quarta-feira, março 23, 2011

Os "heróis" de Benghazi e as omissões e mentiras da grande midia!!


Bombardeio americano na Libia atinge civis!!

Por CHICO VILLELA
da redação da "Novae"


Thomas C. Mountain é ativista pela paz e editor. Em 1987 foi membro da I Delegação de Paz enviada pelos EUA à Líbia. Boa parte de sua vida foi passada na região, em missões na Eritréia, Somália etc. Há cerca de 25 anos acompanha os acontecimentos líbios e da região. Assim, Mountain coloca na mesa questões que aclaram muito além da falsificação da mídia grande que, agora, clama ser Gaddafi um ditador sanguinário e os resistentes, heróis no combate pela liberdade. Nem Gaddafi sempre foi execrável, nem os resistentes são anjos do bem.

Um ano antes, em abril de 1986, os EUA haviam bombardeado o complexo residencial de Gaddafi em Tripoli, ferido familiares e matado sua filha adotiva de 15 anos. Haviam bombardeado também um complexo residencial civil afastado de qualquer base militar, matando muitos moradores, a maioria crianças. Mountain cita que domingo dia 20 de março passado assistiu na TV a uma família líbia enterrando sua filha de três anos, morta pelos ataques dos EUA iniciados no sábado.

O coronel Muammar al-Gaddafi subiu ao poder na liderança partilhada com outros de um golpe que depôs o rei Idris, único da história líbia, que reinou de 1951 a 1969. Idris pouco antes havia passado o poder ao filho, por razão de doença. Aliado do Ocidente na Segunda Guerra, colocou os poços de petróleo à disposição do Reino Unido e dos EUA, país que também mantinha uma base aérea próximo a Trípoli, sem compensações vantajosas ao país, o que acirrava os ânimos dos nacionalistas. Sua capital era Benghazi, maior cidade da Cirenaica, região em que reinava; a Líbia atual abrange mais duas regiões.

O golpe de Gaddafi expulsou as petroleiras britânicas e outras do país e nacionalizou o petróleo. De família tradicional, Gaddafi à época posava como um entre os vários nacionalistas que haviam se espelhado no coronel egípcio Gamal Abdel Nasser, criador e inspirador do pan-arabismo. Apoiou movimentos e grupos contrários a monarquias e à presença ocidental. Radical islâmico, implantou medidas como fechamento de bordéis e proibição de jogos e bebidas alcoólicas.

Gaddafi, a par de seu apoio a grupos extremistas nacionais e do exterior, como os Black Panthers dos EUA, e de seu ódio a Israel, foi responsável por muitos avanços sociais no país. Em nome do ‘socialismo árabe’, posteriormente transformado em doutrina própria, colocou as rendas do petróleo a serviço da população, promoveu as mulheres, expandiu o sistema educacional e implantou sistema de saúde considerado dos melhores entre os países árabes. Isso explica o grande apoio que ainda tem no país.

Hoje a Líbia é um dos países em desenvolvimento mais bem classificados. No ranking do IDH, situa-se na posição 53, o que a coloca na primeira posição entre os países africanos e acima de Rússia (65), Brasil (73) e Tunísia (81). A expectativa de vida cresceu incríveis 20 anos durante o longo regime de Gaddafi.

Por ocasião da invasão do Iraque, Gaddafi guinou para o lado do Ocidente e reaproximou-se dos EUA, e abandonou seu apoio a terroristas e suas pretensões nucleares. Passou, assim, a ser tolerado, mas nunca foi considerado verdadeiro aliado dos EUA e seus parceiros, embora tenha aberto as portas do país para dezenas de corporações estrangeiras. E, como é natural em quem exerce o poder por longo tempo, aos poucos aprofundou suas arbitrariedades de ditador e exerceu forte repressão contra seus próprios dissidentes, tendo sofrido golpes e sido ferido numa tentativa de assassinato.

Mas, para Mountain, apenas isso não é suficiente para explicar a resistência dos atuais dissidentes, principalmente os mais celebrados, de Benghazi, onde se iniciou a revolta. Mountain anota que nenhuma mídia grande do mundo toca num espinhoso assunto: Benghazi , por ser um ponto do continente africano próximo da Europa, tornou-se de uns quinze anos para cá o “epicentro da migração africana para a Europa”, da ordem de cerca de 1 mil por dia.

Mountain: “A indústria de tráfico humano, um dos mais selvagens e desumanos negócios do planeta, cresceu para cerca de 1 bilhão de dólares anuais em Benghazi. Uma grande, viscosa máfia do submundo deitou fundas raízes em Benghazi, emprega milhares em várias atividades e corrompe a polícia e líbia e funcionários do governo. Foi apenas no ano passado que o governo líbio, com apoio da Itália [destino de boa parte dos migrantes], finalmente adquiriu controle desse câncer.

“Com seu meio de vida destruído e muitos dos seus líderes na prisão, a máfia do tráfico humano tem estado à frente em financiar e apoiar a rebelião líbia. Muitas das gangues de tráfico e outros elementos lumpen de Benghazi são conhecidos por pogroms racistas contra trabalhadores africanos de fora, enquanto na década passada eles regularmente roubavam e assassinavam africanos em Benghazi e seus arredores. Desde que a rebelião estourou em Benghazi, algumas centenas de trabalhadores sudaneses, somalis, etíopes e eritreus têm sido roubados e assassinados pelas milícias racistas rebeldes, fato bem omitido pela mídia internacional.

“Benghazi tem sido também um bem conhecido centro de extremismo religioso. Fanáticos líbios que passaram algum tempo no Afeganistão concentram-se lá e um certo número de células terroristas tem realizado bombardeios e assassinatos de funcionários governamentais nas últimas duas décadas. Uma célula, auto-intitulada Grupo Islâmico Guerreiro, declarou-se afiliado à Al Qaeda em 2007. Essas células foram as primeiras a empunhar armas contra o governo líbio”.

Outro problema apontado por Mountain é que os jovens educados nas escolas líbias recusam trabalhos considerados ‘sujos’, exatamente como os cidadãos dos EUA, que empregam nesses gêneros de trabalho os ‘chicanos’ latino-americanos. Assim, o desemprego é mais grave ainda entre a juventude líbia, e os trabalhadores desqualificados de outros países africanos enfrentam oposição. Exatamente como os imigrantes latino-americanos são vistos por grupos de direita dos EUA como o Tea Party. O ócio forçado leva muitos jovens líbios para álcool e drogas.

A primeira medida dos rebeldes de Benghazi foi invadir as prisões de segurança máxima e libertar seus chefes, e assim passou-se a atacar contingentes e órgãos do governo. À parte Mountain, deve-se ter em mente que no Kosovo os EUA e a OTAN colocaram no poder os chefes da máfia e do tráfico regional, e que Thacim, o homem no poder, é hoje acusado por corte da União Européia até mesmo de assassinar prisioneiros e adversários para traficar órgãos humanos.

O apoio de grande parte da população líbia ao ditador Gaddafi levou os EUA e alguns membros sempre fiéis da OTAN a atacar Gaddafi para evitar a derrota dos opositores baseados em Benghazi. À mídia grande coube o eterno papel de justificar as ações do império e ridicularizar o governante líbio de todas as formas. Inda mais que Gaddafi manda em boa parte do petróleo consumido pela Europa, o que o torna insuportável, pela sua independência, aos olhos dos governantes e das corporações de negócios.

As alegações são sempre as mesmas falsidades. Na hora líbia, o pretexto é “evitar a morte de civis nas mãos de Gaddafi”. Para tanto, acionam-se mísseis e aviões com bombas superpoderosas, que matam civis sem conta, omitidos convenientemente pela mídia grande. Assim, a única intervenção armada das forças ocidentais dá-se contra um governo que, entre as mais de dez odiosas ditaduras árabes, sempre foi o único que se opôs aos desígnios do império. Com o coro subserviente da mídia grande. É de dar asco, por mais repelente que seja Muammar al-Gaddafi.

Mountain, como muitos outros analistas, perguntam-se sobre os desdobramentos da questão. As revoltas legítimas que ocorrem nas ditaduras apoiadas pelos EUA e aliados ainda estão em seu início. O massacre da Líbia pode incendiar ainda mais os ânimos dos revoltosos em todos os países, que se opõem às elites que, como no Egito e na Tunísia, tentam perpetuar-se com outros agentes, inclusive militares. É uma aposta arriscada, esta do malabarista BHObama. Pode ir contra as intenções do império.

Lembrar Marighella para renovar forças e aprender com sua luta!





Marighella - Uma vida revolucionária

Por que ser Marighellista?, por Ricardo Gebrim* para "Reviata Sem Terra Nº 54"


Carlos Marighella combinou os diversos talentos como quadro organizador, propagandista e agitador. Foi um dirigente partidário, um comandante guerrilheiro, um teórico e dono de uma coerência capaz de assumir todas as consequências de seus atos. Como bom militante, seus textos foram elaborados para enfrentar problemas e desafios concretos que se colocavam para a luta popular. Como revolucionário dedicou-se em cada tarefa que a revolução apresentou: tribuno parlamentar na Assembleia Constituinte; agitador em comícios e assembleias, redator de panfletos e artigos, editor, organizador sindical, formador de quadros, guerrilheiro e teórico militar.

Enfrentou a tortura, supremo tormento que aflige todo o militante, e escreveu “Se fores preso camarada!”, orientando como se deve comportar ante o inimigo. Baleado pela ditadura, soube converter a tragédia numa ação de agitação e propaganda desmascarando o regime. Colocado ante o desafio das armas escreveu um texto que até hoje é estudado por academias militarespelo mundo. Caçado como “inimigo público número um da ditadura militar”, com a foto estampada em cartazes e revistas por todo o país, vivenciou todas as técnicas da clandestinidade, a privação do convívio com o filho e a família até a emboscada dos que se
iludiram que podiam eliminá-lo.

Herói revolucionário

Como se vê, são muitos os resgatespossíveis de Marighella para os atuais lutadores populares e para os do futuro. Quase impossível não se perder ante tantas possibilidades. Comecemos pelo resgate mais forte. Carlos Marighella é um herói. A força do herói é à força da coerência.

Assumir as consequências, por maiores que surjam, para defender o direito à verdade. O mito do herói tem um poder de sedução dramática flagrante e, apesar de menos aparente, uma importância psicológica profunda para qualquer grupo humano.

Em cada circunstancia histórica a imagem reconstruída do herói toma formas particulares que correspondem às necessidades do individuo ou grupo humano enfrentadas num dado momento.

Este resgate tem sido um elemento fundamental na estratégia revolucionária dos povos.
Marx diria de outra forma, com seu estilo inigualável: “Os homens fazem a sua própria história, mas não a fazem segundo a sua livre vontade, em circunstâncias escolhidas por eles próprios, mas nas circunstâncias imediatamente encontradas, dadas e transmitidas pelo passado. A tradição de todas as gerações mortas pesa sobre os cérebros dos vivos como um pesadelo. E mesmo quando estes parecem ocupados a revolucionar-se, a si e às coisas, mesmo a criar algo de ainda não existente, é precisamente nessas épocas de crises revolucionárias que esconjuram temerosamente em seu auxílio os espíritos do passado, tomam emprestados os seus nomes, as suas palavras de ordem de combate, a sua roupagem, para, com esse disfarce da velhice venerável e essa linguagem emprestada, representar a nova cena da história universal” .

Essa "ideia-força" tem suscitado muitas reflexões. Martí, o autor intelectual da Revolução Cubana, Sandino, o General dos Homens Livres renascido na Revolução Sandinista, Zapata empunhado como bandeira no levante das selvas mexicanas que estragou a festa comemorativa do início do Nafta, Bolívar cuja espada foi ousadamente resgatada numa ação guerrilheira e depois devolvida, renascendo no processo revolucionário venezuelano e na construção da Alternativa Bolivariana para as Américas (Alba).

Em cada um destes processos, quando parecíamos ocupados em revolucionar-se, a si e às coisas, mesmo a criar algo de ainda não existente, tomamos emprestados as roupagens, nomes e palavras de ordem de combate dos espíritos do passado. Nestes casos, os novos revolucionários apenas tomaram emprestado as “roupagens, nomes e palavras de ordem”?

Não é tão simples quanto pode aparentar uma primeira reflexão. José Marti foi mesmo o autor intelectual da Revolução Cubana como revela Fidel Castro em seu Relatório ao 1º Congresso do Partido Comunista de Cuba e a construção da luta guerrilheira de Augusto César Sandino foi muito mais que uma inspiração para os jovens construtores da Frente Sandinista de Libertação Nacional como explicou Carlos Fonseca. Zapata confere uma necessária unidade na luta do povo mexicano enquanto projeto revolucionário. Tampouco é casual que o processo revolucionário venezuelano tenha como principal dirigente um militar que passou anos ministrando aulas aos cadetes sobre o pensamento de Bolívar.

Em nenhum destes casos os novos revolucionários tiveram que falsificar uma história. Muito menos a utilizaram como simples máscara encobrindo o que já pretendiam fazer. Em todos,recolheram ensinamentos que lhes permitiram enfrentar os problemas do presente e conferir um sentido como a continuidade do passado. Estes ensinamentos existiam e contribuíram deforma decisiva para o enfrentamento de desafios políticos e militares surgidos em circunstancias bem distintas da época em que foram formulados.

O elemento comum nestes casos é que o resgate dos ensinamentos não se limitou a buscar obter respostas diretas para perguntas que jamais poderiam ter se colocado no passado, mas tiveram a inventividade de obter respostas indiretas nos elementos essenciais que caracterizavam as idéias. Os novos sandinistas estudaram o pensamento de Sandino, suas táticas, organização e erros. Apropriaram-se dos valores éticos e dos conceitos políticos.

Extraíram inúmeros ensinamentos que permitiram enfrentar problemas do presente, mas, simultaneamente, a luta revolucionária os obrigou a reinventar o sandinismo, muito vezes conferindo-lhe novos significados.

Inspiração na luta

Importa é que sem mesmo entender os motivos, intuímos que necessitamos do exemplo de nossos heróis. Invocálos em nossa mística para que possamos nos sentir sua continuidade,tomar emprestados os seus nomes, as suas palavras de ordem de combate, a sua roupagem.

Uma resposta simples é que talvez nos ajudem a enfrentar o fantasma da inevitabilidade da morte e este seja o verdadeiro sentido de perceber-se um elo de sua continuidade. Seria tão somente nossa maneira simbólica de sermos eternos. Contudo, vimos que não são apenas roupagens e nomes. Em cada episódio revolucionário os heróis resgatados contribuíram com a força de suas idéias, quase sempre traduzindo o caminho para o problema central a ser enfrentado pelos novos revolucionários. Não pela mera repetição de seus atos e propostas, mas pela reinvenção que possibilitaram.

Cada geração copia e reproduz sua predecessora até onde seja possível. Mas suas construções, ainda que se defrontando com novos desafios, mesmo implicando na transformação fundamental do próprio passado, continuam necessitando reproduzi-lo, mesmo quando o intuito central é transformá-lo. Aqui é preciso estabelecer o vínculo com o atual momento e os desafios colocados para os lutadores do povo. Enunciemos a questão: mais do que antes precisamos nos fortificar. Enfrentar os anos da ofensiva neoliberal nos debilitaram profundamente. Enfrentamos o desafio de reconstruir o horizonte e a força social da revolução a partir das poucas e valiosas energias que sobreviveram e suportaram a maior crise ideológica da história da luta pelo socialismo.

A década de 90, marcada pela resistência, consumiu muitas energias para sobreviver ideologicamente. Neste momento, olhamos para o futuro e apontamos um novo período histórico se abrindo. Nossa construção, pacientemente edificada nos últimos anos, precisa reconhecer-se, reencontrar sua identidade e, principalmente a energia resultante deste encontro. Eis porque é fundamental resgatar a contribuição teórica, a coerência e o exemplo persistente de Carlos Marighella.

No debate sobre o caráter da revolução, das alianças estratégicas, da definição do centro da tática, dos conceitos organizativos de um instrumento político revolucionário, encontraremos contribuições teóricas extremamente atuais. O legado de Marighella a ser resgatado e reinventado hoje é a capacidade de concentrar-se na conquista do poder, enfrentando as impossibilidades, por maiores que se coloquem, sem desviar um milímetro deste objetivo.

Os que persistem no objetivo da construção do Projeto Popular, enfrentando uma conjuntura prolongadamente adversa, apostando na construção organizativa por meio do exemplo pedagógico, já são marighellistas, ainda que não tenham esta consciência. Resgatar Carlos Marighella é parte da paciente e complexa construção da revolução brasileira. Percorrendo esse caminho encontraremos conceitos e exemplos que tem muito a nos ensinar.

*Advogado e militante da Consulta Popular

fonte : http://www.mst.org.br

domingo, março 13, 2011

Encontros e desencontros nas noites paulistanas. E nos dias também!!!






MEMÓRIAS PAULISTANAS 2

Naqueles agitados , tensos e criativos anos chamados de 60, mas que foram até meados de 70 em pleno “Anos de Chumbo”, de fúrias e carnificinas da Ditadura Militar, nós jovens(na época) inquietos e inimigos jurados do Fascismo, também vivíamos intensamente. Liamos muito, de filosofia a romances, fazíamos musica e cantávamos a sede de liberdade, as agruras do povo. Faziamos também filmes e peças de Teatro expressando nosso amor ao povo e as pessoas queridas.

E a gente namorava muito também. Desde as colegas de Faculdade, de trabalho e até gente de Teatro e havia as amigas e simpatizantes de nossa causa maior, como a Kathe Hansen, Sonia Piccinin, Beth Mendes(que chegou a ser presa e torturada por pertencer a base de apoio da ALN), o pessoal do Arena e do Teatro Oficina do José Celso e outras que até entraram na luta por amor ou ideologia.

De Penápolis a Sampa

Para mim as coisas começaram em Penápolis, onde fizemos teatro, cineclubes, discutíamos musica ,cinema e literatura e filosofia, principalmente na casa de “seu” Manoel Lacava e nossa musa e protetora Dona Amélia, que tinha sido também a professora da maioria de nós no grupo escolar e era mãe de dois de nossos companheiros de toda hora, o Celso-Capim que já virou borboleta e Cilô que ainda esta em Sampa repartindo sua vida e cultura e dando aulas.

Por ali também começamos na politica de resistência. Depois nossa turma original debandou para fazer a vida. Alguns para Brasilia e a maioria para São Paulo, onde a efervescência politica e cultural era maior.

Eu e meus queridos amigos e camaradas de luta e vivencia, transitávamos naquela São Paulo desvairada e que ainda garoava em vez de inundar, pelo velho centro. Pelo quadrilátero que ia da Avenida São João, até a Paulista. Da Brigadeiro até a Consolação. Mas também na velha “Boca do Lixo” onde ficavam as produtoras de Cinema “sérios” e pornochanchadas e o velho restaurante “Soberano”.Fora o "Bar Riviera",em frente ao Cine Belas Artes, onde tomavamos umas também, as vezes cercados de agentes da Ditadura disfarçados.

Ali discutíamos o Mundo e filmávamos o que era possível. Carlão Riechenbah, Oszualdo Candeias, Rogerio Sganzerla, Luiz Rozemberg Filho que vivia no Rio, mas sempre ia a Sampa discutir idéias e as vezes buscar financiamento para seus filmes, Walter Hugo Khoury, talvez o mais profissional dos cineastas paulistas, Silvio de Abreu, Jairo Ferreira, Andrea Tonaci, Afonso Brazza(que depois veio para Brasilia fazer filmes e ser Bombeiro. José Mojica Marins, o famoso “Zé do Caixão” . Dos escritorios e “sets” de filmagens íamos pro Soberano almoçar filé a parmegiana e de noite íamos pro “Ponto 4”, “Bar das Putas” na Consolação e até o Gigetto ver os atores famosos da época.

Uisque sem guaraná

Saia eu dos Diários Associados onde era repórter e depois editor já tarde da noite e com o Zézão, José Eduardo Faro Freire, Rubens Gatto, Lia Ribeiro Dias, Maria Luiza Araujo, Beth Lorenzote, João "da Baiana" Teixeira,Clóves Geraldo e outros companheiros íamos articular politica e conversar sobre cultura brasileira no “Pari Bar” da Praça Dom José Gaspar. Depois debandávamos para tomar as ultimas da noite lá pras bandas de Pinheiros, Lapa e Paulista, onde outras turmas se encontravam para tomar umas no fim de noite. A ultima refeição era quase sempre no “Tabu” da boca do lixo, que tinha um filé de primeira e baratinho, a altura de nossos bolsos.

E ainda tínhamos os nossos saraus de poesia e literatura no velho apartamento do Doutor Mozart Menezes, fundador da “Cacimba”, na rua Timbiras, em plena “boca do lixo” onde ia de Celso Lungaretti a Rubens Alvesl ,o poetaço Souza Lopes e sua doce Marcia, Francisco Ugarte e outros viciados em “letras”, politica e boa musica.

Musicas e fim de noite

Ai saimos para ver os músicos da noite que agitavam boates e barzinhos da noite paulistana. João da Baiana Teixeira, Jésus Carlos, o fotografo, o meu querido Alemão-Antonio Eduardo Molina Mandel quando não estava preso. Até o Moa-Moacyr de Oliveira Filho que adorava um samba e outros amigos queridos pintavam sempre na área. Para quem gostava de samba e dançar, tinha o “Som de Cristal, alí pertinho na Rego Freitas e o “Avenida Dançing”, na Rio Branco, quase esquina da São Joao, onde ao lado jogavamos sinuca de vez em quando, depois que os “cobras” do snooker iam descansar.

No bar “Redondo” em frente ao Arena e a Igreja da Consolação encontrávamos TomZé, Gilberto Gil que era executivo de uma multinacional durante o dia e musico de noite, Gracinha Costa, depois Gal, Caetano, Piti e outros baianos que tinham vindo de Salvador para montar o “Arena Canta Bahia”, no Teatro de Arena, hoje Eugenio Kusnet. Desta baianada, só ficou e adotou e foi adotado por São Paulo, TomZé, os outros foram para o Rio de Janeiro e por lá ficaram.

Curtiamos até Benito de Paula que cantava numa boate da Praça Roosevelt. Luiz Carlos Paraná e a boate "Jogral" ao lado do “Terceiro Uisque” na rua Avanhandava, sempre com cantores bons na parada, de Sergio Ricardo, Johnny Alf a Noite Ilustrada! Mas tinha o Chico Buarque que ia no “sujinho” em frente o Sesc e na rua DR. Vila Nova, a turma que não saia do “Redondo”, como Carlão da Vila. Era muita gente!!!

E nós que estudávamos na Filosofia da USP, íamos tomar cerveja no Bar do Zé na esquina da Maria Antonia com Dr. Vila Nova. Dali saiu muitas articulações e recrutamentos de estudantes para a luta armada contra a Ditadura.

E a vida continuava...

E isto depois de durante o dia trabalhar e “cobrir pontos” com os camaradas da luta contra a Ditadura, a turma da ALN, depois da APML e do PCdoB. Discutiamos muito os documentos das organizações e partidos e ainda por cima encontrávamos tempo de participar de ações e de propaganda armada. E sempre tensos, esperando a hora, que sempre chegava para muitos de nós, de ver a chegada dos “home” nas veraneios, com metralhadoras para levar a gente para o DOPS e OBAN e os cárceres sombrios da Ditadura.

Mas a gente saia e continuava na luta e no fervor das idéias e das criações que marcaram a cultura e a história brasileira até hoje.

sexta-feira, março 11, 2011

Noan Chomsky fala sobre a crise no Oriente Médio e a politica americana!!!!


Gerra civil na Libia atinge o povo!!


Chomsky: EUA estão seguindo seu velho manual no Egito

Em entrevista a Amy Goodman, do Democracy Now, o linguista e professor do Massachusetts Institute of Technology (MIT), Noam Chomsky, analisa o desenrolar dos protestos no Egito e o comportamento do governo dos Estados Unidos diante deles. Na sua avaliação, o governo Obama está seguindo o manual tradicional de Washington nestas situações.

Nas últimas semanas, os levantes populares ocorridos no mundo árabe provocaram a destituição do ditador Zine El Abidine Bem Ali, o iminente fim do regime do presidente egípcio Hosni Mubarak, a nomeação de um novo governo na Jordânia e a promessa do ditador de tantos anos do Iêmen de abandonar o cargo ao final de seu mandato

Noam Chomsky fala nesta entrevista sobre o que isso significa para o futuro do Oriente Médio e da política externa dos EUA na região. Indagado sobre os recentes comentários do presidente Obama sobre Mubarak, Chomsky disse: “Obama foi muito cuidadoso para não dizer nada; está fazendo o que os líderes estadunidenses fazem habitualmente quando um de seus ditadores favoritos têm problemas, tentam apoiá-lo até o final. Se a situação chega a um ponto insustentável, mudam de lado”. Veja abaixo a entrevista completa.

Democracy Now: Qual é sua análise sobre o que está acontecendo e como pode repercutir no Oriente Médio?
Noam Chomsky: Em primeiro lugar, o que está ocorrendo é espetacular. A coragem, a determinação e o compromisso dos manifestantes merecem destaque, E, aconteça o que aconteça, estes são momentos que não serão esquecidos e que seguramente terão consequências a posteriori: constrangeram a polícia, tomaram a praça Tahrir e permaneceram ali apesar dos grupos mafiosos de Mubarak.

O governo organizou esses bandos para tratar de expulsar os manifestantes ou para gerar uma situação na qual o exército pode dizer que teve que intervir para restaurar a ordem e depois, talvez, instaurar algum governo militar. É muito difícil prever o que vai acontecer.

Os Estados Unidos estão seguindo seu manual habitual. Não é a primeira vez que um ditador “próximo” perde o controle ou está em risco de perdê-lo. Há uma rotina padrão nestes casos: seguir apoiando o tempo que for possível e se ele se tornar insustentável – especialmente se o exército mudar de lado – dar um giro de 180 graus e dizer que sempre estiveram do lado do povo, apagar o passado e depois fazer todas as manobras necessárias para restaurar o velho sistema, mas com um novo nome.

Presumo que é isso que está ocorrendo agora. Estão vendo se Mubarak pode ficar. Se não aguentar, colocarão em prática o manual.

Democracy Now: Qual sua opinião sobre o apelo de Obama para que se inicie a transição no Egito?
Noam Chomsky: Curiosamente, Obama não disse nada. Mubarak também estaria de acordo com a necessidade de haver uma transição ordenada. Um novo gabinete, alguns arranjos menores na ordem constitucional, isso não é nada. Está fazendo o que os líderes norteamericanos geralmente fazem.

Os Estados Unidos têm um poder constrangedor neste caso. O Egito é o segundo país que mais recebe ajuda militar e econômica de Washington. Israel é o primeiro. O mesmo Obama já se mostrou muito favorável a Mubarak. No famoso discurso do Cairo, o presidente estadunidense disse: “Mubarak é um bom homem. Ele fez coisas boas. Manteve a estabilidade. Seguiremos o apoiando porque é um amigo”.

Mubarak é um dos ditadores mais brutais do mundo. Não sei como, depois disso, alguém pode seguir levando a sério os comentários de Obama sobre os direitos humanos. Mas o apoio tem sido muito grande. Os aviões que estão sobrevoando a praça Tahrir são, certamente, estadunidenses.

Os EUA representam o principal sustentáculo do regime egípcio. Não é como na Tunísia, onde o principal apoio era da França. Os EUA são os principais culpados no Egito, junto com Israel e a Arábia Saudita. Foram estes países que prestaram apoio ao regime de Mubarak. De fato, os israelenses estavam furiosos porque Obama não sustentou mais firmemente seu amigo Mubarak.

Democracy Now: O que significam todas essas revoltas no mundo árabe?
Noam Chomsky: Este é o levante regional mais surpreendente do qual tenho memória. Às vezes fazem comparações com o que ocorreu no leste europeu, mas não é comparável. Ninguém sabe quais serão as consequências desses levantes.

Os problemas pelos quais os manifestantes protestam vem de longa data e não serão resolvidos facilmente. Há uma grande pobreza, repressão, falta de democracia e também de desenvolvimento. O Egito e outros países da região recém passaram pelo período neoliberal, que trouxe crescimento nos papéis junto com as consequências habituais: uma alta concentração da riqueza e dos privilégios, um empobrecimento e uma paralisia da maioria da população. E isso não se muda facilmente.

Democracy Now: Você crê que há alguma relação direta entre esses levantes e os vazamentos de Wikileaks?
Noam Chomsky: Na verdade, a questão é que Wikileaks não nos disse nada novo. Nos deu a confirmação para nossas razoáveis conjecturas.

Democracy Now: O que acontecerá com a Jordânia?
Noam Chomsky: Na Jordânia, recém mudaram o primeiro ministro. Ele foi substituído por um ex-general que parece ser moderadamente popular, ou ao menos não é tão odiado pela população. Mas essencialmente não mudou nada.

Fonte: Carta Maior
Tradução: Katarina Peixoto

domingo, março 06, 2011

DUPLA HOMENAGEM: AO CORINTHIANS E A PENAPOLIS!!!!



Sabrina Sato desfila pela Gaviões da Fiel no Sambódromo de São Paulo. PENAPOLENSE LEGITIMA E CORINTHIANA! De Carnaval este Blog está completo!!!!

sexta-feira, março 04, 2011

Como é Carnaval mesmo, curta esta cronica imperdivel!



Bar ruim é lindo

Por Antonio Prata.

Eu sou meio intelectual, meio de esquerda, por isso frequento bares meio ruins.
Não sei se você sabe, mas nós, meio intelectuais, meio de esquerda, nos julgamos a vanguarda do proletariado, há mais de cento e cinquenta anos. (Deve ter alguma coisa de errado com uma vanguarda de mais de cento e cinquenta anos, mas tudo bem).

No bar ruim que ando frequentando ultimamente o proletariado atende por Betão - é o garçom, que cumprimento com um tapinha nas costas, acreditando resolver aí quinhentos anos de história.

Nós, meio intelectuais, meio de esquerda, adoramos ficar "amigos" do garçom, com quem falamos sobre futebol enquanto nossos amigos não chegam para falarmos de literatura.

- Ô Betão, traz mais uma pra gente - eu digo, com os cotovelos apoiados na mesa bamba de lata, e me sinto parte dessa coisa linda que é o Brasil.

Nós, meio intelectuais, meio de esquerda, adoramos fazer parte dessa coisa linda que é o Brasil, por isso vamos a bares ruins, que têm mais a cara do Brasil que os bares bons, onde se serve petit gâteau e não tem frango à passarinho ou carne-de-sol com macaxeira, que são os pratos tradicionais da nossa cozinha. Se bem que nós, meio intelectuais, meio de esquerda, quando convidamos uma moça para sair pela primeira vez, atacamos mais de petit gâteau do que de frango à passarinho, porque a gente gosta do Brasil e tal, mas na hora do vamos ver uma europazinha bem que ajuda.

Nós, meio intelectuais, meio de esquerda, gostamos do Brasil, mas muito bem diagramado. Não é qualquer Brasil. Assim como não é qualquer bar ruim. Tem que ser um bar ruim autêntico, um boteco, com mesa de lata, copo americano e, se tiver porção de carne-de-sol, uma lágrima imediatamente desponta em nossos olhos, meio de canto, meio escondida. Quando um de nós, meio intelectual, meio de esquerda, descobre um novo bar ruim que nenhum outro meio intelectual, meio de esquerda, frequenta, não nos contemos: ligamos pra turma inteira de meio intelectuais, meio de esquerda e decretamos que aquele lá é o nosso novo bar ruim.

O problema é que aos poucos o bar ruim vai se tornando cult, vai sendo frequentado por vários meio intelectuais, meio de esquerda e universitárias mais ou menos gostosas. Até que uma hora sai na Vejinha como ponto frequentado por artistas, cineastas e universitários e, um belo dia, a gente chega no bar ruim e tá cheio de gente que não é nem meio intelectual nem meio de esquerda e foi lá para ver se tem mesmo artistas, cineastas e, principalmente, universitárias mais ou menos gostosas. Aí a gente diz: eu gostava disso aqui antes, quando só vinha a minha turma de meio intelectuais, meio de esquerda, as universitárias mais ou menos gostosas e uns velhos bêbados que jogavam dominó. Porque nós, meio intelectuais, meio de esquerda, adoramos dizer que frequentávamos o bar antes de ele ficar famoso, íamos a tal praia antes de ela encher de gente, ouvíamos a banda antes de tocar na MTV. Nós gostamos dos pobres que estavam na praia antes, uns pobres que sabem subir em coqueiro e usam sandália de couro, isso a gente acha lindo, mas a gente detesta os pobres que chegam depois, de Chevette e chinelo Rider. Esse pobre não, a gente gosta do pobre autêntico, do Brasil autêntico. E a gente abomina a Vejinha, abomina mesmo, acima de tudo.

Os donos dos bares ruins que a gente frequenta se dividem em dois tipos: os que entendem a gente e os que não entendem. Os que entendem percebem qual é a nossa, mantêm o bar autenticamente ruim, chamam uns primos do cunhado para tocar samba de roda toda sexta-feira, introduzem bolinho de bacalhau no cardápio e aumentam cinquenta por cento o preço de tudo. (Eles sacam que nós, meio intelectuais, meio de esquerda, somos meio bem de vida e nos dispomos a pagar caro por aquilo que tem cara de barato). Os donos que não entendem qual é a nossa, diante da invasão, trocam as mesas de lata por umas de fórmica imitando mármore, azulejam a parede e põem um som estéreo tocando reggae. Aí eles se dão mal, porque a gente odeia isso, a gente gosta, como já disse algumas vezes, é daquela coisa autêntica, tão Brasil, tão raiz.

Não pense que é fácil ser meio intelectual, meio de esquerda em nosso país. A cada dia está mais difícil encontrar bares ruins do jeito que a gente gosta, os pobres estão todos de chinelos Rider e a Vejinha sempre alerta, pronta para encher nossos bares ruins de gente jovem e bonita e a difundir o petit gâteau pelos quatro cantos do globo. Para desespero dos meio intelectuais, meio de esquerda que, como eu, por questões ideológicas, preferem frango à passarinho e carne-de-sol com macaxeira (que é a mesma coisa que mandioca, mas é como se diz lá no Nordeste, e nós, meio intelectuais, meio de esquerda, achamos que o Nordeste é muito mais autêntico que o Sudeste e preferimos esse termo, macaxeira, que é bem mais assim Câmara Cascudo, saca?.

- Ô Betão, vê uma cachaça aqui pra mim. De Salinas quais que tem?

(Texto integrante do volume As Cem Melhores Crônicas Brasileiras,organizado por Joaquim Ferreira dos Santos.)