quarta-feira, julho 24, 2013

DICA DE LUIZ MANFREDINI PARA A LEITURA DO GENIAL XARA FERNANDO VERISSIMO!!

Luiz Manfredini compartilhou a foto de Rafael Patto. no Facebook
Boa a introdução e melhor ainda o texto do grande Luís Fernando Veríssimo.
Luis Fernando Veríssimo adverte: conversão à direita é prejudicial à juventude.

Eu espero jamais perder a minha juventude, o meu esquerdismo. Morro de medo de ...me tornar uma caricatura da bestialidade como são hoje alguns ex-esquerdistas como o Marcelo Madureira e o seu xará Marcelo Tas, ou então aquele Caetano Veloso, bobo da corte.

Morro de medo também de envelhecer como um boçal reacionário e preconceituoso, como aquele tal de Ferreira Gullar ou o João Ubaldo Ribeiro.

É tão mais bonito chegar à velhice com a dignidade e a coerência de um Luis Fernando Veríssimo...

CONVERSÕES, por Luis Fernando Veríssimo

Ninguém é mais direitista do que um ex-esquerdista. Talvez porque a desilusão com as promessas nunca realizadas da esquerda se misture com a necessidade do novo direitista de exorcizar seu passado, de se autopunir pela sua ingenuidade.

Para repudiar o que era, o ex-esquerdista precisa arrasar o que era. Como está também arrasando o seu passado, a sua juventude e o tempo que perdeu acreditando em coisas como igualdade, solidariedade e a redenção da humanidade, não admira que sua crítica à esquerda seja tão ácida. Está lamentando a si mesmo, o que só aumenta sua raiva.

O adágio, tão repetido, segundo o qual quem não é de esquerda até uma certa idade não tem coração e quem não é de direita depois não tem cérebro, equipara a migração da esquerda para a direita como uma conquista da sabedoria.

Idealismo, crença em justiça social etc. seriam coisas que iríamos largando pelo caminho rumo à maturidade, junto com outras baboseiras juvenis. Não se tem notícia de uma migração ao contrário, de direitistas que voltam a ser esquerdistas, até como uma forma de recuperar a juventude.

E esquerdistas que continuam esquerdistas apesar de já terem idade para se darem conta do engano são alvos prioritários do escárnio dos convertidos. Ainda têm coração, os inocentes.

Os neoconservadores que levaram a política externa americana a sucessivos desastres nos últimos anos têm este nome porque muitos deles foram trotskistas na juventude. Abandonaram o internacionalismo trotskista e inauguraram o ultranacionalismo do “século americano”, e continuam influentes, mesmo sob o governo do Obama.

Os ex-trotskistas odeiam o que foram um dia, e seu conservadorismo ativo é uma forma de expiação. Caso notório de conversão foi a do escritor John dos Passos, ex-comunista e autor de alguns livros memoráveis de crítica social, que acabou seus dias quase como uma caricatura de direitista americano, com bandeira na frente da casa e tudo.

Para quem ainda se considera de esquerda, apesar das desilusões e de um coração combalido, o rancor dos convertidos tem seu lado positivo. Mostra que a esquerda ainda existe, logo chateia. Ou chateia, logo existe.

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