quinta-feira, fevereiro 28, 2013

Cuba, a ilha das grandes interrogações



Por Leonardo Padura* | Tradução: Gabriela Leite
Publicado originalmente no site http://www.outraspalavras.net
A Assembleia Nacional de Cuba (parlamento) acaba de viver um momento histórico: o instante visível em que começou a se fechar uma etapa transcendente e complexa para a vida do país e abriu-se a porta a um futuro que, não é tão difícil prever, será diferente de muitas maneiras.
O general Raul Castro, reeleito no domingo (24/3) pela Assembleia, como presidente dos Conselhos de Estado e de Ministros para a legislatura que vai até 2018, ratificou publicamente que, independentemente das modificações que se realizarem na Constituição a respeito do tempo de exercício dos altos cargos, este mandato, que ele inicia com 82 anos, será seu último à frente de seu país.
Quando Raul fazia essa afirmação, estava na primeira fila do plenário, sentado em sua cadeira de deputado, o ex-presidente Fidel Castro (a caminho de seus 87 anos). Teve em suas mãos o destino do país, durante mais de 46 anos. Testemunhou o anúncio que marcou o princípio do fim de um período histórico marcado por sua personalidade e estilo de governo.
A ilha, que agora ingressa numa etapa de encerramentos e aberturas talvez transcendentes, já é por si diferente da que Fidel governava, quando adoeceu gravemente e viu-se obrigado a se afastar do poder — primeiro, de forma provisória; em seguida, de maneira definitiva, em 2008.
A essência do sistema não mudou: mantêm-se intactas a estrutura de partido único, o sistema eleitoral e a economia de caráter socialista. Mas não se pode negar que os movimentos introduzidos por Raul, como parte do “processo de atualização do modelo econômico cubano” — convertido em programa político com os “Alinhamentos da política econômica e social” aprovados pelo VI Congresso do Partido Comunista (2011) — estão mudando a realidade do país. São uma série de medidas econômicas e sociais, com maior ou menor alcance, que, em muitos casos, revertem um modelo político centralizado e estatizado, e começam a dar fisionomia diferente ao cenário social e econômico desta ilha do Caribe.
Entre as mudanças, estão o fim de proibições que limitavam a capacidade de realização pessoal (o acesso à telefonia celular, a possibilidade de comprar e vender casas e carros etc.); as diversas modificações econômicas (ampliação e facilitação de trabalho autônomo, concessão de terras a particulares em regime de usufruto, criação de cooperativas, maior espaço para a comercialização dos produtos agrícolas, concessão de créditos bancários, nova lei tributária, entre outras), e até uma reforma migratória que, pela primeira vez em meio século, permite o livre movimento da grande maioria dos cidadãos.
De forma paralela, o governo de Raul Castro empreendeu outras campanhas. Entre elas, a que visa fortalecer a institucionalidade do país, a de combate à corrupção nos diversos níveis do aparato econômico, a troca de dirigentes à frente de ministérios e instâncias de decisão, e até uma mudança ostensiva no estilo governante. O presidente moveu-se das tribunas, dos discursos e das constantes e custosas convocatórias de mobilizações populares para as reuniões de portas fechadas, onde se fixam objetivos concretos que, em maior ou menor medida, têm influído na vida nacional.
O propósito expresso do atual presidente, ratificado ao tomar posse para novo mandato, é preservar o sistema socialista instaurado na ilha em 1961. Para tanto, tenta superar a ineficiência econômica do país, e promover dirigentes capazes de sustentar as mudanças a médio prazo, quando o próprio Raul e os outros membros de sua geração já não puderem cumprir suas responsabilidades: por idade e, aparentemente, por futura lei constitucional.
Em suas últimas aparições públicas, Raul tem advertido que os movimentos de “atualização” mais importantes ainda estão por vir. Sobre o caráter dessas mudanças, pouco se sabe, ainda que muito se especule.
Sem dúvida, os grandes desafios de qualquer governo em Cuba estariam concentrados na economia: a imprescindível eliminação de uma moeda dupla que deforma a macro, a mini e a economia doméstica; a necessidade urgente de aumentar os salários para aproximá-los às necessidades vitais da população; a facilitação de investimentos estrangeiros capazes de renovar a envelhecida infraestrutura do país; o polêmico e agora indispensável acesso à Internet, sem o qual não é possível pensar em desenvolvimentos individuais, sociais e econômicos na era digital…
Que país, dentro de cinco anos, entregará Raul Castro a seus sucessores? Cuba continua sendo a ilha do melhor tabaco do mundo e das mais amargas interrogações.

* Leonardo Padura [verbete na Wikipedia] é escritor e jornalista cubano, vencedor do Prêmio Nacional de Literatura 2012. Seus romances foram traduzidos para mais de quinze idiomas e sua obra mais recente, 
El hombre que amaba a los perros, tem como personagens centrais Leon Trotsky e seu assassino, Ramón Mercader.

quarta-feira, fevereiro 27, 2013

LÊNIN, O PARTIDO DA CLASSE E O SUCESSO DA REVOLUÇÃO!!!


Publicado originalmente no Blog “Resistencia” de José Reinaldo Carvalho em http://www.zereinaldo.blog.br 

"Saber encontrar, descobrir, determinar com exatidão a via concreta ou uma viragem especial dos acontecimentos que conduza as massas para a verdadeira, final, decisiva e grande luta revolucionária - nisto consiste a principal tarefa do comunismo." (Lênin1). A opinião do grande dirigente da Revolução Socialista deve ser tomada em consideração no debate sobre “novos movimentos” e “nova esquerda”.

Por Rita Matos Coitinho*

Está em voga há pelo menos 20 anos o discurso de uma "nova esquerda". Essa esquerda renovada, traduzida nos chamados "novos movimentos sociais", caracteriza-se, de acordo com as modernas teorias sociais, pela multiplicidade de bandeiras, fundadas em geral em reivindicações por direitos de terceira geração - direitos ligados à cidadania, ao meio ambiente, às liberdades sexuais, ao acesso a serviços do Estado etc.

Ainda que não seja unanimidade, não é exagero afirmar que a ampla maioria das teorias relativas aos novos movimentos sociais considera que estes surgem em contraposição ao que seria uma "velha esquerda": nomeadamente a esquerda marxista-leninista, classista, dos partidos comunistas. A análise das diversas teorizações sobre movimentos sociais mereceria um artigo (ou mesmo vários) à parte. O que nos interessa hoje aqui é, justamente, a nomenclatura adotada para classificar os partidos comunistas: velha esquerda.

Por que seriam démodés os partidos comunistas? Por sua forma verticalizada de organização - uma vez que, por oposição, os novos movimentos caracterizam-se por sua "horizontalidade"? Por seu foco nas questões de classe - uma vez que "classe" seria também um conceito superado em uma sociedade "globalizada" e "multifacetada"? A "modernidade líquida" teria também derretido as possibilidades de uma nova forma de sociedade, socialista?

A questão da definição das classes
É claro que, assim como o trabalho, a questão de classe assumiu novos contornos na contemporaneidade. A situação de concentração de grandes contingentes de trabalhadores no interior das fábricas, típica de períodos anteriores, tornava mais simples a organização sindical e, em decorrência disso, o conceito de classe podia ser facilmente definido. Atualmente, falar em classes sociais requer um esforço maior de definição e não faltam trabalhos que anunciam o fim das classes, ou, ao menos, o fim do protagonismo histórico da classe trabalhadora2.
Estes argumentos padecem de enormes limitações. Não só porque entendem o trabalho fora de sua dimensão ontológica (como condição de existência de toda sociedade humana), mas também porque desconsideram a permanência da produção de mercadorias como base da economia mundial, conforme mostraram os estudos de Ricardo Antunes3. A realidade é que o capital adentra todas as esferas da vida social, da atividade fabril à tecnologia, aos serviços, à produção do saber e à agricultura. O assalariamento, formal ou informal, é ainda a relação de trabalho fundamental. A questão das classes como sujeito histórico mantém atualidade e relevância. Elas não desapareceram, como se procura afirmar. Apenas ganharam novos contornos, resultantes das mudanças por que passou o mundo do trabalho com o avanço do capitalismo. Menos homogênea, a classe trabalhadora contemporânea é muitas vezes mais complexa do que a classe trabalhadora do século 19, que figurava nos escritos clássicos de Marx. Fragmentada, ela encontra-se ainda nas fábricas, mas também nos trabalhos de serviços e comércio, como assalariada no campo ou, ainda, impedida de integrar-se ao mundo do trabalho pelo desemprego. Essas situações tão variadas trazem a aparência de que não há nada que unifique esses trabalhadores, já que realizam atividades tão diferentes entre si. Porém, há características fundamentais que são comuns a todos: sua relação de submissão ao capital, pelo trabalho assalariado, sua dependência dessa relação para sobreviver e a apropriação do produto do trabalho por terceiros.
Estas questões não estão aparentes e as aspirações dos grupos sociais variam infinitamente, de acordo com o tipo de atividade que se realiza, local de trabalho etc. Esta ausência de unidade, ou mesmo de “consciência de classe” é muitas vezes apontada como um indicativo de que a classe trabalhadora, enquanto tal, não tem mais viabilidade como sujeito histórico. De fato, as estratificações internas à classe (decorrentes dos diferentes setores onde trabalha, recompensas materiais, acesso a bens culturais etc.) trazem grande problemas para sua unidade e possibilidades de ação política em oposição frontal à classe dominante. Esta, no entanto, apresenta unidade nas questões fundamentais . Conforme Mészáros:
"(...) com respeito à questão da unidade, não se pode falar de uma simetria entre as duas classes fundamentais que lutam pela hegemonia na sociedade capitalista. A classe dominante tem de defender interesses reais, imensos e evidentes por si mesmos, que agem como força de unificação poderosa entre suas várias camadas. Em completo contraste, a estratificação interna das classes subordinadas serve para intensificar a contradição entre interesses imediatos e os de longo prazo, definindo esses últimos como meramente potenciais, cujas condições de realização necessariamente escapam da situação imediata".4
Partido de vanguarda
As divisões internas à classe trabalhadora são provavelmente o maior desafio para a possibilidade de sucesso dos movimentos orientados contra o capitalismo - e talvez o ponto nevrálgico que explica os limites dos novos e "novíssimos" movimentos sociais anticapitalistas. É seguramente por causa deste desafio que se reafirma a atualidade e a necessidade de um partido comunista de vanguarda. Um partido capaz de contemplar as demandas presentes nos diversos movimentos e que se propõe ir além, orientado para a superação revolucionária do capitalismo, para a construção do poder socialista, que é o poder da classe trabalhadora.
Não se trata de ser uma forma "nova" ou "velha" de organização. Trata-se da forma necessária à luta necessária. A superação do capitalismo requer a organização determinada da classe que se opõe à dominação do capital. A pulverização e fragmentação em lutas específicas, ainda que os novos movimentos tragam demandas legítimas pelas quais vale a pena lutar, não são capazes de abalar as bases do sistema e conduzir a uma derrota da classe dominante.

Partido comunista: disciplina e orientação revolucionária
Lênin, no célebre texto "A doença Infantil do 'esquerdismo' no comunismo", demonstrou de que maneira puderam os bolcheviques impor fragorosa derrota sobre a burguesia. Conforme argumenta, a centralização incondicional e a disciplina mais rigorosa do proletariado constituíram uma das condições fundamentais para a vitória da revolução.
E por que é que lograram, os bolcheviques, criar a disciplina necessária? Lênin aponta três elementos: a consciência da vanguarda proletária; a capacidade de se aproximar (se fundir) com as mais amplas massas proletárias e não proletárias (alianças) e a justeza da direção política exercida pela vanguarda, que fez com que sua liderança fosse reconhecida pelas variadas classes e frações de classe durante o processo de luta revolucionária.
Essas condições, essenciais ao sucesso da revolução, formaram-se no processo político e foram facilitadas "por uma teoria revolucionária justa [o marxismo] que, por sua vez, não é dogma, mas que só se constituiu de forma definitiva em estreita ligação com a prática de um movimento verdadeiramente de massas e verdadeiramente revolucionário"5.
Em um período de apenas quinze anos o proletariado russo viveu experiências que possibilitaram a construção do partido nos moldes necessários e a experimentação de formas de luta variadas. Lênin dividiu esse período em fases: os anos de preparação da revolução (1903-1905), os anos de revolução (1905-1907), os anos de reação (1907-1910), os anos de ascenso (1910-1914), a primeira guerra imperialista mundial (1914-1917) e a segunda revolução da Rússia (fevereiro a outubro de 1917).
Nessas fases as classes e frações de classe organizaram-se, desenvolveram a propaganda ideológica, realizaram e dissolveram alianças, criaram novas formas organizativas - como os sovietes -, atuaram na legalidade do parlamento e na ilegalidade da agitação e das grandes greves. O czarismo, vencido em 1905, realizou sua contrarrevolução entre 1907 e 1910. Vitorioso, instaurou o capitalismo, revelando ser inexorável o desenvolvimento da nova forma de organização. Nesses anos "as ilusões sobre a possibilidade de evitar o capitalismo" desvaneceram-se. A luta de classes mostrou-se como algo novo e com muita nitidez.
Os partidos revolucionários, durante os anos de reação czarista aprenderam a atacar e a retroceder. Entenderam que "não se pode vencer sem saber atacar corretamente e recuar corretamente". Os bolcheviques souberam recuar quando necessário e reiniciar o trabalho de forma mais ampla, excluindo de suas fileiras aqueles que não compreenderam que naquele momento era necessário trabalhar legalmente nos parlamentos reacionários, nos mais recuados e reacionários sindicatos e organizações. Nos anos de ascenso (1910-1914), a combinação entre o trabalho legal (parlamentos, sindicatos etc.) e ilegal possibilitou a criação de um clima de agitação entre o proletariado, bem como demarcou o campo entre bolcheviques e mencheviques.
Durante a primeira guerra imperialista mundial, as lideranças bolcheviques estiveram por longo tempo no exílio, onde conheceram e debateram as ideias e concepções dos demais partidos europeus. Os comunistas russos condenavam e denunciavam a ação do partido social-democrata alemão e da Segunda Internacional, qualificando-a de "chauvinista", na medida em que apoiava a guerra contra outras nações. Ao denunciar a guerra imperialista e conclamar a unidade da classe trabalhadora contra as burguesias que promoviam o conflito, os bolcheviques ganharam a confiança das massas trabalhadoras. A ação contra a república parlamentar burguesa da Rússia se deu na esteira da denúncia e da agitação dos malefícios da guerra imperialista. Na medida em que se lutava contra a república burguesa reforçava-se que a vitória só seria possível pelo fortalecimento dos sovietes, lugar do poder popular.
Das experiências vividas naqueles quinze anos os bolcheviques precisaram ajustar sua forma de ação inúmeras vezes. Foi necessário abandonar o parlamento em 1905 e, no entanto, foi importante manter-se nele nos anos posteriores à reação czarista. Lênin demonstrou, ao escrever sobre esse processo, que a teoria e as formas de ação não podem ser tomadas como dogma, mas adaptadas ao momento e à situação de luta.
O partido, no entanto, só pôde se adaptar às rápidas mudanças conjunturais e às múltiplas formas de luta que se sucederam porque se fortalecia a cada nova experiência. Conforme Lênin, a atitude frente aos acontecimentos deve se modificar, mas não o partido. Sem a férrea disciplina com que foi forjada a organização dos bolcheviques não teria sido possível passar de uma forma a outra de ação no tempo necessário. "Quem debilita, por pouco que seja, a disciplina do partido do proletariado ajuda de fato a burguesia contra o proletariado"6.
A experiência do proletariado russo mostrou que sem uma organização forte e com orientação clara não há possibilidade de vitória. A pulverização das demandas e a confusão entre variadas classes e frações é inevitável em qualquer luta política. Foi a orientação revolucionária e a capacidade de unificar as massas em torno de um projeto único que tornou possível a revolução russa. 
Conforme Lênin, "a política é uma ciência e uma arte que não cai do céu, que se não obtém gratuitamente, e se o proletariado quer vencer a burguesia deve formar os seus 'políticos de classe', proletários, e que não sejam piores que os políticos burgueses"7. A ação do partido comunista deve almejar conquistar as opiniões da maioria do povo, por meio da ação em todos os espaços, por todas as formas de luta necessárias - legais ou ilegais, a depender do momento histórico. Pois "sem uma mudança de opiniões da maioria da classe operária a revolução é impossível, e essa mudança consegue-se por meio da experiência política das massas, nunca apenas com a propaganda"8.
Foi por não ter abandonado seus princípios, por ter buscado adaptar-se às condições impostas, sem no entanto perder de vista o objetivo de se construir o socialismo que triunfou o proletariado russo sobre a burguesia. A existência de condições adversas, as dificuldades que a conjuntura apresenta, não devem servir de freio à ação dos partidos comunistas, mas de estímulo ao fortalecimento do partido, ao estudo da realidade e à criação de novos instrumentos. "É muitíssimo mais difícil - e muitíssimo mais valioso - saber ser revolucionário quando ainda não existem condições para a luta direta, aberta, autenticamente de massas, autenticamente revolucionária, saber defender os interesses da revolução (mediante propaganda, agitação e organização) em instituições não revolucionárias e muitas vezes francamente reacionárias, numa situação não revolucionária, entre massas incapazes de compreender imediatamente um método revolucionário de ação. Saber encontrar, descobrir, determinar com exatidão a via concreta ou uma viragem especial dos acontecimentos que conduza as massas para a verdadeira, final, decisiva e grande luta revolucionária - nisto consiste a principal tarefa do comunismo (...)"9.
É certo que as experiências socialistas do século 20 não podem ser repetidas ou copiadas. Por outro lado, a construção do socialismo nesta etapa histórica apresenta-se como necessidade imperiosa. A crise capitalista agiganta-se em todo o mundo e é urgente que se encontrem respostas de superação do modelo de produção em colapso. Aprender com a história e nela encontrar elementos que nos auxiliem a colocar o partido à altura deste desafio é tarefa urgente e necessária de cada militante comunista.

Notas
1 - LÊNIN, V.I. A doença infantil do esquerdismo no comunismo. In: LENINE, V.I. Obras escolhidas. São Paulo, Alfa-Ômega (Progresso/Avante), 1980. Tomo 3, página 333.
2 - Andre Gorz, por exemplo, deu “adeus ao proletariado” afirmando que o conflito entre capital e trabalho foi suplantado pelo conflito entre a “mega-máquina burocrático-estatal” e a população, ao mesmo tempo em que identificou uma não-classe de não-trabalhadores, composta pelos excluídos que seria agora o sujeito principal dos embates sociais. Ainda Jeremy Rifkin escreveu que o declínio inexorável dos níveis de emprego coloca em xeque tanto as potencialidades organizativas de uma classe trabalhadora como a possibilidade de se afirmar a existência de uma sociedade do trabalho.
3 - Ver: ANTUNES, Ricardo. Adeus ao Trabalho? Ensaio sobre as Metamorfoses e a Centralidade do Mundo do Trabalho. Campinas: Editora Cortez, 2002.
4 - MÉZÁROS, I. Para Além do Capital. Campinas: Boitempo Editorial, 2002.
5 - LÊNIN, V.I. Op.cit. página 282.
6 - idem, 296.
7 - idem, 321.
8 - idem, 324.
9 - idem, 333.
*Rita Matos Coitinho é mestra em sociologia, cientista social e militante do PCdoB em Santa Catarina.

sexta-feira, fevereiro 22, 2013

PCdoB/DF se preparando para as batalhas futuras!!!



Vamos nos organizar e tambem fazer o partido voltar a crescer e atuar nos movimentos sociais, sindicatos, comunidades, movimento estudantil, onde houver povo e inquietação o Partido deve estar presente. Só personalidades sem lastro social e de combatividade pode não dar o resultado que o partido espera e luta para ter! Um PCdoB de lutas e de massas!!! Lá vamos nós!!!
“Jornal de Brasília”, de hoje:22/02/2013

PCdoB quer reforçar chapa

O PCdoB brasiliense reúne amanhã seu comitê regional para preparar seu planejamento deste biênio, de olho, é claro, nas eleições do ano que vem. Pretende reproduzir no Distrito Federal a experiência que deu certo nas eleições municipais, quando ampliou o número de prefeitos e vereadores, especialmente em cidades médias. Manteve, por exemplo, a prefeitura de Olinda, além de conquistar centros importantes como Jundiaí e Contagem.

Netinho serve de exemplo

Augusto Madeira, presidente regional do PCdoB, avisa que o partido pretende abrir espaço para potenciais candidatos às eleições do ano que vem. Em São Paulo, filiou os cantores Netinho e Lecy Brandão. Deu certo e a legenda cresceu. Madeira pretende compor uma chapa forte para deputados distritais. De acordo com suas contas, caso se consiga fechar chapa como a pretendida, um candidato que obtenha de 7 mil a 8 mil votos terá grande chance de conseguir uma cadeira de deputado distrital.

terça-feira, fevereiro 19, 2013

AMÉRICA LATINA E A MÍDIA



Jaime Satuchk*

A eleição do economista Rafael Correa para novo mandato na presidência do Equador e o retorno do presidente da Venezuela, coronel Hugo Chávez, que tratava um câncer em Cuba, mereceram algum destaque na grande mídia brasileira. Com a costumeira má vontade com que esta trata os vizinhos sul-americanos.

Mesmo que cobertos, contudo, os dois eventos obtiveram menor destaque que a visita que faz ao Brasil a cubana Yoani Sanchéz. Ela se diz jornalista, mas sua atuação em blogs na internet, meio pelo qual se tornou conhecida, tem caráter marcadamente político-ideológico, panfletário. Bem pouco jornalístico, pois.

Mas a coincidência é meio estranha. Ocorre em um momento em que intenso debate é travado em toda a América Latina a respeito da liberdade de expressão. Alguns acham que este é um direito sem limites, ainda que usado como instrumento de opressão e exploração. Muitos outros a querem como um direito de todos, pra valer.

De um lado, os governos progressistas e anticolonialistas de Chávez, Correa e outros, como os de Evo Morales, na Bolívia, de Cristina Kirchner, na Argentina, e de José Mujica, do Uruguai, recebem uma cobertura arrevesada. Carrega nítido viés ideológico, preconceituoso até. Morales, por exemplo, não passa de um índio!

Mas a História é implacável. Lembremos que essa é a mesma mídia que por décadas apoiou golpes e regimes fascistas na região. Não raro, vemos órgãos classificarem Cháves de “caudilho”. Só que ele e o parlamento venezuelano, onde ele tem maioria, foram eleitos por sistema de urnas eletrônicas tão (ou mais) transparente que o brasileiro.

Acusam-no de ter se beneficiado da mudança de legislação, durante seu primeiro mandato, para permitir sua reeleição, o que é verdade. Mas fingem se esquecer de que processo idêntico ocorreu no Brasil, no primeiro governo de Fernando Henrique Cardoso, o que permitiu sua reeleição. Só que FHC é o ideólogo de boa parte dessa mídia, de modo que...

Chávez recebe porradas dos Estados Unidos o tempo todo, mas vende seu petróleo pros ianques. E a grande mídia brasileira, por fidelidade à matriz, bate firme também. Ou critica o hábito milenar do uso da folha de coca em todos os países andinos. Mas a coca, por lá, é como a erva-mate no Brasil. Não é cocaína.

Eu estive na Venezuela antes e depois do advento de Chávez. As diferenças são sensíveis na busca do bem-estar de todos. Em todos os cantos, é outro país. E não existe apenas Caracas, a hoje bem organizada capital. Tem também Cerrado, Amazônia e Andes. São 30 milhões de habitantes. 

A vinda da blogueira cubana, por outro lado, recebeu simpática cobertura, como se ela fosse a expressão maior da liberdade de expressão. Justamente ela, que é polêmica desde que divulgou, há alguns anos, agressões que teria sofrido em um breve sequestro de que teria sido vítima, sem nunca tê-lo comprovado, apesar de estar com sua máquina fotográfica até ser libertada, minutos depois.

Yoani Sanchéz sempre teve grande espaço na mídia americana, que ela atinge através da internet, livremente. Isto, apesar de em Cuba a internet ainda não ser de largo uso, pelas conhecidas dificuldades que ilha tem de acesso a sinais que circulam no espaço, até pela proximidade geográfica com os Estados Unidos.

Ela critica o fato de Cuba ter cerca de 50 presos políticos, detidos por receberem dinheiro de Washington. Ou seja, por serem agentes americanos. E todos foram julgados e condenados. Mas não critica os Estados Unidos por manterem presos políticos ali mesmo, na sua base de Guantânamo, encravada em território cubano, todos sem julgamento.

Tampouco critica o embargo econômico, que impede inclusive que cidadãos americanos façam turismo em Cuba. Mesmo que sem eficácia, já que a maioria dos três milhões de turistas estrangeiros que vão para lá todos os anos é de estado-unidenses. Eles usam caminhos alternativos, especialmente via Panamá.

De todo jeito, é mais do que evidente o fato de que a visita da blogueira ao Brasil e a vários outros países neste momento tem um motivo claro: defender a grande mídia. Em vários desses países, estão em debate novas regras que regulam o controle dos meios de comunicação, combatendo os grandes monopólios ou oligopólios.

Como no Brasil, em todos esses países o Estado concede o direito de uso de canais de rádio e TV ao setor privado. Na Venezuela, há três anos, venceu a concessão de uma grande rede, e não foi renovada, por razões diversas. Mas as mídias americana e brasileira divulgaram que a rede teria sido “cassada”.

Na Argentina, já entrou em vigor lei aprovada pelo Congresso que restringe o tamanho dos conglomerados privados de comunicação de massa. Normas parecidas estão em debate, por exemplo, no Uruguai e no Equador do reeleito Rafael Correa. São medidas que visam a democratização dessa atividade.

É um conceito que, em verdade, tem evoluído no mundo inteiro, talvez por efeito da expansão do sistema de redes de computadores, embora este também esteja sujeito a controles. 

O fato é que, cada vez mais, a blogueira vai falar pra menos gente, até porque a grande mídia tem perdido influência. 

Se vão cortar os rendimentos dela não se sabe.


*Jaime Sautchuk é jornalista, coordenador do Cebrapaz/DF, ambientalista e lutador das causas populares

segunda-feira, fevereiro 18, 2013

Kosic, um filósofo da ação. A importancia da luta de idéas!!

Em tempos que os partidos comunistas e revolucionários, passam por intensa luta de idéias para se firmar como condutores do processo de transformação da sociedade capitalista para o socialismo, ao mesmo enfrentam em muitos países, inclusive o nosso, a luta de idéias internamente, para não se deixarem contaminar pela “praga” do reformismo e do revisionismo. O artigo de Carlos Pompe sobre Karel  Kocik, que publico no meu blog  do Luiz Aparecido é esclarecedor. Grande escritor e revolucionário, Karel passou a ser perseguido por suas idéias e suas ações, após a chegada de Kruschov/Brejnev e etcaterva ao poder. Significa também que não podemos abandonar a luta de idéias mesmo sendo minoria e perseguidos por burocratas  que por acaso venham se assenhorar do poder dentro dos partidos revolucionários. Leiam o artigo, merece atenção e reflexão.





 Karel Kosic em 1979

Há dez anos, em 21 de fevereiro, faleceu Karel Kosik (nasceu em Praga em 26 de junho de 1926). Foi um filósofo militante e revolucionário. Ingressou no Partido Comunista da Checoslováquia durante a luta contra o nazismo. Depois que o Exército Vermelho da União Soviética liberou a Checoslováquia dos nazi, Kosik viajou para Moscou e Leningrado, onde estudou de 1947 a 49. Em 1956, publicou um estudo sobre Hegel e dois anos depois um ensaio sobre A democracia radical checa. Em 1961, Kosik publicou seu livro mais importante, Dialética do Concreto.
Na época, participava do Instituto de Filosofia e da Academia Checoslovaca de Ciências, duas instituições oficiais de seu país. Participou de diversos debates sobre o marxismo na França, Itália e México. Dialética do Concreto é traduzida para o italiano (1965), espanhol e alemão (1967), português (1976), dentre outras línguas. Em 1966, quando o Eduard Goldstücker, presidente da União de Escritores checos, visitou o Brasil, afirmou que a Dialética do Concreto era a principal obra filosófica publicada naquela década no seu país.
Em 1968, quando a luta de classes se intensifica na Checoslováquia, Kosik publicou na França o ensaio “O indivíduo e a história”. O governo checo cerceia a liberdade de expressão e organização, ao passo que agentes do serviço secreto norte-americano (CIA) atuam para desestabilizá-lo, nos marcos da Guerra Fria. Kosic participa da chamada Primavera de Praga e não saiu imune da invasão dos tanques soviéticos no país, que estabeleceram uma nova ordem em seu território. Perdeu todos os seus cargos na docência.  Segundo o filósofo Adolfo Sánchez Vázquez, “Kosik pagou duramente sua contribuição a essa experiência, não só com as medidas de perseguição ditadas contra ele, como, sobretudo, com o silêncio e o isolamento forçados impostos à sua pena e sua palavra, ou seja, seu labor teórico marxista como trabalhador docente e como pesquisador”.
A impossibilidade de trabalhar regular e publicamente não o impediram de continuar elaborando e escrevendo na vida privada. Em 25 de abril de 1975, a polícia checa invadiu sua residência e por seis horas revolveu seus papéis, sequestrando mais de 1.000 páginas inéditas de seus manuscritos filosóficos. Ali estavam rascunhos das obras que dariam continuidade à Dialética do Concreto: uma denominada Da Prática e outra Da Verdade. Depois desse episódio, através do silencio sistemático e do ostracismo, foi calado definitivamente. Opositores ao regime pró-soviético então imperante chegaram a pichar paredes com os dizeres: “Lenin, desperta! Eles enlouqueceram!”.
Depois do fim das experiências socialistas na Europa, seus escritos  voltaram a ser divulgados. Diferentemente dos renegados do socialismo, ele continuou fiel às suas concepções. No artigo “A lumpemburguesia, a democracia e a verdade espiritual” (1990), Kosik caracteriza o novo setor dominante nos países do Leste Europeu como una “lumpemburguesia que recruta seus membros entre os novos ricos, porém, diferentemente da burguesia normal, não hesitam ante o logro ou a associação com as organizações mafiosas”. Volta a reafirmar sua condenação à invasão soviética de 1968, opõe-se à restauração do capitalismo na Checoslováquia e registra: “O velho regime (anterior a 1989) usurpou o qualificativo de ‘socialista’, refugiando-se atrás da classe operária. Na realidade, desacreditou e desqualificou aos dois: ao socialismo e à classe operária”. Adiante, agrega: “A ideologia oficial (posterior a 1989) condena o ‘socialismo real’ e a ditadura burocrática e policialesca a ela associada, pondo-os na mesma bolsa etiquetada de ‘comunismo’. Isto lhe permite ocultar a natureza de uma alternativa, pois em sua opinião, Marx está definitivamente morto”.
Sua visão filosófica era política, militante e ativista. Nela, não há possibilidade de resolver os problemas da destruição do meio ambiente, da discriminação de gênero, racial ou qualquer outra dominação cotidiana, se não se luta ao mesmo tempo contra a totalidade do modo de produção capitalista. Sem esta luta pela emancipação radical contra o capitalismo, os movimentos feministas, ecologistas, indígenas, de juventude etc. serão neutralizados e incorporados pelo sistema.
Afirma o professor da Universidade Popular Mães da Praça de Maio (Argentina), Néstor Kohan, no ensaio “A filosofia militante de Karel Kosik (1926-2003)”, no qual se baseou este artigo, “Em tempos como os nossos, de guerra imperialista, massacres planificados, cinismo, discurso dúbio e triple moral (a direita e esquerda...), o exemplo e a coerência de vida de Karel Kosik são uma centelha. Dessas que servem, como disse há muito tempo um senhor que tinha problemas de calvície, para incendiar a pradaria”.

quinta-feira, fevereiro 14, 2013

Memorias do Chumbo Brasil



Futebol nos tempos do "Condor"

O canal de noticias esportivas “ESPN-Brasil”, produziu e divulga um documentário de excelente qualidade sobre a ação da Ditadura Civil/Militar sobre o Futebol e a Seleção Brasileira. ”Memórias de Chumbo Brasil-Futebol nos tempos do Condor”. A perseguição ao então técnico do selecionado de futebol, o brilhante jornalista e militante comunista João Saldanha, jogadores como Afonsinho e outros e a militarização da organização da Seleção Brasileira, surpreendentes revelações sobre Pelé e outras pessoas ligadas ao esporte, são mostradas neste documentário. 

quarta-feira, fevereiro 06, 2013

Justiça e sistema financeiro tomaram nossa grana!!


Uma pequena divida contraída com o BRB quando trabalhava ainda no governo de Cristovan Buarque no GDF, em 1996, de onde fomos exonerados e consequentemente não podemos na época pagar, transformou-se numa divida gigantesca que chega a quase R$ 170 mil e impagável. Em função disto hoje, dia 6 de fevereiro de 2013, tivemos todo nosso saldo bancário, oriundo de pensão vitalicia e única fonte de renda, bloqueado por ordem judicial do Juiz Àlvaro Luis de Araujo Ciarlini. E em nenhum momento fomos chamados para negociar esta divida que tem quase 17 anos. O sistema financeiro voraz e um judiciário caudatário comete uma sandice destas! Estou revoltado, assim como meu amigo Moacyr de Oliveira Filho (o Moa), vitima como eu do mesmo processo arbitrário!!!
Vamos apelar para quem????:?

Holandesa que milita nas FARC-EP, diz que guerrilha quer a PAZ para o bem do povo colombiano!


Holandesa, ex-professora de inglês, rebelde conta como decidiu entrar para a organização e vê futuro das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia como movimento político.


Já se passaram três meses desde que insurgentes das Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) e representantes do governo colombiano sentaram em Havana para iniciar negociações de paz – a primeira tentativa em uma década de pôr fim ao longo conflito na Colômbia por meio do diálogo.
O governo tenta assegurar um fim histórico para o conflito até novembro, enquanto os líderes das Farc buscam um acordo palatável aos militantes que ainda estão na selva. No meio disso tudo, está uma holandesa de classe média que chegou à Colômbia nos anos 1990 para ensinar inglês e acabou se tornando uma militante das Farc.
As Farc devem esperar que a inclusão de Tanja Nijmeijer – uma atraente mulher de 34 anos, com educação de nível universitário e um espanhol e um francês praticamente perfeitos – nas negociações de paz ajude a melhorar a imagem do grupo.
O governo colombiano tentou vetar sua participação. Mas a guerrilheira holandesa é um dos 10 membros das Farc com um lugar na mesa de negociações, e oferece um retrato da insurgência neste momento crítico.
Professor
Tanja disse à BBC que não sabia "nada sobre a guerra ou a guerrilha" quando visitou a Colômbia pela primeira vez, em 1998, ainda como estudante. Naquela época, a insurgência estava em seu ponto alto militarmente.
A holandesa ficou sabendo sobre o conflito enquanto assistia à televisão local para melhorar seu espanhol. Ela começou a fazer perguntas, e foi gradualmente se radicalizando, sob a influência de um professor, que mais tarde revelou ser um militante das Farc.
O professor a levou para as favelas da cidade e falou da luta por "justiça social" em um país com profundas desigualdades. "Eu vi a pobreza e fiquei muito impressionada com aquilo. Eu comecei a questionar o sistema capitalista, tudo ao meu redor", relembra.
Violência
Quatro anos depois, ela voltou ao país "para ver como aquelas pessoas iriam mudar a sociedade", mas logo sentiu-se compelida a se envolver ativamente. Nessa época, as Farc já haviam sido rotuladas como grupo terrorista pelos EUA e pela União Europeia.
"Trabalhar para as Farc significava instalar bombas", Tanja disse em um filme feito em 2010 na selva colombiana. Ele acrescentou que o grupo iria "explodir ônibus e lojas".
Desde então ela foi indiciada por um tribunal colombiano por ataques a uma estação de polícia, à rede de ônibus de Bogotá e a vários depósitos. Um tribunal nos EUA pede até 60 anos de prisão para Tanja por seu papel no sequestro de três cidadãos americanos, que foram mantidos reféns por cinco anos.
"Sou membro de um movimento armado" é a única resposta que ela dá quando questionada sobre sua participação direta em atos de violência.
Ela fica impaciente diante de perguntas que questionam seus motivos. "Eu não escolhi usar a violência, eu escolhi fazer política em um país onde fazer política implica no uso da violência", diz Tanja.
Malcolm Deas, um acadêmico e observador do conflito colombiano há muito tempo, afirma: "O argumento de que você precisa pegar em armas simplesmente não é o caso". "Como você pode dizer que a esquerda não tem nenhuma perspectiva no país se três dos últimos prefeitos de Bogotá eram de esquerda?", questiona.
Vítimas ou agressores?
Assim como todos os delegados das Farc nas negociações em Cuba, Tanja retrata os guerrilheiros como vítimas de uma guerra sombria, e não como agressores. Os fundadores das Farc emergiram de uma comuna dissolvida pelos militares em 1964.
Tanja cita ainda uma curta trégua nos anos 1980, quando mais de 2 mil candidatos eleitorais apoiados pelas Farc foram assassinados. As Farc chegam a este mais recente processo de paz muito fragilizadas militarmente.
Em 2002, na mesma época em que Tanja se juntava às fileiras das Farc, o então presidente Álvaro Uribe (2002-2010) lançou uma grande ofensiva militar contra os insurgentes. Três dos altos comandantes das Farc foram mortos, e Malcolm Deas diz que agora as Farc estão negociando "por uma fatia da ação política".
Tanja ressalta que a representação política é "muito importante" para as Farc, assim como garantias de que qualquer acordo obtido nas negociações de paz seja totalmente implementado. Enquanto ela fala, é possível vislumbrar traços da ex-professora: quando ela ri de suas dúvidas em inglês ou fala de longas conversas telefônicas com sua família no país natal.
Ela escolheu um visual muito feminino para a entrevista, distante das roupas militares que costuma vestir. Dezenas de milhares de pessoas foram mortas e milhões desalojadas no longo conflito colombiano. Tanja não demonstra arrependimento por seu papel no conflito. "Há vítimas depois de mais de 48 anos de guerra. É por isso que estamos falando de paz agora", diz.
Talvez essa rigidez tenha nascido da necessidade.
Em 2007, seu diário foi descoberto por soldados colombianos em um ataque a um campo rebelde, e trechos divulgados zombavam dos privilégios garantidos aos líderes das Farc e questionavam sua decisão de se unir à insurgência. No entanto, a guerrilheira holandesa disse mais tarde que suas declarações foram distorcidas.
Fervor
Cinco anos depois, ela fala da vida de militante em termos elogiosos e diz que se "realizou como mulher". "Nas Farc não há debate, se você quer sobreviver, você entra na linha e segues as ordens", diz Deas.
Ele sugere que, depois de tanto tempo na selva, Tanja "convenceu a si mesma de que ( as Farc ) são "adoráveis" e de que ela "estava certa". Tanja claramente não está acostumada a ter suas opiniões questionadas. Ela se inquieta diante do termo "terrorista", e diz que concordou com uma entrevista – não com um julgamento.
Seu fervor mostra como as negociações de paz serão complexas. Mas para todos os militantes, elas são a única saída da selva possível neste momento. "Eu iria à Holanda, mas somente por algumas semanas", diz Tanja sobre seus planos caso a paz seja alcançada algum dia.
Mas logo ela quer estar de volta à Colômbia, com as Farc. "Nós poderíamos continuar como um movimento político", diz ela, sobre o futuro do grupo. "Nós poderíamos começar a lutar por nossas ideias sem rifles."

sexta-feira, fevereiro 01, 2013

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