segunda-feira, setembro 14, 2009

30 anos de história da reorganização do PCdoB no Espirito Santo

30 ANOS ATRAS-REVIVEVNDO A REORGANIZAÇÃO
DO PCDOB NO ESPIRITO SANTO(primeira parte)

CHEGANDO EM TERRAS CAPIXABAS!

Foi num dia primeiro de janeiro de 1979, num calor de rachar e modorrento começo de tarde, que desembarquei em Vitória, na antiga rodoviária da Praça Misael Pena, perto do Parque Moscoso. Tinha saído de São Paulo na noite anterior com duas missões: uma profissional, de assumir o Departamento de Projetos Especiais da Rede Tribuna e outro de procurar os remanescentes do PCdoB que restavam no Estado e reorganizar o Partido.

Tinha saído da cadeia depois de mais de três anos de cana dura e pouco antes de ser decretada a Anistia. Trabalhei neste período em São Paulo, na redação da Revista Manchete e me articulava com o partido, que ainda vivia na clandestinidade, mas botava suas manguinhas de fora, lançando o jornal “Tribuna Operaria”, organizando movimentos de massa como o “Movimento Contra a Carestia” e atuando subliminarmente no antigo MDB, onde preparávamos o lançamento do primeiro deputado federal comunista e operário desde a legalidade de 1945, o Aurélio Peres.

Nesta época ainda subsistia no partido as duas estruturas montadas para sobreviver aos anos de chumbo, quando os militares dizimaram as organizações de luta armada e andava ferozmente atrás do PCdoB, que vinha da luta da guerrilha do Araguaia. Eu quando sai da prisão, contatei a estrutura 1 e foi esta que determinou minha vinda para o Espírito Santo. Na época precisávamos de gente audaciosa e com certa cobertura legal para reorganizar o Partido em vários Estados, onde ele tinha sido praticamente dizimado. A mim coube escolher entre Pernambuco e Espírito Santo.

Tive sorte de em dezembro de 1978, encontrar no prédio da Folha de São Paulo onde fui ver uns amigos, o Sergio Alves, que no inicio de minha carreira profissional, tinha me ajudado muito na “Ultima Hora”, onde trabalhamos sob a direção do lendário Samuel Wainer. Ele então me contou, que tinha assumido a direção do jornal “A Tribuna”, no Espírito Santo e que o grupo João Santos, dono do empreendimento, entre outros, tinha em mente montar um complexo de comunicação no Estado, com emissoras de rádio e Televisão. Sergião, como o chamávamos, me convidou então para vir com ele enfrentar a tarefa, porque ele tinha falta de pessoal mais qualificado na época para tocar os projetos.

Juntou a fome com a vontade de comer. Comuniquei a novidade ao partido que adorou a idéia e Ozéias, que era meu dirigente mais imediato concordou que eu fosse para o Espírito Santo. Chegaria inclusive, numa situação legal e com cobertura suficiente para iniciar a procura pelos camaradas comunistas dispersos e até recrutar mais gente para o partido. E foi nesta que embarquei sózinho, mas com a promessa de trazer logo depois minha companheira na época, a “italiana” Adelina Bracco, que também ajudaria no Jornal e a reorganizar o partido.

Nas primeiras semanas, encontrei o Sergio Alves (naquele mesmo primeiro dia), que me acomodou num apartamento que o Grupo João Santos possuía na Praia da Costa, em Vila Velha, fui conhecer o funcionamento do Jornal e preparar minha estrutura de trabalho e mergulhar nos arquivos para conhecer melhor o Espírito Santo. E tentar achar os remanescentes do combalido PCdoB.
CADÊ OS CAMARADAS?(Segunda parte)

Quando sai de São Paulo, o partido me indicou apenas codinomes, pessoas que já tinham se retirado da luta e apenas uma pessoa que poderia me ajudar a encontrar os membros do Partido dispersos. Um tal de Zanata, que quando o encontrei, um mês depois de ter chegado ao Espírito Santo, era ligado as pastorais da Igreja católica, que ficou até assustado quando lhe falei em encontrar membros do partido. Ainda vivíamos na Ditadura, apesar dela estar nos seus últimos estertores e o medo da repressão ainda prevalecia. Ele já estava comprometido com o projeto do PT, onde esta até hoje.

Estava na estaca zero quando voltei a São Paulo para buscar minha mulher e companheira da época, a italiana Adelina Bracco, que veio para trabalhar na A Tribuna comigo e me ajudar na reorganização do partido. Ela foi para a editoria de Política do jornal ser repórter, também com o objetivo de tentar encontrar algum comunista desgarrado. Acabou que ela cobrindo a Assembléia Legislativa, encontrou o Gildo Ribeiro, que era do partido e conhecia muita gente no Estado e os camaradas remanescentes que continuavam dispostos a reorganizar o partido.

Com a ajuda entusiasmada do Gildo, chegamos ao Dines Brozeguin, que tinha uma oficina de mecânica pesada perto do Aeroporto, o Paulo Mossoró, Nilson “Bigode” e mais tarde o Nilo Walter, Ildefonso, Mauro Edem e outros de Vila Velha, o seu Guilherme de Cachoeiro e outros arredios comunistas. Havia ainda um grupo de jovens e pessoal de esquerda, que faziam um jornal alternativo da época, chamado “Posição”, liderados por um comunista, Luzimar Nogueira Dias, que estava arredio e desconfiado de nós, pela ousadia de nos mostrarmos comunistas ainda em plena Ditadura. Ele tinha contatos coma a outra estrutura do Partido, que por motivos óbvios, não me conhecia, nem sabia de nossa tarefa no Estado.

Com este pessoal, eu e a Adelina gastamos muito “latin” para convencê-los de que era a hora de cuidadosamente, mas com ousadia, reorganizarmos o partido. Do pessoal do “Posição”, veio logo o Namy Chequer, que por sinal levamos também para trabalhar na editoria de Política de “ A Tribuna” e começamos a trabalhar a cabeça dos irmãos Martins, Joãozinho, que depois foi o primeiro deputado estadual do partido desde 1946, o Carlos Umberto e o Chiquinho. Eles estavam, como muitos outros jovens de esquerda, entusiasmados com o projeto de formação do PT que estava nascendo naquela época.

Nesta tarefa, o Namy ajudou muito a convencer os irmãos Martins a vir para o PCdoB, inclusive Joãozinho, que naquele tempo morava em Cachoeiro de Itapemirim e trabalhava no Banco do Brasil. Na “Tribuna” também tinha o Luiz Rogério Fabrino, antigo militante do PCdoB que estava desligado e aderiu imediatamente ao nosso projeto. Logo depois chegou de São Paulo o Clóves Geraldo, que entrou na estrutura do partido e ajudou ele a crescer numérica e teoricamente. Ainda de São Paulo, veio o capixaba que lá estava ha muito tempo, Graciano Dantas, que também entrou na Tribuna e na estrutura do partido.

Por ai começamos as primeiras reuniões, formamos a primeira célula partidária e começamos o trabalho político usando a estrutura do PMDB. Tínhamos como aliados o então deputado Dilton Lyrio e Roberto Valadão, cujo irmão e cunhada, Arildo e Áurea, tinha morrido combatendo na Guerrilha do Araguaya. E ainda Max Mauro, recém eleito deputado federal e antigo simpatizante do PCdoB.

A partir disso, enquanto corria o ano de 1979, fomos remontando o partido e recrutando outras pessoas. Muitos que tinham participado do partido antes da “queda” de 1972, que praticamente dizimou o partido no Estado, não demonstraram interesse em voltar a militar. Direito deles.

CRESCENDO E APARECENDO (Terceira Parte)

Já corria os anos 80, quando Antonio Alaerte, Zizi Mareto e João Amorim e Wanda Gasparini, Graça e outras amigas delas vieram para o PCdoB. Já ali por 1981 e 1982, quando fizemos a campanha vitoriosa do Gildo para vereador em Vitória, tínhamos um razoável contingente, alem de outros jovens que Joãozinho e Carlos Umberto foram recrutando. E ainda Zé Maria, Mastela e Walter Araújo, a Jô e outros. Ainda entre 79 e 80, Luzimar Nogueira Dias, que era uma referencia para estes jovens, depois de uma viagem ao Rio de Janeiro, onde lhe garantiram que éramos do PCdoB, acabou por aderir a nossa estrutura. Nesta época as duas estruturas do partido haviam já se fundido e com a Anistia e a volta de João Amazonas, Renato Rabelo e outros, novo alento alcançou o partido que crescia e se desenvolvia, adquirindo respeitabilidade na vida política local.

A”Tribuna Operaria” era nossa senha e porta voz. Criamos uma sede para a sucursal do jornal em Vitória, onde funcionava a direção provisória(ainda clandestina) do partido. Foram tempos difíceis, mas alvissareiros para o partido que ia ressurgindo cheio de energia e planos futuros. A direção nacional nomeou um assistente para o Estado, que foi no inicio o Ronald de Freitas e depois o Dineias Aguiar, na época conhecido como Décio, ou Careca.

Já com um bom numero de militantes e respeitabilidade política, começamos a preparar a nossa Conferencia de Reorganização, que aconteceu, clandestinamente, num apartamento alugado para este fim, na Praia da Costa, em Vila Velha. Foi Dineas Aguiar que dirigiu a Conferencia que elegeu a primeira direção formal e traçou a tática e a estratégia para o futuro do partido. Mais ou menos nesta época, ressurgiu da Clandestinidade e se reintegrou ao partido, Carlito Osório, o conhecido “Cascata”, que não ficou muito tempo, preferindo depois de algum tempo trilhar outros caminhos políticos. Outro que se reintegrou ao partido definitivamente foi Hélio Garcia, camarada histórico de Colatina, que tinha estado até na China se preparando para a luta.

Na primeira eleição que participamos dentro do PMDB em 1982, elegemos um aliado “quase” militante, Josmar Pereira suplente de deputado, que assumiu o mandato graças à ajuda do então governador Gerson Camata e o Gildo Ribeiro vereador por Vitória. E ainda ajudamos nas campanhas para deputado Federal do Max Mauro e demos até uma forcinha para Nelson Aguiar também se eleger deputado federal.

MEMÓRIAS GILDEANAS (Quarta parte)


Como recorda muito bem Gildo Ribeiro, “uma figura de grande importância que conviveu conosco durante um grande período foi sem dúvida o inicialmente Décio, depois Careca e por fim Dinéias Aguiar. Nos meados da´década de sessenta até fins dessa e inícios da década de 70. Por força de um vendaval que varreu o PCdoB-ES, quase do mapa, ficamos quase todos dispersos”.

Memória viva do PCdoB em terras capixabas, Gildo diz que “é bom lembrar que o Partido jogou um papel importante na campanha das Diretas Já. Ao ponto de fazermos a aproximação do PT com PMDB e outras forças, sendo que umas das principais reuniões para tal fim, se deu no Centro Comunitário de Ilha de Santa Maria e Monte Belo, inclusive com a presença do Deputado dissidente da Arena, o Deputado Teodorico Ferraço, que apoiava o Paulo Maluf. Dali nasceu uma organização que culminou com um dos maiores comícios da história do Espírito Santo, o Comício das Diretas Já”.

“Se envolveram nesta tarefa não só os já citados, como os deputados estaduais Salvador Bonomo, Nilton Baiano, o pessoal do Partidão e em seguida o próprio Governador e o seu Vice José Moraes e quase todos que tinham cargos comissionados e posição política contra o regime militar. Nosso papel de convencimento de que, passada a luta pelas Diretas Já, derrotada em votação no Congresso através da emenda Dante de Oliveira, mas vitoriosa no campo político e popular era preciso avançar, nos levou e as demais forças políticas, a entender que o caminho para derrotarmos a ditadura seria agora sim, pelo colégio eleitoral, como ficou provado. Gildo lembra ainda, “que Tancredo fez grandes comícios por aqui e demos nossa pequena mais forte e entusiasmada colaboração”.

Com o partido consolidado, tive necessidade de voltar a São Paulo em 1985, tanto por problemas familiares, como para me integrar a Comissão Nacional de Agitação e Propaganda, que tinha já a Editora Anita Garibalde, editando a Tribuna Operaria, a Revista “Princípios”, livros de clássicos do Marxismo Leninismo, de João Amazonas, Diógenes Arruda Câmara e outros autores do partido e com a legalidade recém conquistada, o jornal oficial do partido “A Classe Operaria”.

UMA PARTIDA COM MUITAS VOTAS (quinta parte)

Antes disso recontatamos o camarada Iran Caetano que servia o partido em Minas Gerais, mas tinha no Espírito Santo seu berço de lutas. Falamos com o Comitê Central e o pessoal de Minas, articulamos sua volta com condições de sobrevivência, o que não foi difícil, pois ele é um médico muito conceituado. Quando Iran voltou passou a integrar a direção que já tinha o Namy Chequer, o João Martins, o Clóves Geraldo e outros. O Partido tinha crescido e já estava presente em várias cidades do interior, no movimento estudantil, em alguns sindicatos e prestigio político em todo o Estado.

Na outra eleição que o partido participou ativamente em 1986, já com cara própria e não mais dentro da estrutura do PMDB, elegemos João Martins deputado estadual pela nossa sigla. Pela legenda do PCdoB elegemos o Namy Chequer vereador em Vitória em 1988 e o Professor Ramos suplente de vereador em Vila Velha, mas assumiu o mandato a maior parte do tempo. Eu já estava em São Paulo, mas toda eleição vinha para o Espírito Santo dar uma força. Depois disto é que vieram as eras Namy e Anderson Falcão, que dominam partido até hoje.

Depois de um longo período em São Paulo fui deslocado para Brasília, mas nunca deixei de em todas as eleições e períodos de férias estar presente no Espírito Santo. Como estou agora, num exílio convalescente da terrível doença que me pegou de jeito e quase me paralisa todo. Mas se não arrumar algum emprego, assessoria, consultoria, algo para fazer, terminando o verão bato azas de volta ao Planalto Central do Brasil. E sinto no Espírito Santo, alguns comunistas capixabas menos abnegados e generosos que antes, mais ainda um grande e solidário povo.

Um comentário:

Assis disse...

Maravilhosa história! Grande camarada aparecido!!!! VIVA O SOCIALISMO, VIVA O PARTIDO COMUNISTA DO BRASIL!!!!!