quarta-feira, fevereiro 06, 2013

Holandesa que milita nas FARC-EP, diz que guerrilha quer a PAZ para o bem do povo colombiano!


Holandesa, ex-professora de inglês, rebelde conta como decidiu entrar para a organização e vê futuro das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia como movimento político.


Já se passaram três meses desde que insurgentes das Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) e representantes do governo colombiano sentaram em Havana para iniciar negociações de paz – a primeira tentativa em uma década de pôr fim ao longo conflito na Colômbia por meio do diálogo.
O governo tenta assegurar um fim histórico para o conflito até novembro, enquanto os líderes das Farc buscam um acordo palatável aos militantes que ainda estão na selva. No meio disso tudo, está uma holandesa de classe média que chegou à Colômbia nos anos 1990 para ensinar inglês e acabou se tornando uma militante das Farc.
As Farc devem esperar que a inclusão de Tanja Nijmeijer – uma atraente mulher de 34 anos, com educação de nível universitário e um espanhol e um francês praticamente perfeitos – nas negociações de paz ajude a melhorar a imagem do grupo.
O governo colombiano tentou vetar sua participação. Mas a guerrilheira holandesa é um dos 10 membros das Farc com um lugar na mesa de negociações, e oferece um retrato da insurgência neste momento crítico.
Professor
Tanja disse à BBC que não sabia "nada sobre a guerra ou a guerrilha" quando visitou a Colômbia pela primeira vez, em 1998, ainda como estudante. Naquela época, a insurgência estava em seu ponto alto militarmente.
A holandesa ficou sabendo sobre o conflito enquanto assistia à televisão local para melhorar seu espanhol. Ela começou a fazer perguntas, e foi gradualmente se radicalizando, sob a influência de um professor, que mais tarde revelou ser um militante das Farc.
O professor a levou para as favelas da cidade e falou da luta por "justiça social" em um país com profundas desigualdades. "Eu vi a pobreza e fiquei muito impressionada com aquilo. Eu comecei a questionar o sistema capitalista, tudo ao meu redor", relembra.
Violência
Quatro anos depois, ela voltou ao país "para ver como aquelas pessoas iriam mudar a sociedade", mas logo sentiu-se compelida a se envolver ativamente. Nessa época, as Farc já haviam sido rotuladas como grupo terrorista pelos EUA e pela União Europeia.
"Trabalhar para as Farc significava instalar bombas", Tanja disse em um filme feito em 2010 na selva colombiana. Ele acrescentou que o grupo iria "explodir ônibus e lojas".
Desde então ela foi indiciada por um tribunal colombiano por ataques a uma estação de polícia, à rede de ônibus de Bogotá e a vários depósitos. Um tribunal nos EUA pede até 60 anos de prisão para Tanja por seu papel no sequestro de três cidadãos americanos, que foram mantidos reféns por cinco anos.
"Sou membro de um movimento armado" é a única resposta que ela dá quando questionada sobre sua participação direta em atos de violência.
Ela fica impaciente diante de perguntas que questionam seus motivos. "Eu não escolhi usar a violência, eu escolhi fazer política em um país onde fazer política implica no uso da violência", diz Tanja.
Malcolm Deas, um acadêmico e observador do conflito colombiano há muito tempo, afirma: "O argumento de que você precisa pegar em armas simplesmente não é o caso". "Como você pode dizer que a esquerda não tem nenhuma perspectiva no país se três dos últimos prefeitos de Bogotá eram de esquerda?", questiona.
Vítimas ou agressores?
Assim como todos os delegados das Farc nas negociações em Cuba, Tanja retrata os guerrilheiros como vítimas de uma guerra sombria, e não como agressores. Os fundadores das Farc emergiram de uma comuna dissolvida pelos militares em 1964.
Tanja cita ainda uma curta trégua nos anos 1980, quando mais de 2 mil candidatos eleitorais apoiados pelas Farc foram assassinados. As Farc chegam a este mais recente processo de paz muito fragilizadas militarmente.
Em 2002, na mesma época em que Tanja se juntava às fileiras das Farc, o então presidente Álvaro Uribe (2002-2010) lançou uma grande ofensiva militar contra os insurgentes. Três dos altos comandantes das Farc foram mortos, e Malcolm Deas diz que agora as Farc estão negociando "por uma fatia da ação política".
Tanja ressalta que a representação política é "muito importante" para as Farc, assim como garantias de que qualquer acordo obtido nas negociações de paz seja totalmente implementado. Enquanto ela fala, é possível vislumbrar traços da ex-professora: quando ela ri de suas dúvidas em inglês ou fala de longas conversas telefônicas com sua família no país natal.
Ela escolheu um visual muito feminino para a entrevista, distante das roupas militares que costuma vestir. Dezenas de milhares de pessoas foram mortas e milhões desalojadas no longo conflito colombiano. Tanja não demonstra arrependimento por seu papel no conflito. "Há vítimas depois de mais de 48 anos de guerra. É por isso que estamos falando de paz agora", diz.
Talvez essa rigidez tenha nascido da necessidade.
Em 2007, seu diário foi descoberto por soldados colombianos em um ataque a um campo rebelde, e trechos divulgados zombavam dos privilégios garantidos aos líderes das Farc e questionavam sua decisão de se unir à insurgência. No entanto, a guerrilheira holandesa disse mais tarde que suas declarações foram distorcidas.
Fervor
Cinco anos depois, ela fala da vida de militante em termos elogiosos e diz que se "realizou como mulher". "Nas Farc não há debate, se você quer sobreviver, você entra na linha e segues as ordens", diz Deas.
Ele sugere que, depois de tanto tempo na selva, Tanja "convenceu a si mesma de que ( as Farc ) são "adoráveis" e de que ela "estava certa". Tanja claramente não está acostumada a ter suas opiniões questionadas. Ela se inquieta diante do termo "terrorista", e diz que concordou com uma entrevista – não com um julgamento.
Seu fervor mostra como as negociações de paz serão complexas. Mas para todos os militantes, elas são a única saída da selva possível neste momento. "Eu iria à Holanda, mas somente por algumas semanas", diz Tanja sobre seus planos caso a paz seja alcançada algum dia.
Mas logo ela quer estar de volta à Colômbia, com as Farc. "Nós poderíamos continuar como um movimento político", diz ela, sobre o futuro do grupo. "Nós poderíamos começar a lutar por nossas ideias sem rifles."

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