terça-feira, abril 30, 2013

A exemplo de Battisti, membro do ETA tenta obter asilo político no Brasil



Joseba sendo preso pela Policia Federal, no Rio de Janeiro!! 
Joseba Gonzalez, acusado de participar de atentados do grupo separatista basco, foi preso no início do ano no Rio e está em liberdade vigiada; Espanha pediu extradição ao STF.
Ativistas do Sortu, partido político espanhol formado por ex-militantes da organização guerrilheira basca ETA (Ruskadi Ta Askatasuna ou Pátria Basca e Liberdade) vão desencadear campanha no Brasil pela naturalização de um de seus integrantes, Joseba Gotzon Vizán Gonzalez, preso no início do ano no Rio de Janeiro e, em fevereiro, colocado em liberdade vigiada. É um dos poucos presos com liberdade condicional monitorado por tornozeleira eletrônica.
 “Como fez no caso Battisti (Cesare Battisti, ex-militante da luta armada na Itália) o Brasil tem tradição de solidariedade com os perseguidos políticos”, diz Aser Altuna, representante do Sortu para a América do Sul e Caribe. Em São Paulo, onde participou como convidado de audiências da Comissão da Verdade, Altuna recebeu o apoio dos grupos de direitos humanos, que vão participar da campanha.
Vizán Gonzalez é alvo de um pedido de extradição feito pelo governo espanhol ao Supremo Tribunal Federal (STF). Acusado de participar de pelo menos dois atentados a bomba contra policiais espanhóis envolvidos em tortura contra integrantes do ETA em Bilbao, há 16 anos, o militante vivia no Rio com identidade falsa. Ele tem um filho de 11 anos e trabalhava como professor de espanhol.
Foi preso por falsidade ideológica depois de ser seguido por vários dias pela Polícia Federal. A suspeita de que estivesse vivendo no Brasil foi passada pela Interpol (Polícia Internacional) depois que a polícia brasileira intensificou o intercâmbio de informações para se prevenir contra ações terroristas durante os grandes eventos que ocorrerão no país (Copa das Confederações, Copa do Mundo, Jornada Mundial da Juventude e Olimpíadas) até 2016. Ao tomar conhecimento da prisão, o governo espanhol, que considera o ETA um grupo terrorista, enviou o pedido de extradição.
Altuna diz que a atitude do governo espanhol é inoportuna. “É um torpedo contra o processo de pacificação. O ETA recolheu as armas e agora faz política pela via democrática”, diz o ativista. Legalizado em junho do ano passado, o Sortu disputou as últimas eleições na Espanha, conquistando 120 prefeituras na região basca. Segundo ele, o retorno do militante preso no Rio representaria a continuidade das perseguições e tortura contra membros do ETA.
“Acreditamos que o governo brasileiro concederá asilo político. Mesmo que tenha vivido aqui com documentos falsos, ele tem um filho nascido aqui”, lembra Altuna. O jornalista e ativista Ivan Seixas disse que os movimentos de esquerda vão se envolver na campanha como no caso Battisti. Segundo ele, usar documento falso é providência corriqueira e um direito de perseguidos políticos em situação clandestina no mundo inteiro. Altuna só volta à Espanha depois de audiência com o secretário Nacional de Justiça, Paulo Abrão, a quem pedirá apoio.
Os movimentos de direitos humanos trabalham também com a hipótese de um pedido de refúgio político. A concessão é prerrogativa do governo federal e poderia, como no caso de Battisti, deixar em suspenso, sem efeito, um eventual mandado de extradição pelo STF. Battisti, que ficou quatro anos preso em Brasília, foi libertado em junho de 2011 depois de se tornar pivô de um conflito entre o Palácio do Planalto e o STF, que acabou extinguindo o pedido de extradição do governo italiano.
No caso de José Vizán, segundo Altuna, a decisão pode ser mais fácil porque nenhum dos alvos dos atentados morreu, embora um dos policiais, Manuel Dominguez, do Corpo Nacional da Polícia Espanhola, tenha se ferido com os estilhaços da bomba colocada em seu carro pelo grupo em que se encontrava o ativista.
ETA anuncia cessar definitivo da atividade armada
Em comunicado, grupo separatista basco convida governos da Espanha e da França para diálogo
O grupo militante basco ETA divulgou um comunicado nesta quinta-feira afirmando que encerrou sua campanha armada pela independência, que já durava 43 anos, e convidou a França e a Espanha para um diálogo.


Imagem de vídeo mostra supostos integrantes do grupo separatista basco ETA anunciando cessa-fogo permanente (10/1)
O grupo fez o anúncio no jornal basco Gara, que é usado geralmente como seu porta-voz. ETA declarou um cessar-fogo permanente em janeiro, mas até o momento não havia renunciado à luta armada como ferramenta para alcançar a independência do Estado basco.
"O ETA decidiu pelo cessar definitivo de suas atividades armadas", afirmou o grupo no comunicado. "O ETA convida os governos francês e espanhol para abrir um processo de diálogo direto com o objetivo de obter uma resolução para a consequência do conflito."
O comunicado não faz nenhuma menção sobre o que o ETA pretende fazer com suas armas ou se o grupo irá se dissolver.
O ETA deixou 829 mortos em bombardeios e tiroteios desde o fim dos anos 1960. Ele é classificado como um grupo terrorista pela Espanha, a União Europeia e os Estados Unidos.
O anúncio vem três dias depois que autoridades internacionais, inclusive o ex-secretário geral da ONU Kofi Annan e o líder do movimento Sinn Fein, Gerry Adams, participaram de uma conferência do ETA na cidade basca de San Sebastian e pediram para o fim do uso da violência pelo grupo.
O presidente da Espanha, José Luis Rodríguez Zapatero, reagiu ao anúncio do ETA dizendo que ele representa "a vitória da democracia, da lei e da razão". Em discurso televisionado, Zapatero afirmou, em uma primeira avaliação do cessar definitivo, que esse é o resultado da coragem e firmeza da sociedade espanhola no meio século de atividade do ETA e o triunfo do estado de direito "como único modelo de convivência".
O chefe do Executivo expressou seu reconhecimento ao trabalho desempenhado contra a organização terrorista pelos governos democráticos anteriores na Espanha. Ele também prestou homenagem à atuação e sacrifício das forças de segurança do Estado, "cujo generoso trabalho lhes custou tantas vidas". Zapatero agradeceu à França por sua colaboração contra a ETA. "Devemos eterna gratidão".
O líder espanhol fez menção especial ao presidente francês, Nicolas Sarkozy, considerando sua colaboração como determinante. Ele também pronunciou palavras de reconhecimento às vítimas da ETA. "Nossa democracia será sem terrorismo, mas não sem memória."
Com agencias AP e EFE


segunda-feira, abril 29, 2013

Joaquim Nabuco e a relação política-religião


Joaquim Nabuco


*Carlos Pompe

Joaquim Aurélio Barreto Nabuco de Araújo sempre é referido nas escolas como um dos políticos que se destacaram na luta pela abolição da escravatura. Esse deputado federal, diplomata, jurista e jornalista pernambucano, nascido em 1849, também foi um grande defensor do Estado laico. Vale lembrar seus ensinamentos sobre o tema, emitidos na segunda metade do século XIX e início do século XX (morreu no início de 1910).
Ele criticou a Igreja Católica Apostólica Romana por ter se valido do trabalho escravo: "A Igreja Católica, apesar do seu imenso poderio em um país ainda em grande parte fanatizado por ela, nunca elevou no Brasil a voz em favor da emancipação", disse.
Num período em que o clero gozava de todas as benesses governamentais, Nabuco defendia a separação entre Estado e Religião e a laicidade do ensino público. Discursou, em 15 de maio de 1879, quando tinha 30 anos: "Eu desejava concordar com os nobres deputados, em que se deveria deixar a liberdade a todas as seitas; mas, enquanto a Igreja Católica estiver, diante das outras seitas, em uma situação privilegiada (…), os nobres deputados hão de admitir que (…) ela vai fazer ao próprio Estado, de cuja proteção se prevalece, uma concorrência poderosa no terreno verdadeiramente leigo e nacional do ensino superior. Se os nobres deputados querem conceder maiores franquezas, novos forais à Igreja Católica, então a separem do Estado."
 "É a Igreja Católica que em toda a parte pede a liberdade do ensino superior. Essa liberdade não foi pedida em França pelos liberais; mas pela Igreja. (…) É por que reconheça que o ensino deva ser livre? Não. Aí está o Syllabus que fulmina de excomunhão quem o sustentar". O que ela pretenderia é "a partilha do monopólio para, quando achar-se senhora exclusiva (…), fechar a porta à liberdade e à ciência". Infelizmente são palavras que guardam intensa atualidade neste século XXI. Em tempo: o  Syllabus errorum foi uma lista de erros proclamada pelo papa Pio IX, em 1864, condenando o panteísmo, naturalismo, racionalismo, indiferentismo, socialismo, comunismo, franco-maçonaria,judaísmo, igrejas cristãs adversárias e outras formas de liberalismo religioso.
Vai além, o orador: "A Igreja Católica foi grande no passado, quando era o cristianismo; quando nascia no meio de uma sociedade corrompida, quando tinha como esperança a conversão dos bárbaros, que se agitavam às portas do Império minado pelo egoísmo, corrompido pelo cesarismo, moralmente degradado pela escravidão. A Igreja Católica foi grande quando tinha que esconder-se nas catacumbas, quando era perseguida. Mas, desde que Constantino dividiu com ela o império do mundo, desde que de perseguida ela passou a sentar-se no trono e a vestir a púrpura dos césares, desde que, ao contrário das palavras do seu divino fundador, que disse: - O meu reino não é deste mundo, - ela não teve outra religião senão a política, outra ambição senão o governo, a Igreja tem sido a mais constante perseguidora do espírito de liberdade, a dominadora das consciências, até que se tornou inimiga irreconciliável da expansão científica e da liberdade intelectual do nosso século!"
 Encerra seu pronunciamento com palavras, que para serem mais atuais, só bastava juntar à Igreja Católica as seitas evangélicas: "Quando o catolicismo se refugia na alma de cada um, eu o respeito; é uma religião da consciência, é um grande sentimento da humanidade. Mas do que sou inimigo é desse catolicismo político, desse catolicismo que se alia a todos os governos absolutos, é desse catolicismo que em toda a parte dá combate à civilização e quer fazê-la retroceder".
 *Carlos Pompe, jornalista, comunista, editor do Vermelho?DF

segunda-feira, abril 22, 2013

A IMPRENSA BURGUESA NÃO SE CANSA DE PERSEGUIR E DENEGRIR OS COMUNISTAS E AS FORÇAS DEMOCRATICAS, POPULARES E PROGRESSISTAS!


O “Quarto Poder” vai recuar no anticomunismo?

Carlos Pompe*

Na semana que passou, o Senado devolveu a Luiz Carlos Prestes o seu mandato de senador pelo Partido Comunista do Brasil e a Câmara Municipal de São Paulo também devolveu os mandatos dos vereadores comunistas cassados em 1948. No mês passado, a Câmara Federal tomou idêntica posição sobre os mandatos dos deputados federais.

Na Câmara Federal a proposta de devolução dos mandatos partiu de Jandira Feghali (RJ), no legislativo paulistano foi de Orlando Silva e, no Senado, de Inácio Arruda (CE), todos do PCdoB. Como afirmou o senador cearense, “no dia 23 de maio de 1985, o então Presidente da República, José Sarney, recebeu, no Palácio do Planalto, o Constituinte comunista de 1947, João Amazonas, acompanhado do então deputado federal pelo PMDB baiano, Haroldo Lima, e ali foi anunciada a volta da legalidade do Partido Comunista. O Executivo se redimiu, assim, da postura antidemocrática assumida em 1948. Em 23 de junho de 1988, o Tribunal Superior Eleitoral deferiu a concessão do registro definitivo do Partido Comunista do Brasil. O Judiciário revogou, assim, o equívoco de 1947. Agora é o Legislativo que está reparando o erro e fazendo Justiça à história e à nação brasileira”.
Portanto, os Três Poderes, sensíveis aos interesses democráticos, nacionais e populares, voltaram atrás em relação às medidas arbitrárias que tomaram no passado. Mas e o assim chamado (pelos seus proprietários) “Quarto Poder”? Qual o posicionamento da mídia oligopolista?
Heber Ricardo da Silva, em A democracia impressa: transição do campo jornalístico e do político e a cassação do PCB nas páginas da grande imprensa (1945-1948), analisou como os proprietários dos jornais de maior circulação e seus prepostos trataram os comunistas no período em que tiveram sua primeira bancada parlamentar nacional. O Partido Comunista do Brasil (que na época adotava a sigla PCB) conquistou perto de 10% dos votos nas eleições presidenciais de 1947 e elegeu dezessete deputados e um senador, alcançou a maioria na Câmara dos Vereadores do Distrito Federal (Rio de Janeiro), em São Paulo obteve o terceiro lugar no total de votos nas eleições estaduais de 1947, contribuiu nos debates e elaboração da Constituição de 1946, destacando-se na defesa do direito de greve, autonomia sindical, estabelecimento e ampliação dos direitos de cidadania. Ou seja, nada do que as famílias Marinho (O Globo), Mesquita (Estadão) e Chateaubriand (Diários Associados) defendiam nas páginas de suas publicações, já então dominantes no país.
A imprensa das elites brasileiras despolitizava a atuação dos comunistas na Assembleia Nacional Constituinte. Os jornais retiravam das suas páginas os posicionamentos políticos ideológicos e colocavam em foco comportamentos e opiniões pessoais. Os fatos políticos sobre a cassação da legenda e dos mandatos comunistas em maio de 1947 e janeiro de 1948, respectivamente, foram muitas vezes omitidos pelos principais jornais do país. O objetivo era silenciar e anular as ações comunistas, evitando qualquer tentativa de suposta subversão social e organização das massas trabalhadoras.
Os jornais publicaram diversas matérias, editoriais e reportagens para emitirem juízos de valor e criar uma representação distorcida sobre o PC do Brasil e a atuação de seus parlamentares. Os comunistas eram excluídos das páginas dos jornais, mas a temática comunista e as ações contra os comunistas, como repressão, prisões, fechamento de organismos de base e intervenção em comícios eram abordados na perspectiva desautorizar a ideologia comunista e construir uma opinião pública contrária à atuação e funcionamento do Partido.
Em 1946, escreveu O Estado de S. Paulo, em editorial, que “não podemos ser complacentes com o Partido Comunista. As suas atividades são mais nocivas que proveitosas à coletividade [...] o que se sabe é que em todas as agitações, em todos os movimentos grevistas, nunca deixam de aparecer elementos graduados do Partido Comunista”. Apesar desse anticomunismo raivoso, o Estadão, que se opunha ao Governo Dutra, posicionou-se contrário á cassação. Júlio de Mesquita Filho considerou “um erro a medida adotada pelo TSE cassando o PCB, pois ela tornaria o governo mais impopular e ao mesmo tempo fortaleceria a legenda comunista que estava com seu prestígio em declínio”. Porém o Estadão afirmou que a decisão deveria ser respeitada e a Justiça Eleitoral não poderia ser pressionada pela opinião pública (ou seja, pelos eleitores!).
Também em 1946, O Globo publicou em editorial: “O Partido Comunista, dentro das intenções mais evidentes de seu guia e chefe, nada mais deseja que desenvolver o seu programa de achincalhe às autoridades, não poupando sequer os homens que se afastam mais do terreiro partidário, porque incumbidos de refletir no estrangeiro os rumos de nossa política externa, bem é de ver que ao Sr. Carlos Prestes e seus mais representativos correligionários com assento na Constituinte, o que importava acima de tudo era desmoralizar o poder público e sobrepor-se às suas ordens”. Desde o momento em que o projeto de cassação foi apresentado no TSE, o jornal publicou diariamente matérias e colunas para desfavorecer a imagem dos comunistas junto à opinião pública e reforçar o anticomunismo. Para o jornal dos Marinho, com o passar do tempo a “legenda vermelha” tinha sido responsável por “semear a discórdia” e representava perigo ao regime de liberdade. Os comunistas pretendiam solapar as instituições democráticas, criar uma situação de anarquia social, “a fim de que sobre suas ruínas econômicas fosse plantado o regime da foice e do martelo”.
O Jornal do Brasil, por seu turno, classificou como “memorável” a sessão que julgou a cassação: “Muitos procuram argumentar que a democracia é um conceito genérico e que qualquer restrição imposta à liberdade de associação política implica em ofensa a esse conceito. Mas a doutrina não pode servir de base para a apreciação de um caso concreto. O que se impõe é saber se o funcionamento desta ou daquela agremiação está em harmonia com os postulados e princípios democráticos julgados essenciais no regime peculiar ao Brasil”.
Chateaubriand saudou a decisão em editorial no Diário de São Paulo, alegando que “fechado pelo Tribunal de juízes, o PCB desaparecia como corpo estranho, pois não tinha nada a ver com a pátria, uma vez que agia com a representação soviética, ou seja, tratava-se de uma mercadoria de exportação que, repelida pelo consumidor, tem de voltar ao mercado de origem”.
A Folha da Manhã, precursora da atual Folha de S. Paulo, clamou por medidas que eliminassem o comunismo do cenário político, pois “sua ação representava um risco de se ver transplantado para o Brasil o regime soviético que era responsável em fuzilar dissidentes ou mandá-los para os campos de concentração”.
O Globo, Diário de São Paulo, Folha da Manhã e Jornal do Brasil aprovaram cassação também dos mandatos dos representantes eleitos pelo PCB e anulação da votação obtida pela legenda nos pleitos de 2 de dezembro de 1945 e 19 de janeiro de 1947. O Globo considerou que, ao contrário do que muitos haviam afirmado, “não havíamos assistido ao enterro da democracia, mas sim a manifestações de sua vitalidade triunfante como ocorre em todos os países livres como o Brasil”.

“Buscando a adesão do maior número de adeptos a sua causa política, a imprensa brasileira foi responsável, assim, pela construção de uma verdade única sobre a democracia, uma verdade que não apenas contestava a ideologia comunista como oferecia elementos para a luta anticomunista. A democracia defendida pelos jornais no imediato pós-guerra era dotada de limites bem definidos, ou seja, deveria estar a serviço dos interesses particulares de grupos políticos e econômicos, e o comunismo internacional e a ação legal do PCB no campo político brasileiro representavam constante ameaça a esses interesses”, opina Heber Ricardo da Silva em seu livro.
Acorrentada aos interesses de classe de seus proprietários e anunciantes, a mídia oligopolista, que petulantemente se considera Quarto Poder, continua sua sanha reacionária e anticomunista – aliás, como ficou pela enésima vez evidenciado na campanha que desenvolveu e desenvolve contra a presença do PCdoB no Governo Dilma.

*Carlos Pompe é jornalista, militante revolucionario comunista, editor do Vermelho/DF e curioso do Mundo!

domingo, abril 21, 2013

"PPS É CAPÍTULO VERGONHOSO DA POLÍTICA NACIONAL"


domingo, abril 14, 2013

A saga "diabólica" do pastor/deputado Feliciano!!!




Deus e o Diabo na Câmara Federal

Carlos Pompe*

A eleição de um pastor preconceituoso para a Comissão de Direitos Humanos e Minorias (CDHM) da Câmara Federal acirrou ânimos e trouxe para a sociedade e a mídia a discussão sobre os avanços dos religiosos nos espaços institucionais, ameaçando o estado laico. Essa discussão é necessária e urgente, pois o irracionalismo tem sido fartamente utilizado para disseminar preconceitos sociais e justificar a dominação das classes exploradoras na sociedade.
A CDHM é constituída por 18 deputados membros e igual número de suplentes. Cabe-lhe avaliar e investigar denúncias de violações de direitos humanos, discutir e votar propostas relativas à sua área, pesquisar e estudar a situação dos direitos humanos no Brasil e cuidar dos assuntos referentes às minorias étnicas e sociais, dentre outras atribuições. Pauta-se pelos direitos básicos e inalienáveis inscritos na Declaração Universal dos Direitos Humanos (da Organização das Nações Unidas – ONU) e a Declaração Americana de Direitos Humanos (da Organização dos Estados Americanos – OEA), ambos de 1948, e por outros instrumentos internacionais assinados pelo Brasil.
Naturalmente, qualquer deputado está qualificado, pelo mandato, a integrá-la e presidi-la. E este é o caso do pastor. Porém, a Câmara representa o conjunto da população, e não apenas os eleitores desta ou daquela crença, desta ou daquela ideologia, deste ou daquele segmento social. Ao assumir uma função mais ampla do que o próprio mandato, o parlamentar passa a representar o Legislativo – e não apenas o seu eleitorado – naquele encargo.
Assim se comportaram ex-presidentes da CDHM como Nilmário Miranda, Iriny Lopes, Luiz Couto, Manuela D’Ávila, Domingos Dutra, Janete Rocha Pietá, Padre Ton e Erika Kokay, que divulgaram nota repudiando a declaração do atual pastor-presidente, que disse que seus antecessores representavam o domínio de Satanás no órgão, enquanto ele próprio representaria o deus cristão. Devido às suas ações e pregações, o mandato do parlamentar na presidência vem sendo questionado por setores da sociedade aos quais a Comissão deveria acudir e defender e por pessoas que promovem a construção de uma sociedade democrática e progressista, tolerante e solidária.
“Nós fomos adversários da tortura, da homofobia, do trabalho escravo, do racismo, da violência de gênero. Dessa comissão saíram leis avançadas, como a Lei Maria da Penha, o projeto de combate à tortura e a PEC que combate o trabalho escravo”, explicou a ex-presidente Manuela D’Ávila, do PCdoB-RS. O atual presidente, que tem trajetória de combate aos direitos dos homossexuais, ao direito da mulher sobre o próprio corpo, de ataques a outras seitas que não a sua, de considerar – fundamentado no Antigo Testamento – os nascidos negros na África e seus descendentes amaldiçoados, não se colocou acima de seus preconceitos e convicções pessoais ao assumir o comando da CDHM. Daí o movimento legítimo pela sua destituição que, regimentalmente, só pode ocorrer através de sua renúncia.
Um aspecto que chama a atenção no debate travado através dos meios de comunicação é que críticos do pastor tentam desmerecer suas opiniões alegando que elas são distorções de textos bíblicos. Mas não são! Tanto o Antigo quanto o Novo Testamento contém textos homofóbicos, contrários à igualdade da mulher, ao relacionamento livre entre as pessoas, à convivência com seguidores de outras seitas, que legitimam (o Antigo) ou silenciam (o Novo) sobre a escravidão. Seu conteúdo é utilizado pelas classes dominantes para justificar a sociedade dividida em opressores e oprimidos, exploradores e explorados, bem aventurados e amaldiçoados.
A proliferação das seitas irracionalistas, com o beneplácito, cumplicidade e muitas vezes apoio de governos municipais, estaduais e federal, é um desserviço à humanidade e, no nosso caso, ao povo brasileiro. Chefes religiosos, em sua maioria politicamente reacionários, aumentam seus rebanhos disseminando o ódio e o preconceito, baseados em textos bíblicos selecionados dentre os de pior conteúdo. A influência política da reação clerical aumenta e espaços importantes de defesa dos seres humanos são ocupados por essa malta.
Daí a necessidade não apenas de denunciar essa ação contrária aos povos, mas também de enfrentar o tema pela raiz, contrapondo à pregação religiosa o chamamento à razão, desqualificando os argumentos sobrenaturais com as descobertas científicas, demonstrando a incoerência das abordagens idealistas (partam de pessoas progressistas ou não) diante da possibilidade da análise dialética materialista dos fenômenos naturais e sociais. Em suma, a que ser materialista militante, como indicavam Marx, Engels e Lenin, dentre outros que atuaram pela construção de uma sociedade avançada com um pensamento avançado.
A luta para tirar da presidência da CDHM o pastor reacionário continua. Batalhemos para que tenha êxito.
*Carlos Pompe é jornalista, comunista, dirigente do PCdoB/DF e editor do Vermelho/DF




sábado, abril 13, 2013

Emtrevista na TV Cidade Livre!!

Para quem não viu o Programa "Escola de Midia", da TV "Cidade livre", no Canal 8 da NET nesta sexta, reproduzimos aqui a entrevista de Luiz Aparecido

quinta-feira, abril 11, 2013

Vejam o programa e enviem comentários


LUIZ APARECIDO NA TV COMUNITÁRIA “CIDADE LIVRE”, CANAL 8 DA NET, EM BRASILIA

Não deixe de ver amanhã, dia 12, às 16,30hs , no Programa “Escola de Mídia”, apresentado por Agostinho Reis, da “TV Comunitária Cidade Livre”, no Canal 8 da NET, em Brasília, entrevista com o jornalista e cientista social Luiz Aparecido da Silva, militante comunista/revolucionário do Partido Comunista do Brasil-PCdoB. Luiz Aparecido discorre sobre sua trajetória politica da juventude aos dias de hoje, quando milita no PCdoB/DF e escreve no Portal “Vermelho/DF”, atua no Cebrapaz, e exerce outras atividades. Também  faz uma análise da situação politica na Coréia do Norte, da América Latina e denuncia a ação de agentes dos serviços secretos de países imperialistas e de Israel, que agem impunemente dentro de nossas fronteiras.
O programa da TV Comunitária “Cidade Livre”, canal 8 da NET, será reprisado no sábado,  dia 13, às 18hs e no domingo, segunda feira , dia 14, terça-feira dia 15,às 18,30hs e na  quarta feira,  dia 16, às 7 horas da manhã. O programa poderá ser repetido ainda pela TV Telesur, canal venezuelano de noticias.

quarta-feira, abril 10, 2013

Vejam por onda o dinheiro sujo da Burguesia e dos corruptos do Brasil e do Mundo todo!!


Por
ANTONIO MARTINS, do site “Outras Palavras”

Vazamento inédito revela pontos obscuros da globalização, onde bancos e multinacionais misturam-se ao crime organizado, para se esconder das sociedades
Por Antonio Martins I Imagem: Connor MaguireThe honnest banker-gangster
Um facho de luz está iluminando o lado obscuro do poder global desde o início do mês, sem que os jornais brasileiros pareçam interessados em segui-lo. Após 15 meses detrabalho, uma equipe do Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos (ICIJ, em inglês) começou a publicar reportagens muito constrangedoras sobre os centros financeiros offshore, também conhecidos pelo termo eufemístico de “paraísos fiscais”. Por envolverem políticos e magnatas conhecidos do público, as revelações já estão provocando sobressaltos políticos em países tão diferentes como França (onde caiu o ministro das Finanças), Canadá, Indonésia, FilipinasVenezuelaRússia e Azerbaijão.
trabalho do ICIJ tem como fonte um vazamento de informações extraordinário. Um operador anônimo, de uma instituição financeira que opera nas Ilhas Virgens britânicas,enviou a Gerard Ryle, diretor do Consórcio, um disco rígido de computador contendo 260 gigabytes de dados – 2,5 milhões de documentos, acumulados ao longo de trinta anos. Em volume, são 160 vezes mais dados que o material vazado, pelo Wikileaks, a partir do Departamento de Estado dos EUA. Por isso, o caso tornou-se internacionalmente conhecido como o “offshore leaks”. Uma equipe de 86 jornalistas, de 37 publicações (nenhuma brasileira…) analisou as informações e está produzindo as reportagens. É possível acompanhá-las, por exemplo, em seções especiais criadas no próprio site do ICIJ, mas também no Guardiande Londres, e no Le Mondede Paris.
A importância política dos documentos é proporcional a seu tamanho. Até o momento, estes jornais preferem destacar o lado mais vistoso das revelações: governantes, super-ricos e celebridades que escondem dinheiro em pontos longínquos do planeta, para sonegar impostos. Mas o que já foi publicado permite outra leitura, menos superficial. As praças offshore não podem mais ser vistas como ilhas tropicais paradisíacas, para onde flui a riqueza resultante de alguns negócios marginais. Elas são uma engrenagem fundamental no centro do capitalismo contemporâneo.
Primeiro, por seu próprio tamanho. Conforme estudos citados pelo ICIJ, os centrosoffshore acumulam depósitos estimados entre 21 e 31 trilhões de dólares – entre um terço e metade do PIB anual do planeta. Segundo, por sua própria constituição. As ilhotas pitorescas que compõem a galáxia do offshore são apenas a franja (e, num certo sentido, a fachada), numa vasta rede oculta em cujo centro está Londres – a principal praça financeira do mundo.
A geografia política de tal rede é descrita — numa entrevista que Outras Palavras publicatambém hoje — por Nicholas Shaxon, autor de obra recente e fundamental sobre ooffshore: Treasure Islands: Uncovering the Damage of Offshore Banking and Tax Havens1. Ele explica: a grande teia do sistema financeiro nas sombras parte da capital britânica e articula-se por meio de dois núcleos intermediários, de onde se estende por todo o planeta. Um dos núcleos tem base em três ilhas do litoral inglês – Jersey, Guernsey e Man – e abre-se para Ásia e África. Outro, baseia-se nas Ilhas Cayman e Bermundas, voltando-se para as Américas.
A Grã-Bretanha articula a enorme estrutura de captação de recursos. Mas os Estados Unidos são o principal destino do dinheiro, prossegue Shaxon. Maiores devedores do planeta há décadas, os EUA abriram-se, a partir dos anos 1970, ao mundo offshore.Acostumaram-se a fechar suas contas externas, cronicamente deficitárias, atraindo também dinheiro de origem duvidosa – ao qual oferecem isenções fiscais e proteção legal.
É neste mundo de finanças ocultas e anonimatos, relata o ICIJ, que escondem e “lavam” (legalizam) seu dinheiro as grandes redes do crime organizado: máfias de distintas nacionalidades, políticos corruptos que se apropriam de recursos públicos, traficantes de seres humanos, beneficiários de caça proibida, escroques de todos os tipos. O esquema é conhecido. Quem precisa dar aparência de legalidade a uma soma obtida por meios ilícitos transfere-a para uma conta bancária offshore. Aproveita-se dos impostos muito baixos cobrados pelos “paraísos fiscais”. Mais tarde, reintroduz o dinheiro no país, na forma de crédito proveniente de uma instituição respeitável, com sede na Suíça, em Luxemburgo ou nas Ilhas Virgens. Quem irá investigar a origem primeira do dinheiro?
Mas o circuito que abastece o crime seria insustentável, continua Nicholas Shaxon, sem uma presença luxuosa: a das grandes corporações transnacionais. Praticamente todasas empresas com atuação internacional, relata ele, atuam offshore. Fazê-lo tornou-se quase obrigatório, na dinâmica que a globalização assumiu. Permite evasão sistemática de impostos, explicada na entrevista. A tal ponto que não operar offshorepenalizaria as corporações eventualmente dispostas a respeitar seus sistemas tributários nacionais, obrigando-as a cobrar preços superiores aos das concorrentes.
Surge, aqui, um primeiro círculo de conveniências e cumplicidades. Se as transnacionais deixassem o circuito offshore, raciocina Shaxon, ele ira tornar-se rapidamente insustentável. Seria uma confraria frágil de milionários fora-da-lei, facilmente denunciável e desmontável. Sua força, e sua suposta honorabilidade, é transferidas pelas grandes corporações.
Por elas e, é claro, pelos bancos. Quase todas as instituições bancárias importantes, conta a reportagem do ICIJ, têm relações com a rede financeira das sombras. Por meio delas, tornam-se capazes de oferecer aos clientes premium a faculdade de ocultar dinheiro obtido legal ou ilegalmente – e de reintroduzi-lo no país, sempre que necessário.
Os bancos chegam a competir entre si, na oferta de serviços eficazes de ocultamento de recursos. Num documento vazado, o Crédit Suisse, com sede em Zurique e representações em todo o mundo (inclusive no Brasil, onde “patrocina” a Orquestra Sinfônica de São Paulo), é descrito como “o Santo Graal” da rede. Os procedimentos que adota nas transferências de recursos são tão “eficientes” – admira-se um operadoroffshore – que autoridades policiais ou bancárias eventualmente interessadas em descobrir a identidade de um depositante irão “deparar-se com uma muralha blindada”… Mas não se trata de um exemplo isolado. Reportagens do Der Spiegel e doLe Monde estão revelando como instituições “respeitáveis” como o Deutsche Bank (alemão), Banque National de Paris e Paribas (franceses), IMG e Amro (holandeses) envolveram-se no esquema.
Nem mesmo a crise iniciada em 2008 parece abalar o mundo financeiro clandestino. Segundo o ICIF, entre 2005 e 2010, os depósitos dos 50 maiores bancos do mundomais que duplicaram, avançando de 5,4 para 12 trilhões de dólares. Este salto ajuda, aliás, a compreender o cenário global em que se alastra o universo offshore; e também o ambiente ideológico que o alimenta. Na última década, a desigualdade espalhou-se pelo mundo (com a exceção notável da América do Sul). Mesmo num país como os Estados Unidos, 400 pessoas detêm tanta riqueza quanto metade da população. O grupo restrito dos ultra-ricos formou o que o filósofo francês Patrick Viveret chamou de uma oligarquia financeira. Esta possível “nova classe” tem enorme poder econômico e político. Deseja ter mãos livres tanto para intervir nas decisões dos Estados nacionais quanto para driblá-las, quando contrariam seus interesses. Vê, numa galáxia financeira opaca, um instrumento extremamente funcional para preservar seus privilégios e ampliar seu poder.
É possível enfrentar o universo offshore? Do ponto de vista técnico, não faltam alternativas, explica Nicholas Shaxon. Os fluxos de recursos para os “paraísos fiscais” podem ser limitados tanto por tributação mais elevada – que inibe as transferências – quanto por restrições diretas dos Estados. O difícil, ressalta o autor de Threasury Islands, é enfrentar a força política da oligarquia financeira. Entre os grupos diretamente interessados em manter a situação atual estão banqueiros, grandes empresas, bancadas políticas corruptas e crime organizado.
A mídia exerce um papel central na resistência às mudanças. Os jornalistas dos meios tradicionais normalmente sabem muito pouco sobre finanças internacionais, observa Shaxon. Nas raras vezes em que escrevem sobre o tema, recorrem aos “especialistas do mercado financeiro” – precisamente os que mais têm interesse em que nada mude.
É sintomático que nenhum jornal, TV, rádio ou portal de internet brasileiro tenha dado destaque ao Offshore Leaks. Considere a participação dos bancos e das transnacionais em sua carteira de anunciantes…
Mas é animador que, em todo o mundo, o episódio tenha alcançado tanta repercussão. A crise financeira tornou as sociedades mais críticas. A vida de luxo e ostentação dos altos executivos é vista com desconfiança e desconforto crescentes. Muitos julgam-na uma afronta, diante do empobrecimento de vastos setores sociais.
Nunca houve condições tão favoráveis para abrir um debate sobre o assunto. Um sintoma é o fato de você estar lendo este texto, apesar do boicote da mídia brasileira sobre o tema…
1-[Ilhas do Tesouro: revelando os danos dos paraísos fiscais e das finanças “offshore”, infelizmente ainda sem tradução em português – ler verbete na Wikipedia, ou comprar].

segunda-feira, abril 08, 2013

OUTRO EXCELENTE ARTIGO SOBRE A CRISE ENVOLVENDO A CORÉIA DO NORTE!!!


Elias Jabbour: O que quer a Coreia do Norte? 


Nem sempre imagens têm mais valor do que mil palavras. No caso em questão, as imagens e o retorcimento da retórica explanada pelo governo da Coreia do Norte são parte de um grande jogo de ridicularização de um regime cujo único objetivo é a autodefesa. Também existe uma ponta de luta pela sobrevivência. Sobrevivência que significa a própria sobrevida de uma nação milenar. E para mim isso basta.

Por Elias Jabbour* 


Perguntemos a qualquer letrado, ou especialista. Você sabia que enquanto a Europa se ensanguentava em guerras religiosas, a Coreia já era uma nação com todos os traços que poderiam a classificar como um Estado Nacional precoce e anterior ao nascimento de Cristo?

Você sabia que houve uma guerra entre os lados norte e sul da península coreana entre os anos de 1950 e 1953? Você sabia que foi a primeira vez, desde a independência dos EUA (1776) que os norteamericanos assinaram um armistício, ou seja, foram derrotados pela primeira vez em quase 200 anos? Você sabia que desde 1776 os EUA nunca ficaram longe de uma guerra, fora dos seus domínios, por mais de dez anos? Você sabia que na Guerra da Coreia caiu, sobre o lado norte da península, o correspondente a dez bombas nucleares testadas em Hiroshima e Nagasaki? Você sabia que, desde 2001, estão apontadas, à capital da Coreia do Norte (Pionguiangue), cerca de 60 mísseis carregados de ogivas nucleares?

Mais perguntas: Você tem notícia acerca da invasão de um algum país por parte da Coreia do Norte? Você sabia que o país mais bloqueado, cercado e difamado no mundo é a Coreia do Norte? Será que essa difamação tem alguma relação com a derrota dos EUA na já referida guerra? Será que querem condenar a Coreia do Norte ao retorno à Idade da Pedra? Será que a Coreia do Norte há 60 anos não é o espinho na garganta dos EUA? Diante dos fatos e da história, você acha que os EUA fariam com a Coreia do Norte o mesmo que fizeram com o Iraque, o Afeganistão e outros? A Coreia do Norte tem ou não o direito de se defender? Você tem alguma dúvida sobre o destino de Kim Jong Un: seria recebido com festa num exílio na Europa ou teria o mesmo destino, com os mesmos requintes de crueldade, reservado a Muamar Kadafi?

Responder estas questões não é uma tarefa complicada. Um mínimo de honestidade já bastaria para saber o que está em jogo nesta guerra psicológica em curso na península coreana. De imediato sugiro qualquer julgamento moral sobre a natureza do regime nortecoreano, se é socialista ou não, se é democrático ou ditatorial, bonito ou feio, rude ou sofisticado. Tem gosto para tudo. Também não seria muito legal tomar a máxima do chanceler brasileiro (Antonio Patriota), segundo quem esperava uma “atitude mais ocidentalizada do líder nortecoreano”.

Talvez Antonio Patriota esteja levando a sério demais o conselho de Huntington sobre um Choque de Civilizações, quando na verdade tanto Huntington quanto Patriota não passam de vítimas de um verdadeiro “choque de ignorância”. Meu parêntese continua para externar algo mais de fundo. É chocante imaginar que o chefe de nossa chancelaria nunca tenha lido Edward Said (“Orientalismo: O Oriente como invenção do Ocidente”), nem tampouco Barrington Moore Jr. (“As Origens Sociais da Ditadura e da Democracia – Senhores e Camponeses na Construção do Mundo Moderno”). De forma explicita em ambos os livros ficam claras as evidências, na Ásia, de práticas democráticas ao nível da aldeia que remontam ao menos 3.000 anos.

O que quer de fato a Coreia do Norte, partindo de um julgamento mais pautado pela história? É evidente que o regime busca sobrevida e para isso nega a lógica da rendição incondicional tão cara a outras experiências, entre elas as da URSS, Leste Europeu e recentemente da Líbia.

Uma nação que historicamente teve seu território sob a cobiça estrangeira, cercada de grandes potências por todos os lados, passando por uma sanguinária ocupação japonesa e que sabe do que são capazes os EUA, não pode se dar ao luxo de esperar o bonde da história passar. O bonde da história derrotou as experiências socialistas da URSS e Europa, levando quase a nocaute por asfixia o governo da Coreia do Norte na década de 1990. Os últimos 25 anos foram marcados por privações de todo tipo, levando inclusive a fome para o outro lado do rio Yalu. O bloqueio, a fome imposta de fora para dentro e as inúmeras ameaças militares e provocações (Coreia do Norte como parte do “Eixo do Mal”, segundo Bush) só fez restar ao governo nortecoreano a opção de se “armar até os dentes” diante do que ocorria em Belgrado sob as hostes das chamadas “intervenções humanitárias”.

Poucos regimes no mundo tem uma noção da política como uma ciência que leva em conta não somente a correlação de forças, mas também o chamado tempo e espaço. Asiáticos e milenares que são os coreanos dão mostras de ter ido além de Maquiavel, aproximando-se de Lênin acrescido de alguma sabedoria confuciana e espírito de rebeldia herdado pelos ensinamentos de Laotsé. Somente gente preparada poderia manter em pé um país cercado, humilhado e ameaçado desde seu nascedouro e com um cenário recrudescido nas últimas duas décadas.

O conceito de ditadura não serve de explicação. Mais pobre ainda é levar à sério certas conversas do tipo “governo que se mantém às custas da fome do povo e do não cumprimento dos direitos humanos”, quando na verdade a soberania nacional está acima de qualquer direito humano. Ou se acredita ser possível algum direito humano sob ameaça ou intervenção estrangeira? O único direito humano universal é o direito à vida. E o direito a vida naquela parte do planeta se confunde e se entrelaça com o direito de ser nação soberana. É simples, sem ser simplista: a Coreia do Norte não está de brincadeira, pois sabem com quem estão lidando e do que são capazes os EUA.

Os nortecoreanos querem ter o direito de ser o que eles decidiram ser desde a explosão das primeiras revoltas camponesas contra a ocupação japonesa, ainda na década de 1910 do século passado. Ao invés de buscarmos dar lições de democracia, civilidade e de governo para uma nação milenar, seria mais interessante entender como um país exposto àquelas condições pode alcançar um nível de desenvolvimento tecnológico capaz de projetar e lançar satélites artificiais, mísseis intercontinentais e mesmo bombas nucleares, algo que nem nossos amigos do Irã e seus imensos recursos petrolíferos conseguiram até hoje.

Acho que se decifrarmos a formação social que forjou um povo capaz de expulsar Gengis Khan de seus domínios, no auge do poderio militar do Império Mongol, chegaremos a explicações mais plausíveis e próximas da realidade.

*Elias Jabbour é doutor em Geografia Humana pela FFLCH-USP. Autor de “China Hoje: Projeto Nacional, Desenvolvimento e Socialismo de Mercado” (Anita Garibaldi/ EDUEPB, 2006).