sábado, dezembro 29, 2012

QUE VENHA 2013 CHEIO DE ALEGRIA, FELICIDADES, SAUDE E BEM ESTAR PARA TODOS!!!


Meus queridos amigos e amigas!! Me despeço antecipadamente deste 2012, desejando a todos um ótimo 2013, uma Boa passagem de Ano cheio de alegria, saúde e felicidades.
Vou de encontro ao 2013 esperançoso de superar as sequelas de minha doença(lesão medular  compressiva)que esta me preocupando, porque meu inefável médico, Hudson Mourão Mesquita, na última consulta notou que estou perdendo força e massa muscular, principalmente nas mãos, exatamente por onde começou o  suplicio que me paralisou quase totalmente. Mas vou em frente, na fisioterapia, nos medicamentos e principalmente, contando com minha ida a Havana, Cuba, em Março ou Abril para começar um novo tratamento por lá. Onde espero liquidar de vez com as sequelas que me limitam e me prejudicam.
No mais, continuo na luta pela vida, pela  felicidade e por um mundo melhor para toda a humanidade. Na trincheira pela Revolução, o Socialismo e a Liberdade e contra o capitalismo, o sionismo e o imperialismo que ameaça o Mundo e os homens! Até 2013 e Baita abraço afetuoso a todos!! 

segunda-feira, dezembro 24, 2012

Boas Festas!!


Feliz Natal e Ano Novo com tudo de bom
Amizade!!!
Desejo a você a todos que o cercam, um Feliz Natal, que o  congraçamento e a alegria preencha este dia tão significativo! E um Feliz Ano Novo, de verdade, com saúde,  paz, alegria, sucesso , prosperidade e pleno de realizações!!Que a humanidade avance e acolha paz e bem estar a todos nós e a todos os povos!
Baita Abraço afetuoso de Luiz Aparecido, sua família e amigos!!

quarta-feira, dezembro 19, 2012

Proposta de evento para protestos pelos 50 anos da instalação da Ditadura Militar no Brasil!!



Camaradas, companheiros e amigos!

O companheiro Joelson Mendonça, do Rio Grande do Norte, militante das redes sociais,  dos direitos humanos e movimentos sociais, além de estudioso do período da Ditadura Militar no  Brasil, elaborou uma proposta, que repasso aos camaradas, companheiros e amigos para apreciação e incentivo a realização. Segue abaixo a proposta e o endereço eletrônico dele para contato.
Considero a iniciativa dele viável e depende dos partidos políticos de esquerda e democráticos, dos movimentos e ONGs de Direitos humanos e movimentos sociais tomarem agora a frente e partir da a articulação e organização dos eventos propostos:
Luiz Aparecido-PCdoB/DF, Cebrapaz/DF e Núcleo do Centro Barão de Itararé em Brasilia


PROPOSTA DO JOELSON:
Tenho uma proposta sobre algo para lembrar os 50 anos do GOLPE MILITAR, a:

"Caravana dos 50 anos de lembrança e repúdio [como disse Valquíria Prochmann] ao golpe militar de 64".
[o título e uma sugestão, por enquanto uso-o para divulgar a ideia]
Essa "caravana" teria INÍCIO no dia 31 de MARÇO de 2013 e TÉRMINO no dia 1º de ABRIL de 2014. A caravana percorreria TODO O BRASIL, fazendo palestras nas universidades federais, nas capitais e em outra cidade secundária em questão de importância depois da capital de cada estado; também levaria livros para serem vendidos, expostos, documentários para serem exibidos e/ou usados para serem auxiliadores nas palestras; estas seriam realizadas sempre com um grupo fixo que faria essa caminhada por todo o país e contaria com a presença de estudiosos e ex-militantes locais que pudesssem contar sua história e auxiliar no evento.
Porém um fator é fundamental nessas palestras: desmentir a versão dos militares que é a mais difundida e aceita no país, gerando assim um preconceito com os comunistas, com aqueles que foram presos entre outras questões. Além disso levar casos de atentados e ameaças sofridas, até hoje, por pessoas que decidem contar as atrocidades cometidas no período da ditadura. Explicar também como se deu o golpe, o que levou até isso, as articulações feitas com os EUA, falar sobre o "milagre econômico" que é muito exaltado para justificar e defender a ditadura militar; outros pontos, outras questões surgirão no momento, com perguntas dos espectadores-participantes.
O término da caravana seria um grande evento, uma solenidade com a presença de todos os ex-presos políticos, ex-militantes do período que se puder reunir e levar para esse encerramento; em São Paulo, ou em Brasília, é uma sugestão. O evento que finalizaria o projeto teria a presença também da presidenta Dilma, e poderia também convidar as diversas outras Comissões de outros países da América Latina que investigam os crimes cometidos no período em que viveram a ditadura militar nos seus respectivos países, principalmente da Argentina, onde são presos os acusados, os torturadores.
A mensagem que deve ser deixada com esse evento, essa "caravana", é a de que a ditatuda militar não foi uma coisa benéfica para o país e para a população, que foi uma afronta à democracia, que retirou direitos arbitrariamente, ceifou vidas dos que lutaram contra o regime em vigor e deixar a mensagem final de que isso não deve se repetir, mostrando também a realidade atual que parece caminhar para um novo golpe, ou seja, DITADURA NUNCA MAIS!
O que vocês acham da ideia? Pensei isso, mas queria que se formasse um grupo para dar realização a isso, montar a estrutura, organizar e fazer com que isso se concretize.



Atenciosamente,


Joelson Mendonça
joelsonmend@hotmail.com

terça-feira, dezembro 18, 2012

Ditadura torturou, matou, roubou e desaparecem com os corpos das vítimas!



Ditadura torturou, matou, roubou e desaparecem com os corpos das vítimas


Silvio Tendler responde aos militares da reserva que o processam - 

do Portal Vermelho


A CARTA AQUI PUBLICADA FOI ESCRITA PELO CINEASTA SÍLVIO TENDLER AO DELEGADO DE POLÍCIA RESPONSÁVEL PELO INQUÉRITO INSTAURADO PELO PRESIDENTE DO CLUBE MILITAR, DEVIDO À MANIFESTAÇÃO DE BRASILEIROS INDIGNADOS COM A REUNIÃO, NO DIA 29 DE ABRIL, QUE PRETENDIA COMEMORAR O GOLPE DE ESTADO 1964.

POR SÍLVIO TENDLER

Carta Aberta a um Delegado de Polícia ou Respondendo à Intimidação por parte do clube militar
Delegado,

Dois policiais vieram ontem à minha residência entregar intimação para prestar declarações a fim de apurar atos de "Constrangimento ilegal qualificado – Tentativa – Autor", informa o ofício recebido. Meu advogado apurou tratar-se de denúncia ou queixa ou sei lá o quê, por parte do "presidente do clube militar" (em letra minúscula mesmo, de propósito).

Informo que na data da manifestação, 29 de março de 2012, estava recém-operado, infelizmente impedido de participar de ato público contra uma reunião de sediciosos, os quais, contrariando à determinação da Exma. Sra. Presidenta da República, comemoravam o aniversário da tenebrosa ditadura, que torturou, matou, roubou e desapareceu com opositores do regime.

Entre os presentes estava o matador do Grande Herói da Pátria, Capitão Carlos Lamarca, e seu companheiro Zequinha – doentes, esquálidos, sem força, encostados numa árvore. Zéquinha e Lamarca foram fuzilados sem dó, nem piedade, quando a lei e a honra determinam colocá-los numa maca e levá-los para um hospital para prestar os primeiros socorros. Essa gente estava lá, não eu. Eles é que devem ser investigados. Eu farei um filme enaltecendo o Capitão Lamarca e seu bravo companheiro Zequinha.

Tenha certeza, Delegado, de que, enquanto eu tiver forças, me manifestarei contra o arbítrio e a violência das ditaduras e, já que o Sr. está conduzindo o inquérito, procure apurar se o canalha que prendeu, torturou e humilhou minha mãe nas dependências do Doi-Codi participou do "festim diabólico". Isso sim é Constrangimento Ilegal. 


E já que se trata de assunto de polícia, aproveite para pedir ao "constrangedor ilegal" que ficou com o relógio da minha mãe – ela entrou com o relógio no Doi-Codi e saiu sem ele – que o devolva. Processe-o por "apropriação indébita, seguida de roubo qualificado (foi à mão bem armada)”. 


É fácil encontrar o meliante. Comece pelo Comandante do quartel da Barão de Mesquita em janeiro de 1971. Já que eles reabriram o assunto, o senhor pode desenterrar o processo. É, Delegado, o que eles fizeram durante a ditadura é mais assunto de polícia do que de política!

Pergunte ao queixoso presidente do clube militar se ele tem alguma pista do paradeiro do Deputado Rubens Paiva. Terá sido crime cometido por algum participante da festa macabra, onde, comenta-se, havia vampiros fantasiados de pijama?

Tudo o que fiz foi um chamamento pelo you tube convidando as pessoas a se manifestarem contra as comemorações do golpe de 64. Se este general entendesse ou respeitasse a lei, não teria promovido a festa e, tendo algo contra mim, deveria tentar me enquadrar por "delito de opinião" mas aí, na fotografia, ele ficaria mais feio do que é, não é mesmo?

Por fim, quero manifestar minha solidariedade aos que protestaram contra o "festim diabólico" e foram tratados de forma truculenta, à base de gás de efeito moral, spray de pimenta e choque elétrico – como nos velhos tempos. 


Bastaria umas poucas grades para separar os manifestantes do povo, que estavam na rua, aos sediciosos que ingressavam no clube. Há muitos poderia causar a impressão de estar visitando um zoológico e assistindo a um desfile de símios.

Não perca tempo comigo e com a ranhetice de um bando de aposentados cri-cri, aporrinhando a paciência de quem tem mais o que fazer. Pura nostalgia da ditadura, eles se portam como se ainda estivessem em posição de mando.

Atenciosamente,

Silvio Tendler

segunda-feira, dezembro 17, 2012

HEINE, O POETA QUE MARX QUERIA NA BAGAGEM!!!


Heine, o poeta que Marx queria na bagagem

Heinrich Heine, por  Charles Gleyre, em 1851




Por Carlos Pompe*
Há 215 anos, em 13 de dezembro de 1797, nasceu em Düsseldorf, Christian Johann Heinrich Heine. Considerado um dos maiores poetas do século XIX, Heine teve grande influência também no Brasil. Foi traduzido, do alemão, por Gonçalves Dias e Francisco Adolfo de Varnhagen – outras traduções de seus escritos, como as Machado de Assis (que depois aprendeu alemão e também traduziu a partir dos originais) e Álvares de Azevedo, foram feitas a partir de traduções francesas.
No século passado, Manuel Bandeira, Geir Campos, Augusto Meyer e Décio Pignatari, dentre outros, traduziram, do alemão, alguns poemas seus. Castro Alves escreveu Navio Negreiro, em 1868, inspirado no poema homônimo de Heine, escrito em 1853, e usou um texto de Heine como epígrafe de seu livro Os Escravos, onde o alemão ordenou: “Porém uma espada deveis colocar sobre meu caixão; pois fui um bravo soldado na guerra de libertação da humanidade”.
É ao Navio Negreiro que o personagem de Memorial de Aires, de Machado de Assis, refere-se quando narra o dia da aprovação da Lei Áurea: “Ainda bem que acabamos com isto. Era tempo. Embora queimemos todas as leis, decretos e avisos, não poderemos acabar com os atos particulares, escrituras e inventários, nem apagar a instituição da história, ou até da poesia. A poesia falará dela, particularmente naqueles versos de Heine, em que o nosso nome está perpétuo. Neles conta o capitão do navio negreiro haver deixado trezentos negros no Rio de Janeiro, onde ‘a casa Gonçalves Pereira’ lhe pagou cem ducados por peça. Não importa que o poeta corrompa o nome do comprador e lhe chame Gonzales Perreiro; foi a rima ou a sua má pronúncia que o levou a isso. Também não temos ducados, mas aí foi o vendedor que trocou na sua língua o dinheiro do comprador”.
No ano passado, André Vallias traduziu, “com alta qualidade estética”, na opinião de Augusto de Campos, 120 poemas  e os publicou pela Perspectiva com o título Heine, Hein? Poeta dos Contrários. O livro traz também informações sobre a vida e a obra do alemão, inclusive esta passagem sobre o encontro com os recém-casados Jenny e Karl Marx, na França: “A identificação foi imediata, e este logo estaria frequentando a residência do jovem casal, e contribuindo com poemas para as publicações de Marx e de seus colaboradores, em Paris: os Cadernos Franco-Alemães, primeiramente, e depois o jornal Avante!, onde sairiam, em primeira mão, alguns de seus poemas políticos mais famosos, como ‘Ratos Retirantes’, ‘Miserê’, ‘Lenda do Castelo’, ‘Esperem Só’ e ‘Os Tecelões da Silésia’. Este último, inspirado numa greve violentamente reprimida, foi distribuído como panfleto aos milhares, na região do incidente, e virou um dos hinos mais populares do movimento operário internacional, graças à tradução para inglês feita por Friedrich Engels. Quando o jornal Avante! foi embargado, por exigência do governo prussiano, e seus diretores expulsos da França, Marx se despediu do poeta com estas palavras saudosas: ‘De tudo, em pessoas, que aqui eu deixo, a herança heineana é a que mais me aflige. Como gostaria de colocá-lo em minha bagagem’”.
Auguste Cornu, na biografia que escreveu de Marx e Engels, diz que Marx era um dos conselheiros de Heine. Mas a influência era recíproca. Quando escreveu, na Crítica da Filosofia de Direito de Hegel (1843), que “a religião é o ópio do povo”, Marx ecoava o escrito de Heine em Ludwig Börne (1840): “Bendita seja uma religião que derrama no amargo cálice da humanidade sofredora algumas doces e soporíferas gotas de ópio espiritual, algumas gotas de amor, fé e esperança”.
 Heine foi aluno, dentre outros, do filósofo Georg Hegel, conviveu com Balzac, Dumas, Chopin, Liszt. Foi o primeiro a chamar a atenção para o caráter revolucionário da filosofia clássica alemã, incluída a dialética de Hegel. Para ele, a história da filosofia é a história da luta entre o espiritualismo, que ele combatia, e o sensualismo, ao qual aderiu, conforme registrou em Contribuição à História da Religião e da Filosofia na Alemanha (1834). Nesse livro, vincula a crítica da religião e do idealismo com a luta contra o feudalismo, a monarquia e o espírito burguês vulgar e estreito. Em A Escola Romântica (1836), tratou o Renascimento como rebelião contra a concepção medieval do mundo: “É possível que os pintores da Itália hajam polemizado com o clero com mais eficácia que os teólogos saxões. A carne que floresce nas pinturas de Tiziano é toda protestantismo. As costas de sua Vênus são teses muito mais sólidas que as que foram pregadas pelo frei alemão” (refere-se a Lutero) “no portal de Wittenberg”. 
Heine trocou a Alemanha por Paris em 1831, buscando maior liberdade de espressão. Na Alemanha era tido como subversivo e censurado. Escreveu sobre a censura, na tragédia Almansor (1821):
Foi só o prelúdio; onde queima livros,
No final, também hão de queimar homens.
Criticou assim a abordagem da lírica romântica do século XIX, impotente diante das injustiças sociais: “Oh, mundo formoso: sois repugnante.” Para ele, o futuro da humanidade está ligado à realização do direito das massas populares à satisfação de suas necessidades e interesses materiais. “O pensamento vai à frente da ação, como o raio do trovão”, escreveu.
Polemizou com os “grandes filósofos alemães”: “... queiram eles levar em conta que o pouco que digo é completamente claro e inteligível, enquanto as suas obras, ainda que tão fundamentadas, incomensuravelmente fundamentadas, tão profundas, estupendamente profundas, são incompreensíveis. Do que vale ao povo o celeiro para o qual não tem a chave? O povo está faminto de saber, e agradece o pedacinho de pão do espírito que partilho com ele honestamente”.
Morreu em Paris, em 17 de fevereiro de 1856, devido às dosagens excessivas de morfina que usava para combater a sífilis. Partilhemos e compartilhemos generosamente sua obra e seus ideais.

* Carlos Pompe é jornalista, comunista revolucionario, editor do Vermelho/DF e curioso do Mundo e amante da poesia e da vida!!

domingo, dezembro 09, 2012

Luiz Gonzaga, pé na estrada


Senado homenageia o Rei do Baião
Foto- Waldemir Barreto/Agência Senado


Carlos Pompe*
No dia 3, o Senado realizou sessão comemorativa do centenário do cantor, compositor e músico Luiz Gonzaga, por proposta do senador Inácio Arruda (PCdoB-CE). Participaram da homenagem o sanfoneiro Chambinho do Acordeon, que faz o papel de Luiz Gonzaga no filme a ele dedicado; cantor João Cláudio Moreno, do Piauí, e o cantor cearense Fagner (na foto, com os senadores Mozarildo Cavalcanti (PTB-RR), Cristovam Buarque (PDT-DF) e Inácio Arruda, que fez o pronunciamento sobre a vida e obra de Gonzagão, que reproduzo a seguir:
Estamos aqui, neste Senado da República, hoje, para homenagear um rei. Rei de primeira grandeza da arte que a nossa nação produz, Luiz Gonzaga do Nascimento, o Rei do Baião, esse que é o principal gênero da música popular brasileira, depois do samba.
Setembro passou, com oitubro e novembro
Já tamo em dezembro.
Meu Deus, que é de nós?
Assim fala o pobre do seco Nordeste,
Com medo da peste,
Da fome feroz.
Assim cantou Luiz Gonzaga a música do cearense Patativa do Assaré, contando a todo o Brasil a saga dos nordestinos fugindo da seca que tantos sacrifícios nos impõe – seca que vivemos agora também, neste dezembro do centenário do Gonzagão, a maior seca dos últimos quarenta anos! A seca terrível, que tudo devora.  A voz forte de Gonzaga ainda ecoa, dirigindo-se para as autoridades, para denunciar o descaso, a burocracia que seguram e impedem a velocidade na ajuda ao povo do Nordeste. O centenário ocorre diante de mais uma tragédia, fruto da ação da natureza para a qual o homem, com toda a ciência, ainda não achou uma solução. Estamos buscando criar, neste início do século XXI, possibilidades maiores de enfrentar a seca, em especial com a interligação das nossas bacias fluviais, mas muito ainda padece a nossa região. Muitos são os nordestinos que saem de sua terra,
E assim vão dexando, com choro e gemido,
Do berço querido
O céu lindo e azu.
Os pai, pesaroso, nos fio pensando,
E o carro rodando
Na estrada do Su.
Procuram um futuro melhor, buscando trabalho e êxito, como fez Gonzaga na primeira metade do século passado.
Um brasileiro de origem humilde. Sua mãe trabalhava na roça e era feirante; seu pai, agricultor e sanfoneiro de 8 baixos. Foi o segundo filho de Januário dos Santos e de Ana Batista de Jesus. Veio ao mundo na fazenda da Caiçara, em 13 de dezembro de 1912. Mas não teve “Januário dos Santos” como sobrenome, como seus oito irmãos e irmãs. Por sugestão do padre, foi batizado Luiz, porque nasceu no dia de Santa Luzia; Gonzaga, por causa do nome de são Luiz Gonzaga; Nascimento, porque dezembro é o mês do nascimento de Jesus. Ainda menino, começou a acompanhar o pai nos bailes. Com 14 anos comprou sua primeira sanfona de 8 baixos e passou a tocar sozinho.
Em 1930, com 17 anos, fugiu de casa, após uma surra que levou da mãe porque tomou umas cachaças para ter coragem de enfrentar o pai da namorada, que não queria o relacionamento de um sanfoneiro com a filha. Exu, sua cidade, é pernambucana, mas os exuenses são tradicionalmente muito mais vinculados ao Ceará, que fica bem mais próximo. Foi para o Crato, vendeu a sanfona e embarcou num cargueiro para Fortaleza, onde pretendia sentar praça. Mesmo menor de idade, ingressou no Exército e serviu no 23º Batalhão de Caçadores. Eis como contou essa passagem de sua vida à autora de Vida do viajante: a saga de Luiz Gonzaga, Dominique Dreyfus:
Quando eu me apresentei ao sargento, ele perguntou quantos anos eu tinha, e eu respondi 21 anos, que era a idade aceitável. Com isso, o Exército se ajeitava, e dava até certidão. Eu era taludinho, trabalhava na enxada, então ele acreditou... Eu menti porque se desse minha idade, não ingressava. (...) Eu me alistei em julho. Início de agosto, já estava no mundo, na Paraíba, defendendo uma fronteira. Eu, recruta analfabeto, sem jeito para nada, no meio dessa revolução!
O país vivia a chamada Revolução de 1930, liderada por Getúlio Vargas.
No Exército, onde permaneceu por nove anos, melhorou sua alfabetização precária e viajou em missões para o Piauí, Rio de Janeiro, Minas, Mato Grosso e, durante a guerra do Chaco, conheceu a polca paraguaia. Passou no concurso de corneteiro do Exército, em 1933, e foi elevado a tambor-corneteiro de 1ª classe em janeiro de 1933, ganhando o apelido de Bico de Aço. Foi quando aprendeu algumas noções de harmonia. Era disciplinado e dedicado, porém também cometeu seus deslizes. Por exemplo, cumpriu pena de quatro dias de detenção por ter estragado duas baquetas de tambor da banda.
Aprendeu, durante o serviço militar, a tocar violão. Depois, aprendeu a tocar sanfona de 48 baixos. Comprou uma sanfona de 80 baixos pagando prestações adiantadas a uma loja em São Paulo e quando foi buscá-la descobriu que era um logro – havia sido roubado. Mas conseguiu, com o dinheiro que carregava, comprar uma outra, abaixo do custo. Ao retornar a Minas, cumpriu mais quatro dias de prisão por ter se ausentado do quartel, em Ouro Fino, sem autorização.
 Em 1939 deixou o Exército e rumou para o Rio de Janeiro, de onde embarcaria de volta para Pernambuco. Enquanto esperava o navio, começou a tocar nas ruas do Mangue, área dos prostíbulos do Rio de então, a troco de moedas numa latinha. O dinheiro foi bom, ele desistiu de voltar. Logo foi chamado para tocar dentro dos bares, onde a gorjeta era segura, a cerveja grátis e estava protegido da chuva. Gonzaga tentou adaptar-se aos costumes, músicas e sotaques do Rio, mas um dia um grupo de estudantes cearenses, de quem ficou amigo, pediu-lhe para cantar músicas do Sertão nordestino. Atendeu ao pedido e tocou, pela primeira vez para o público de um bar no Rio, as músicas que tocava em sua terra natal:
“Parecia que o bar ia pegar fogo. O bar tinha lotado, gente na porta, na rua, tentando ver o que estava acontecendo no bar. Aí peguei o pires. Na terceira mesa estava cheio. Aí eu gritei: ‘Me dá um prato!’ Daqui há pouco o prato estava cheio. Aí pedi uma bandeja. E pensei: agora a coisa vai”, relembrou.
Foi assim que, no programa Calouros em Desfile, de Ary Barroso, na Rádio Cruzeiro do Sul, onde se apresentava com frequência, ele saiu da nota 3, que sempre recebia ao cantar valsas e tangos, e alcançou a nota 5 – a máxima! –, ganhou 150 mil réis de prêmio e a admiração do Ary e do radialista, cantor e compositor Almirante, que assistiu sua apresentação. Pouco depois, conheceu Zé do Norte (Alfredo Ricardo do Nascimento, autor de Mulher Rendeira), que o contratou para o programa A Hora Sertaneja, da rádio Transmissora, atual rádio Globo.
Sua primeira gravação foi como sanfoneiro de Genésio Arruda e Januário França na canção A viagem de Genésio, em 5 de março de 1941. Sua participação impressionou os diretores da gravadora. Nove dias depois, gravou seus primeiros discos: Véspera de São João e Numa Serenata; e Vira e Mexe e Saudades de São João Del-Rei.
“Quando eu comecei a cantar minhas músicas nos cabarés, nos dancings, o povo achou graça. E quem vende graça, ganha dinheiro”.
Em 1945 venceu a resistência da gravadora e pode, finalmente, cantar num disco. Gravou a mazurca Dança Mariquinha, dele com seu primeiro parceiro, Miguel Lima. Era seu vigésimo quinto disco. Nesse ano, em 22 de setembro, nasceu Gonzaguinha, filho de sua companheira de então, Odaléia Guedes. Nesse período, Luiz Gonzaga, querendo um parceiro nordestino, procurou o músico cearense Lauro Maia, que lhe apresentou o primo, também cearense, de Iguatu, Humberto Teixeira:
“Eu queria cantar o Nordeste. Eu tinha a música, tinha o tema. O que eu não sabia era continuar. Eu precisava de um poeta que saberia escrever aquilo que eu tinha na cabeça, de um homem culto pra me ensinar as coisas que eu não sabia. Eu sempre fui um bom ouvidor. Cheguei até a enganar que era culto! (...) No primeiro encontro com Humberto, em dez minutos já havíamos escrito a letra de No meu pé de serra. (...) Essa letra dizia a saudade que eu sentia do Nordeste. E tanto eu quanto Humberto ficamos emocionados quando terminamos a peça. Sentimos que tinha começado um caminho. E eu senti que estava nas mãos do autor que eu sempre sonhara”.
A segunda parceria dos dois fez história: Baião, lançado em outubro de 1946. A terceira foi Asa Branca, lançada em 1947.
Segundo Dominique Dreyfus, “O termo ‘baião’, sinônimo de rojão, já existia, designando na linguagem dos repentistas nordestinos o pequeno trecho musical tocado pela viola, que permite ao violeiro testar a afinação do instrumento e esperar a inspiração, assim como introduz o verso do cantador ou pontua o final de cada estrofe. No repente ou no desafio, cuja forma de cantar é recitativa e monocórdia, o ‘baião’ é a única sequência rítmica e melódica.
“O grande estalo de Luiz Gonzaga foi de perceber a riqueza desse trechinho musical, de sentir que ele carregava em si a alma nordestina, e foi saber, através da sanfona cromática, engrandecer, enriquecer, dar volume a esse rojão melodicamente tão rudimentar.”
Em 1946, a toada Olá seu generá, de Gonzaga com Jeová Portella, foi censurada. Ela dizia:
Ai seu generá, Feijão cum cove que talento pode dar? Cadê a banha pra panela refogá? Cadê açúcar por café açucará? Cadê o lombo, cadê carne de jabá? Que quarqué dia as coisas tem que melhorá. Que sem comida ninguém pode trabaiá. Seu generá Feijão cum cove que talento pode dar?
Na época, presidia o Brasil o general Eurico Gaspar Dutra, e a música só foi liberada depois que os autores mudaram o nome para Feijão cum Cove e o refrão para Aí o que será?...
Nesse período, voltou a Araripe, com saudade da família, após quase 17 anos de ausência. Foi recebido com alegria e orgulho pelo povo, como contou Marisa Alencar, sua colega de infância: “Ele não tinha esquecido nada daqui. Continuava usando o vocabulário daqui, valorizando as coisas daqui, que antigamente ninguém dava valor. Porque quem saía daqui para adquirir condição melhor tinha até vergonha de dizer que era nordestino. Gonzaga não, ele fala das coisas daqui, da rede onde se dorme, da comida que se come, e com o linguajar daqui!”.  
Aproveitou a visita para dar seu primeiro show na região onde nasceu e o destinou para arrecadar dinheiro para recuperar o Hospital São Francisco, do Crato, que estava em ruínas. Uma característica que permaneceria até o fim de sua vida: a ajuda aos necessitados, a solidariedade com o povo sofrido.
Em 1947, adotou o chapéu de couro, inspirado no acordeonista do Rio Grande do Sul, Pedro Raimundo, que usava bombacha, botas, chapéu gaúcho, guaiaca e chicote. Mas seu chapéu foi proibido na rádio Nacional, onde ele e Pedro Raimundo tinham contrato. A rádio, no entanto, aceitara a indumentária do artista gaúcho, sem problemas... mas suas apresentações fora da rádio sempre eram com o chapéu nordestino. Em 1953, adotou o gibão de couro, a cartucheira, a sandália e um chapéu maior, mais parecido com o de Lampião.
Embora sem militância partidária, Gonzaga participava das campanhas dos políticos com que simpatizava, fazendo apresentações gratuitas nos comícios e também jingles.
“Eu sempre tive uma vocação para estar ao lado dos governos eleitos”, afirmou, explicando seu ponto de vista: “Quem chega com ambulância, remédio, quem dá emprego, ajuda, quem faz barragem? São os governos, nunca foi a oposição”. Com Humberto Teixeira, compôs a música para a campanha a governador de José Américo: Paraíba – o escritor não ganhou, mas a música se eternizou, com o célebre refrão: “Paraíba masculina Mulher macho sim senhor”.
Em 1950, começou a parceria com Zé Dantas – de quem havia gravado Vem Morena um ano antes. Esta música, só do Zé, ele colocou como parceria a pedido do autor, que não queria que o pai soubesse que andava compondo e lhe suspendesse a mesada. Foi seu segundo maior parceiro, que trouxe para suas canções sentimento ainda mais nordestino.
A partir dos anos 50, formou banda própria, com instrumentos usados no Nordeste: sanfona, zabumba, triângulo. Antes era acompanhado por pandeiro, bandolim, cavaquinho, violão – a formação de acompanhamento do choro e do samba. O trio instrumental de sua banda passou a ser adotado por todos os grupos do gênero nordestino.
Luiz Gonzaga mudou o curso da história da música do Brasil. Segundo José Lins do Rego, ele trouxe “o sentimento melódico das extensões sertanejas, das léguas tiranas, das asas brancas, do gemer dos aboios. As tristezas dos violeiros se passaram para sua sanfona. (...) O que nos prende ao cantar de Gonzaga é o que nos arrebata em Noel, é a simplicidade da melodia, é a doce música que ele introduz nas palavras, a magia dos instrumentos, a candura de alma tranquila que se derrama nas canções”.
Ele foi também o precursor das canções de protesto que surgiram nos anos 1960, com Vozes da Seca, parceria feita com Zé Dantas em 1953 – “Mas doutor uma esmola para um homem que é são, ou lhe mata de vergonha, ou vicia o cidadão”. Mas esta não é a característica principal de suas músicas. Elas abordam, principalmente, crônicas sobre o Nordeste, sua cultura, sua sociedade, seus modos de vida, sua fala:
 “Eu ia contando as coisas tristes do meu povo, que demanda do Nordeste pro Sul e pro Centro-Sul em busca de melhores dias, de trabalho. Porque lá chove no período exato, lá se sabe o que são as estações. No Nordeste, as intempéries do tempo são todas erradas. Quando é pra chover não chove, então o povo vai procurar trabalho no Sul e o Nordeste vai se despovoando... Então, minha música representa a luta, o sofrimento, o sacrifício de meu povo. Eu denuncio, critico os governos, mas com certo cuidado, para não me envolver com aqueles que gostam de incentivar a violência”.
A partir do final dos anos 50, Gonzaga deixou de frequentar os noticiários e programas das rádios, jornais e revistas das capitais, mas continuou juntando de 5 mil a 10 mil pessoas nas praças do interior. Percorreu o país todo. Ia de carro, caminhonete, avião, barco. Cantava nas praças, coretos, circos, quartéis, auditórios das rádios, nos cinemas, na carroceria de caminhão. Para garantir essas apresentações, promovia cachaça, café, fumo, vinho, sabonetes, lojas locais. Com isso, não cobrava ingresso quando a cidade era muito pobre. “Eu chegava na cidade do interior com meus discos, cantava na praça pública, vendia meu peixe. Foi sempre no Nordeste que eu me arrumei”, disse.
No início dos anos 1960, Gonzaga “saiu de moda”, com a ascensão da Bossa Nova e, depois, da Jovem Guarda. Mas sempre pontuava no repertório de vários artistas que então surgiam. Talentos que despontaram nos anos 1960 e eram meninos ou adolescentes nos anos 1950, cresceram ouvindo, gostando e aprendendo a tocar sanfona por causa do filho de Januário, como Gilberto Gil, na Bahia, ou Milton Nascimento, em Minas. Em 1965, Geraldo Vandré gravou Asa Branca no seu disco Hora de lutar; em retribuição, Gonzaga gravou, em 1968, Caminhando, de Vandré. Neste mesmo ano, Gilberto Gil afirmou que “O primeiro fenômeno musical que deixou lastro muito grande em mim foi Luiz Gonzaga ... a primeira grande coisa significativa do ponto de vista da cultura de massa no Brasil”.
Ocorreu, então, algo inusitado. O jornalista e radialista Carlos Imperial espalhou o boato de que os Beatles iriam gravar Asa Branca.
“Todo mundo correu em cima. Chama pra programa, paga cachê e não sei o quê, gravei programa, ganhei dinheiro e Carlos Imperial na maior gozação do mundo”, divertiu-se o rei do baião. Os Beatles não gravaram, mas o grego Demis Roussos gravou White Wings, a versão inglesa da canção sertaneja, nos anos 1970.
A relação de Gonzaga com o Ceará e do Ceará com Gonzaga vai além, muito além das parcerias ou gravações com artistas da terra. Aliás, Luiz Gonzaga é cearense: recebeu o título de cidadão de meu Estado em 1975. Assim como tantos de nós, o Fagner ficou encantado com sua música. O primeiro show que ele viu, quando criança, foi Luiz Gonzaga numa praça em Fortaleza:  “Isso me marcou profundamente. A vida toda, ele foi e continua sendo um incentivo, um exemplo, um espelho pra minha geração”. No seu segundo LP, Fagner fez grande sucesso com a regravação de Riacho do Navio.
Em 1971, no exílio, Caetano fez sua versão de A Volta da Asa Branca, que Luiz Gonzaga ouviu no Ceará:
“Um dia, em Fortaleza, estou passando em frente a uma loja de discos e o vendedor me chamou:
- Oh! Seu Luiz, o senhor já ouviu a Asa Branca cantada por Caetano Veloso?
- Não ouvi ainda não.
- Quer ouvir?
- Agorinha! – e entrei na loja. Ele me deu a capa enquanto colocava o disco na vitrola. Essa capa, com uma fotografia dele com aquele casaco de inverno, expressava tanta tristeza, mas tanta tristeza, que meus olhos se encheram de lágrimas. Quando tocou o disco, aí eu chorei por dentro de mim. Mas quando ele fez aquela gemedeira do cantador sertanejo, aí eu não aguentei, chorei feio! Foi uma das maiores emoções que eu tive na vida.”
Gonzaga nunca teve parada. Em 1977 se tornou verbete da Enciclopédia Universal Britânica, com foto em cores. Em 1980, apresentou-se para o papa, durante a primeira visita de João Paulo II ao Brasil. Em 1982, fez seu primeiro show em Paris e para lá voltaria em 1986. Em 1984 recebeu seu primeiro Disco de Ouro (100 mil cópias vendidas) pelo LP Eterno Cantador e depois recebeu outro, pelo LP Danado de Bom. Em 1984, recebeu o Prêmio Shell, que antes havia sido concedido apenas a Pixinguinha, Dorival Caymmi e Tom Jobim. Em 1985 recebeu uma homenagem internacional de sua gravadora, a RCA, o Nipper de Ouro, e dois Discos de Ouro por Sanfoneiro Macho. Seu próximo LP, Forró de Cabo a Rabo, de 1986, recebeu dois Discos de Ouro e seu primeiro de Platina (250 mil cópias vendidas).
O Rei do Baião ajudou e promoveu inúmeros músicos, como Dominguinhos, que conheceu em 1954 em Garanhuns. Dominguinhos se apresentava com os irmãos numa feira para ganhar uns trocados. O garoto, com seus 14, 15 anos, tocava uma 8 baixos. Gonzaga prometeu-lhe uma sanfona melhor. Apoiou Jackson do Pandeiro, coroou Carmélia Costa a rainha do baião e Marinês a rainha do xaxado. “Quem tem talento não tem medo de perder. Eu botei um mundo de artistas cantando na minha linha e que é que deu? Reforcei as minhas criações e saí lucrando até hoje”, afirmou.
Generoso e solidário com os humildes, como maçom favoreceu Exu e outras cidades com seu trabalho. Com o lucro do livro O Sanfoneiro do Riacho da Brígida, Vida e Andanças de Luiz Gonzaga, que ditou a Sinval Sá, publicado em 1966, construiu uma escolinha no Araripe e pagou o salário da professora durante quatro anos. Com o padre João Câncio, organizou, a Missa do Vaqueiro, em 1970, o que serviu para organizar esses trabalhadores em defesa de seus interesses. Arregimentou Fagner, Gilberto Gil, João do Vale, João Bosco, Sivuca, Chico Buarque para fazer show para socorrer as vítimas da seca que arrasou o Nordeste de 1979 a 1984 e criou a Fundação Vovô Januário com o mesmo objetivo. Participou do show do Primeiro de Maio de 1984, promovido pelo Centro Brasil Democrático, em favor dos sindicatos de trabalhadores.
Como escreve Dominique Dreyfus, “Luiz Gonzaga fazia parte da categoria  ‘gênio’’ e, portanto, tinha todas as características que cabem aos gênios: era sensível, sonhador, encantador, sedutor, inteligente, engraçadíssimo, generoso, mas também violento, autoritário, instável, imprevisível, impaciente, cheio de contradições. E também terrivelmente só, sofrido, ‘incompreendido’”.
Luiz Gonzaga casou com Helena das Neves Cavalcanti em 1948. Em 1987, assumiu publicamente o relacionamento que tinha há 12 anos com Edelzuita Rabelo. Morreu em 2 de agosto de 1989, de parada cardiorrespiratória, quando estava hospitalizado devido a um câncer na próstata e metástase nos ossos. O cordelista José João dos Santos, Azulão, registrou:
Foi Luiz Lua Gonzaga
Que o Brasil todo se ufana
Dele nascer no Nordeste
Na gleba pernambucana
O filho de Januário
E dona Maria Santana.
...
Adeus a Luiz Gonzaga
Zeloso, amigo e irmão
Uma estrelha que brilho
Levou depois seu clarão
Agora descança em paz
O grande Rei do Baião

 *Carlos Pompe é jornalista, comunista, editor do Vermelho/DF e da direção regional do PCdoB/DF e curioso  do Mundo

domingo, dezembro 02, 2012

Homenagem e reverencia a "Sergião". Homem e comunista por completo!!!


Sérgio Miranda: viva lenda e realidade

Dor muito forte é aquela que chega ou permanece depois, às vezes no dia seguinte ou dias depois da pancada — alguns costumam dizer. Zó, o Sérgio Miranda de Matos Brito, nos deixou na madrugada de um dia que as pessoas costumam enfrentar meio desanimadas, às vezes detestando até o crepúsculo do domingo — a fatídica véspera.
Foi uma noticia e uma sequencia de cenas inimagináveis que marcaram nossa segunda-feira, 26 de novembro de 2012, eu me vendo num avião rumo ao encontro da dor.
Uma noticia que o distanciamento do tempo, depois de tudo, ao invés de atenuar, somente reproduz e multiplica a inconformidade e impacto. É quando “cai a ficha”: não encontraremos mais o Zó, nem “marcando o ponto” ou ao sabor do acaso. Aquele sorriso maroto, largo, aberto, divertido, nas piores e nas melhores situações, e o mesmo começo de conversa: “E aí?” As perguntas mais curiosas para se situar e o jeito desprendido de enfrentar as tensões, os braços largados ao longo do torso.
Não vai dar mais para vê-lo descortinar seus amplos e exaustivos exames da conjuntura, da estratégia e da tática, da necessidade de seguir sempre além dos limites, de lançar o olhar mais largo ao horizonte, de ampliar radicalizando e radicalizar ampliando, da linha ampla e flexível a serviço do povo, dos trabalhadores, da classe operária, da necessidade de assimilar a unidade na diversidade, de oferecer o bom combate ao reformismo e à acomodação, de nunca aceitar a injustiça, de praticar a indomável rebeldia com aquela insofismável naturalidade dos justos.
Nem vai dar mais para ouvi-lo a contar prosaicas histórias da vida e da luta para todas as idades e gerações, de brincar com as crianças como se fosse seu próprio mundo, ou encantar os adultos com a “Lenda do boi do Maranhão”, aos mais castos ou formais; ou as poesias fesceninas do proscênio barroco “boca do inferno”, Gregório de Mattos Guerra, somente aos mais afeitos à arte ou afoitos nas estripulias da vida, as gozações sempre prontas para aproximar as pessoas e o permanente cuidado em não ferir, os porres homéricos nos quais versejando a gente pegava o sol com a mão em inocentes farras, em diversos momentos a bordo de um bugre, no pós-ditadura...
Mesmo quem não conhecia sua intimidade, podia perceber sua dimensão nas atitudes. Assisti, noutra longa madrugada, “cobrindo” como repórter do jornal Movimento, ao seu julgamento, à revelia, em 1977, numa auditoria militar. Foi condenado pelos fascistas a três anos de prisão mas (sonoras gargalhadas) nunca conseguiram colocar as mãos nele. Na clandestinidade, familiares nossos o acoitavam da perseguição política impressionados com seu faro para sentir a proximidade da repressão.
Tudo isso vivi depois que o Zé Auri, chegando de Paris, nos rearticulou, naqueles novos capítulos da luta, na segunda metade dos anos 1970. Pois em tudo isso somente agora, cada vez mais embargado, posso escrever algumas primeiras linhas e somente quando Zó, muito vivo na memória, segura a mão do amigo fiel. Como se guiasse o batuque dos dedos no teclado, tão marcante sua presença, sua amizade, sua ressonância no conteúdo da vivência e da política, de sua capacidade teórica e política, de sua firmeza ideológica, do dirigente responsável e estimulante da ação inteligente, criativa e revolucionária.
Nas lembranças e nas incontidas lágrimas que pranteiam um amigo e um camarada com destacado lugar no panteão dos inigualáveis.
Zó, de decênios de militância e de uma década de clandestinidade, também na condição de parlamentar, honrou e orgulhou o Brasil sem perder a marcante simplicidade e o afeto dos que o conheceram e reconheceram. Um grande brasileiro de atitude única, sincero e adversário antagônico da hipocrisia.    
Agora Zó estava irreconhecível, ali estirado, muito magro e sem aquele astral do gigante de feições generosas e rosto vivaz. E quem via, sentenciava: “não é ele!”, “ele nunca foi assim”. E foi sua presença viva que mais uma vez entrou em choque aberto pela existência, a favor da vida.
Naquela noite da tão reprovada, por vezes detestada segunda-feira, naquele trânsito incessante de muitas gerações, nos diálogos funestos, mas também nas conversas animadas sobre um roteiro marcante de incontáveis e inesquecíveis episódios, uma longa e dolorida madrugada movimentou o Salão Nobre da Câmara dos Deputados. Mais uma vez estava ali Sérgio Miranda de Matos Brito, agregando muitos que há muito não se viam, alguns há décadas, outros que não esperavam mais se ver ou que nem se imaginavam, entre si, subsistir.
Ali deitado, Zó contagiou mais uma vez a inquietude que parecia agitar até o espelho d’água com suas inesgotáveis histórias. Reunidas, todas fariam uma enciclopédia de muitos contos, poemas, livros, mas sobretudo um uníssono e apreciado exemplo da mais elevada saga humana.
Muitos de nós talvez, tantos quantos foram seus amigos e camaradas, escreveremos como se guiasse o batuque dos nossos dedos sobre o teclado, tão marcante foi sua presença, sua afeição, sua ressonância no conteúdo e na essência deste épico pranto. De um modo e não de outro Zó permanece nessas vidas, em nossas vidas, na perseguição à utopia dos comuns que leva adiante os seus e os sonhos de todos que animam e reanimam a capacidade de sonhar e agir.
Sérgio Miranda, presente!

Luiz Carlos Antero

Por um mundo no qual sejamos socialmente iguais, humanamente diferentes e totalmente livres (Rosa Luxemburgo)
Pergunta sempre a cada ideia: a quem serves? (Bertolt Brecht)
Apenas quando somos instruídos pela realidade é que podemos mudá-la (idem)
A luz do sol é o melhor dos desinfetantes (atribuída ao juiz norte-americano Louis Brandeis [1856 - 1841]) 



quinta-feira, novembro 29, 2012





Hildegard Angel em seu Blog, www.hildegardangel.com.br

Publicado em 28 de novembro de 2012


O poder pode derivar de muitas forças. Jânio Quadros, ao abrir mão do poder maior da República ou supostamente o maior poder, referiu-se às “forças ocultas”. Até hoje não sabemos quais foram elas.
Hoje, porém, sabemos quais forças estiveram por trás do golpe militar de 1964. E a quem quiser se aprofundar recomendo o vídeo O dia que durou 21 anos que explica tudo em detalhes, sem deixar dúvida sobre dúvida.
A República repousa sobre três poderes: Executivo, Legislativo, Judiciário. Há também o quarto poder, que muitos julgam até ser o primeiro de fato, que é o da Mídia. Por todos os seus méritos, nada define melhor a grande mídia no país do que as Organizações Globo, concentradora de vários segmentos das comunicações, abrangendo as mídias impressa, televisionada, internet, radiofonia etc. É um poder excepcional.
No universo das comunicaçoes, aí compreendendo imprensa, música, cinema, televisão, teatro, internet, literatura, podemos mesmo dizer que há dois brasis. Aquele que está na Globo e o que não está na Globo. Este último é o Brasil dos profissionais de segunda classe, os de menor cotação no mercado.
Recentemente, um articulista do sistema “global” comparou quem não escreve na mídia impressa a sambista de segundo grupo. O poder lhe permite isso.
O quarto poder permite tudo. Permite toda a forma de arrogância. Uma prepotência embriagadora, etílica. Atitudes soberbas. Como a que levou, não faz muito tempo, um conhecido autor de novela a, num concorrido evento literário, destratar aos gritos um estimado crítico de cinema por discordar de apenas uma frase de um artigo a seu respeito.
Nesse porre de poder, as pessoas perdem completamente o senso da realidade, do ridículo, da humanidade, da ética, da compostura.
Também em outras atividades, esse desvario sobe à testa. Está muito em pauta na atualidade discutir-se as transmissões do canal da TV Justiça. Não são atores que as protagonizam. Não são personagens de ficção. São pessoas reais. Um Poder que deveria me trazer conforto e confiança, porém, me perturba, aflige. Me assusta.
E eu que pensei que não viveria novamente, neste país, cenários de silêncio amedrontado…
O último medo emblemático que guardo na memória foi o da atriz Dina Sfat, ao participar, em 1981, como entrevistadora do programa Canal Livre tendo o general Dilermando Monteiro na berlinda. Ela se manteve muda todo o tempo. Quando lhe pediram ao final que fizesse uma pergunta ao general,Dina disse apenas: “Eu tenho medo dos militares”. A frase de Dina virouHistória.
Caros leitores, tenho, agora, como jornalista, reportadora de fatos, observadora dos momentos brasileiros e vítima de alguns deles, a triste missão de lhes informar que o meu medo voltou. E desta vez o medo que sinto não é dos militares…
Dina Sfat tinha medo. E eu tenho uma má notícia para lhes dar: o medo de que falava Dina Sfat voltou!


quarta-feira, novembro 28, 2012

Só Revolução resolve crises do capitalismo!!



Por: Manuel Castells -

Culturas econômicas alternativas teriam sido reforçadas pela crise. Mas sociólogo adverte: sistema não entrará em colapso por si mesmo
Entrevista a Paul Mason | Tradução: Gabriela Leite | Imagem: Binho Ribeiro

O professor Manuel Castells é um dos sociólogos mais citados no mundo. Em 1990, quando os mais tecnologicamente integrados de nós ainda lutavam para conseguir conectar seus modens, o acadêmico espanhol já documentava o surgimento da Sociedade em Rede e estudava a interação entre o uso da internet, a contracultura, movimentos de protesto urbanos e a identidade pessoal.
Paul Mason, editor de notícias econômicas da rádio BBC, entrevistou o professor Castells na London School of Economics (Escola de Economia de Londres) sobre seu último livro, “Aftermath: The Cultures of Economic Crisis” (“Resultado: as Culturas da Crise Econômica”), ainda sem tradução para português.
Castells sugere que talvez estejamos prestes a ver o surgimento de um novo tipo de economia. Os novos estilos de viver dão sentido à existência, mas a mudança tem também um segundo motor: consumidores que não têm dinheiro para consumir.
São práticas econômicas não motivadas pelo lucro, tais como o escambo, as moedas sociais, as cooperativas, as redes de agricultura e de ajuda mútua, com serviços gratuitos – tudo isso já existe e está se expandindo ao redor do mundo, diz ele. Se as instituições políticas vão se abrir para as mudanças que acontecem na sociedade – é cedo para saber. Seguem trechos da conversa.

O que é surgimento de novas culturas econômicas?

Quando menciono essa Cultura Econômica Alternativa, é uma combinação de duas coisas. Várias pessoas têm feito isso já há algum tempo, porque não concordam com a falta de sentido em suas vidas. Agora, há algo mais — é a legião de consumidores que não podem consumir. Como não consomem — por não terem dinheiro, nem crédito, nem nada — tentam dar sentido a suas vidas fazendo alguma coisa diferente. Portanto, é por causa das necessidades e valores — as duas coisas juntas — que isso está se expandindo.

Você escreveu que as economias são culturais. Pode falar mais sobre isso?
Se queremos trabalhar para ganhar dinheiro, para consumir, é porque acreditamos que comprando um carro novo ou uma nova televisão, ou um apartamento melhor, seremos mais felizes. Isso é uma forma de cultura. As pessoas estão revertendo essa noção. Pelo contrário: o que é importante em suas vidas não pode ser comprado, na maioria dos casos. Mas elas não têm mais escolha porque já foram capturadas pelo sistema. O que acontece quando a máquina não funciona mais? As pessoas dizem “bem, eu sou mesmo burro. Estou o tempo todo correndo atrás de coisa nenhuma”.
Qual a importância dessa mudança cultural?
É fundamental, porque desencadeia uma crise de confiança nos dois maiores poderes do mundo: o sistema político e o financeiro. As pessoas não confiam mais no lugar onde depositam seu dinheiro, e não acreditam mais naqueles a quem delegam seu voto. É uma crise dramática de confiança – e se não há confiança, não há sociedade. O que nós não vamos ver é o colapso econômico 
per se, porque as sociedades não conseguem existir em um vácuo social. Se as instituições econômicas e financeiras não funcionam, as relações de poder produzem transformações favoráveis ao sistema financeiro, de forma que ele não entre em colapso. As pessoas é que entram em colapso em seu lugar.

A ideia é que os bancos vão ficar bem, nós não. Aí está a mudança cultural. E grande: uma completa descrença nas instituições políticas e financeiras. Algumas pessoas já começam a viver de modo diferente, conforme conseguem – ou porque desejam outras formas de vida, ou porque não têm escolha. Estou me referindo ao que observei em um dos meus últimos estudos sobre pessoas que decidiram não esperar pela revolução para começar a viver de outra maneira – o que resulta na expansão do que eu chamo de “práticas não-capitalistas”.

São práticas econômicas, mas que não são motivadas pelo lucro – redes de escambo, moedas sociais, cooperativas, autogestão, redes de agricultura, ajuda mútua, simplesmente pela vontade de estar junto, redes de serviços gratuitos para os outros, na expectativa de que outros também proverão você. Tudo isso existe e está se expandindo ao redor do mundo.

Na Catalunha, 97% das pessoas que você pesquisou estavam engajadas em atividades econômicas não-capitalistas.
Bem, estão entre 30-40 mil os que são engajados quase completamente em modos alternativos de vida. Eu distinguo pessoas que organizam a vida conscientemente através de valores alternativos de pessoas que têm vida normal, mas que têm costumes que podem ser vistos como diferentes, em muitos aspectos. Por exemplo, durante a crise, um terço das famílias de Barcelona emprestaram dinheiro, sem juros, para pessoas que não são de sua família.
O que é a Sociedade em Rede?
É uma sociedade em que as atividades principais nas quais as pessoas estão engajadas são organizadas fundamentalmente em rede, ao invés de em estruturas verticais. O que faz a diferença são as tecnologias de rede. Uma coisa é estar constantemente interagindo com pessoas na velocidade da luz, outra é simplesmente ter uma rede de amigos e pessoas. Existe todo tipo de rede, mas a conexão entre todas elas – sejam os mercados financeiros, a política, a cultura, a mídia, as comunicações etc –, é nova por causa das tecnologias digitais.

Então, nós vivemos numa Sociedade em Rede. Podemos deixar de viver nela?
Podemos regredir a uma sociedade pré-eletricidade? Seria a mesma coisa. Não, não podemos. Apesar de agora muitas pessoas estarem dizendo “por que não começamos de novo?” É um grande movimento, conhecido como “decrescimento”. Algumas pessoas querem tentar novas formas de organização comunitária etc.

No entanto, o interessante é que, para as pessoas se organizarem e debaterem e se mobilizarem pelo decrescimento e o comunitarismo, elas têm que usar a internet. Não vivemos numa cultura de realidade virtual, mas de real virtualidade, porque nossa virtualidade – significando as redes da internet – é parte fundamental da nossa realidade. Todos os estudos mostram que as pessoas que são mais sociáveis na internet são também mais sociáveis pessoalmente.

Existem diversos grupos que hoje protestam sobre o assunto A, amanhã sobre o assunto B, e à noite jogam World of Warcraft (jogo RPG online de aventura). Mas será que eles vão conseguir o que Castro e Guevara conquistaram?
O impacto nas instituições políticas é quase insignificante, porque elas são hoje impermeáveis a mudanças. Mas, se você olhar para o que está acontecendo em termos de consciência… há coisas que não existiam três anos, como o grande debate sobre a desigualdade social.

Em termos práticos, o sistema é muito mais forte do que os movimentos nascentes… você atinge a mente das pessoas por um processo de comunicação, e esse processo, hoje, acontece fundamentalmente pela internet e pelo debate. É um processo longo, que vai das mentes das pessoas às instituições da sociedade. Vamos usar um exemplo histórico: a partir do fim do século XIX, na Europa, existiam basicamente os Conservadores e os Liberais, direita e esquerda. Mas então alguma coisa aconteceu – a industrialização, os movimentos da classe trabalhadora, novas ideologias. Nada disso estava no sistema político. Depois de vinte ou trinta anos, vieram os socialistas e depois a divisão dos socialistas… e os liberais basicamente desapareceram. Isso mudará a política, mas não por meio de ações políticas organizadas da mesma maneira. Por quê? Porque as redes não necessitam de organizações hierárquicas.

Onde isso vai dar?
Tudo isso não vai virar uma grande coalizão eleitoral, não vai virar nenhum novo partido, nenhum novo coisa nenhuma. É simplesmente a sociedade contra o Estado e as instituições financeiras – mas não contra o capitalismo, aliás, contra instituições financeiras, o que é diferente.

Com esse clima, acontece que nossas sociedades se tornarão cada vez mais ingovernáveis e, em consequência, poderá ocorrer todo tipo de fenômeno – alguns muito perigosos. Veremos muitas expressões de formas alternativas de política, que escaparão das correntes principais de instituições políticas tradicionais. E algumas, é claro, voltando ao passado e tentando construir uma comunidade primitiva e nacionalista para atacar todos os outros movimentos e, finalmente, conseguir ter uma sociedade excluída do mundo, que oprime seu próprio povo.

Mas acontece que, em qualquer processo de mudança social desorganizada e caótica, todos esses fenômenos coexistem. E o modo como atuam uns contra os outros vai depender, em última análise, de as instituições políticas abrirem suficientemente seus canais de participação para a energia de mudança que existe na sociedade. Então talvez elas possam superar a resistência das forças reacionárias que também estão presentes em todas as sociedades.