segunda-feira, fevereiro 18, 2013

Kosic, um filósofo da ação. A importancia da luta de idéas!!

Em tempos que os partidos comunistas e revolucionários, passam por intensa luta de idéias para se firmar como condutores do processo de transformação da sociedade capitalista para o socialismo, ao mesmo enfrentam em muitos países, inclusive o nosso, a luta de idéias internamente, para não se deixarem contaminar pela “praga” do reformismo e do revisionismo. O artigo de Carlos Pompe sobre Karel  Kocik, que publico no meu blog  do Luiz Aparecido é esclarecedor. Grande escritor e revolucionário, Karel passou a ser perseguido por suas idéias e suas ações, após a chegada de Kruschov/Brejnev e etcaterva ao poder. Significa também que não podemos abandonar a luta de idéias mesmo sendo minoria e perseguidos por burocratas  que por acaso venham se assenhorar do poder dentro dos partidos revolucionários. Leiam o artigo, merece atenção e reflexão.





 Karel Kosic em 1979

Há dez anos, em 21 de fevereiro, faleceu Karel Kosik (nasceu em Praga em 26 de junho de 1926). Foi um filósofo militante e revolucionário. Ingressou no Partido Comunista da Checoslováquia durante a luta contra o nazismo. Depois que o Exército Vermelho da União Soviética liberou a Checoslováquia dos nazi, Kosik viajou para Moscou e Leningrado, onde estudou de 1947 a 49. Em 1956, publicou um estudo sobre Hegel e dois anos depois um ensaio sobre A democracia radical checa. Em 1961, Kosik publicou seu livro mais importante, Dialética do Concreto.
Na época, participava do Instituto de Filosofia e da Academia Checoslovaca de Ciências, duas instituições oficiais de seu país. Participou de diversos debates sobre o marxismo na França, Itália e México. Dialética do Concreto é traduzida para o italiano (1965), espanhol e alemão (1967), português (1976), dentre outras línguas. Em 1966, quando o Eduard Goldstücker, presidente da União de Escritores checos, visitou o Brasil, afirmou que a Dialética do Concreto era a principal obra filosófica publicada naquela década no seu país.
Em 1968, quando a luta de classes se intensifica na Checoslováquia, Kosik publicou na França o ensaio “O indivíduo e a história”. O governo checo cerceia a liberdade de expressão e organização, ao passo que agentes do serviço secreto norte-americano (CIA) atuam para desestabilizá-lo, nos marcos da Guerra Fria. Kosic participa da chamada Primavera de Praga e não saiu imune da invasão dos tanques soviéticos no país, que estabeleceram uma nova ordem em seu território. Perdeu todos os seus cargos na docência.  Segundo o filósofo Adolfo Sánchez Vázquez, “Kosik pagou duramente sua contribuição a essa experiência, não só com as medidas de perseguição ditadas contra ele, como, sobretudo, com o silêncio e o isolamento forçados impostos à sua pena e sua palavra, ou seja, seu labor teórico marxista como trabalhador docente e como pesquisador”.
A impossibilidade de trabalhar regular e publicamente não o impediram de continuar elaborando e escrevendo na vida privada. Em 25 de abril de 1975, a polícia checa invadiu sua residência e por seis horas revolveu seus papéis, sequestrando mais de 1.000 páginas inéditas de seus manuscritos filosóficos. Ali estavam rascunhos das obras que dariam continuidade à Dialética do Concreto: uma denominada Da Prática e outra Da Verdade. Depois desse episódio, através do silencio sistemático e do ostracismo, foi calado definitivamente. Opositores ao regime pró-soviético então imperante chegaram a pichar paredes com os dizeres: “Lenin, desperta! Eles enlouqueceram!”.
Depois do fim das experiências socialistas na Europa, seus escritos  voltaram a ser divulgados. Diferentemente dos renegados do socialismo, ele continuou fiel às suas concepções. No artigo “A lumpemburguesia, a democracia e a verdade espiritual” (1990), Kosik caracteriza o novo setor dominante nos países do Leste Europeu como una “lumpemburguesia que recruta seus membros entre os novos ricos, porém, diferentemente da burguesia normal, não hesitam ante o logro ou a associação com as organizações mafiosas”. Volta a reafirmar sua condenação à invasão soviética de 1968, opõe-se à restauração do capitalismo na Checoslováquia e registra: “O velho regime (anterior a 1989) usurpou o qualificativo de ‘socialista’, refugiando-se atrás da classe operária. Na realidade, desacreditou e desqualificou aos dois: ao socialismo e à classe operária”. Adiante, agrega: “A ideologia oficial (posterior a 1989) condena o ‘socialismo real’ e a ditadura burocrática e policialesca a ela associada, pondo-os na mesma bolsa etiquetada de ‘comunismo’. Isto lhe permite ocultar a natureza de uma alternativa, pois em sua opinião, Marx está definitivamente morto”.
Sua visão filosófica era política, militante e ativista. Nela, não há possibilidade de resolver os problemas da destruição do meio ambiente, da discriminação de gênero, racial ou qualquer outra dominação cotidiana, se não se luta ao mesmo tempo contra a totalidade do modo de produção capitalista. Sem esta luta pela emancipação radical contra o capitalismo, os movimentos feministas, ecologistas, indígenas, de juventude etc. serão neutralizados e incorporados pelo sistema.
Afirma o professor da Universidade Popular Mães da Praça de Maio (Argentina), Néstor Kohan, no ensaio “A filosofia militante de Karel Kosik (1926-2003)”, no qual se baseou este artigo, “Em tempos como os nossos, de guerra imperialista, massacres planificados, cinismo, discurso dúbio e triple moral (a direita e esquerda...), o exemplo e a coerência de vida de Karel Kosik são uma centelha. Dessas que servem, como disse há muito tempo um senhor que tinha problemas de calvície, para incendiar a pradaria”.

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