sexta-feira, novembro 04, 2011



A ditadura da felicidade
A psicanalista Maria Rita Kehl lança coletânea de crônicas jornalísticas; enquanto analisa os principais acontecimentos globais, ela alerta: a sociedade não criou espaços para se viver o sofrimento. Foto: Kim Doria
A carreira de Maria Rita Kehl fica numa fronteira entre o jornalismo e a psicanálise.Teve início nas redações e, depois, migrou para o consultório. Por fim, ela soube unir as duas pontas de seu trabalho nos muitos artigos escritos para jornais e revistas do país – como Folha de S. Paulo, Estado de S. Paulo, Época, Brasil de Fato, etc. Entrevistou Mano Brown no programa Roda Viva e já foi entrevistada outras tantas vezes, mesmo que enxergue com muita cautela a “embalagem elegante do pacote psi”, – como definiu o modo que a mídia utiliza a psicologia para explicar acontecimentos às vezes sem explicação.
“18 crônicas e mais algumas” reuniu estes artigos, que, escritos ao longo dessa última década, circundam os acontecimentos marcantes do país com a ótica única de Kehl. Lançado em São Paulo na quarta-feira 26, o livro será apresentado também, no Rio de Janeiro, nesta quinta-feira 3, na Rua Visconde de Pirajá, 572, às 19h.
Kehl reserva a introdução da obra para revelar sua dupla trajetória. A escritora lembra de sua saída do jornal O Estado de S. Paulo, onde tinha uma coluna no Caderno 2, de cultura, e foi demitida depois de escrever e publicar o texto “Dois Pesos”, sobre o eleitorado de Dilma e a crítica da classe média aos programas sociais do governo petista. “Todo texto autoral publicado na imprensa tem por vocação ser opinativo e analítico”, diz. “O jornal não protege o freelancer das bobagens que ele escreve em nome próprio, embora – como fui perceber em 2010, como episódio do cancelamento da minha coluna no Estado de S. Paulo – nem tudo o que leve a assinatura do autor seja aceito pela diretoria ou pelo corpo de acionistas, ainda quando o tema seja atual e encontre um bom número de leitores”.

Enquanto Kehl distribuía autógrafos na Livraria da Vila em São Paulo, CartaCapital tentou questioná-la, nos pequenos intervalos entre um fã e outro, sobre a psicanálise e o futuro do país. Uma pergunta aberta, que encontrou um “não” categórico como resposta. Ou talvez, um “não aqui”. No dia seguinte, a reportagem foi encontrar a psicanalista em seu consultório, no bairro de Perdizes em São Paulo.

Mesmo lá, na tranquilidade de seu “habitat”, Kehl advertiu sobre sua impossibilidade de projetar o futuro. “Nós, psicanalistas, temos muito pouca prática em projetar o futuro. A prática do pscanalista é ir pesquisar no passado as origens dos problemas presentes”, justifica. Com prática ou não, a intelectual soube desfilar pelos pontos nevrálgicos dos episódios recentes que abalaram o mundo. Das revoluções árabes e manifestações urbanas, à nova classe média brasileira, a faxina de Dilma, e a (im) possível reforma política. Confira (para ler o texto inteiro é preciso clicar no título em negrito):

“A obrigação da felicidade  é um subproduto dos movimentos progressistas dos anos 60: do direito a felicidade, passou para a obrigação. Talvez esses movimentos contestem um pouco que o sentido de estar no mundo é ser feliz

A Primavera Árabe e os Indignados

“As pessoas percebem que ficaram inutilizadas como sujeitos de ação política. Tenho um receio, porém, de que esses movimentos sejam capitalizads por partidos de extrema direita. Ao mesmo tempo, minha formação materialista me diz que não é a partir daí que o capitalismo vai cair”
“A condição da juventude é muito boa para questionar qualquer status-quo, porque ela não está completamente comprometida. Por outro lado, o jovem que aos 40 é eleito para um cargo político ou que aos 35 vira economista em um banco, perdeu aquela condição de jovem”
 ”O Brasil em termos de diminuição de desigualdade deu um passo enorme. Esse contentamento generalizado com a economia esvaziou o aspecto político. O movimento anti-corrupção tornou-se um movimento moral”
Nova Classe Média

 ”A nova classe média, assim que pode pagar um plano de saúde privado picareta, para não ter que usar o SUS, pagar um guarda de rua, por o filho em escola particular, ela faz e sai da luta de classes, do seu lugar na luta de classes”


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