade na qual nasceram e cresceram, em um ambiente de amplo acesso à informação. Não aceitam o fato de que sua cidade seja tão descaradamente dividida e segregada. Não entendem porque uns têm direito a tudo e eles a nada. Não acham normal ter que levar horas e horas no transporte público para ir à universidade ou ao trabalho, ou que todos os investimentos e as opções de lazer existam somente nos bairros nobres. Revoltam-se com o fato de que com eles a polícia faz política de terror, em um tratamento bem diferente e bem mais letal do que faz nos bairros ricos. Enfim, revoltam-se de serem cidadãos que não podem e nem tem como sentirem-se cidadãos. A lista, mais uma vez, é interminável.
Essa revolução geracional não abarca TODOS os jovens, evidentemente, talvez nem mesmo a maioria deles. As revoltas parisienses em maio de 68 não mobilizaram de cara a maioria dos estudantes, assim como nem todos os jovens foram à Woodstock. Uma das características dessas mudanças geracionais é que elas vão se firmando aos poucos, à medida que seus argumentos se espalham entre os jovens, com idas e vindas, contradições e conflitos. Mas "A" característica da atual revolução geracional é que ela dispõe de meios de difusão nunca antes vistos, alternativos e de velocidade inimaginável, e que vem colocando em cheque a pesada e tradicional grande mídia: os meios digitais e a internet e suas redes sociais. A revolução geracional da informática é o motor da revolução geracional de toda a sociedade (será que os Zuckemberg, Gates ou Jobs imaginaram esse seu papel revolucionário?). Se a grande mídia tradicional é o vetor de contaminação das ideias conservadoras, arcaicas, preconceituosas e golpistas, as redes sociais e a internet são as veias horizontais, solidárias e eficazes de disseminação dos novos valores de cidadania, liberdade e democracia.
Uma revolução de classe ou multi-classes?

Se essa revolução (ainda) não mobiliza toda a juventude, ela o faz, em compensação, em todas as classes sociais. Dos ricos aos mais pobres. Isso porque os valores contestados estão em toda parte. Dos jovens bikers universitários que contestam a cultura individualista dos carros, das jovens mulheres que encontram enfim espaço para combater o machismo arraigado, das jovens mães que desejam amamentar em paz ou contestar a indústria das cesáreas, até os jovens de periferia que querem espaços de lazer ou o direito ao transporte, as reivindicações permeiam as classes sociais, e se solidarizam. Os movimentos populares, antes tão isolados nas suas corajosas e merecedoras disputas (por moradia, educação, saúde), agora se vêem amparados por uma mobilização social muito mais ampla, cuja característica é a juventude. Na França, marcou os anos 2000 a atitude de solidariedade de jovens de classe média e alta, reunidos no coletivo Les enfants de Don Quichotte, que acamparam nas ruas em suas barracas, ao lado dos sem-teto, para alertar os franceses sobre o problema da (falta de) moradia. Aqui, começa a ser comum ver jovens de classe alta integrando ocupações no centro, apoiando as manifestações de periferia, como o fez o MPL aliás, após as manifestações de junho. A solidariedade é uma marca dessa juventude, mesmo que ainda possa haver uma maioria ainda movida pelo individualismo consumista.
É claro que há, nesse contexto, muitos equívocos, de todas as partes. É claro que há jovens mimados e protegidos no conforto de sua situação social que exacerbam um radicalismo de esquerda que provavelmente não praticariam (vi muitos movimentos do tipo dentro da USP, por exemplo, jovens que após formados deixaram seu radicalismo fácil - para quem vivia o privilégio da universidade pública - de lado para cerrar trincheiras no campo dos empregos fúteis muito bem remunerados), assim como há jovens pobres que se mobilizam por valores consumistas muito questionáveis e distantes de uma nova ética social menos individualista e fútil.
Isso certamente torna tudo mais complexo. Mas como não entender que manifestações de jovens desde sempre alijados do mundo do consumo, mas permanentemente expostos a ele pela TV e outras mídias, não deem à suas manifestações uma "cara" consumista (vide alguns dos rolêzinhos)? Como não entender que, antes de manifestarem-se politicamente, se manifestem pelo direito de serem consumidores como o resto, nesse ambiente de milagre econômico? Como entender, por outro lado, que jovens que têm tudo comecem a abrir mão de muitas coisas (mas não de tudo, obviamente) em nome de uma melhor distribuição dos benefícios a todos?
Os blogueiros "pensadores" da extrema-direita (seria mais atual chamá-los de über-direitistas) não conseguem evidentemente entender o fenômeno. Têm dificuldade em aceitar que jovens pobres se manifestem, e depreciam pejorativamente suas manifestações. Têm raiva quando jovens ricos se manifestam, chamando-os desdenhadamente de "esquerda-acviar". Não passa pelas suas (pequenas) cabeças de consumidores ultraindividualistas que possa existir um vento de transformações que está mudando a cabeça de muitos. Sua visão de sociedade é tão egoísta que, para eles, "problema de pobre deve ser reivindicado só por pobre". Talvez sintam-se realmente ameaçados pela possibilidade de uma democratização social, ou ao menos desconfortáveis por perceber que os ricos como eles, mas mais jovens, estão começando a lhes dar lições de cidadania.
As manifestações dos jovens de classe média alta começaram com o "churrascão de gente diferenciada" em solidariedade à população pobre que quase se viu privada de uma estação de metrô em Higienópolis. Foram também jovens de classe média-alta que promoveram alguns dos "rolêzinhos", de solidariedade, como aquele no mesmo shopping racista que uma semana antes havia discriminado a entrada de outros jovens, os pretos e pobres, em seus recintos. Mas são jovens de todas as classes, em uma mistura pouco comum para as gerações mais velhas, que comparecem ao Festival Baixo Centro, que lutaram pelo passe livre e os 30 centavos, que manifestaram por mais amor na cidade, que se rebelaram contra a estúpida violência da polícia. São jovens de periferia que criaram os rolêzinhos, mas são jovens de muitas origens que compõem coletivos de cultura ou de mídia alternativa. As manifestações são tão variadas quanto podem ser as reivindicações dessa nova geração, que espelham as demandas de uma infinidade de grupos sociais. Por isso confundem os políticos e os analistas, mais velhos. O seu ponto comum, entretanto, é que elas vêm, todas, de uma mesma juventude, que começa a dar voz à sua visão de mundo.
A manipulação descarada e a tentativa de criar um cenário de "instabilidade"

Acontece que, se tudo isso está acontecendo, nada ainda é generalizado. Em um país tão complexo e sofrido como o Brasil, a maioria (mesmo talvez entre os mais jovens) ainda reza a cartilha do tradicionalismo, ainda acredita na Veja e no Jornal Nacional, ainda se assusta com as mudanças.
Vale lembrar que muitas das revoluções geracionais, como as de 68, sofreram fortes contestações conservadoras. Marchas pela tradição, a família, a propriedade, juntando milhares de pessoas (sobretudo os mais velhos) marcaram as reações conservadores em todo mundo, tanto no Brasil quanto na França, por exemplo. As mudanças alavancadas por aquelas gerações se deram muito mais porque se enraizaram, sorrateiramente, nas bases sociais e foram gerando mudanças aos poucos.
Por aqui, as hostes conservadoras ainda são infinitas, muito fortes, e se alimentam na ainda gigantesca intolerância e no egoismo pequeno-burguês e consumista de uma enorme parte da população. Aquela que escreve nos comentários das notícias dos grandes sites da internet, propagando afirmações que frequentemente flertam com o fascismo, o racismo extremo, os preconceitos de toda ordem. São os paladinos do "bandido bom é bandido morto", do "mulher estuprada é porque vestiu-se para merecer", do "não sou racista olhe como trato bem os pobres pretos", do "esses jovens de periferia são todos vândalos", do "é tudo corrupto", do "é tudo petralha", do "imagina na copa". São raivosos com um virtuosismo econômico que possa eventualmente tornar os mais pobres consumidores doentios como eles. Não toleram ver os mais pobres andando de avião, não suportam perder seus privilégios. E contra isso tudo, reagem agressivamente, pedem pelos militares, chamam médicos cubanos de macacos, abominam qualquer política pública distributivista, e assim por diante. Se há alguns jovens entre eles, a verdade é que a maioria é de uma geração que, acima dos quarenta, já conquistou seu conforto e seus pequenos privilégios. Não quer mudanças e tem medo delas. Nunca quis o Lula e o fim de políticas elitistas.
São geralmente os que param nas faixas de pedestres com seus carrões, que os capotam ao saírem bêbados dirigindo de festas, que param em fila dupla para comer nos restaurantes com valet ou para pegar os filhos na escola, enfim, que se apropriam do que é de todos com a mesma naturalidade que os políticos em que votam se apropriam dos bens públicos. E saem gritando na primeira ocasião que "o gigante acordou", que "o Brasil pede mudanças", que "partidos políticos (de esquerda, entenda-se) são antros de corruptos", sem perceber que estamos numa democracia, e que sua reivindicação muitas vezes beira o golpismo. A generalização de males de fato bem reais serve à confusão, e as reivindicações "cívicas e nacionalistas" pelo fim de "tudo que está ai" confundem-se com as reivindicações profundamente verdadeiras das gerações mais jovens. E ninguém entende mais nada.
Fazem, assim, o jogo dos verdadeiramente poderosos, dos donos do dinheiro e da mídia. Que rapidamente se aproveitam de tanta movimentação para alimentar um falso clima de instabilidade, insatisfação e insegurança. Para esses poderosos, quanto mais violência em manifestações melhor. Quanto mais "anonymous" difundindo boatos alarmistas e golpistas melhor. Quanto mais Black Blocs levando violência às manifestações, melhor. Devem provavelmente ter saudado a infeliz morte de Santiago, o cinegrafista da Band. Tudo muito estranho, mal explicado. Ajuda nisso o fato de que as polícias, pelo menos no Rio e em São Paulo, parecem ter saído do controle dos governantes. Os poderosos de plantão, os da oposição, manipulam o fervor dos jovens por mais cidadania e democracia dando-lhe ares de que trata-se apenas de uma mobilização "anti-Dilma" e antipetista. Ignoram solenemente o sentido mais profundo de sua insatisfação, politizando tudo para o conflito (bi)partidário eleitoral.
Uma revolução política?
Resta saber se as saídas dessa revolução geracional serão ou não capazes de alavancar uma transformação política. O pensamento de esquerda tradicional do séc. 20, em que se inclui o do PT, passa pela certeza de que a democracia só é viável por meio da organização partidária e a via eleitoral. Ocorre que, hemos de convir, esse modelo não foi capaz nem de assegurar um processo democrático dentro dos partidos em si -- engalfinhados em disputas intestinas pelo poder entre seus membros -- nem sequer de assegurar a democracia em si. Nem aqui, nem lá fora. A (não) eleição de Al Gore nos EUA, em 2000, tendo vencido o sufrágio no número total de votos, mostrou o quanto até mesmo a "mãe" das democracias se perdeu em seu sistema bi-partidário de votos por representações. No Brasil, há democracia se compararmos aos obscuros anos da ditadura, mas não podemos dizer que a independência de poderes é assim tão clara, que o poder da mídia não tenha se constituído de fato em um quarto poder, e assim por diante.
Os movimentos de jovens não são, para começar, todos muito politizados. Como já disse, as insatisfações são de toda ordem, e muitas vezes aquelas que afetam os jovens de classe média-alta acabam levando a um reducionismo da visão política, muito embora as causas sejam justíssimas. Com o tempo, entretanto, o tema tende a politizar-se. É o caso, por exemplo, da reivindicação por ciclovias, que é nobre e justa, mas que não pode se sobrepor à luta por transporte público de massa para todos, estrutural, chegando nas distantes periferias, para trajetos cuja distância não permite a solução da bicicleta, que é aplicável no novel local e como complemento a sistema estrutural. É claro que de início a demanda local afetava sobretudo os bairros ricos (os mais pobres na periferia já usando, aliás, a bicicleta como alternativa há muito tempo). Com o tempo, a mobilização se generalizou, quebrou essas barreiras, qualificou o discurso, associou a ele o da demanda pelo transporte público estrutural e, assim politizou-se.
Outro exemplo é o da reivindicação pelo fim da indústria da cesárea e pelo parto humanizado, que evidentemente afeta sobretudo a população que tem acesso a planos de saúde (sendo que um parto humanizado custa muitas vezes dez mil reais), já que o SUS não faz cesárea (exceto cobrando). A humanização do parto, como reivindicação política, terá que sair do campo restrito das faixas de renda que podem pagar por ele ou por planos de saúde, para alcançar a humanização de todos os partos, inclusive os normais praticados muitas vezes em condições precárias no SUS, para a enorme massa de mulheres pobres. Também a mobilização pelo fim da homofobia ainda deverá ampliar-se muito para ganhar setores da sociedade onde ainda impera completamente o preconceito. Para todas esses protestos, a "associação" entre a reivindicação pontual e sua transformação em uma reivindicação política que afete toda a sociedade é um processo que pode ser demorado. O quanto, então, as manifestações da juventude, em sua diversidade de temas, pode carregar um projeto de transformação política maior?
E se isso acontecer, quem o promoveria? Um partido político? Uma liderança individual? Muito embora, na sua juventude e as vezes inexperiência, possam ser algumas vezes "assessoradas" por partidos, geralmente à esquerda do espectro partidário brasileiro, as novas gerações adotam uma prática que renega completamente os vícios da organização partidária, as disputas internas pelo poder pessoal, as representações de liderança. Inspiram-se muito da influencia do Fórum Social Mundial, que inaugurou novas práticas de fazer política apartidárias, sem lideranças personalistas, não violentas horizontais e organizadas em rede. O Movimento Passe Livre deu uma lição na mídia e nas velhas gerações ao apresentar-se dessa forma, renegando a sua associação à uma única pessoa, evitando o surgimento de lideranças políticas por representação, apresentando um organograma marcado pela organicidade e a horizontalidade. No movimento estudantil, é cada vez mais frequente o embate declarado entre representantes dos "velhos" partidos enraizados em pequenos grupos do meio estudantil e a massa de estudantes, aparentemente nada politizada mas fortemente ancorada no sentido prático e aplicado de suas reivindicações.
Há, portanto, um "vazio" entre as insatisfações emanadas nas mobilizações de rua e a possibilidade de uma transformação política real. Seu preenchimento é incerto, pois dependeria de um grau de conscientização generalizado para cada uma dessas causas dispersas que ainda parece muito longe de ocorrer. Por causa desse vazio, as manifestações rapidamente parecem dispersas demais, pouco focadas e sem reivindicações concretas de transformação. Por isso, são alvo de todas as manipulações: pela esquerda tradicional, pelos grupos fascistoides de extrema-direita, pela mídia corporativa, pela oposição. E o governo, quanto a ele, se perde, pois não sabe como se movimentar, embora mantenha seu prestígio. Interessantes as pesquisas eleitorais deste início de fevereiro de 2014, do Ibope e da DataFolha. Apontaram um mesmo diagnóstico: o povo quer mudanças, mas com o PT liderando.
A história se repete, o país já viveu clima parecido de construção forjada de uma "instabilidade cívica", com um fim bastante trágico e décadas de trevas. A diferença agora é que a contra-informação é rápida e eficaz. Que a mobilização é instantânea. Que os jovens se alimentam de motivações e valores que fogem dos parâmetros compreendidos pelos políticos. Que os valores democráticos estão muito mais enraizados nessa geração do que em outras. Que a qualquer momento alguma surpreendente e inovadora forma de manifestação surgirá, sem que eles tenham respostas a ela. Coisas dos novos tempos. Dessa geração que traz a energia e a luz da liberdade, da justiça social, entendendo que só com elas que se construirá de fato um novo país. De uma geração cujas verdadeiras motivações para as mobilizações fogem completamente da lógica partidária-eleitoral a que nos acostumamos. Os políticos, de ambos os lados, os pretendentes a políticos (mesmo que ainda vestindo a toga), não parecem em sua maioria ter se dado conta desse fato. Ainda pensam que levarão a melhor apoiando-se na manipulação da classe média, dos conservadores e dos mais velhos. Não entendem que se trata verdadeiramente de uma mudança geracional.
As mudanças geracionais podem não se traduzir a curto prazo em uma mobilização política clara. Mas elas vão se enraizando na sociedade, ganhando espaço á medida que a juventude cresce.
Seria fantástico se ela conseguisse reverter o maior dos erros do PT: o de não ter promovido, uma vez estando no poder (mesmo jogando o jogo de todos), a reforma política no Brasil. Essa bem que poderia ser, no meu entender, "A" pauta unificadora. Porém, provavelmente as saídas para isso tudo se darão por vias inovadoras e inesperadas, e provavelmente mais éticas. Tomara que não seja pela sua manipulação.