segunda-feira, abril 01, 2013

A atualidade de um comunismo radical



A crise, social, econômica, ecológica e moral de um capitalismo que não retrocede diante de seus próprios limites e cuja desmedida e irracionalidade crescentes ameaçam ao mesmo tempo a espécie humana e o planeta, volta a colocar na ordem do dia “a atualidade de um comunismo radical”, invocado por Benjamin diante do aumento dos perigos do período entre guerras. Em seu último artigo, Daniel Bensaïd, falecido terça-feira, dia 12 ultimo, em Paris, analisa a atualidade do Manifesto Comunista.

Daniel Bensaïd

Daniel Bensaïd (texto publicado em janeiro de 2010)
Gravemente enfermo há vários meses, morreu terça-feira (12), em Paris, Daniel Bensaïd. Militante de esquerda desde a adolescência, Bensaïd foi um dos fundadores da Jeunesse Communiste Révolutionnaire (JCR), em 1966, e participou ativamente do movimento de Maio de 68, antes de participar da criação da Ligue Communiste (LCR), em 1969. Durante muitos anos, foi dirigente da LCR e da Quarta Internacional. Em 2009, engajou-se na criação de um novo partido de esquerda na França, o NPA (Novo Partido Anti-Capitalista).

Professor de Filosofia na Universidade de Paris VIII, Bensaid publicou diversos livros de filosofia e debate político, ajudou a construir as revistas Critique Communiste e ContreTemps e participou ativamente da criação da Fundação Louise Michel, defendendo nestes espaços um marxismo aberto e não dogmático. Também foi um participante ativo do processo de construção do Fórum Social Mundial.

Publicamos a seguir o último texto de Daniel Bensaïd, intitulado “Potências do comunismo”, uma análise sobre a atualidade do Manifesto Comunista:

Potências do comunismo 

Em um artigo de 1843 sobre “os progressos da reforma social no continente”, o jovem Engels (20 anos) via o comunismo como “uma conclusão necessária que se é claramente obrigado a tirar a partir das condições gerais da civilização moderna”. Um comunismo lógico em resumo, produto da revolução de 1830, na qual os operários “voltaram às fontes vivas e ao estudo da grande revolução e se apoderaram vivamente do comunismo de Babeuf”. Para o jovem Marx, em troca, este comunismo não era ainda mais do que “uma abstração dogmática”, uma “manifestação original do princípio do humanismo”. O proletariado nascente havia “se jogado nos braços dos doutrinários de sua emancipação”, das “seitas socialistas”, e dos espíritos confusos que “divagam como humanistas” sobre “o milênio da fraternidade universal” como “abolição imaginária das relações de classe”.

Antes de 1848, este comunismo espectral, sem programa preciso, estava presente na atmosfera do tempo sob as formas “pouco polidas” das seitas igualitárias ou dos sonhos icarianos. No entanto, já então a superação do ateísmo abstrato implicava um novo materialismo social que não era outra coisa que o comunismo. “Assim como o ateísmo, enquanto negação de Deus, é o desenvolvimento do humanismo teórico, também o comunismo, enquanto negação da propriedade privada, é a reivindicação da vida humana verdadeira”. Longe de todo anticlericalismo vulgar, este comunismo era “o desenvolvimento de um humanismo prático”, para o qual não se tratava já só de combater a alienação religiosa, mas sim a alienação e a miséria sociais reais de onde nasce a necessidade da religião.

Da experiência fundadora de 1848 - ano que marca a primeira publicação do Manifesto Comunista, de Marx - à experiência da Comuna de Paris (1871), o “movimento real” que busca abolir a ordem estabelecida tomou forma e também força, dissipando as “loucuras sectárias” de então e expondo ao ridículo “o tom de oráculo da infalibilidade científica”. Dito de outra forma, o comunismo, que foi primeiramente mais um estado de espírito ou um, por assim dizer, “comunismo filosófico”, encontrava finalmente a sua forma de expressão política. Em um quarto de século, concretizou-se a sua mudança: de seus modos iniciais de aparição, de caráter filosófico e utópico, à sua forma política, por fim encontrada: a da emancipação.

1. As palavras da emancipação não saíram incólumes das tormentas do século passado. Pode-se dizer delas, como dos animais da fábula, que não morreram todas, mas que todas foram gravemente feridas. “Socialismo”, “revolução”, “anarquia” não estão em situação muito melhor que “comunismo”. O socialismo implicou-se no assassinato de Karl Liebknecht e Rosa Luxemburgo, nas guerras coloniais e colaborações governamentais até o ponto de perder todo o conteúdo à medida que ganhava em extensão. Uma metódica campanha ideológica conseguiu identificar, aos olhos de muitos, a revolução com a violência e o terror. Mas, de todas as palavras ontem portadoras de grandes promessas e sonhos de futuro, a do comunismo foi a que sofreu maior dano, por causa de sua captura pela razão burocrática do Estado e sua submissão a um empreendimento totalitário. Resta saber se, entre todas essas palavras feridas, há algumas que vale a pena reparar e pôr de novo em movimento.

2. É necessário para isso pensar o que ocorreu com o comunismo do século XX. A palavra e a coisa não podem ficar fora do tempo das provas históricas a que foram submetidos. O uso massivo do título “comunista” para designar o Estado liberal autoritário chinês pesará muito mais durante longo tempo, aos olhos da grande maioria, do que os frágeis brotos teóricos e experimentais de uma hipótese comunista. A tentação de subtrair um inventário histórico crítico conduziria a reduzir a idéia comunista a “invariantes” atemporais, a fazer dela um sinônimo das idéias indeterminadas de justiça ou de emancipação, e não a forma específica da emancipação na época da dominação capitalista. A palavra perde então em precisão política o que ganha em extensão ética ou filosófica. Uma das questões cruciais é saber se o despotismo burocrático é a continuação legítima da Revolução de Outubro ou o fruto de uma contra-revolução burocrática, verificada não só pelos processos, as purgas, as deportações massivas, mas também pelas convulsões dos anos 30 na sociedade e no aparato de Estado soviético.

3. Não se inventa uma nova palavra por decreto. O vocabulário se forma com o tempo, por meio de usos e experiências. Ceder à identificação do comunismo com a ditadura totalitária stalinista seria capitular diante dos vencedores provisórios, confundir a revolução e a contra-revolução burocrática, e fechar assim o capítulo das bifurcações, o único aberto à esperança. E seria cometer uma irreparável injustiça para com os vencidos, todas as pessoas, anônimas ou não, que viveram apaixonadamente a idéia comunista e que a vivenciaram contra suas caricaturas e falsificações. Vergonha daqueles que deixaram de ser comunistas ao deixar de ser stalinistas e que só foram comunistas enquanto foram stalinistas! (1)

4. De todas as formas de nomear “ao outro” necessário e possível do capitalismo imundo, a palavra comunismo é que conserva maior sentido histórico e carga programática explosiva. É a que evoca melhor o comum da partilha e da igualdade, o funcionamento comum do poder, a solidariedade frente ao cálculo egoísta e à concorrência generalizada, a defesa dos bens comuns da humanidade, naturais e culturais, a extensão aos bens de primeira necessidade de um espaço de gratuidade (desmercantilização) dos serviços, contra a rapina generalizada e a privatização do mundo.

5. É também o nome de uma medida diferente da riqueza social daquela da lei do valor e da avaliação mercantil. A competição “livre e não falseada” repousa sobre “o roubo do tempo de trabalho do outro”. Pretende quantificar o inquantificável e reduzir a sua miserável medida comum, mediante o tempo de trabalho abstrato, a incomensurável relação da espécie humana com as condições naturais de sua reprodução. O comunismo é o nome de um critério diferente de riqueza, de um desenvolvimento ecológico qualitativamente diferente da corrida quantitativa pelo crescimento. A lógica da acumulação do capital exige não só a produção para o lucro e não para as necessidades sociais, mas também “a produção de novo consumo”, a ampliação constante do círculo do consumo “mediante a criação de novas necessidades e pela criação de novos valores de uso”... “Daí a exploração da natureza inteira” e “a exploração da terra em todos os sentidos”. Esta desmedida devastadora do capital funda a atualidade de um eco-comunismo radical.

6. A questão do comunismo é primeiro, no Manifesto Comunista, a da propriedade: “Os comunistas podem resumir sua teoria nesta fórmula única: supressão da propriedade privada” dos meios de produção e de troca; não confundir com a propriedade individual dos bens de uso. Em “todos os movimentos, põem na frente a questão da propriedade, seja qual for o grau de evolução que tenha atingido, como a questão fundamental do movimento”. Dos dez pontos que concluem o primeiro capítulo, sete concernem às formas de propriedade: a expropriação da propriedade latifundiária e a vinculação da renda da terra aos gastos do Estado; a instauração de uma tributação fortemente progressiva; a supressão da herança dos meios de produção e de troca; o confisco dos bens dos emigrados rebeldes; a centralização do crédito em um banco público; a socialização dos meios de transporte e a construção de uma educação pública e gratuita para todos; a criação de manufaturas nacionais e a ocupação (para plantio) das terras sem cultivar. Estas medidas tendem todas elas a estabelecer o controle da democracia política sobre a economia, a primazia do bem comum sobre o interesse egoísta, do espaço público sobre o espaço privado. Não se trata de abolir toda forma de propriedade, mas sim “a propriedade privada de hoje, a propriedade burguesa”, o “modo de apropriação” fundado na exploração de uns pelos outros.

7. Entre dois direitos, o dos proprietários apropriarem-se dos bens comuns, e o dos despossuídos à existência, “é a força que decide”, diz Marx. Toda a história moderna da luta de classes, da guerra dos camponeses na Alemanha às revoluções sociais do século passado, passando pelas revoluções inglesa e francesa, é a história deste conflito. Resolve-se pela emergência de uma legitimidade oposta à legalidade dos dominantes. Como “forma política encontrada da emancipação”, como “abolição” do poder de Estado, como realização da república social, a Comuna ilustra a emergência desta nova legitimidade. Sua experiência inspirou as formas de auto-organização e de auto-gestão populares aparecidas nas crises revolucionárias: conselhos operários, soviets, comitês de milícias, cordões industriais, associações de vizinhos, comunas agrárias, que tendem a desprofissionalizar a política, a modificar a divisão social do trabalho, a criar as condições de extinção do Estado enquanto corpo burocrático separado.

8. Sob o reino do capital, todo progresso aparente tem sua contrapartida de regressão e de destruição. Em última instância, não consiste em mais do que mudar a forma de servidão. O comunismo exige uma idéia diferente e alguns critérios diferentes do que os do rendimento e da rentabilidade monetária. A começar pela redução drástica do tempo de trabalho obrigatório e a mudança da própria noção de trabalho: não poderá haver completo desenvolvimento individual no ócio ou no “tempo livre” enquanto o trabalhador permanecer alienado e mutilado no trabalho. A perspectiva comunista exige também uma mudança radical da relação entre o homem e a mulher: a experiência da relação entre os gêneros é a primeira experiência da alteridade e enquanto subsista essa relação de opressão, todo ser diferente, por sua cultura, sua cor, ou sua orientação sexual, será vítima de formas de discriminação e de dominação. O progresso autêntico reside, enfim, no desenvolvimento e na diferenciação de necessidades cuja combinação original faz de cada um e de cada uma um ser único, cuja singularidade contribui para o enriquecimento da espécie.

9. O Manifesto concebe o comunismo como “uma associação na qual o livre desenvolvimento de um é condição do livre desenvolvimento de todos”. Aparece assim como a máxima de um livre desenvolvimento individual que não deveria ser confundido nem com as ilusões de um individualismo sem individualidade submetido ao conformismo publicitário, nem como igualitarismo grosseiro de um socialismo de quartel. O desenvolvimento das necessidades e das capacidades singulares de cada um e de cada uma contribui para o desenvolvimento universal da espécie humana. Reciprocamente, o livre desenvolvimento de cada um e de cada uma implica o livre desenvolvimento de todos, pois a emancipação não é um prazer solitário.

10. O comunismo não é uma idéia pura, nem um modelo doutrinário de sociedade. Não é o nome de um regime estatal, nem o de um novo modo de produção. É o de um movimento que, de forma permanente, supera/suprime a ordem estabelecida. Mas é também o objetivo que, surgido deste movimento, o orienta e permite, contra políticas sem princípios, ações sem continuidade, improvisações diárias, determinar o que aproxima e o que afasta deste objetivo. Neste sentido, não é um conhecimento científico do objetivo e do caminho, mas sim uma hipótese estratégica reguladora. Nomeia, indissociavelmente, o sonho irredutível de um mundo diferente, de justiça, de igualdade e de solidariedade; o movimento permanente que aponta para a derrocada da ordem existente na época do capitalismo; e a hipótese que orienta este movimento na direção de uma mudança radical das relações de propriedade e de poder, a distância dos acomodamentos com um mal menor que seria o caminho mais curto para o pior.

11. A crise, social, econômica, ecológica e moral de um capitalismo que não retrocede diante de seus próprios limites e cuja desmedida e irracionalidade crescentes ameaçam ao mesmo tempo a espécie humana e o planeta, volta a colocar na ordem do dia “a atualidade de um comunismo radical”, invocado por Benjamin diante do aumento dos perigos do período entre guerras.

Nota
(1) Ver Mascolo, D. (2000) A la recherche d´un communisme de pensée. Paris : Editions Fourbis, p. 113. 

domingo, março 31, 2013

Resistir é preciso! Ou não!!


Chegar ao Domingo de Páscoa, sem ser crente ou cristão pode ser ou não uma boa!! Más noticias me escolheram neste fim de semana!! O BRB glorioso querendo tirar meu pão nosso década dia via judicial, depois de 17 anos de uma divida contestada que hoje é impagável e cobrança de ex que é também impagável, deixa qualquer um, ateu, agnóstico, cristão, completamente fora de si!! E o pior é que morrer não resolve, pois seus débitos ficam para os amigos que avaliaram seu crédito. O que fazer??? Ir a luta para sobreviver e derrotar quem quer te destruir!! Mas é ir em busca da felicidade e continuar na vida para tentar ganhar de quem esta acostumado a vencer. Mas comigo não violão!! Vou de samba e se não resistir cumpram meus amigos meus penultimos desejos!! Viva o Socialismo, a Revolução e o PCdoB se merecer e ao amor que por fim triunfará!! E não esqueçam, minhas cinzas, se restarem, vão para o Maria Chica lá em Penápolis, a Xambioá, ao cruzamento da Rego Freitas com a Consolação em Sampa me na Praia de Itapoã, em Vila Velha, no meu querido Espirito Santo!!
E ainda tem meu tratamento em Havana, que poderia me tornar de novo forte e rijo às tarefas que tenho e quero ainda cumprir. Tudo comprometido por estas medidas que fogem a minha ação e meu arbítrio. Realmente fico mal  assim. Me desculpem meus leitores pelo desabafo!!

terça-feira, março 26, 2013

DENUNCIA GRAVE!!!!Telecomunicações: entregaremos também as fibras óticas?


Publicado originalmente no Portal “Outras Midias”
Na Campanha pela Banda Larga publica e gratuita!!!
Este é o ministro Paulo Bernardo. E notem bem que ele é do PT, que deveria defender os interesses  do Estado edo povo brasileiro!!

A história nos prega peças. O Ministro das Comunicações do Governo Dilma, ligado ao Partido dos Trabalhadores, cogita a possibilidade de doar bilhões em bens considerados públicos às teles em troca de investimentos em redes de fibra óptica das próprias empresas. A infraestrutura essencial para os serviços de telecomunicações, minimamente preservada na privatização de FHC, será entregue às mesmas operadoras para que estas façam aquilo que deveria ser obrigação da prestação do serviço.
Quando o Sistema Telebras foi vendido em 1998, a telefonia fixa passou a ser prestada por concessionárias. Essas empresas receberam da estatal toda a infraestrutura necessária à operação do serviço, a qual foi comprada por alguns bilhões de reais. Definiu-se um prazo para as concessões e os bens a ela relacionados foram regulados como reversíveis, isto é, devem voltar à União ao final dos contratos de concessão para nova licitação. São bens submetidos ao interesse público, que retornam à posse do Poder Público para que, terminada a concessão, a União defina com quem e como deve se dar continuidade à prestação, já que é ela a responsável pelo serviço de acordo com a Constituição Federal.
Esse modelo de concessão foi adotado em razão de uma escolha crucial do Governo FHC, a aplicação de regime jurídico ao serviço de telefonia fixa condizente com sua essencialidade – o regime público. Ele permite ao Estado exigir metas de universalização e modicidade tarifária das empresas concessionárias, além de regular as redes do serviço como reversíveis.
Antes da privatização, de 1995 a 1998, foram investidos bilhões de recursos públicos para preparar as empresas para os leilões. A planta da telefonia fixa quase dobrou. Posteriormente à venda, as redes reversíveis se desenvolveram para cumprir metas de universalização previstas nos contratos de concessão a serem concluídas até 2005. A ampliação da cobertura foi viabilizada pela tarifa da assinatura básica, reajustada durante muitos anos acima da inflação e até hoje com valor injustificadamente elevado.
Além desse incremento dos bens da concessão, a infraestrutura da telefonia fixa se tornou suporte fundamental para a oferta de acesso à banda larga no país. Mesmo as redes que eventualmente não tenham relação direta com o telefone, apresentam ligação financeira com ele. Afinal, também durante anos, e ainda hoje, houve subsídio cruzado ilegal da concessão às redes privadas de acesso à Internet. A telefonia, que deveria ter tarifas menores, passou a se constituir na garantidora da expansão da banda larga conforme critérios de mercado e de interesse econômico das operadoras.
Assim, a medida cogitada pelo Ministro Paulo Bernardo aponta ao menos dois graves problemas. Primeiro, ela significa a transferência definitiva ao patrimônio das teles de bilhões em bens que constitucional e legalmente deveriam retornar à União, pedindo em troca que essas empresas invistam em si mesmas, ou seja, em redes que serão para sempre delas. Segundo, a doação bilionária envolveria grande parte da espinha dorsal das redes de banda larga no país, enfraquecendo ainda mais o Estado na condução de políticas digitais. Como se não bastasse, essa medida significaria o suspiro final do regime público nas telecomunicações, com a prestação da telefonia fixa passando exclusivamente ao regime privado.
Diante do desafio de especificar quanto das redes atuais de telecomunicações são ligadas à telefonia fixa ou resultado de suas tarifas, o arranjo em avaliação sem dúvida simplifica o processo em favor das operadoras. Não só isso, minimiza as vergonhosas consequências de até agora já ter sido vendido um número considerável de bens reversíveis sem autorização ou conhecimento da Anatel, que deveria tê-los controlado desde as licitações, mas não o fez efetivamente.
Se aprovada tal proposta, o nosso saldo será a privatização do que resta de público nas telecomunicações e o profundo desprezo pelo caráter estratégico da infraestrutura de um serviço essencial como a banda larga. Estaremos diante do desrespeito violento à determinação constitucional de que a União é a responsável pelos serviços de telecomunicações, na medida em que perderá o direito de interferir na gestão de redes que passarão a ser exclusivamente privadas.
A justificativa ensaiada para essa operação é a de que, por um lado, os bens da concessão estão se desvalorizando e, por outro, de que é preciso disseminar fibra óptica pelo país e não há como obrigar as empresas a investirem onde não existe interesse econômico. Porém, o que o Governo quer é encontrar novo subterfúgio para não enfrentar sua falha central nesse campo: o não reconhecimento da banda larga como serviço essencial.
A necessária tarefa de levar banda larga e redes de fibra óptica a todo o Brasil poderia ser realizada sem a transferência de bens de interesse público à iniciativa privada se o Governo garantisse a prestação da banda larga também em regime público. Como visto, esse regime confere ao Estado maiores prerrogativas para exigir o cumprimento de obrigações por parte das empresas. Paralelamente, o modelo regulatório atualmente desenhado prevê mecanismos públicos de subsídio para parte dos investimentos impostos.
O principal deles é o Fundo de Universalização dos Serviços de Telecomunicações (FUST), com recursos constantemente contingenciados pelo Governo Federal. De acordo com a lei que o instituiu, o FUST só pode ser utilizado para o cumprimento de metas de universalização, obrigação que se refere apenas a serviços prestados em regime público. Nesse caso, o financiamento público para a ampliação das redes das operadoras se justifica pelos seguintes motivos: (i) o dinheiro se destina somente à parte dos investimentos que não pode ser recuperada com a exploração do serviço; (ii) os valores das tarifas são controlados para que o serviço seja acessível à população, contemplando-se também acessos gratuitos; e (iii) a rede construída não é patrimônio definitivo das operadora, pois sua posse volta à União ao final da concessão. Com tais garantias, outros subsídios poderiam ser estudados e aplicados sem significar favorecimento das teles.
Entretanto, o Governo mantém a prestação da banda larga exclusivamente em regime privado, criando alternativas ilegais e bastante complicadas para lidar com a demanda de ampliar as conexões à Internet no país e, ao mesmo tempo, evitar o enfrentamento com os poderosos interesses privados. Ao invés de submeter as grandes empresas do setor às obrigações do regime público, opta pela frouxa negociação da oferta de planos de banda larga popular, por empréstimos pouco transparentes do BNDES, pela desoneração de tributos na ordem de 6 bilhões de reais para a construção de redes privadas, pela defesa da utilização do FUST também em regime privado e, agora, considera admissível a doação às teles dos bens que restaram da privatização para que elas invistam em redes próprias, não reversíveis.
Nunca antes na história desse país se tratou com tamanha leviandade serviços essenciais e redes estratégicas!

domingo, março 24, 2013



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DISCOVERY MOSTRA UM DOS PERÍODOS MAIS CONTROVERSOS DA HISTÓRIA BRASILEIRA NO ESPECIAL “A REDE CONDOR”
  • Especial com duas horas de duração, produzido pela Mixer, analisa as ações realizadas pelos militares durante a ditadura;
  • Entrevistados brasileiros falam sobre as suspeitas que relacionam a “Operação Condor” com a morte de políticos como João Goulart e Juscelino Kubitsckeck
A década de 70 é lembrada com um dos períodos mais controversos da história do Brasil e de outros países da América Latina. As democracias de muitos países da região foram derrubadas por sucessivos golpes de Estado que abriram caminho para violentos regimes militares. Detenções em massa, prisões clandestinas e desaparecimentos são apenas algumas das ações impostas pelos novos líderes para reprimir os opositores de seus objetivos. Neste contexto, aqueles que governavam o Brasil, Argentina, Bolívia, Chile, Paraguai e Uruguai formaram uma aliança político militar, mais conhecida como “Operação Condor”, cujo objetivo foi assegurar a continuidade destas ditaduras, neutralizando os diferentes grupos de esquerda: ALN no Brasil, Montoneros na Argentina, MIR no Chile e Tupamaros no Uruguai, entre outros.
No especialA REDE CONDOR, que será exibido domingo24 de março, às 21h30, oDiscovery revela os bastidores desta sangrenta operação que perseguiu, torturou e assassinou centenas de milhares de pessoas. Os depoimentos de historiadores, investigadores, jornalistas e presos políticos trazem detalhes de como se formou e atuou esta rede de cooperação, desde seu início em reuniões secretas entre altos líderes militares até serem colocados em prática atos de extermínio.
Dividido em duas partes que serão exibidas em sequência, o especial com duas de duração relembrará por meio de dramatizações baseadas em fatos reais (todas gravadas em São Paulo) alguns dos casos mais emblemáticos nos quais as ações repressoras tiveram sucesso graças à força e brutalidade características da “Rede Condor”.
A primeira parte apresenta os acontecimentos que levaram à formação de uma aliança entre as ditaduras militares para neutralizar a ameaça socialista, detalhando também as principais ações realizadas dentro de cada país e como a troca de informação e experiências facilitou a criação de uma “metodologia de repressão” por toda a região.
A segunda parte mostra as ações realizadas por esta aliança por meio de dramatizações dos casos mais conhecidos relacionados à operação. Além disso, as suspeitas de que a “Rede Condor” pode ter tido relação com as mortes do político e jornalista brasileiro Carlos Lacerda e dos ex-presidentes João Goulart (exilado na Argentina) e Juscelino Kubitscheck serão analisadas. A produção traz depoimentos dos brasileiros João Vicente Goulart, filho do ex–presidente e presidente do Instituto João Goulart; do presidente do Movimento de Justiça e Direitos Humanos do Rio Grande do Sul, Jair Krischke:e de João Ricardo Moderno, presidente da Academia Brasileira de Filosofia.
A REDE CONDOR é uma produção do Discovery realizada pela Mixer sob direção de Daniel Billio e direção geral de Rodrigo Astiz. Pelo Discovery, o especial foi produzido e supervisionado por Irune Ariztoy e Michela Giorelli.
Sobre a “Operação Condor”
No início da década de 1970, a “Operação Condor” conduzida pelos regimes militares sul-americanos para reprimir, torturar e assassinar seus opositores colocou em prática o chamado “terrorismo de estado”, que significou a morte e o desaparecimento de milhares de pessoas em seis países da América Latina: Brasil, Argentina, Bolívia, Chile, Uruguai e Paraguai.
Há inúmeras provas da cooperação entre os diferentes regimes militares, entre elas os “arquivos do terror” que foram descobertos em dezembro de 1992 no Paraguai e comprovavam a existência da “Operação Condor”. No entanto, alguns militares que comandaram aquelas ditaduras negaram veementemente que tal operação tivesse existido.
Em junho de 1999, o governo dos Estados Unidos tornou público documentos secretos que faziam referência à atuação da CIA e do Departamento de Defesa durante os anos 70 e 80 nos países da América Latina. Foram estes documentos que revelaram muitos acontecimentos assim como a participação do governo norte-americano em várias ações.
O Discovery é uma marca global dedicada a criar conteúdo de alta qualidade baseado na vida real. Sua missão é informar, entreter e satisfazer a curiosidade de seu público, através de uma programação variada nas áreas de ciência, tecnologia, natureza, história, aventura humana e cultura mundial. Lançado nos Estados Unidos em 1985, e na América Latina, em 1994, o Discovery está presente em mais de 200 países e territórios.
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sábado, março 23, 2013

Para quem acredita ainda no Capitalismo e seus derivados!!


“Deus não morreu. Ele tornou-se Dinheiro” | Entrevista com Giorgio Agamben


Confira abaixo matéria publicada no site do Instituto Humanitas Unisinos.
“O capitalismo é uma religião, e a mais feroz, implacável e irracional religião que jamais existiu, porque não conhece nem redenção nem trégua. Ela celebra um culto ininterrupto cuja liturgia é o trabalho e cujo objeto é o dinheiro”, afirma Giorgio Agamben, em entrevista concedida a Peppe Salvà e publicada por Ragusa News, 16-08-2012.
Giorgio Agamben é um dos maiores filósofos vivos. Amigo de Pasolini e de Heidegger, foi definido pelo Times e pelo Le Monde como uma das dez mais importantes cabeças pensantes do mundo. Pelo segundo ano consecutivo ele transcorreu um longo período de férias em Scicli, na Sicília, Itália, onde concedeu a entrevista.
Segundo ele, “a nova ordem do poder mundial funda-se sobre um modelo de governabilidade que se define como democrática, mas que nada tem a ver com o que este termo significava em Atenas”. Assim, “a tarefa que nos espera consiste em pensar integralmente, de cabo a cabo,  aquilo que até agora havíamos definido com a expressão, de resto pouco clara em si mesma, “vida política”, afima Agamben.
A tradução é de Selvino  J. Assmann, professor de Filosofia do Departamento de Filosofia da Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC [e tradutor de três das quatro obras de Agamben publicadas pela Boitempo].
***
O governo Monti invoca a crise e o estado de necessidade, e parece ser a única saída tanto da catástrofe  financeira quanto das formas indecentes que o poder havia assumido na Itália. A convocação de Monti era a única saída, ou poderia, pelo contrário, servir de pretexto para impor uma séria limitação às liberdades democráticas?
“Crise” e “economia” atualmente não são usadas como conceitos, mas como palavras de ordem, que servem para impor e para fazer com que se aceitem medidas e restrições que as pessoas não têm motivo algum para aceitar. “Crise” hoje em dia significa simplesmente “você deve obedecer!”. Creio que seja evidente para todos que a chamada “crise” já dura decênios e nada mais é senão o modo normal como funciona o capitalismo em nosso tempo. E se trata de um funcionamento que nada tem de racional.
Para entendermos o que está acontecendo, é preciso tomar ao pé da letra a ideia de Walter Benjamin, segundo o qual o capitalismo é, realmente, uma religião, e a mais feroz, implacável e irracional religião que jamais existiu, porque não conhece nem redenção nem trégua. Ela celebra um culto ininterrupto cuja liturgia é o trabalho e cujo objeto é o dinheiro.  Deus não morreu, ele se tornou Dinheiro.  O Banco – com os seus cinzentos funcionários e especialistas – assumiu  o lugar da Igreja e dos seus padres e, governando o crédito (até mesmo o crédito dos Estados, que docilmente abdicaram de sua soberania), manipula e gere a fé – a escassa, incerta confiança – que o nosso tempo ainda traz consigo. Além disso, o fato de o capitalismo ser hoje uma religião, nada o mostra melhor do que o titulo de um grande jornal nacional (italiano) de alguns dias atrás: “salvar o euro a qualquer preço”. Isso mesmo, “salvar” é um termo religioso, mas o que significa “a qualquer preço”? Até ao preço de “sacrificar” vidas humanas? Só numa perspectiva religiosa (ou melhor, pseudo-religiosa) podem ser feitas afirmações tão evidentemente absurdas e desumanas.
A crise econômica que ameaça levar consigo parte dos Estados europeus pode ser vista como condição de crise de toda a modernidade?
A crise atravessada pela Europa não é apenas um problema econômico, como se gostaria que fosse vista, mas é antes de mais nada uma crise da relação com o passado. O conhecimento do passado é o único caminho de acesso ao presente. É procurando compreender o presente que os seres humanos – pelo menos nós, europeus – são obrigados a interrogar o passado.  Eu disse “nós, europeus”, pois me parece que, se admitirmos que a palavra “Europa” tenha um sentido, ele, como hoje aparece como evidente, não pode ser nem político, nem religioso e menos ainda econômico, mas talvez consista nisso, no fato de que o homem europeu – à diferença, por exemplo, dos asiáticos e dos americanos, para quem a história e o passado têm um significado completamente diferente – pode ter acesso à sua verdade unicamente através de um confronto com o passado, unicamente fazendo as contas com a sua história.
O passado não é, pois, apenas um patrimônio de bens e de tradições, de memórias e de saberes, mas também e sobretudo um componente antropológico essencial do homem europeu, que só pode ter acesso ao presente olhando, de cada vez, para o que ele foi. Daí nasce a relação especial que os países europeus (a Itália, ou melhor, a Sicília, sob este ponto de vista é exemplar) têm com relação às suas cidades, às suas obras de arte, à sua paisagem: não se trata de conservar bens mais ou menos preciosos, entretanto exteriores e disponíveis; trata-se, isso sim, da própria realidade da Europa, da sua indisponível sobrevivência. Neste sentido, ao destruírem, com o cimento, com  as autopistas e a Alta Velocidade, a paisagem italiana, os especuladores não nos privam apenas de um bem, mas destroem a nossa própria identidade. A própria expressão “bens culturais” é enganadora, pois sugere que se trata de bens entre outros bens, que podem ser desfrutados economicamente e talvez vendidos, como se fosse possível liquidar e por à venda a própria identidade.
Há muitos anos, um filósofo que também era um alto funcionário da Europa nascente, Alexandre Kojève, afirmava que o homo sapiens havia chegado  ao fim de sua história e já não tinha nada diante de si a não ser duas possibilidades: o acesso a uma animalidade pós-histórica (encarnado pela american way of life) ou o esnobismo (encarnado pelos japoneses, que continuavam a celebrar as suas cerimônias do chá, esvaziadas, porém, de qualquer significado histórico). Entre uma América do Norte integralmente re-animalizada e um Japão que só se mantém humano ao preço de renunciar a todo conteúdo histórico, a Europa poderia oferecer a alternativa de uma cultura que continua sendo humana e vital, mesmo depois do fim da história, porque é capaz de confrontar-se com a sua própria história na sua totalidade e capaz de alcançar, a partir deste confronto, uma nova vida.
A sua obra mais conhecida, Homo Sacer, pergunta pela relação entre poder político e vida nua, e evidencia as dificuldades presentes nos dois termos. Qual é o ponto de mediação possível entre os dois pólos?
Minhas investigações mostraram que o poder soberano se fundamenta, desde a sua origem, na separação entre vida nua (a vida biológica, que, na Grécia, encontrava seu lugar na casa) e vida politicamente qualificada (que tinha seu lugar na cidade). A vida nua foi excluída da política e, ao mesmo tempo, foi incluída e capturada através da sua exclusão. Neste sentido, a vida nua é o fundamento negativo do poder. Tal separação atinge sua forma extrema na biopolítica moderna, na qual o cuidado e a decisão sobre a vida nua se tornam aquilo que está em jogo na política. O que aconteceu nos estados totalitários do século XX reside no fato de que é o poder (também na forma  da ciência) que decide, em última análise, sobre o que é uma vida humana e sobre o que ela não é. Contra isso, se trata de pensar numa política das formas de vida, a saber, de uma vida que nunca seja separável da sua forma, que jamais seja vida nua. 
O mal-estar, para usar um eufemismo, com que  o ser humano comum se põe frente ao mundo da política tem a ver especificamente com a  condição italiana ou é de algum modo inevitável?
Acredito que atualmente estamos frente a um fenômeno novo que vai além do desencanto e da desconfiança recíproca entre os cidadãos e o poder e tem a ver com o planeta inteiro. O que está acontecendo é uma transformação radical das categorias com que estávamos acostumados a pensar a política. A nova ordem do poder mundial funda-se sobre um modelo de governamentalidade que se define como democrática, mas que nada tem a ver com o que este termo significava em Atenas. E que este modelo seja, do ponto de vista do poder, mais  econômico e funcional é provado pelo fato de que foi adotado também por aqueles regimes que até poucos anos atrás eram ditaduras. É mais simples manipular a opinião das pessoas através da mídia e da televisão do que dever impor em cada oportunidade as próprias decisões com a violência. As formas da política por nós conhecidas – o Estado nacional, a soberania, a participação democrática, os partidos políticos, o direito internacional – já chegaram ao fim da sua história. Elas continuam vivas como formas vazias, mas a política tem hoje a forma de uma “economia”, a saber, de um governo das coisas e dos seres humanos. A tarefa que nos espera consiste, portanto, em pensar integralmente, de cabo a cabo, aquilo que até agora havíamos definido com a expressão, de resto pouco clara em si mesma, “vida política”.
O estado de exceção, que o senhor vinculou ao conceito de soberania, hoje em dia parece assumir o caráter de normalidade, mas os cidadãos ficam perdidos perante a incerteza na qual vivem cotidianamente. É possível atenuar esta sensação?
Vivemos há decênios num estado de exceção que se tornou regra, exatamente assim como acontece na economia  em que a crise se tornou a condição normal. O estado de exceção – que deveria sempre ser limitado no tempo – é, pelo contrário, o modelo normal de governo, e isso precisamente nos estados que se dizem democráticos. Poucos  sabem que as normas introduzidas, em matéria de segurança, depois do 11 de setembro (na Itália já se havia começado a partir dos anos de chumbo) são piores do que aquelas que vigoravam sob o fascismo. E os crimes contra a humanidade cometidos durante o nazismo foram possibilitados exatamente pelo fato de Hitler, logo depois que assumiu o poder, ter proclamado um estado de exceção que nunca foi revogado. E certamente ele não dispunha das possibilidades de controle (dados biométricos, videocâmeras, celulares, cartões de crédito) próprias dos estados contemporâneos. Poder-se-ia afirmar hoje que o Estado considera todo cidadão um terrorista virtual. Isso não pode senão piorar e tornar impossível  aquela participação na política que deveria definir a democracia. Uma cidade cujas praças e cujas estradas são controladas por videocâmeras não é mais um lugar público: é uma prisão.
A  grande autoridade que muitos atribuem a estudiosos que, como o senhor, investigam a natureza do poder político poderá trazer-nos esperanças de que, dizendo-o de forma banal,  o futuro será melhor do que o presente?
Otimismo e pessimismo não são categorias úteis para pensar. Como escrevia Marx em carta a Ruge: “a situação desesperada da época em que vivo me enche de esperança”.
Podemos fazer-lhe uma pergunta sobre a aula que o senhor deu em Scicli? Houve quem lesse a conclusão que se refere a Piero Guccione como se fosse uma homenagem devida a uma amizade enraizada no tempo, enquanto outros viram nela uma indicação  de como sair do xeque-mate no qual a arte contemporânea está envolvida.
Trata-se de uma homenagem a Piero Guccione e a Scicli, pequena cidade em que moram alguns dos mais importantes pintores vivos. A situação da arte hoje em dia é talvez o lugar exemplar para compreendermos a crise na relação com o passado, de que acabamos de falar. O único lugar em que o passado pode viver é o presente, e se o presente não sente mais o próprio passado como vivo, o museu e a arte, que daquele passado é a figura eminente, se tornam lugares problemáticos. Em uma sociedade  que já não sabe o que fazer do seu passado, a arte se encontra premida entre a Cila do museu e a Caribdis da mercantilização. E muitas vezes, como acontece nos templos do absurdo que são os museus de arte contemporânea, as duas coisas coincidem.
Duchamp talvez tenha sido o primeiro a dar-se conta do beco sem saída em que a arte se meteu. O que faz Duchamp quando inventa o ready-made? Ele toma um objeto de uso qualquer, por exemplo, um vaso sanitário, e, introduzindo-o num museu, o força a apresentar-se como obra de arte. Naturalmente – a não ser o breve instante que dura o efeito do estranhamento e da surpresa – na realidade nada alcança aqui a presença: nem a obra, pois se trata de um  objeto de uso qualquer, produzido industrialmente, nem a operação artística, porque não há de forma alguma uma poiesis, produção – e nem sequer o artista, porque aquele que assina com um irônico nome falso o vaso sanitário não age como artista, mas, se muito, como filósofo ou crítico, ou, conforme gostava de dizer Duchamp, como “alguém que respira”, um simples ser vivo.
Em todo caso, certamente ele não queria produzir uma obra de arte, mas desobstruir o caminhar da arte, fechada entre o museu e a mercantilização.  Vocês sabem: o que de fato aconteceu é que um conluio, infelizmente ainda ativo, de hábeis especuladores e de “vivos” transformou o ready-made em obra de arte. E a chamada arte contemporânea nada mais faz do que repetir o gesto de Duchamp, enchendo com não-obras e performances em museus, que são meros organismos do mercado, destinados a acelerar a circulação de mercadorias, que, assim como o dinheiro, já alcançaram o estado de liquidez e querem ainda valer como obras. Esta é a contradição da arte contemporânea: abolir a obra e ao mesmo tempo estipular seu preço.
***
Sobre o autor
Giorgio Agamben nasceu em Roma em 1942. É um dos principais intelectuais de sua geração, autor de muitos livros e responsável pela edição italiana das obras de Walter Benjamin. Deu cursos em várias universidades europeias e norte-americanas, recusando-se a prosseguir lecionando na New York University em protesto à política de segurança dos Estados Unidos. Foi diretor de programa no Collège International de Philosophie de Paris. Mais recentemente ministrou aulas de Iconologia no Istituto Universitario di Architettura di Venezia (Iuav), afastando-se da carreira docente no final de 2009. Sua obra, influenciada por Michel Foucault e Hannah Arendt, centra-se nas relações entre filosofia, literatura, poesia e, fundamentalmente, política. Entre seus principais livros destacam-se Homo sacer (2005), Estado de exceção (2005), Profanações (2007), O que resta de Auschwitz (2008) e O reino e a glória (2011), os quatro últimos publicados no Brasil pela Boitempo Editorial.

domingo, março 17, 2013


O mito do capitalismo “natural”
Há séculos, ideia de que ser humano é “em essência” egoísta-competitivo justifica relações capitalistas. Descobertas recentes estão derrubando tal crença

Rafael Azzi, do Boletim “Controversias”

Marinus van Reymerswaele, O banqueiro e sua esposa
O modelo capitalista de sociedade premia e estimula o comportamento individualista, utilitário e egoísta. Diversos pensadores, como o economista Alan Greespan, acreditam que tal comportamento apenas reflete a verdadeira essência da natureza humana e, portanto, não há muito a fazer a respeito. Entretanto, essa visão do ser humano foi moldada ao longo da história e, na verdade, os estudos de hoje discordam da noção de que somos  essencialmente individualistas e agressivos.
Alguns filósofos, como Thomas Hobbes, John Locke e Adam Smith, contribuíram para a consolidação da ideia de que o ser humano é, por natureza, racional, autônomo, utilitário e voltado principalmente para a satisfação egoísta de seus próprios interesses. As principais instituições políticas e econômicas que hoje moldam a sociedade foram fundadas a partir desses preceitos sobre a natureza humana.
O modelo social adotado pelos princípios capitalistas põe em cena uma perspectiva de Estado-Nação que tem como objetivo estimular as forças do livre mercado e proteger a propriedade privada. O homem é então considerado um indivíduo autônomo e racional que, ao optar por viver em sociedade, acredita que esta é a melhor forma de proteger seus próprios interesses, evitando assim um estado de selvageria natural representado pela expressão hobbesiana “guerra de todos contra todos”.
Da mesma forma que os indivíduos proclamam sua autossuficiência, os Estados são vistos na política internacional como autônomos na busca do próprio interesse. Sob tal perspectiva, as nações encontram-se em eterna batalha em busca de poder e de bens materiais. A narrativa histórica éconstruída a partir de uma constante dicotomia estabelecida entre Estados e indivíduos isolados, público e privado, termos ocasionalmente unidos apenas por razões de utilidade ou de lucro.
O mito do homem que sobrevive como indivíduo é difundido na literatura universal em heróis como Robinson Crusoé: o homem que consegue, sozinho, através do uso da razão, utilizar a natureza a seu favor e sobrevive sem o auxílio de outras pessoas. Porém, o que não está dito é que Crusoé é um homem adulto, que cresceu em uma sociedade complexa, na qual dependia diretamente de outras pessoas. Além disso, ele apenas aprendeu os conhecimentos necessários para a sua sobrevivência na ilha deserta através do contato com experiências de outras pessoas e outras gerações.
Essa visão filosófica, que se transformou em política, foi naturalizada por um conjunto de teorias científicas. O darwinismo social é uma interpretação estreita da teoria de Darwin aplicada à sociedade humana. Tal teoria enfatiza a ideia de que a evolução se relaciona à competição e à sobrevivência do mais forte, pondo-a em prática na sociedade humana. Dessa forma, características como individualismo, agressividade e competição seriam os agentes naturais da evolução. Argumenta-se que a competição pela sobrevivência fundamenta a evolução humana, a fim de justificar a sociedade capitalista como o modelo natural a ser adotado.
Atualmente, tal noção é considerada bastante reducionista. Já se observou, por exemplo, que não apenas a competição mas também a cooperação entre os indivíduos são fatores de extrema importância na sobrevivência de espécies sociais. Recentes estudos de sociobiologia vêm comprovando a hipótese de que o ser humano é, na verdade, um dos animais mais sociais que existe. Não é difícil comprovar esse fato: vivemos em grupos cada vez maiores, em sociedades cada vez mais complexas com indivíduos interdependentes. Temos a necessidade constante de nos sentir conectados a outras pessoas e de pertencer a um grupo, em um sentimento que remonta às ideias ancestrais de coletividade e de comunidade.
Uma descoberta biológica recente vem corroborar essa ideia. Os neurônios-espelhos fazem parte de um importante sistema cerebral que atua diretamente em nossa conexão com outros indivíduos. Esse conjunto de neurônios é mobilizado quando vemos outra pessoa fazendo algo. Pesquisadores constataram que, quando uma pessoa observa outra realizando uma ação, no cérebro do observador são estimuladas as mesmas áreas que normalmente regem a ação observada. Portanto, ao que tudo indica, nossa percepção visual inicia uma espécie de simulação ou duplicação interna dos atos de outros.
Os neurônios-espelhos são a base do aprendizado e da aquisição da linguagem humana. Mais do que isso, eles tornam fluida a fronteira entre nós e os outros; são a origem da empatia, que é a capacidade de nos colocar no lugar de outra pessoa. Pode-se dizer que, ao observar alguém sorrindo, imediatamente nos sentimos impelidos a sorrir também. Quando percebemos alguém que está em uma situação que causa dor, a reação natural é partilhar o sentimento de dor alheia.
A capacidade empática e a necessidade de fazer parte de um grupo formam as bases, por assim dizer, das religiões organizadas e do sentimento de nacionalismo. O problema é que, ao mesmo tempo em que fomentam a empatia coletiva, estas instituições limitam o sentimento empático pelos indivíduos que não fazem parte do mesmo grupo. Assim, o indivíduo que faz parte de outra ordem — seja ela uma nação, uma religião, uma etnia ou uma classe social — é considerado diferente, distante e, eventualmente, intolerável. Tais rótulos limitam a capacidade empática e impedem de ver o outro como um semelhante na partilha de sentimentos, desejos e angústias intrínsecos à natureza humana.
Um exemplo de que a empatia é natural ao ser humano é a forma como ela ocorre de maneira livre e instintiva nas crianças. Quando uma criança observa outra pessoa em situação desfavorável, como a mendicância e a falta de moradia, a primeira reação é o questionamento. Invariavelmente, as respostas que fazem uso de rótulos auxiliam a explicar a situação: “é apenas um mendigo” ou “é só um menino de rua”. Com frases assim, está-se afirmando que o outro não é alguém como nós; trata-se apenas de alguém diferente, em uma realidade distante da nossa. Portanto, ao estimular constantemente o egoísmo e o interesse individualista, a sociedade baseada no modelo atual desestimula a capacidade empática existente em cada um.
Dessa forma, pode-se afirmar que o desafio do nosso tempo é desnaturalizar o egoísmo social que foi imposto e recuperar nossa empatia natural, não apenas em relação aos grupos de pertencimento, mas sobretudo ampliada em relação a toda nossa espécie.

sexta-feira, março 15, 2013

O FILME QUE TODOS BRASILEIROS DEVIAM VER, PARA QUE A HISTÓRIA NÃO SE REPITA!!!


Com arquivos e áudios da Casa Branca, filme revela apoio dos EUA ao golpe de 64

“O Dia que Durou 21 anos” revela conversas de Kennedy e Lyndon Johnson sobre o Brasil. Embaixador Lincoln Gordon coordenou com governo e CIA ações de desestabilização de Goulart e o envio de força-tarefa naval para ajudar conspiradores

Raphael Gomide iG Rio de Janeiro 
Divulgação "O Dia que durou 21 anos"
O presidente Lyndon Johnson (D) deu aval para o embaixador Gordon (E) desestabilizar Goulart e autorizou envio de navios ao Brasil

O filme "O Dia que Durou 21 anos", de Camilo Tavares, revela como os Estados Unidos colaboraram para o golpe militar de 1964, que derrubou o presidente brasileiro João Goulart, com base em documentos sigilosos de arquivos norte-americanos e áudios originais da Casa Branca. O documentário, que será lançado dia 29, apresenta áudios de conversas dos presidentes John F. Kennedy e Lyndon Johnson com assessores sobre o Brasil e mostra como os vizinhos do norte apoiaram os conspiradores, com ações de desestabilização e até militares.
O embaixador dos Estados Unidos no Brasil no início dos anos 1960, o intelectual brasilianista de Harvard Lincoln Gordon, aparece como quase um vilão, com seus alarmantes telegramas para os presidentes John F. Kennedy e Lyndon Johnson, em que apontava o risco iminente de o Brasil seguir Cuba em direção ao comunismo. “Se o Brasil for perdido, não será outra Cuba, mas outra China, em nosso hemisfério ocidental.” No contexto da Guerra Fria da época, pouco após Cuba se tornar socialista, esse era o pior pesadelo dos americanos.
Veja o trailer de "O Dia que Durou 21 anos":

Em conversa com Kennedy, cujo áudio é reproduzido, Gordon avalia que o presidente brasileiro poderia ser um “ditador populista”, nos moldes do argentino Juan Perón. Em novembro de 1963, Lyndon Johnson afirma que não vai “permitir o estabelecimento de outro governo comunista no hemisfério ocidental”.
EUA bancaram ações de propaganda e desestabilização do governo Goulart

Divulgação
João Goulart ao lado de um de seus algozes, o embaixador Lincoln Gordon

O documentário mostra, então, as ações de propaganda dos EUA, coordenadas por Gordon, para desestabilizar o governo brasileiro. Cita a criação e o financiamento de supostos institutos de pesquisa anti-Goulart, como o IBAD (Instituto Brasileiro de Ação Democrática) e o IPES (Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais) para bancar “pesquisas” e campanhas de 250 candidatos a deputados, oito a governador e 600 a deputado estadual no País. Além disso, o estímulo de greves e artigos na imprensa contra o governo eram o “feijão com arroz” de “ações encobertas” da CIA (Agência Central de Inteligência) onde pretendia derrubar regimes, como explica o coordenador do Arquivo de Segurança Nacional dos EUA, Peter Kornbluh.
Em telegrama para Washington, Gordon admite: “Estamos tomando medidas complementares para fortalecer as forças de resistência contra Goulart. Ações sigilosas incluem manifestações de rua pró-democracia, para encorajar o sentimento anticomunismo no Congresso, nas Forças Armadas, imprensa e grupos da igreja e no mundo dos negócios.” Entrevistado, o assessor de Gordon na embaixada, Robert Bentley, não nega o financiamento americano, apenas sorri, cala e diz: “Isso era uma polêmica quando cheguei [ao Brasil].”
O filme reitera ainda a importância do adido militar da embaixada Vernon Walters, amigo de oficiais brasileiros desde a 2ª Guerra Mundial, como o general Castelo Branco, que viriam a ser fundamentais na derrubada de Goulart. Cabia a Walters identificar insatisfeitos entre militares. O oficial descreve Castelo Branco, então chefe do Estado-Maior do Exército, como “altamente competente, oficial respeitado, católico devotado e admira papel dos EUA como defensores da liberdade”. Segundo Bentley, “havia muita confiança em Castelo Branco”, o “homem para sanear a situação, do ponto de vista dos interesses americanos”.
Força-tarefa naval para apoiar o golpe pedido de ajuda de militares brasileiros

Divulgação do filme "O dia que durou 21 anos"
Força-tarefa naval, com porta-aviões, foi autorizada a ser enviada ao Brasil para apoiar o golpe de 64

Quando a situação esquenta, os EUA concordam em mandar navios de guerra para a costa brasileira, na chamada Operação Brother Sam, com o objetivo de intimidar e dissuadir o governo de resistir ao golpe. O presidente norte-americano autoriza, em áudio, a fazer “tudo o que precisarmos fazer. Vamos pôr nosso pescoço para fora (nos arriscar).”
Um telegrama do Departamento de Estado dos EUA para Gordon descreve as medidas tomadas para “estar em posição de dar assistência no momento adequado a forças anti-Goulart, se decidido que isso seja feito”. A operação Brother Sam incluía enviar “uma força-tarefa naval, com um porta-aviões, quatro destróieres (contratorpedeiros) e navios-tanques para exercícios ostensivos na costa do Brasil”, além de 110 toneladas de munição e outros equipamentos leves, incluindo gás lacrimogêneo, para controle de distúrbios por avião.
Um telegrama “top secret” da CIA, de 30 de março – véspera da eclosão do movimento – mostra como os americanos estavam bem informados e articulados com os conspiradores. No documento intitulado “Planos de Revolucionários em Minas Gerais”, os espiões dizem que “Goulart deve ser removido imediatamente. Os governadores de São Paulo e Minas Gerais chegaram definitivamente a um acordo. A ignição será uma revolta militar liderada pelo general Mourão Filho. As tropas vão marchar para o Rio de Janeiro.”
Documento assinado pelo secretário de Estado dos EUA, Dean Rusk confirma que os golpistas pediram apoio militar aos EUA. “Pela primeira vez, os golpistas brasileiros pediram se a Marinha americana poderia chegar rapidamente à costa sul brasileira.” Para o professor de História da UFRJ Carlos Fico, a retaguarda da Brother Sam foi fundamental para dar segurança aos militares que derrubariam o regime. Apesar dos documentos e de forma pouco convincente, o diplomata Bentley, nega ter ouvido falar na operação.
Newton Cruz: “Toda revolução, para começar, tem um maluco. O Mourão saiu!"
Divulgação do filme "O dia que durou 21 anos"
João Goulart, no comício da Central do Brasil, às vésperas de ser deposto
O filme tem ainda momentos engraçados. “Toda revolução, para começar, tem um maluco. O Mourão [general Olympio Mourão Filho, que liderou as tropas de Juiz de Fora em direção ao Rio] saiu!”, ri o general Newton Cruz, ex-chefe do SNI (Serviço Nacional de Informações). A filha do general Mourão Filho, Laurita Mourão, diz que o pai chamou de “covarde” Castelo Branco, o primeiro presidente militar após o movimento, ao ser criticado por suposta precipitação ao mover tropas em direção ao Rio. “Castelo Branco, você é um medroso, é um...” Nas palavras da filha, ele também “foi entregar a Revolução a Costa e Silva [posteriormente também presidente do regime], que estava dormindo, de cuecas.”
Após o sucesso da iniciativa, Gordon escreve aos EUA. “Tenho o enorme prazer de dizer que a eliminação de Goulart representa uma grande vitória para o mundo livre”. Robert Bentley conta que participou, no gabinete vazio de Goulart, de reunião sobre a posse do novo regime em que estava o presidente do Supremo Tribunal Federal. Ao telefone para o embaixador, foi perguntado se a posse do novo regime tinha sido legal, e respondeu: “’Parece que foi legal, não sei dizer’. Acordei 12h depois e [os EUA] tinham reconhecido o governo.”
"Acho que há certas pessoas que precisam ser presas mesmo", disse Lyndon Johnson
Divulgação do filme "O dia que durou 21 anos"
Filme estreia dia 29
Poucos dias após o golpe, em um interessante áudio, o presidente Johnson debate com o assessor de Segurança McGeorge Bundy o tom da mensagem para o novo presidente do Brasil.
- Há uma diferença entre Gordon, que quer ser muito caloroso, e nossa visão da Casa Branca, de que o sr. deveria ser um pouco cauteloso, porque estão prendendo um monte de gente.
- Eu acho que há certas pessoas que precisam ser presas mesmo. Não vou fazer nenhuma cruzada contra eles, mas eu não quero... Eu gostaria que tivessem colocado alguns na prisão alguns antes que Cuba fosse tomada – responde Johnson.
- Uma mensagem mais rotineira seria desejável neste momento.
- Eu seria um pouco caloroso – diz o presidente.
- É mesmo? Isso vai ser publicado.
- Eu sei, mas eu estou me lixando!, finaliza o presidente.
Juracy Magalhães: "O que é bom para os EUA é bom para o Brasil”
O filme avança, mostrando o Ato Institucional nº 1, que cassa os direitos políticos e mandatos de parlamentares e de militares. Um deputado chora sobre a mesa, na Câmara. E lembra, para ilustrar a proximidade do regime militar brasileiro com os EUA, a célebre frase que marcou o militar Juracy Magalhães, embaixador do Brasil em Washington: “O que é bom para os EUA é bom para o Brasil”.
Projeto familiar
Divulgação filme "O Dia que durou 21 anos"
Kennedy recebe o embaixador no Brasil, Gordon
O documentário é também um projeto familiar e uma homenagem do diretor, Camilo Tavares, ao pai, o jornalista e ativista político Flávio Tavares – um dos 15 presos trocados pelo embaixador americano Charles Elbrick, sequestrado no Rio em 1969.
Flávio aparece na famosa foto dos presos (abaixo) diante do avião que os levaria ao exílio, no México – onde o diretor nasceria, em 71 –, e em um flash rápido, em lista de “procurados”, com o nome de Flávio Aristides. É também Flávio Tavares quem faz as entrevistas, ficando frente a frente com ex-adversários, o diplomata Bentley e Jarbas Passarinho, ministro que assinou sua extradição. A mulher de Camilo, Karla Ladeia, é produtora-executiva.
Para o embaixador Elbrick, seu sequestro foi uma tentativa de “constranger os governos brasileiro e norte-americano”. Mas há outros momentos de constrangimento americano no filme. Após aparecer a foto de um homem pendurado em um pau-de-arara, Bentley é questionado sobre as violações a direitos humanos. “É difícil de justificar oficialmente. Mas lamento... lamento (ri), de qualquer maneira.” À época, entretanto, as mensagens internas do governo americano pregavam a discrição. “Embora não busquemos justificar atos extra-legais ou excessos do governo, concluí que nossa melhor decisão é nos aproximarmos ao máximo do silêncio de ouro”, recomenda Gordon.
O filme surpreende ainda com depoimentos inusitados e críticos de protagonistas do regime, como o general Newton Cruz, chefe do SNI. “Quando a Revolução nasceu era para fazer uma arrumação da casa. Ninguém passa 20 anjos para arrumar a casa!”
O filme conclui com uma frase ácida do coordenador do Arquivo de Segurança Nacional, o norte-americano Peter Kornbluh. “Tudo isso foi feito em nome da democracia, supostamente.”
Divulgação do filme "O dia que durou 21 anos"
Presos libertados pelo sequestro do embaixador Charles Elbrick, dos EUA. Flávio Tavares, pai do diretor, é o primeiro à direita, agachado

sexta-feira, março 08, 2013

Voce que é católico e aceita Jesus, pense bem hoje no que o Vaticano esta aprontando!!




No capítulo das mulheres, nada de novo no Vaticano

*Carlos Pompe

Neste momento, no Vaticano, senhores idosos, vergando batina, que, presumivelmente, não conhecem as mulheres, ao menos no, digamos assim, sentido bíblico do termo, preparam-se para indicar o novo chefe supremo da Igreja Católica Romana. Todos se consideram porta-vozes dos deuses Pai, Filho e Espírito Santo e intérpretes autorizados da Bíblia, em especial do Novo Testamento. Uma reunião em que mulher não entra – a não ser para executar serviços de copa e limpeza ou, quem sabe, lavar os pés dos presentes, como no mito de Madalena e Jesus Cristo.

Jesus, nos evangelhos, é apresentado como uma pessoa que se comunicava com várias mulheres, inclusive prostitutas. Acompanhava-se também de mulheres nas suas pregações itinerantes, mas a posição delas era de dependentes: “Jesus ia passando pelas cidades e povoados proclamando as boas-novas do Reino de Deus. Os Doze estavam com ele, e também algumas mulheres que haviam sido curadas de espíritos malignos e doenças: Maria, chamada Madalena, de quem haviam saído sete demônios; Joana, mulher de Cuza, administrador da casa de Herodes; Susana e muitas outras. Essas mulheres ajudavam a sustentá-los com os seus bens” (Lucas 8.1-3). Mulheres presenciaram sua crucificação e testemunharam sua ressurreição.
Em João 4: 1-42, Jesus repreende uma samaritana por adorar um deus quem não conhece, em vez do deus judaico, e declara ser o Messias. Ela acredita e vai chamar seu povo, que a segue e também aceita que de fato encontrara o Messias, mas “não somente por causa do que você disse, pois nós mesmos o ouvimos e sabemos que este é realmente o Salvador do mundo". Ou seja, a palavra da mulher não bastava... Marta de Betânia, irmã de Lázaro, a quem Jesus ressuscitará, foi a primeira a chamá-lo “o Cristo, o Filho de Deus que devia vir ao mundo".
Na única referência evangélica à adolescência de Jesus (Luca 2: 41-52), ele foi esquecido pelos pais em Jerusalém, na festa de Páscoa, quando tinha apenas 12 anos – José e Maria voltaram para Nazaré e só lá deram pela falta do moleque. Encontraram-no quatro dias depois, pregando a doutores. Maria o repreende por ter se separado dos pais, mas o garoto, respondão, destrata-a: “Porque me procuráveis? Não sabíeis que devia estar em casa de meu Pai?” Esse despeito são as primeiras palavras de Jesus registradas nos evangelhos.
Mas o Novo Testamento não são só os evangelhos. Pedro ordena a todas as esposas estarem "sujeitas ao vosso próprio marido". (1 3:1) Em 1 Timóteo 2: 9-14, escreve o apóstolo Paulo:  “quero que as mulheres se vistam modestamente, com decência e discrição, não se adornando com tranças e com ouro, nem com pérolas ou com roupas caras, mas com boas obras, como convém a mulheres que declaram adorar a Deus. A mulher deve aprender em silêncio, com toda a sujeição. Não permito que a mulher ensine nem que tenha autoridade sobre o homem. Esteja, porém, em silêncio.  Porque primeiro foi formado Adão e depois Eva.  E Adão não foi enganado, mas sim a mulher que, tendo sido enganada, se tornou transgressora”.  Em 1 Coríntios 14: 34-35, assevera: “As mulheres estejam caladas na igreja porque não é permitido falar e se querem aprender alguma coisa pergunte ao seu marido em casa porque é indecente a mulher falar na igreja”.  Em outro trecho da mesma epístola (11:3): “Mas quero que saibais que Cristo é a cabeça de todo o homem, e o homem a cabeça da mulher; e Deus a cabeça de Cristo”. E continua (6-10): “se para a mulher é coisa indecente tosquiar-se ou rapar-se, que ponha o véu. O homem, pois, não deve cobrir a cabeça, porque é a imagem e glória de Deus, mas a mulher é a glória do homem. Porque o homem não provém da mulher, mas a mulher do homem. Porque também o homem não foi criado por causa da mulher, mas a mulher por causa do homem. Portanto, a mulher deve ter sobre a cabeça sinal de poderio, por causa dos anjos”. Assim está escrito na Carta aos Colossenses: “Esposas, sede submissas aos maridos, como convém no Senhor.”
Intérprete do Novo Testamento, São Tomas de Aquino considerava que a mulher “era um ser acidental e falho e que seu destino é o de viver sob a tutela de um homem, por natureza é inferior em força e dignidade”. Tertuliano dizia que ela “era a porta do Demônio”.
Naturalmente, nos vários escritos do Novo Testamento, há também recomendações para que os homens honrem e respeitem as mulheres, mas é inegável o papel subalterno que lhes cabe, o que é até hoje mantido na hierarquia da Igreja Católica Apostólica Romana. Infelizmente, essa visão extrapola as paredes dos templos, pois os líderes religiosos conseguem impô-la à sociedade e inclusive ao Estado.
Como escreveu Vinícius,
“E no longo capítulo das mulheres, Senhor, tenha piedade das mulheres
Castigai minha alma, mas tende piedade das mulheres
Enlouquecei meu espírito, mas tende piedade das mulheres
Ulcerai minha carne, mas tende piedade das mulheres!...
E se piedade voz sobrar, Senhor, tende piedade de mim”

*Carlos Pompe, jornalista, editor do Vermelho/DF, agnóstico e curioso do |Mundo!

SALVE AS MULHERES!!!!!


DIA INTERNACIONAL DA MULHER
Meus parabéns a todas as mulheres, notadamente aquelas que lutam no dia pra manter suas famílias, as que batalham por um mundo melhor. Das “donas” de casa< às revolucionarias e aquelas ou aquela que a gente entrega nosso amor e nossas vidas. Salve a mulher, senhor!!! 

domingo, março 03, 2013

Eu e meus filhos e agregados!!!





Passei o último sábado(ontem)com minha filharada aqui no Hotel San Marco, Brasilia. Elza Maria, Yuri, Hellen Joyce, Paulo Roberto e Lissa Lee(com sua filhinha) e Polyana comandando a turma. Belo  dia!!!