terça-feira, julho 30, 2013

Nós com TomZé e Victor Neiva!


 
 
Depois do magnifico show de TomZé, no ultimo doming,o no Centro Cultural Banco do Brasil-CCBB em Brasilia, o genial musico, compositor/cantor e performer recebeu no camarim a mim, meus dois filhos Yuri e Emerson Chiquinho e a mãe deste ultimo, Edla Santos para um animado bate bato. TomZé por sinal é padrinho do Chiquinho, de camisa vermelha ai a foto. Os meninos adoraram!

E ainda uma foto minha com TomZé, meu amigo, companheirão e ilustre causidico Victor Neiva!

sábado, julho 27, 2013

Uma vóz combativa e coerente: Noan Chomsky!!

Chomsky: “Estou com os manifestantes do Brasil”

Avram Noam Chomsky. Foto: Camila Nobrega
Camila Nobrega
Do Canal Ibase
Enviada a Bonn (Alemanha)

Cercado de jornalistas e curiosos de pelo menos 30 países, na noite desta segunda-feira  dia17 de junho, o linguista e crítico político de renome mundial Avram Noam Chomsky, de 84 anos, caminhava lentamente para se retirar da plenária após sua palestra no Forum Global de Midia, em Bonn (Alemanha). Estava acompanhado de seguranças e assessores que tentavam manter todos afastados e não parecia disposto a responder mais indagações. Em uma fileira formada ao lado dele, consegui gritar uma pergunta. Ao ouvir as palavras “Turquia” e “Brasil”, Chomsky virou-se para mim, respondendo-a:
- Embora sejam protestos diferentes e com suas peculiaridades, as manifestações nos dois países são tentativas de o povo recuperar a participação nas decisões. É uma forma de ir contra o domínio dos interesses de grupos econômicos. Acho ambos muito importantes e posso dizer que estou com os manifestantes – disse o linguista, entusiasta do movimento “Occuppy”, declarando apoio ao movimento que toma as ruas de cidades brasileiras e também aos manifestantes turcos.
Ele tem razão ao tentar separar os dois movimentos. Embora semelhanças pareçam gritar neste momento, devido ao cunho popular de ambos os protestos, são países de contextos socioeconômicos e culturais muito diferentes. Qualquer tentativa de relacioná-los pode ser leviana, se nao forem tomadas as devidas ressalvas.
Mas, há, no entanto, uma característica que une brasileiros e turcos neste momento: a tentativa de recuperar diferentes formas de liberdade e mostrar que a sociedade civil está acordada. Durante seu discurso para cerca de duas mil pessoas, entre jornalistas, autoridades europeias e pesquisadores do mundo inteiro reunidos para o fórum que ocorre até esta quarta-feira, na pequena cidade de Bonn, Chomsky afirmou que a ocupação da praca Taksim é um microcosmo da defesa dos bens comuns.
- Trata-se de um movimento global contra a violêcia que ameaça a liberdade em diferentes países. As pessoas estão indo as ruas para defender bens comuns, aqueles que são compartilhados dentro das sociedades. O capitalismo baseado na massificação de privatizações não compreende a gestão coletiva, aí esta o problema. Os movimentos que ocorrem neste momento são legítimos, na tentativa de recuperar a participação popular na gestão destes bens.
Para além da dominação econômica
Chomsky discursa para mais de duas mil pessoas. Foto: Camila Nobrega
O discurso de Chomsky esteve centrado principalmente em uma crítica às estratégias de desenvolvimento norte-americanas e ao poder das grandes corporações multinacionais atualmente. Para o pensador, as privatizações de recursos básicos, alicerces dos regimes neoliberais, alteram a relação dos cidadãos com o mundo a sua volta e reduzem também a noção de bens comuns.
- Para muitas sociedades, a propriedade privada se tornou aparentemente a única possibilidade de divisão de territórios e recursos. Isso está acabando com essa noção do que é comum – disse, ampliando a análise para a participação social: – Existe um pensamento muito difundido em sistemas politicos e econômicos pautados em ideais liberais que defende a manutenção do poder de decisão nas mãos de poucas pessoas, que seriam o grupo mais “bem preparado” da sociedade. Os demais seriam apenas espectadores. É contra isso que alguns grupos estão lutando.
A base desse pensamento parte de um dado bastante claro que Chomsky trouxe à tona: segundo ele, 70% da população norte-americana, por exemplo, não tem qualquer influência sobre a política nacional. Ou seja, a maioria da população não tem poder, por exemplo, sobre políticas públicas que afetam suas vidas diariamente.
Autor de mais de 70 livros e considerado um dos principais intelectuais vivos atualmente (a quantidade de vezes que ele aparece em citacoes bibliograficas nos dias de hoje se assemelha a de grandes filósofos, como Platão), Noam Chomsky é, na verdade, um grande defensor da capacidade humana de criar e de se libertar de estruturas de dominação. Seus pensamentos vieram a público no início da decada de 1960, quando ele fez uma crítica aberta a outros linguistas, atacando a noção de behaviorismo, segundo a qual o ser humano aprende apenas por imitação. Chomsky defendia, já àquela época, a existência de uma capacidade inata do ser humano de se expressar, de diferentes formas.
Ao longo dos anos, ele foi adaptando este pensamento a um contexto político e se tornou um dos mais vorazes criticos do sistema politico-econômico e também cultural dos Estados Unidos. Nascido na Filadélfia, ele se tornou uma voz dissonante dentro do território norte-americano.
Frente a uma plateia composta de pessoas vindas de todo o mundo para a conferência em Bonn, mas majoritariamente de europeus, o discurso de Chomsky pareceu soar um pouco anacrônico. Foi o que se ouviu nos corredores. Não foi essa a interpretação, porém, de participantes vindos de países africanos em desenvolvimento. Não houve também anacronismo para os representantes turcos que estão por aqui, ou de outras pessoas vindas da região que vive hoje a Primavera Árabe. Para estes grupos, nos quais o Brasil parece se incluir, uma fala de Chomsky ecoou:
- O termo democracia pode parecer óbvio para alguns, e aí está a ameaça. Há vários tipos de democracia, várias formas de aplicação deste conceito. O que podemos pensar é: este tipo de democracia onde a esmagadora maioria da população não tem participação alguma é a que queremos?
Não é preciso muito mais para explicar o porquê de os representantes brasileiros, após o discurso de Chomsky, terem se sentado à mesa com turcos, sulafricanos e outros representantes de países cujos projetos de democracia e desenvolvimento estão sendo contestados neste momento. Observando de outro continente as manifestações que estão parando cidades brasileiras nos últimos dias, o discurso do linguista não parece nem um pouco anacrônico.

quinta-feira, julho 25, 2013

FERNANDO MOUSINHO FALA SOBRE A IMPORTANCIA DA TENTATIVA DE TOMADA DO QUARTEL DE MONCADA POR FIDEL E SEUS COMPANHEIROS!


A VITÓRIA DO MONCADA



Fernando Mousinho (PSB-DF)

 As indispensáveis tarefas de preparação da recepção de homens e de armas enviadas de Havana, assim como todo trabalho de mobilização, couberam a Abel Santamaria. O segundo homem do movimento que antecipadamente transferira-se da capital para Santiago de Cuba.

Os preparativos do assalto ao Quartel de Moncada naquele  glorioso 26 de julho de 1953 mobilizara em torno de 1.200 revolucionários, para a ínfima quantidade de 150 ou 160 armas. Desproporção tal que exigiu uma severa seleção dentre os mais bem preparados.

O fardamento era o do exército e as patentes de sargento, para confundir o inimigo. Usavam sapatos, e não botas, para reconhecerem-se uns aos outros. O boné e todo o resto era militar, o que cobrou enorme trabalho de confecção. A ideia era criar uma confusão descomunal, antes que as outras unidades se dessem conta do que acontecia. Seria simulado um levantamento de sargentos.

O plano incluía ainda, enganar a reação utilizando sargentos prisioneiros que, ao telefone, falariam com seus superiores e com todos os demais sargentos de Santiago, para subordiná-los ou pelo menos ganhar tempo.

Previa também tomar a guarita principal e o Estado Maior do quartel. Assim como o Palácio da Justiça e o hospital civil.

As armas tomadas ao quartel seriam distribuídas ao povo instalado em diversos prédios da cidade, de onde se organizaria a defesa para enfrentar o contra-ataque. Ao mesmo tempo seria deflagrada uma greve nacional geral.

Nesse contexto, é muito importante salientar o papel das mulheres cubanas, as quais, hoje e sempre, desempenharam papel essencial em todo processo histórico revolucionário da Ilha. Melba Hernández e Aidé Santamaria, por exemplo, durante vários dias introduziram em Santiago de Cuba, por vias diferentes - estrada de ferro, rodovia e etc -, malas contendo armas. Malas tão enormes e pesadas que, certa ocasião, um gentil soldado batistiano ajudou a carregá-las.

Finalizo lembrando que o assalto ao Quartel de Moncada não foi em vão. Ao contrário. O triunfo da Revolução Cubana foi a vitória do Moncada, pois, pela primeira vez na história de Cuba, as promessas feitas ao povo foram cumpridas: o problema da terra, o problema da industrialização, o problema da moradia, o problema do desemprego, o problema da educação e o problema da saúde do povo.

Ou seja, os primeiros anos da Revolução foram dedicados ao cumprimento dos seis pontos do Programa do Moncada.

   

 

quarta-feira, julho 24, 2013

DICA DE LUIZ MANFREDINI PARA A LEITURA DO GENIAL XARA FERNANDO VERISSIMO!!

Luiz Manfredini compartilhou a foto de Rafael Patto. no Facebook
Boa a introdução e melhor ainda o texto do grande Luís Fernando Veríssimo.
Luis Fernando Veríssimo adverte: conversão à direita é prejudicial à juventude.

Eu espero jamais perder a minha juventude, o meu esquerdismo. Morro de medo de ...me tornar uma caricatura da bestialidade como são hoje alguns ex-esquerdistas como o Marcelo Madureira e o seu xará Marcelo Tas, ou então aquele Caetano Veloso, bobo da corte.

Morro de medo também de envelhecer como um boçal reacionário e preconceituoso, como aquele tal de Ferreira Gullar ou o João Ubaldo Ribeiro.

É tão mais bonito chegar à velhice com a dignidade e a coerência de um Luis Fernando Veríssimo...

CONVERSÕES, por Luis Fernando Veríssimo

Ninguém é mais direitista do que um ex-esquerdista. Talvez porque a desilusão com as promessas nunca realizadas da esquerda se misture com a necessidade do novo direitista de exorcizar seu passado, de se autopunir pela sua ingenuidade.

Para repudiar o que era, o ex-esquerdista precisa arrasar o que era. Como está também arrasando o seu passado, a sua juventude e o tempo que perdeu acreditando em coisas como igualdade, solidariedade e a redenção da humanidade, não admira que sua crítica à esquerda seja tão ácida. Está lamentando a si mesmo, o que só aumenta sua raiva.

O adágio, tão repetido, segundo o qual quem não é de esquerda até uma certa idade não tem coração e quem não é de direita depois não tem cérebro, equipara a migração da esquerda para a direita como uma conquista da sabedoria.

Idealismo, crença em justiça social etc. seriam coisas que iríamos largando pelo caminho rumo à maturidade, junto com outras baboseiras juvenis. Não se tem notícia de uma migração ao contrário, de direitistas que voltam a ser esquerdistas, até como uma forma de recuperar a juventude.

E esquerdistas que continuam esquerdistas apesar de já terem idade para se darem conta do engano são alvos prioritários do escárnio dos convertidos. Ainda têm coração, os inocentes.

Os neoconservadores que levaram a política externa americana a sucessivos desastres nos últimos anos têm este nome porque muitos deles foram trotskistas na juventude. Abandonaram o internacionalismo trotskista e inauguraram o ultranacionalismo do “século americano”, e continuam influentes, mesmo sob o governo do Obama.

Os ex-trotskistas odeiam o que foram um dia, e seu conservadorismo ativo é uma forma de expiação. Caso notório de conversão foi a do escritor John dos Passos, ex-comunista e autor de alguns livros memoráveis de crítica social, que acabou seus dias quase como uma caricatura de direitista americano, com bandeira na frente da casa e tudo.

Para quem ainda se considera de esquerda, apesar das desilusões e de um coração combalido, o rancor dos convertidos tem seu lado positivo. Mostra que a esquerda ainda existe, logo chateia. Ou chateia, logo existe.

segunda-feira, julho 22, 2013

ESTA É UMA QUESTÃO RELEVANTE SIM!!

Existe amor nas revoluções?

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Mobilizações globais sugerem: estamos diante de uma possível mudança de paradigmas. Que isso tem a ver com nossas relações pessoais?

Por Katia Marko, editora da coluna Outro Viver
O corpo humano é sábio. Ele dá sinais a todo momento do seu esgotamento. “É hora de parar e reavaliar”, nos diz aquela dor constante. Nossas mentes inteligentes e astutas vão levando. Até que acende o sinal vermelho e uma simples gripe nos derruba. Mas a nossa resistência é grande e já criamos muitos anticorpos para ir sobrevivendo. Também temos as crenças que nos aliviam e resignam. Superstições vão nos distraindo, enquanto o milagre não chega. Afinal, fomos criados com hábitos que passam de pai pra filho ou de mãe pra filha que grudam feito cola de sapateiro. “Sempre foi assim, não vai mudar”.
Mas, eis que um dia, algo fora do comum acontece e coloca em xeque tudo o que sempre acreditei. Pode ser um câncer, uma poderosa depressão, uma morte inesperada de uma pessoa muito querida. O mundo desaba e tudo que fiz até então é questionado. “Poxa, mas sempre fui tão boa, trabalhadora, cumpridora dos meus deveres, por que isso aconteceu comigo. O que fiz a Deus”. E o impensável, inaceitável pensamento acaba por cravar seus dentes: será que deus existe…
Me parece que o mesmo acontece com o planeta e as suas civilizações, através dos tempos. E estou pensando em milhares e milhares de anos, antes de Cristo e ainda mais do cristianismo. “A história raramente se repete, seja como tragédia, seja como farsa, mas faz lembrar”. Tendo a concordar com Tariq Ali, jornalista e escritor paquistanês, militante de esquerda presente nos importantes levantes da década de 1960. O livro “O Poder das Barricadas” é uma aula de rebeldia. E muito do que li me remete ao que estamos vivendo no Brasil e no mundo. Parece que mais uma vez chegamos ao esgotamento de um modelo, apesar dos poderes econômicos, políticos, religiosos e midiáticos usarem de todas suas armas para manter tudo como está.
Os movimentos que explodiram em maio de 68 queriam “um mundo novo, sem guerra, opressão ou exploração de classes, baseado na camaradagem e no internacionalismo. A riqueza do Primeiro Mundo, se utilizada de maneira adequada, poderia ajudar a transformar o Terceiro Mundo. Além disso, se um socialismo significativo tivesse êxito no Ocidente, não seriam só a City londrina e o Estado que tremeriam, mas os burocratas de Moscou, igualmente temerosos das mudanças que vinham debaixo”, descreve Tariq Ali. Segundo ele, a esperança vinha da primavera de Praga, que foi sufocada antes que florescesse.
Os lemas da época retornam à cena, através de jovens que não chegaram à zona de conforto ou de não tão jovens que escolheram não estacionar junto à placa “Pare”. Sejamos realistas, peçamos o impossível. Barricadas do desejo. É proibido, proibir. Quanto mais faço a revolução, mais tenho vontade de fazer amor. Quanto mais faço amor, mais tenho vontade de fazer a revolução. Faça amor, não faça guerra. Estas foram algumas lutas que geraram uma década de utopias.
Apesar de não termos alcançado o socialismo real, e tempos sombrios de ditaduras e neoliberalismo terem vencido, muitos padrões foram derrubados. E a semente, por mais árido que seja o solo, sempre dá um jeito de renascer.
Mas o mundo ao avesso, tão bem explicado por Eduardo Galeano no livro “De pernas pro Ar”, nos ensina a padecer a realidade ao invés de transformá-la, a esquecer o passado ao invés de escutá-lo e a aceitar o futuro ao invés de imaginá-lo. “Na escola do mundo ao avesso, a escola do crime, são obrigatórias as aulas de impotência, amnésia e resignação. Mas está visto que não há desgraça sem graça, nem cara que não tenha sua coroa, nem desalento que não busque seu alento. Nem tampouco há escola que não encontre sua contra-escola”.
Mesmo que continue sendo martelado diariamente em nossas mentes, das formas mais veladas, que a mulher é um ser inferior e idiotizado que tem como único objetivo na vida conquistar um bom casamento, que os negros devem continuar escravos por questões de herança genética, que as crianças não têm direito de ser crianças e devem ficar atadas à frente da TV para aceitar desde cedo, como destino, a vida prisioneira. Mesmo que os pobres o sejam não por culpa da história, mas por obra da biologia, ou seja, levam no sangue o seu destino, e, pior, os cromossomos da inferioridade costumam misturar-se com as perversas sementes do crime. Mesmo que os índios sejam um povo em extinção há 500 anos. Mesmo que a publicidade mande consumir e a economia o proíba. Mesmo que a riqueza seja obra do divino e um direito dos escolhidos. Mesmo que o mundo seja perigoso e sejamos constantemente vigiados por olhos gigantes, sejam de deus ou do grande irmão. Mesmo com todos os riscos, alguns insistem em encarar o medo e romper as correntes.
Não é fácil ir contra um sistema que se utiliza tão bem dos meios de comunicação para se justificar. Dizer que dois mais dois não são quatro, quando tudo prova que são. Mas é necessário. Faz parte do processo de crescimento. Assim como, numa comparação com o micro, muitas vezes, não são sem dor as decisões que tomamos e contrariam as pessoas que amamos. Não fazer o que esperam de nós pode ser só uma reação, mas se tivermos consciência do que somos de verdade, pode tornar-se uma resposta.
Michael Lowy lembra em “O Pensamento de Che Guevara” que o sonho de todos os revolucionários, de Rousseau a Lenin, foi modificar não só o mundo, mas também o homem. “Para eles, a revolução não era apenas uma transformação das estruturas sociais, das instituições, do regime, mas igualmente uma transformação profunda, radical e ‘assombrosa’ dos homens, da sua consciência, de seus costumes, valores e hábitos, das suas relações sociais. Uma revolução não é autêntica se não for capaz de criar esse homem novo.”
As mudanças nas questões da vida privada, do comportamento, da sexualidade e do amor também eram o desafio no trabalho de Alexandra Kolantai, única mulher da direção do partido bolchevique e a primeira mulher do mundo, em 1917, a ocupar o posto de ministro de Estado, como Comissária de Saúde do governo Soviético. Ela insistia que ao contrário da visão predominante, de que só se poderia dedicar a estas questões com a transformação econômica e política assegurada, a gestação dessa nova moral deveria ser, necessariamente, um componente do processo de luta.
O mais interessante ou doloroso ao rever estes escritos é verificar o quanto poderíamos ter avançado enquanto civilização, não fossem as “forças ocultas”. No ensaio “A nova mulher”, de 1918, Kolantai assim defendia a mulher moderna: a autodisciplina, em vez de um sentimentalismo exagerado, a apreciação da liberdade e da independência, em vez da submissão e de falta de personalidade, a afirmação de sua individualidade e não os estúpidos esforços para se identificar com o homem amado, a afirmação do direito a gozar dos prazeres terrenos e não a máscara hipócrita da pureza, e, finalmente, o relegar das aventuras do amor a um lugar secundário na vida. “Diante de nós temos, não uma fêmea, nem uma sombra do homem, mas, sim, uma mulher-individualidade”.
Ao mesmo tempo que Kolantai afirmava que o objetivo último da mulher não deveria ser o casamento, mas a causa, também defendia que a época caracterizava-se pela ausência da arte de amar. “Os homens desconhecem em absoluto a arte de saber conservar relações amorosas, claras, luminosas, leves. Não sabem todo o valor que encerra a amizade amorosa. O amor para os homens da nossa época é uma tragédia que destroça a alma. É preciso tirar a humanidade desse atoleiro: ensinar aos homens a viver horas cheias de beleza, claras, sem grandes cuidados. Amar sempre, amar profundamente, em todos os momentos da nossa vida, amar sempre e cada vez com maior abnegação, é o destino ardente de todo grande coração”.
O amor em si é uma grande força criadora. Acredito que com criatividade, coragem, ousadia e desprendimento vamos cavando os buracos neste gigante chamado “sistema”. Os movimentos revolucionários aceleram a processo. Jovens estão batendo em nossa cara e nos obrigando a puxarmos os fios da memória. É nosso dever não ceder ao canto da sereia. As ocupações de espaços públicos, universidades resgatam o conceito de comunas, vida em comum, coletividade. Visões de mundo sufocadas pela ideologia neoliberal. Na minha modesta opinião, estamos tendo mais uma vez a chance de resgatar o ser humano.
Mas, como dizia o polêmico mestre indiano Osho, o estranho incomoda e irrita a humanidade cega. “A humanidade não é capaz de aceitar o estranho. Ela não é vasta o bastante para absorver o novo, o desconhecido, aquilo que ainda não foi experienciado. Ela se torna irritada, ela se incomoda. Ela quer destruir os seus olhos porque ela é cega e seus olhos fazem-na lembrar de sua cegueira”.

sábado, julho 20, 2013

Reencontro!!

Hoje, sábado, dia 20 e amanhã, em Penápolis, a capital supersecreta do Mundo( a secreta é Cachoeiro de Itapemirim)estarão reunidos penapolenses de várias gerações, principalmente aqueles que foram tão jovens nas décadas de 60 e 70 do século passado para uma imensa confraternização. Uma pena eu não poder estar lá, para reavivar a memória e o carinho e amizade com tantos amigos que ali formei e que ficaram por lá ou ganharam o Mundo. Mas a todos que lá estão neste fim de semana, meu baita abraço e boas lembranças cheias de saudades. No próximo encontro estarei lá. Com certeza!!!

E nesta onda curtir o encontro, acabei por reencontrar no  Facebook uma das mulheres  que foram mais importantes em minha vida há mais de 40 anos atrás, a Eliani de Araújo. Hoje ela mora em Sorocaba, interior de São Paulo e como sempre transbordando alegria e carinho. Como foi bom reencontra-la e lhe falar. Lavou o que resta de minha pobre alma!!

DIA DO AMIGO!!


Hoje se convenciona chamar o "Dia do Amigo"! Fico feliz por ter tantos que enumera-los é problemático. Mas vou arriscar alguns mais próximos, lembrando que há outros, centenas de outros que ficarão de fora desta lista, mas permanecem no meu coração: Marcos Tenório;Caio Carneiro Campos;Zé Reinaldo; Renato Rabelo;Gildo Ribeiro; Assis Soares; Victor Neiva;Flávio Bortot; Umberto Martins;Jesus Carlos; Válter Pini;Antonio Martins; Fernando Silva(irmão);Divino Alves; Fernando Claro e Fernandão Herkenhof; Everaldo Cavazzo, Carlos Alecrim;Givaldo do Traira;Jaime Sautchuk;Calucho Carvalho;Marcio da Arara Azul; Dr.Pedro Ynterian; Dr. Hudson Mourão Mesquita;Carlos Pompe;Augusto Madeira;Cosmo Henrique;Fernando Tolentino e muitos outros que não caberiam neste espaço.
Como fui fazer a besteira de esquecer de mencionar meu amigo de vida e destino Carlos Fernando Lima. Mil perdões, que eu. mereço!! E o Aramis Moraes, que tão solidário tem sido comigo nestes anos todos. Mil desculpas também!!


Realmente faltou muita gente nesta "listinha"! Virgilio Alencar é um, outro o Luiz Manfredini e mais José Suzano de Almeida, Felipe Spadari da Silva, Fernandão Herkenhof e mais, mas muitos mais. Obrigado a todos por serem tão tentis e dedicados a mim! E ainda meus camaradas e amigos Xaolin da Rocinha e João Batista Lemos, que tornam o Rio de Janeiro cada vez mais Revolucionário.

E ainda o Eduardo Mandell, o "Alemão", escondido ali na "boca da Mata Atlantica" em Taperai, com sua Mara e Tunico.Me veio a lembrança agora, do Dr. Isnaldo Piedade de Faria, medico, comunista e revolucionário de primeiro hora, pai da minha camarada e amiga Andréa Barbosa, a companheira de vida de Caio Carneiro Campos!!

quarta-feira, julho 17, 2013

PORQUE OS MÉDICOS NÃO DENUNCIAM A INDUSTRIA FARMACÊUTICA???

Por que a indústria farmacêutica evita curar

130715-Roberts
Um Nobel da Medicina sustenta: enquanto forem autorizados a fazê-lo, laboratórios preferirão pesquisar e produzir medicamentos que criam dependência…
Há poucos dias, foi revelado que as grandes empresas farmacêuticas dos EUA gastam centenas de milhões de dólares por ano em pagamentos a médicos que promovam os seus medicamentos. Para complementar, reproduzimos esta entrevista com o Prémio Nobel Richard J. Roberts (na foto), que diz que os medicamentos que curam não são rentáveis e, portanto, não são desenvolvidos por empresas farmacêuticas. Em troca, elas desenvolvem medicamentos de uso crônico, consumidos todos os dias ao longo da vida. Por isto, diz Roberts, alguns remédios, que poderiam curar doenças não são investigados. Pergunta-se: até que ponto é válido e ético que a indústria da saúde seja regida pelos mesmos valores e princípios que o mercado capitalista?
A investigação pode ser planejada?
Se eu fosse Ministro da Saúde ou o responsável pelas Ciência e Tecnologia, iria procurar pessoas entusiastas com projectos interessantes; dar-lhes-ia dinheiro para que não tivessem de fazer outra coisa que não fosse investigar e deixá-los-ia trabalhar dez anos para que nos pudessem surpreender.
Parece uma boa política.
Acredita-se que, para ir muito longe, temos de apoiar a pesquisa básica, mas se quisermos resultados mais imediatos e lucrativos, devemos apostar na aplicada …
E não é assim?
Muitas vezes as descobertas mais rentáveis foram feitas a partir de perguntas muito básicas. Assim nasceu a gigantesca e bilionária indústria de biotecnologia dos EUA, para a qual eu trabalho.
Como nasceu?
A biotecnologia surgiu quando pessoas apaixonadas começaram a perguntar-se se poderiam clonar genes e começaram a estudá-los e a tentar purificá-los.
Uma aventura.
Sim, mas ninguém esperava ficar rico com essas questões. Foi difícil conseguir financiamento para investigar as respostas, até que Nixon lançou a guerra contra o câncer em 1971.
Foi cientificamente produtivo?
Permitiu, com uma enorme quantidade de fundos públicos, muita investigação, como a minha, que não trabalha directamente contra o câncer, mas que foi útil para compreender os mecanismos que permitem a vida.
O que descobriu?
Eu e o Phillip Allen Sharp fomos recompensados pela descoberta de introns no DNA eucariótico e o mecanismo de gen splicing (manipulação genética).
Para que serviu?
Essa descoberta ajudou a entender como funciona o DNA e, no entanto, tem apenas uma relação indirecta com o câncer.
Que modelo de investigação lhe parece mais eficaz, o norte-americano ou o europeu?
É óbvio que o dos EUA, em que o capital privado é activo, é muito mais eficiente. Tomemos por exemplo o progresso espectacular da indústria informática, em que o dinheiro privado financia a investigação básica e aplicada. Mas quanto à indústria de saúde… Eu tenho as minhas reservas.
Entendo.
A investigação sobre a saúde humana não pode depender apenas da sua rentabilidade. O que é bom para os dividendos das empresas nem sempre é bom para as pessoas.
Explique.
A indústria farmacêutica quer servir os mercados de capitais …
Como qualquer outra indústria.
É que não é qualquer outra indústria: nós estamos a falar sobre a nossa saúde e as nossas vidas e as dos nossos filhos e as de milhões de seres humanos.
Mas se eles são rentáveis investigarão melhor.
Se só pensar em lucros, deixa de se preocupar com servir os seres humanos.
Por exemplo…
Eu verifiquei a forma como, em alguns casos, os investigadores dependentes de fundos privados descobriram medicamentos muito eficazes que teriam acabado completamente com uma doença …
E por que pararam de investigar?
Porque as empresas farmacêuticas muitas vezes não estão tão interessadas em curar as pessoas como em sacar-lhes dinheiro e, por isso, a investigação, de repente, é desviada para a descoberta de medicamentos que não curam totalmente, mas que tornam crônica a doença e fazem sentir uma melhoria que desaparece quando se deixa de tomar a medicação.
É uma acusação grave.
Mas é habitual que as farmacêuticas estejam interessadas em linhas de investigação não para curar, mas sim para tornar crônicas as doenças com medicamentos cronificadores muito mais rentáveis que os que curam de uma vez por todas. E não tem de fazer mais que seguir a análise financeira da indústria farmacêutica para comprovar o que eu digo.
Há lucros que matam.
É por isso que lhe dizia que a saúde não pode ser um mercado nem pode ser vista apenas como um meio para ganhar dinheiro. E, por isso, acho que o modelo europeu misto de capitais públicos e privados dificulta esse tipo de abusos.
Um exemplo de tais abusos?
Deixou de se investigar antibióticos por serem demasiado eficazes e curarem completamente. Como não se têm desenvolvido novos antibióticos, os microorganismos infecciosos tornaram-se resistentes e hoje a tuberculose, que foi derrotada na minha infância, está a surgir novamente e, no ano passado, matou um milhão de pessoas.
Não fala sobre o Terceiro Mundo?
Esse é outro capítulo triste: quase não se investigam as doenças do Terceiro Mundo, porque os medicamentos que as combateriam não seriam rentáveis. Mas eu estou a falar sobre o nosso Primeiro Mundo: o medicamento que cura tudo não é rentável e, portanto, não é investigado.
Os políticos não intervêm?
Não tenho ilusões: no nosso sistema, os políticos são meros funcionários dos grandes capitais, que investem o que for preciso para que os seus boys sejam eleitos e, se não forem, compram os eleitos.
Há de tudo.
Ao capital só interessa multiplicar-se. Quase todos os políticos, e eu sei do que falo, dependem descaradamente dessas multinacionais farmacêuticas que financiam as campanhas deles. O resto são palavras…
Publicado originalmente no La Vanguardia. em 18dejunho de 2011
Tradução de Ana Bárbara Pedrosa para o Esquerda.net

terça-feira, julho 16, 2013

Samba e socialismo! Tudo a ver!!


João Augusto Moojen me enviou está jóia que publico tambem no Blog do Luiz Aparecido em www.luizap.blogspot.com

SAMBA E A CHAMA SOCIALISTA

O Samba é um dos traços mais autênticos e genuínos da cultura brasileira. Forma de expressão musical essencialmente negra em suas matrizes, símbolo da contribuição africana na formação da nação brasileira, e que ao mesmo tempo traduz como nenhuma outra os traços mestiços de nosso povo que se forma do encontro de três raças.
O Samba espelha de maneira maravilhosa a incorporação dos principais legados culturais da africanidade para a identidade brasileira, num exemplo portentoso de afirmação e síntese dialética na construção dos traços marcantes da face nacional.
A cultura do samba engendra uma forma particularmente brasileira de construção social. Nela prima a singularidade do indivíduo e de sua expressão criativa, enquanto na sociedade capitalista o indivíduo é uma parte desqualificada de uma massa informe.
O sambista é sujeito da história, quando constrói seu espaço de sociabilidade, de integração e de expressão singulares a partir da prática do canto, da dança, das poesia, da critica. O indivíduo na sociedade capitalista está sujeito às regras preestabelecidas que normatizam os espaços de integração e socialização, sobre os quais ele não pode influír.O que pode parecer mera teoria, transforma-se em vivência: quem participa de um samba verdadeiro pode experimentar, na prática, uma forma de socialização que rejeita e reinventa as regras da sociedade capitalista; pode experimentar uma das mais belas formas de funcionamento de uma estrutura social sem classes, sem o predomínio da lógica abstrata e embrutecedora do dinheiro e do poder.
Por isso a história do samba, como a de outras manifestações autênticas da cultura dos povos, é uma tensão dialética constante entre afirmação da identidade popular e a reação das super estruturas do capitalismo. Ora pela repressão, ora pela apropriação; condenação ao esquecimento, seja pela cooptação. Sempre que um surdo bater a marcação, um tamborim fizer o contraponto, um cavaco der um tom, a cuíca chorar e o pandeiro rufar suas platinelas, a chama socialista ali estará acesa.

segunda-feira, julho 15, 2013

O CASAMENTO QUE MEXEU COM OS BRIOS DA BURGUESIA E ABALOU OS ALICERCERES DE SEU TEMPLO NO RIO DE JANEIRO!!

Hildegard Angel:


 De sandálias vermelhas, ouvindo Latino, enquanto lá fora o povo diz que o noivo vai broxar


Foto Luiz Roberto Lima
CASAMENTO DE BEATRIZ BARATA: NOSSO 14 DE JULHO, NOSSA BASTILHA CARIOCA!

Tendo o ministro do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes, e sra., como padrinhos, e como convidados os colecionadores de arte Sergio e Hecilda Fadel, que recentemente receberam a presidenta Dilma Rousseff para jantar em casa, no Rio, e cuja filha é casada com o filho do ministro Edison Lobão, das Minas e Energia, além do colunista social de Fortaleza, Lalá Medeiros, casaram-se ontem, com festa que varou madrugada, no Copacabana Palace, Beatriz Barata, neta do maior empresário de ônibus do Rio de Janeiro, Jacob Barata, e Francisco Feitosa Filho, cujo pai é o dono da maior empresa do ramo no Ceará.
Acompanhar, via mídias sociais e MSMs recebidos, o protesto indignado contra este casamento diante da Igreja N. Sra. do Monte do Carmo e da festa no Copacabana Palace, me fez sentir clima de Revolução Francesa, correndo um frio na espinha, um presságio ruim. E me veio à mente a princesa de Lamballe, melhor amiga de Maria Antonieta, com a cabeça espetada na ponta de uma lança, pela multidão que invadiu as Tulherias.
Estávamos numa madrugada de 14 de Julho, mesma data da Revolução Francesa, e toda aquela manifestação, que ontem começou alegre, até divertida, berrando bordões bem humorados, outros de gosto duvidoso, teve consequências desastrosas, com cabeça ensanguentada, decisões equivocadas, batalhão de choque, bombas de gás lacrimogênio, balas de borracha e gás de pimenta, às 3,30h, 4h da manhã, diante de nosso Palácio de Versailles, emblema máximo do luxo, da riqueza e da sofisticação do país: o Hotel Copacabana Palace!
Vou contar como foi, tal e qual… Aquietem-se, concentrem-se e me escutem…
Com gritaria na calçada, o protesto diante da igreja causou tensão nos convidados, perturbou todo o tempo o ofício do padre e a noiva, Beatriz, em vez de cortejo de daminhas e pajens, precisou de cordão de isolamento para entrar na igreja.
Enquanto padre Alexandre fazia a homilia, escutava-se nitidamente os manifestantes em coro dizerem coisas como “ha,ha, ha, o noivo vai broxar”, “também quero meu Louboutin”, “úúú, todo mundo pra Bangu” e tambores, buzinas e panelas, pó-pó-pó-pó-pó, pó-po-ro-po-pó, fon-fon-fon etc. O cerimonial de moças e rapazes impecáveis, pra lá e pra cá, cochichando baixinho, apreensivos sobre como solucionariam a saída dos noivos. Foi com PM e seguranças.
Beatriz, calada e retraída, permaneceu tensa todo o tempo – pudera! – mas manteve o controle. Foi altiva.
Já na recepção, no Copacabana Palace, todos se descontraíram e puderam se divertir, porque no interior do hotel não se percebia o que se passava lá fora, à exceção daqueles nas mesas da varanda.
No calçadão da Atlântica, uma garotada bonitinha da Zona Sul fazia manifestação até divertida, à la carioca, com meninas vestidas de noiva, rapazes alguns de terno e gravata, sacando bordões inspirados como “Eu também quero meu Louis Vuitton”, “Cadê minha Chanel?”, “Nesse hotel tem Barata!”, “Eu também paguei essa festa, quero meu bem-casado” e aquele clássico chulo da noite, citado acima, que se referia ao noivo…
E dá-lhe buzina, bateção de panela, de tabuleiro de alumínio, e desacatos para as mulheres (lindas!), que entravam ou saíam decotadas, cobertas de bordados: “piraaaaaanha!”. Não poupavam ninguém.
Com todas as quatro entradas do hotel bloqueadas por eles, ninguém entrava, ninguém saía, pela internet, os seguidores que assistiam à transmissão do canal “Mídia Ninja” postavam comentários mais pesados, do tipo “CABRAL VAI É DORMIR AÍ !!!!” (detalhe: Cabral sequer figurava na lista de convidados da festa!); “cadê as bombas???chama pa nois estraga a festa!”; “BA-FO-ME-TRO NO HOTEL”; “Rico não tem Lei Seca?” (referindo-se aos que embarcavam em seus carros mesmo aparentando ter bebido, quando ainda se podia sair); “chocada com o valor dos presentes que a Baratinha pediu no casamento. Veja a lista: http://migre.me/fsCZL” (localizaram a lista no site da H. Stern); “Candidato da Baratinha é Marcelo Freixo do PSOL” (foram checar no Face de Beatriz e descobriram); “ISSO.. TEM QUE JOGAR OVO MESMO…” (zangados porque a repórter foi maltratada por um policial à porta); “Todos RATOS engravatados, saindo pelos fundos constrangimento é a única arma do povo!!” (houve uma hora em que os convidados conseguiram sair pela porta da Av. Copacabana); “deixem suas mensagens de parabéns ao noivo”.
Vou omitir palavrões, baixarias e violências. Se é que já não transcrevi demais disso.
A horas tantas, chegou ao hotel a diretora-geral, Andréa Natal, que por força do cargo mora no Copa. Entrou pela porta lateral da Pérgola, junto ao Edifício Chopin. Aflita, vendo aquela multidão e a gritaria, parou para discutir com os manifestantes, iniciando rápido, bate-boca, logo sustado pelos seguranças, que a transportaram para dentro.
No interior do hotel mais lindo do Brasil, tudo eram maravilhas. No Golden Room, a apoteose do deslumbramento. O decorador Antonio Neves da Rocha plantou no meio do salão uma árvore frondosa, com os galhos alastrando-se por toda a área do teto, de onde pendiam fios com lampadário e buquês de flores. O chão coberto com grama. E a iluminação causava a sensação de se estar numa floresta-lounge, com estofados pretos.
Ali foi o show de Latino, que para entrar só conseguiu pela porta de serviço da Rodolfo Dantas, a da cozinha, driblando os manifestantes. Depois do bundalelê do Latino, houve ali a dança, com o DJ Papagaio e sandálias Havaiana vermelhas para todos os 1050 convidados que compareceram. Foram expedidos 1200 convites. Havia lugares sentados para todos, absolutamente todos.
No Salão Nobre, aquele comprido que sucede ao Golden Room, Neves da Rocha cobriu toda a parede de janelões que dá pra piscina com imenso painel único de Debret (ou seria Rugendas?) com super-mega-imensa-paisagem do Rio de Janeiro, abrangendo nossas montanhas, o mar, a Baía, florestas, do teto ao chão, criando visão fantástica.
Completavam o ambiente lustres enormes cobertos com heras, toalhas de damasco verde musgo cobriam as mesas até o piso.
O mesmo décor de toalhas musgo de damasco se repetia nos salões da frente e nas duas varandas, que foram cobertas e fechadas com paredes de muro inglês, com heras, e os mesmos lustres espetaculares. Cadeiras de medalhão suntuosas. Muito bonito.
Entre os três salões da frente, o do meio foi destinado a ser apenas o Salão dos Doces, com bem-casados da Elvira Bona, doces de Christiana Guinle, chocolates de Fabiana D’Angelo. Chá, café, brownies. O Céu, a Terra e o Mar também…
O champagne era Veuve Clicquot. Uísque Black Label. Aqueles coquetéis de sempre, Bellini, Marguerita etc. Vários bares de caipirinha, saquê etc. O bolo de Regina Rodrigues era um acontecimento, com vários andares, todo branco.
Buffet do Copacabana Palace, muito bem servido e elogiado. Na verdade, eram vários buffets, distribuídos por todos os salões e varandas. Mesas de frios. Pratos quentes. O cerimonial foi de Ricardo Stambowsky. As fotos, de Ribinhas.
Flores de Raimundo Basílio. Não houve exagero de flores, o verde deu o tom. Uma decoração em que prevaleceram o equilíbrio e a elegância. Luxo sem excessos.
Todo esse décor serviu de cenário à mais fantástica coleção de vestidos jamais reunida numa festa no Rio de Janeiro. Esta a opinião que ouvi de vários que lá estiveram, quer como convidados, quer prestando serviço ao evento. Um especialista em moda, que pediu para não ser identificado, falou: “Nunca vi tantos vestidos deslumbrantes como nessa festa. E de gente que ninguém conhece”. Acredita-se que a grande maioria das mulheres com essas roupas sensacionais, vestidos de alta costura, grandes marcas, fosse de convidadas do Ceará, que ocuparam vários apartamentos no hotel. O Copa bombou na festa e na ocupação.
Não apenas os vestidos eram extraordinários. As joias eram também fantásticas. A começar pelas da noiva, usando riviera de brilhantes fantástica no pescoço, dois enormes brilhantes nas orelhas e uma coroinha de ouro e grandes brilhantes, na cabeça, sempre usada pelas noivas da família. O vestido de Beatriz Barata foi obra da estilista Stela Fischer.
Tudo isso foi coordenado pela avó, Glória Barata, que durante a festa várias vezes se lembrou do filho assassinado naquela época da onda de sequestros no Rio de Janeiro. A família pagou o resgate, mesmo assim o jovem não foi poupado. Ela ainda guarda um grande sofrimento. Dona Glória é uma mulher sofrida e amável. Todos os que trabalham com ela e sua família a estimam.
Enquanto o minueto social seguia harmonioso, farfalhante e cintilante, entre as mesas de toalhas verde musgo adamascadas dos salões, no entorno do hotel, a contradança era outra.
Não têm pão? Comam bem-casados! Da varanda, convidados rebatiam as provocações verbais atirando bem-casados na “plebe” (bem à la Maria Antonieta, que ofereceu bolinhos, lembram?) e remetiam aviõezinhos de notas de R$ 20 (aí, a inspiração já era mais próxima, à la Silvio Santos).
Num crescendo dos protestos, bate panelas, mensagens de Face e Twitter, imagens postadas, provocações, bordões, os ânimos foram se acirrando e não houve nada que se tentasse para apaziguá-los. Ao contrário.
Na portaria do hotel da Av. Copacabana, o motorista de um dos convidados arrancou o celular da repórter “Ninja”, que, como Ninja, deu um salto e conseguiu recuperá-lo, botando o elemento pra correr. Ela recorreu a um policial, que a tratou com impertinência, parecendo alcoolizado. Tudo isso registrado pela câmera Ninja. E a rede social participando, reagindo, se indignando.
Em seguida, correm todos para a Atlântica, prosseguem a gritaria. Uma convidada insiste em deixar o hotel, é impedida e inicia uma briga, quando um convidado, lá da varanda, atira um cinzeiro de vidro na cabeça de um manifestante, que se fere muito.
Vendo aquela imagem ensanguentada na tela da internet, a galera começa a postar desacatos enfurecidamente. A repórter corre para buscar socorro na ambulância de plantão diante do hotel (é lei quando se trata de evento com mais de 600) e o paramédico. Mas o médico não está, “foi lá dentro”. O rapaz machucado tenta entrar no hotel para ser socorrido. Os seguranças e porteiros impedem sua entrada. Está aí cometido o grande erro da noite!
O Copa, neste momento, rompe sua tradição histórica de cordialidade com a população carioca e de diplomacia e assume uma postura hostil.
A multidão na rua se enfurece. A multidão virtual também e passa a convocar o envio geral de comentários negativos à página do hotel na internet. Uma guerra aberta contra o maior tesouro da hotelaria brasileira! Eu, confesso, quase choro. Adoro o Copa. O Copa é o Rio, nossa memória, nossa História.
Mais uns 10, 15 minutos, e chega ao local uma advogada dizendo-se da OAB, localiza uma testemunha da agressão, consegue recolher a “arma do crime”, fragmentos do cinzeiro que atingiu o rapaz, leva os dois para a delegacia, onde faz o registro da ocorrência: “tentativa de homicídio”. A vítima leva seis pontos na cabeça.
A garotada agitada continua nos impropérios, constrangimentos e panelaço, e eis que, quase quatro da manhã… chega o BOPE, marcando sua forte presença de sempre, soltando bombas de gás lacrimogênio, atirando com balas de borracha e, para completar a apoteose da alvorada dessa Bastilha carioca, espargindo spray de pimenta a torto e à direita.
Nessa altura, a multidão de manifestantes, que às três e meia da manhã já estava reduzida a uma centena, ficou ainda menor. Eram apenas uns 50 mais experientes, já com suas máscaras anti-spray nos rostos.
Enfim, os últimos convidados, que aguardavam no foyer do hotel pela oportunidade de deixar a festa, conseguem partir. Vão deixando o casamento Barata e tossem, viram os olhos, engasgam com o spray de pimenta. Os manifestantes de máscara anti-spray gozam, a repórter estica o microfone: “Tá gostando, cara?”.
Foi um acontecimento totalmente atípico, inédito. Já houve manifestações de protesto em casamentos de políticos e pessoas importantes. Como no da filha do senador Álvaro Pacheco, décadas atrás, tendo José Sarney, presidente da República, como padrinho, na Igreja do Largo de São Francisco.
Mas nada, jamais, em tempo algum, se comparou à ferocidade do acontecimento irado deste 14 de Julho carioca, em nosso Versailles, o Copa, que, ainda bem, nada teve de noite de Tulherias nem de cabeça espetada em ponta de lança.
Aliviada, vejo que meu frio na espinha não passou do frio de fato dessa noite de inverno carioca. O pressentimento era fajuto. O estrago se limitou a seis pontos na testa de um manifestante, que o responsável pelo estrago há de assumir e, se não assumir, os promotores da festa ou o próprio hotel há de tentar corrigir o ato infeliz de alguma forma.
Apesar de dizerem que cristal trincado não tem recuperação, acredito que o Copa tem credibilidade para se reabilitar aos olhos dos cariocas. Foi apenas um mau momento, espero…
PS do Viomundo: Bem que o José Arbex Jr. observou que a elite já não controla o que ela, elite, acredita ser o “andar de baixo”.

JACOB BARATA PASSA MAL DEPOIS DO CASAMENTO DE NETA E VIAJA PARA SE TRATAR
A saúde do empresário Jacob Barata não reagiu bem às fortes emoções provocadas pelo casamento de sua neta, Beatriz, ontem, e da recepção, que se estendeu pela madrugada de hoje. Ele embarcou hoje para Cleveland, nos Estados Unidos, padecendo de fortes dores na coluna. Cleveland é um grande centro de excelência no tratamento de doenças cardíacas.

O casamento de Beatriz, conforme relatei aqui, foi motivo de grandes manifestações de protesto e forte comoção, que se estenderam por toda esta madrugada de 14 de Julho, culminando com a ação de dois batalhões do BOPE, com bombas de gás lacrimogênio atiradas contra a multidão, gás de pimenta e balas de borracha.

Os convidados ficaram confinados dentro do Copacabana Palace durante horas, sem conseguir se retirar, com todas as quatro saídas do hotel bloqueadas pelos manifestantes, que gritavam bordões contra Barata e o governo do Estado. Assim como contra os próprios noivos.

Os manifestantes eram muito jovens e aparentando ser da classe média da Zona Sul. Bem como eram jovens os convidados que reagiram, atirando da sacada bolinhos de bem-casados e aviõezinhos de notas de R$ 20 sobre os manifestantes. Um deles atirou um cinzeiro que feriu um manifestante, obrigando-o a ser atendido em hospital e levar seis pontos na cabeça.

Foi um casamento lindíssimo, como raramente acontece: hildegardangel.com.br

domingo, julho 14, 2013

O VATICANO E O PECADO DA USURA!!


Carlos Pompe*
O papa Francisco participou, dia 10, da primeira reunião do comitê que investiga negócios obscuros do Instituto para as Obras da Religião (IOR), o Banco do Vaticano. Os problemas multiplicaram-se desde que o papa criou o comitê, em 26 de junho último. No dia 28, um clérigo ligado à instituição foi preso por ajudar a contrabandear para a Itália 20 milhões de euros (26 milhões de dólares) vindos da Suíça. Alguns dias depois, dois dos principais gerentes do banco renunciaram em meio a uma investigação de lavagem de dinheiro.
A entidade é conhecida por negócios escusos há décadas, o mais notório ocorrido há 31 anos, quando esteve envolvido na falência do Banco Ambrosiano, então o maior banco privado da Itália. Roberto Calvi, presidente do Ambrosiano, foi enforcado na ponte Blackfriars (freis negros) de Londres em junho de 1982. Ninguém foi condenado pelo crime, que inspirou uma das passagens do filme O Poderoso Chefão III, de Francis Ford Coppola (1990). Há insinuações de que o breve papado de João Paulo I (morto apenas 33 dias após assumir o cargo) e a eleição de seu sucessor, Karol Wojtyla – que está para ser nomeado santo pelo papa Francisco –, foram consequência da disputa pelo controle do banco.
O IOR dispõe de 5 bilhões de euros divididos em 34 mil contas de cerca de 25 mil entidades diferentes. Cerca de 77% de seus clientes estão na Europa e 7% no Vaticano. Tem somente 112 empregados, todos católicos praticantes confessos, embora o cardeal brasileiro Odilo Pedro Scherer diga que "anjos nem sempre trabalham nessas instituições. A tentação às vezes os leva a cometer delitos". Bem, se até Deus caiu em tentação e supliciou o fiel Jó (veja o Livro de Jó, no Antigo Testamento), o que não dizer de bancários católicos praticantes confessos...
Segundo arqueólogos, foram os fenícios os primeiros a realizar operações bancárias. O nome banco foi adotado pelos romanos: a palavra significava a mesa em que as moedas eram trocadas (câmbio) e os cambistas aceitavam depósitos e faziam empréstimos. Quando o empreendimento não prosperava, a mesa era quebrada, de onde a expressão "bancarrota".
A relação das várias crenças com o dinheiro é contraditória. Em passado distante, na Babilônia, o dinheiro tinha certo caráter sagrado e era confiado aos sacerdotes nos templos. Naqueles entonces já existiam pessoas que emprestavam, tomavam emprestado e guardavam dinheiro de outros.
Jacques Attali, em Os Judeus, o Mundo e o Dinheiro, escreve que para os judeus, é desejável ser rico, a riqueza é um meio para melhor servir Deus. Qualquer pessoa pode gozar do dinheiro bem ganho. Morrer rico é uma bênção, desde que o dinheiro tenha sido adquirido moralmente e que se tenha cumprido com todos os deveres para com os pobres da comunidade – note-se que esta argumentação é de certa maneira adotada pela chamada “teologia da prosperidade” dos cristãos evangélicos.
Já a Igreja Católica, na Idade Média, quando era dominante na Europa, condenava o empréstimo de dinheiro a juros como pecado. Isso fez com que os judeus, na Idade das Trevas, fossem os únicos a, abertamente, emprestar o dinheiro, assunto tratado por Shakespeare no Mercador de Veneza (nesta cidade surgiu o primeiro banco de depósitos, na Itália, no século XII).
Os cristãos medievais se baseavam em algumas passagens do Novo Testamento. Em Mateus 19,22-24, Jesus diz a um jovem rico: “Se queres ser perfeito, vai, vende teus bens, dá-os aos pobres e terás um tesouro no céu. Depois, vem e segue-me!” Ouvindo estas palavras, o jovem foi embora muito triste, porque possuía muitos bens.  Jesus disse então aos seus discípulos: “Em verdade vos declaro: é difícil para um rico entrar no Reino dos céus! Eu vos repito: é mais fácil um camelo passar pelo fundo de uma agulha do que um rico entrar no Reino de Deus”. Em Lucas 16, 13, Jesus diz “Nenhum servo pode servir a dois senhores: ou há de odiar a um e amar o outro, ou há de aderir a um e desprezar o outro. Não podeis servir a Deus e ao dinheiro”.
Mas o tempo passa, o tempo voa e, durante a II Guerra Mundial, em 1942, o papa Pio XII fundou o Banco do Vaticano, e o resultado tem sido essa sucessão de escândalos, alguns dos quais despontam agora. Como escreveu Bertolt Brecht nA ópera dos três vinténs, “O que é roubar um banco comparado com fundá-lo?”
*Carlos Pompe é jornalista, comunista, annticlerical, editor do Vermelho-DF e da direção do PCdoB do Distrito Federal

sexta-feira, julho 12, 2013

JUCA KFOURI ABRE O VERBO: ATENÇÃO QUE O HOMEM TEM RAZÃO!!!

Juca Kfouri: "Se não houver respostas, manifestações serão maiores em 2014" - por Ciro Barros, Bruno Fonseca, Renato Leite Ribeiro,

Em entrevista, o jornalista Juca Kfouri faz um balanço dos protestos ocorridos na Copa das Confederações e diz que “suntuosidade” de estádios “agrediu as pessoas”

Na chegada, Juca Kfouri já foi tranquilizando a equipe da Pública, dizendo que estava bem, e que o problema de saúde que sofreu no dia da semifinal entre Brasil e Uruguai, em Belo Horizonte, não era nada do que saiu na imprensa. “Fui vítima do sensacionalismo de alguns coleguinhas”, comentou, explicando que ficou pouquíssimo tempo sem trabalhar e que teve o apoio de ninguém menos que Tostão, tricampeão do mundo em 1970, que também é médico.

Workaholic assumido – ele é colunista da Folha de São Paulo, da rádio CBN e do UOL e apresentador e comentarista na ESPN -, Juca nos recebeu numa sexta-feira ensolarada em seu escritório, em Higienópolis, depois de gravar uma entrevista com o filósofo Vladimir Safatle justamente sobre a “Copa das Manifestações”, diz, em referência aos protestos que ocorreram durante a Copa das Confederações.

O papo também foi além do futebol: em mais de uma hora de conversa ele falou sobre manifestações – incluindo a cobertura da imprensa – e sobre a reação dos poderosos do futebol ao que aconteceu nas ruas. E fez sua previsão para a Copa 2014: “Se não houver respostas, [a reação popular] vai ser maior do que foi”.

Como você avalia as manifestações pautadas na Copa do Mundo? Por que no Brasil elas tomaram esta proporção?

Acho que as manifestações vão continuar porque infelizmente estão fechando as primeiras portas mais óbvias para as saídas que deem solução. A mini-constituinte, que era uma ótima ideia, estranhamente a própria presidenta recuou dela. A ideia foi mal recebida pela mídia, mas isso não deve ser motivo para se desistir, ao contrário. Se a mídia está olhando de cara feia é bom insistir nisso. Tem uma solução criativa ali e acho que, na verdade, se mostra um medo brutal das soluções criativas que o povo eventualmente seja capaz de dar. Uma coisa que me chamou muita atenção: conversando com jornalistas estrangeiros, vi que todos eles estavam surpresos, não faziam ideia de que o Brasil fosse capaz disso. Há uma imagem distorcida do que seja o povo brasileiro. A começar pela má compreensão da ideia do homem cordial, que não é o homem cordato que baixa a cabeça para tudo. Não se está levando em conta as manifestações mais recentes da história do Brasil. Em que outro país mais de um milhão de pessoas foram às ruas pedir Diretas Já? Ou fizeram um processo de impeachment de um presidente recém-eleito, como o Collor? Além de todas as nossas revoltas regionais, que caracterizam a história do Brasil. Então acho que nesse sentido a Copa das Confederações, em alguns lugares, foi a gota d’água. A suntuosidade faraônica dos estádios padrão FIFA agrediu as pessoas. Nós não estamos conseguindo dar respostas para transporte coletivo e estamos fazendo um estádio como esse em Brasília? Ou somos capazes de fazer um estádio como o Maracanã, que custa R$ 1,2 bi, e por R$ 480 milhões damos para uma empreiteira e para um mega-empresário pagarem em 30 anos, em módicas prestações, aquilo que foi feito com dinheiro público? Então acho que isso teve um caráter de despertar a indignação. Daí termos como “escola padrão FIFA”, “saúde pública padrão FIFA”, que ainda haverá quem critique dizendo: “pera aí, padrão FIFA não porque ele exclui os pobres”. Mas as reivindicações são de escolas padrão FIFA e acessíveis a todo mundo. Então acho que não há uma razão só [para os protestos], acho que são diversas. Havia um copo cheio de reivindicações “quero que fique melhor, experimentei, sei que é possível”. Foi surpreendente? Foi. Aliás, eu acho gozado que se critique o governo que foi pego de surpresa, mas nenhum analista se autocritica dizendo que ele também não percebeu nada. E havia sinais. Greves que acontecem há anos em tudo quanto é setor nesse país, manifestações desde os evangélicos até aos que defendem o casamento igualitário, todas essas coisas estão nas ruas. Basicamente essas manifestações demonstram que as pessoas querem tudo de bom e do melhor e elas têm o direito de querer tudo do bom e do melhor. Houve uma repressão estúpida aqui em São Paulo naquele dia na avenida Paulista e aí então, aquilo que já estava efervescente, explodiu de vez.

Mas o fato é que no megaevento Copa do Mundo isso nunca tinha acontecido nessa proporção…

Já cobri uns doze megaeventos nessa vida, entre Olimpíadas e Copa do Mundo, e nunca vi nada parecido. A coisa mais chocante que eu já tinha visto foi na Copa de 1982, na Espanha, quando jogaram Polônia e União Soviética e o pessoal do Solidariedade fez uma manifestação nas arquibancadas e a polícia, ainda resquício do franquismo, cobriu os caras de porrada. Jogou bomba e tudo mais. Era um grupo de ativistas poloneses, com faixas e tal, o que a FIFA sempre proibiu. Mas não era o povo espanhol na rua, nada disso. Eu nunca tinha visto nada parecido.

Você tem trânsito nas altas cúpulas do futebol. Como esse pessoal recebeu?

Felizmente não tenho esse trânsito, mas fico sabendo das coisas. Mas escuta, meu, é a primeira vez que uma decisão de uma Copa dessa importância não teve cartola no telão do Maracanã. Porque já na triscada que deu do Blatter com o Marin mandando a camisa para o Mandela, o estádio começou a vaiar. Aí eles não foram nem entregar medalha, nem troféu. Foi lá o ministro do Esporte [Aldo Rebelo], que é uma figura que as pessoas mais ou menos desconhecem. Então isso dá a medida. É claro que [a vaia] é para eles. O que mais me angustia é que você tem claramente uma crise de representação no Brasil. Eu me dei conta disso no aeroporto de Fortaleza indo para Salvador, vendo nos telões o Itamaraty sendo invadido. Pensei duas coisas: primeiro, eu não vou tomar esse avião, não posso ficar duas horas sem notícia; segundo, quem é que pode no Brasil entrar no ar e dizer: “Calma aí gente, nós vamos fazer as coisas, vamos devagar, não precisa quebrar tudo”? Quem? Não tem um político. O Chico Buarque? Caetano Veloso? Dom Paulo Evaristo Arns? O Lula? Fernando Henrique? Quem? Não tinha um cara. E veja que coisa curiosa, de certa maneira com o sinal invertido. Se em 1970 se dizia que a gente não deveria torcer pela seleção brasileira porque isso era reforçar a ditadura, agora, com o povo brasileiro na rua, a seleção foi muito mais bem tratada. No que a seleção começou a jogar bem e a ganhar, isso aconteceu. E não é verdade que as pessoas que estavam no estádio eram alienadas enquanto que só eram conscientes as que estavam na rua. Porque inclusive aquela maneira de cantar o hino era um recado de amor ao Brasil. Aquilo mostrou uma sabedoria que, por incrível que pareça, a nossa intelectualidade e a nossa mídia tem medo.

E por que, se a FIFA saiu com a imagem arranhada da Copa das Confederações, isso não colou na seleção?

Eu vou dizer uma coisa e espero ser bem entendido. A FIFA é o que ela é: uma grande multinacional, que ganha aos tubos, pouco transparente, em processo de tentativa de transformação e de limpeza tal a sujeira que emergiu dali nos últimos anos. No entanto, aquilo que o [Joseph] Blatter [presidente da FIFA] repete quase como um mantra é a pura verdade: a FIFA não pediu para ninguém se candidatar a receber a Copa do Mundo. E aí o que a FIFA exige? É óbvio que a FIFA não exige que a avenida esteja como a gente gostaria, ou que o metrô esteja funcionando plenamente. Ela quer um estádio do cacete, e o governo brasileiro topou isso. Eu cheguei a escrever isso e não tenho nenhum orgulho em poder dizer isso. O Lula teve duas vitórias extraordinárias ao trazer a Copa do Mundo e as Olimpíadas para o Brasil. Eu digo o Lula porque foi o Lula, a cartolagem do futebol ou do Comitê Olímpico Brasileiro sempre foi a mesma, os presidentes é que variaram. O Lula era o único monoglota na reunião do Comitê Olímpico Internacional. Ele falou depois do Obama, em português, e ganhou todo mundo. Então eu escrevi o seguinte: ele trouxe não somente os dois maiores eventos esportivos do mundo para o Brasil, mas os dois maiores eventos do mundo para o Brasil. Mas corre o risco desse tiro sair pela culatra, de serem dois fracassos megalomaníacos como esses eventos. E está acontecendo isso.

Fazendo um paralelo com as Copas de 50 e de 70 que tiveram motivações políticas claras. Na Copa atual também há a motivação política de se vender um novo Brasil?

Se há um discurso que eu repilo veementemente, porque é o discurso do João Havelange, é que futebol e política não se misturam. Todo evento desse porte tem a ver com política. A Espanha pós-Franco se vendeu grandemente na Copa de 82 e mais ainda nas Olimpíadas de Barcelona, em 1992. Foi ali que a Espanha moderna apareceu para o mundo. A Alemanha unificada fez a festa que fez em 2006 para mostrar para o mundo que a Alemanha não era aquela imagem soturna do cinema americano, em preto e branco, em que alemão não sorria. Então no Brasil não teria porque ser diferente. A tentativa de se vender a ideia de que futebol e política não se misturam é a maneira mais política de você transar o futebol. Por que sir Havelange, com esse discurso, convivia com os Videla, com os Médici, com os tiranetes da África, com o que há de pior. Então o cara era um facínora, mas ele dizia que não tinha nada a ver com isso porque ele estava tratando de futebol. Não existe essa dissociação: as conquistas esportivas são apropriadas por qualquer governo em qualquer lugar do mundo. O time americano ganha medalha de ouro nas Olimpíadas e é recebido na Casa Branca. O time de baseball de Cuba volta campeão mundial, é recebido em praça pública pelo Fidel Castro. Mas tem outro bom exemplo. É claro que a ditadura tentou se apropriar da vitória em 1970; não obstante, o Médici não entrou para a história como o presidente que foi tricampeão do mundo. Entrou para a história como o presidente do período de mais tortura no Brasil. Quem entrou para a história como tricampeão do mundo foi o Tostão, o Pelé, o Rivelino, o Gerson. Não subestime a capacidade de compreensão do povo. Não houve desumanidade autoritária maior na recepção de uma Seleção Brasileira campeã mundial como no governo Fernando Henrique. O time vinha da Ásia, depois de 24 horas dentro de um avião, e em vez de o presidente cumprimentar um por um, dar uma medalha e mandar o time para casa descansar, puseram os caras num carro de bombeiros para desfilar sete horas antes de chegar ao Palácio do Planalto. Daí o Vampeta dar cambalhota. É claro, a única coisa que ele poderia fazer era encher a cara no trajeto. Se é um general que faz aquilo, a gente estaria reclamando até hoje. Mas não, foi um governo democrático, de um professor de Ciências Sociais, que teve a insensibilidade de submeter os caras a isso. E passou em brancas nuvens, ninguém achou nada de mais. É absolutamente inevitável que um governo, seja ele de que cor for, se aproprie das vitórias esportivas que estimulem o espírito nacional.
"Acho que as manifestações vão continuar porque infelizmente estão fechando as primeiras portas mais óbvias para as saídas que deem solução"

Mas as manifestações subverteram essa propaganda?

Por um lado podem ter subvertido, diante de uma visão conservadora. Diante de uma concepção mais de vanguarda, não. Elas mostraram a pujança do Brasil. Que país vivo é esse? Ou você não acha que o Brasil vai ser um país melhor depois disso tudo? Junho de 2013 marca um momento na história do Brasil, daqui a 50 anos vai se falar disso. A minha preocupação nesse momento é apenas de ver a nossa elite fechando portas para soluções de baixo, as soluções que vem da rua. Se fizer isso, vai pegar fogo. Porque primeiro: eu adoro aquele cartaz que diz “cidade muda não muda”. Segundo: você não conhece na história da humanidade nenhuma transformação que não tenha sido feita com alguma violência. Há evidentemente uma polarização. Estão aí os evangélicos na rua, dando demonstrações. É natural que haja uma resposta a isso. Nego parece que não se dá conta da gravidade. Porque em pleno fogareiro o presidente da Câmara [Henrique Eduardo Alves, do PMDB-RN] pega um avião da FAB e vai ver a final na Maracanã, não é possível. Não é possível que ele não tenha cuidado com o próprio pescoço.

E as manifestações já tomam, em alguns casos, um viés de personalizar as críticas. Como os acampados na frente da casa do governador do Rio…

É isso. Por que na casa do Sérgio Cabral e não na do Alckmin, ou do Aécio, ou do Anastasia? Porque o caso da privatização do Maracanã foi mais gritante do que os outros. Porque quiseram demolir o estádio de atletismo Célio de Barros, a escola Friedenreich, o Museu do Índio, e a Copa das Confederações mostrou que não precisa. Eu fui de metrô para o jogo, numa boa. Saí de Copacabana às 5 horas, e em 20 minutos estava dentro do Maracanã. Então ficou muito gritante. Nego está dizendo para ele: “Você não me engana mais e eu vou ficar aqui na frente da sua casa te incomodando”. Agora, você vê como são as coisas engraçadas. Todos nós somos a favor do direito de ir e vir, inquestionável. Todos nós preferimos que não haja excessos, nem quebra-quebra. Mas uma semana antes de começarem as manifestações de rua, os produtores rurais fecharam estradas no interior do Brasil e não aconteceu nada. Ninguém falou do direito de ir e vir. Não mandaram a PM. Aliás é outra questão que está posta em cheque, enfim: precisa acabar essa merda. Isto aí é fruto da ditadura. Polícia militar é para policiar região fronteiriça, região em que haja conflagração, é uma polícia que trata oponente como inimigo para aniquilá-lo. Não é para por em meio à segurança pública. É sabido isso. Não são poucos os pedidos da ONU para acabar com a PM no Brasil.

E depois do que aconteceu na Maré, no Rio de Janeiro, essa questão está ainda mais colocada…

Sim. Porque é isso: eles vão para a guerra. A postura deles não é outra, a postura é de guerra. Você é inimigo para eles. Quem vai a campo de futebol sabe disso. Quer dizer, para organizar uma fila para compra de ingresso eles jogam o cavalo em cima da torcida. Aí você fala: “Ah, mas o torcedor é violento”. Mas como é que você acha que o cara vai entrar em campo? Uma faísca já vai pegar fogo. Eu sempre digo isso: trate o torcedor feito gado e ele vai se comportar feito um animal.

O David Luiz, o Hulk e o Fred se posicionaram claramente a favor das manifestações de rua. Você acha que há realmente uma empatia da seleção com isso ou foi mais um jogo de cena?

Qual é a origem desses caras? Todos têm origem popular, convivem ou conviveram com essas dificuldades. Todos eles se ressentem das dificuldades que passaram na profissão pelas dificuldades educacionais a que foram submetidos. Não era para esses caras terem chegado nos lugares onde chegaram pelo menos sabendo falar inglês? Como um menino japonês, francês ou americano? Eles suam para aprender outra língua porque têm esses problemas de formação. E eu acho que a resposta deles não é a toa. Quantos jogos o Brasil fez gol em menos de cinco minutos de jogo? Aquela maneira de cantar o hino era a melhor resposta às ruas que eles poderiam dar.

Na coletiva de balanço da Copa das Confederações, o Ronaldo declarou apoio às manifestações como se ele e as pessoas que estavam ao lado dele não fossem alvos nas manifestações contra a Copa. O que você achou?

Ronaldo é um desastre. De duas uma: ou ele se faz de bobo, ou ele é realmente uma pessoa muito limitada. E eu acho que limitado ele não é; e não entender todos os conflitos de interesse que hoje ele representa ao comentar futebol na TV Globo, é absolutamente incompreensível. Ele me ligou um dia, dizendo que eu estava enganado ao dizer isso. E eu respondi: “Mas Ronaldo, você vai criticar o Neymar [agenciado pela Nine, empresa de Ronaldo] que você representa? Você vai falar que o estádio está uma porcaria quando você é membro do COL?”. E ele: “Ah, eu vou, porque na minha vida eu sempre falei as coisas…” E eu: “Você não vai.” E de fato ele não está falando. Ele é capaz de cometer infelicidades como a frase de que Copa do Mundo se faz com estádios e não com hospitais. Bom, muito bem. Agora arque com isso. Ele disse uma coisa que eu concordo: que se não se tivesse colocado essa dinheirama toda nos estádios, não está dito que esse dinheiro seria melhor empregado em outras áreas. É verdade. Mas há certas coisas que um homem público guarda para si, principalmente num contexto como esse. Ele não pode dizer isso que porque está dizendo que não está preocupado com os hospitais. E aí não tem nuance. É preto e branco. Ele é de uma infelicidade a toda prova. A exemplo do Pelé, ele é mais um que, como se diz, calado é um poeta.. Veja que coisa maluca: esse cara que nada parecia pegar nele, que conseguiu sobreviver num país conservador e preconceituoso como o Brasil ao episódio dos travestis, se ferrou no discurso social. Tá ferrado. Não pode aparecer, ficou recluso no hotel em Salvador. Não é que ele não poderia sair porque iam pedir autógrafo para ele, ele corria o risco de apanhar.

E você acha que a experiência brasileira pode criar uma cultura de resistência à FIFA em eventos futuros fora do Brasil?

Eu acho que sim. Acho que a FIFA não vai conseguir desfazer essa imagem por injusta que ela possa ser. Pegou na FIFA porque é fácil. E ela vai padecer com isso. Eu vi tirarem a bandeira da FIFA da frente do hotel Copacabana Palace, tal o medo que eles estavam. As viaturas FIFA desapareceram porque eram apedrejadas. Agora: não foi à toa que a última Copa do Mundo foi na África do Sul, em seguida no Brasil, a próxima vai ser na Rússia e em seguida no Catar. Esses países foram escolhidos a dedo. O que tinha de comum nesses países todos? Pouco controle social. O Brasil surpreendeu, mas é improvável que aconteça na Rússia. Improvável, mas pode acontecer. Também ninguém diria a um tempo atrás que aconteceria no Egito o que está acontecendo. Mas esta má imagem não vai se limitar ao Brasil.

E como você avalia a cobertura da imprensa da Copa das Confederações e das Manifestações?

A TV aberta é um horror. É a coisa mais acrítica possível. E está pagando o preço por isso. Não sei até quando. Por exemplo, eu acho que a cobertura exagerada dos vândalos vai ter um preço porque não é possível que isso prevaleça. Porque o comportamento pacífico de milhões de pessoas é muito mais chamativo do que os eventuais quebras-quebras feitos pela minoria. Não adianta tentar se apropriar da vitória esportiva como sendo da televisão, porque não é. É do Neymar, do Fred… E a Globo tenta se apropriar, sem dúvida. Mas você vê. O pobre do Galvão Bueno não pode aparecer porque é vaiado, xingado. Porque é o estereótipo. Quando você compra um evento esportivo, você não se torna sócio do cara que te vendeu o evento esportivo e o comportamento da TV Globo é de sócio. As grandes redes americanas de TV resolveram isso há anos: elas têm um departamento de eventos e um departamento de jornalismo. É claro que o departamento de evento doura a pílula do seu evento. Outra coisa é o Jornal Nacional de cada uma dessas redes dizer que o hambúrguer estava frio, que a cerveja estava quente, que faltou ingresso, que o trânsito não fluiu bem, que o jogo foi ruim. Ou não. Que foi tudo bom, que tudo funcionou. A Globo não tem esse balanço. Eu criei até um jargão para isso. A confusão entre jornalismo e entretenimento na TV Globo chegou a tal ponto que a Globo “leifertizou” [referência ao apresentador e editor do programa Globoesporte de São Paulo, Tiago Leifert] a sua cobertura esportiva. E eu não tenho nada contra o menino, é um excelente comunicador. Mas eles apalhaçaram a cobertura. E para quê? Para não mostrar aquilo que está por baixo dessa bandidagem. Não me venha dizer que se surpreenderam com o Ricardo Teixeira fugindo do Brasil. Não me venha dizer amanhã que se surpreenderam com o José Maria Marin. Está dito inclusive na rádio CBN, onde eu trabalho: a apropriação de um terreno público, a questão da ditadura, do Vladimir Herzog, do elogio ao Fleury, da medalha que ele roubou e a própria TV Globo mostrou. Como é que a Globo pode tratar esse cara como se fosse uma pessoa séria?

Em abril do ano que vem tem eleições para a presidência da CBF e tudo indica que o novo presidente será Marco Polo Del Nero, presidente da Federação Paulista de Futebol e muito ligado ao Marin. Você acha que as manifestações podem injetar um pouco mais de turbulência nesse processo eleitoral?

Tomara que sim. É um desejo mais do que qualquer coisa. Mas acho que a última coisa que vai mudar no Brasil é a superestrutura do futebol. Porque ela é extremamente corruptora, corrompida, e mais do que conservadora, ela é reacionária. Ela é contra qualquer tipo de mudança. Eu acho que o negócio futebol é bom demais para continuar na mão dessa gente, uma hora começa a mudar. E eles estão assustados. Lembre-se da primeira reação do Marco Polo Del Nero que disse que milhões estavam trabalhando enquanto outros poucos estavam nas ruas. No dia seguinte ele já estava que nem avestruz colocando a cabeça embaixo da terra porque não podia aparecer.

E as eleições da FIFA, qual é o cenário?

O Blatter vai ser candidatíssimo de novo e vai se reeleger. Você verá.

E as manifestações bateram de que maneira na alta cúpula da FIFA?

Eles ficaram muito assustados, tiveram medo de gente deles morrer, pensaram em suspender a Copa das Confederações. Em Salvador, eles tiveram funcionários agredidos, carros depredados. O Blatter foi embora. Ele tinha um almoço marcado aquele dia com o Eduardo Campos [governador de Pernambuco] e com o prefeito do Recife e se mandou para a Turquia, pô, que estava pegando fogo, mas ele preferiu a Turquia do que ficar aqui. Aí quando o governo deu a resposta que eles esperavam, com Força Nacional nas ruas e tudo mais, ele veio. Veio e não foi anunciado nem no Mineirão e nem no Maracanã. Passou quase incógnito.

E como você avaliou a cobertura das redes sociais e dos veículos não tradicionais das mesmas manifestações?

Eu gosto muito do cartaz que diz “Saímos do Facebook”. Porque fazer manifestação em rede social é fácil, queria ver na rua, to vendo, ótimo. Essa molecada na rua está fazendo coisas que a minha geração não conseguiu fazer. Nós fizemos passeata, fizemos o diabo a quatro para derrubar a ditadura e não foi por aí que a ditadura caiu. Mas essa manifestação e a desregulamentada que se deu no Brasil esses dias é um negócio seríssimo. E aí eu pergunto: é essa a tal geração que só é voltada para o próprio umbigo, que todo mundo me dizia que só pensava na própria carreira, que era despolitizada? Eu fui dando toda a agenda de todas as manifestações e vou até te contar um episódio divertido. O Brasil estreava num sábado, contra o Japão, em Brasília. Eu precisava pegar o meu ingresso um dia antes, no centro de imprensa, na frente do estádio. O meu hotel estava a uns 40 minutos dali e resolvi ir a pé. Aí eu começo a minha caminhada naquelas avenidas de Brasília e de repente começo a ver aquela fumaça preta. Aí eu pergunto para alguém na rua o que estava acontecendo e me dizem que o pessoal estava queimando uns pneus, que estava tendo uma manifestação aí. Aí eu digo: “É claro, estava prevista para sexta, dez horas da manhã, na frente do Mané Garrincha uma manifestação”. E eu tinha até posto no blog. Quando cheguei lá, os manifestantes me reconheceram e disseram: “Que legal, você veio aqui e tal…” E eu: “É, é, vim”. Vim o cacete, tava de calção e o escambau, nem tinha me lembrado. Aí de tarde eu vejo o secretário de segurança do DF dizendo que foi pego de surpresa e um cara da ABIN dizendo que o secretário de segurança estava mentindo porque a ABIN tinha alertado que havia uma possibilidade de manifestação naquela manhã. Aí eu dei uma nota dizendo que estavam mentindo ambos, ou despreparados ambos, porque bastava olhar a agenda que está até publicada no meu blog que havia um ato marcado, não era possibilidade. Era inadmissível que o secretário de segurança não soubesse e que a ABIN tratasse como possibilidade. Essas coisas que eu digo que eram óbvias que iriam acontecer. Ainda mais num governo dito popular, com a violência das remoções se dando como se deu, você achar que não ia ter nego queimando pneu, puto. Eu tive uma discussão com o Aldo, ele ficou puto porque eu disse que isso era coisa do nazi-fascismo, mas eu falei: “Aldo é o seguinte: marcar uma casa e passar no dia seguinte com uma máquina em cima da casa, tá bom, não é o gueto de Varsóvia porque não está se pegando ninguém e colocando na câmara de gás, mas, porra, você quer que eu chame isso do quê?”

Fonte: Brasil de Fato, 11/07/2013