sexta-feira, agosto 10, 2007

Parente do Conde Drácula coloca o dedo na ferida!!!!!

Meu amigo e irmmão Carlos Fernando, do alto de sua sagaz sabedoria, me manda lá de Marataizes, litorânea e afrodisíaca cidade do sul capixaba, artigo publicado no BLOG do Alon, que distrincha o pensamento da classe média, que antes chamávamos de pequena burguesia.
O Alon é um excelente jornalista meu amigo e trabalhamos juntos na Presidência da República quando Aldo Rebelo, o deputado federal comunista era Ministro da Coordenação Política.
Para quem não sabe, o nome complicado do Alon é porque ele é da Transilvânia, um pequeno principado na Romênia, de onde surgiu o Conde Dráculo em luta contra os que queriam dominar seu País e as histórias e estórias dai subsequentes. Dizem nas rodas jornalísticas de Brasilia, que Alon é parente distante da linhagem do Conde Drácula, o heróio romeno que virou lenda das histórias de terror e terrir.
Mas vejam abaixo o artigo e sintam como Alon tem realmente razão:
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O LIMITE DA AÇÃO POLÍTICA DA CLASSE MÉDIA!


Por Alon Feuerwerker

Jornalista.


Eu saudei desde o início a emergência do "Cansei". Não porque concorde com as motivações do "Cansei". Eu simplesmente torço para que o "Cansei" ajude a aquecer a sopa social e política do Brasil (leia É do jogo). No que depender da minha torcida, entraremos todos num novo período, em que amplos contingentes de cansados, seja qual for o motivo do cansaço, deverão ir às ruas (e à Internet) manifestar o seu inconformismo e dizer o que desejam mudar no statu quo. O "Cansei" tem despertado reações iradas. Mas a vida é assim mesmo. Do mesmo jeito que a turma do "Cansei" possivelmente possa achar os beneficiados pelo Bolsa Família um bando de vagabundos, que preferem ser sustentados pelo governo a trabalhar, é compreensível que os admiradores do presidente Luiz Inácio Lula da Silva possam ver a turma do "Cansei" como um punhado de playboys e dondocas, insensíveis diante dos problemas sociais do Brasil. Aqui e ali no pessoal do "Cansei" nota-se gente que enxerga o governo federal como a ponta-de-lança de um movimento para transformar o Brasil numa nova Cuba. E do outro lado tem gente que desconfia das convicções democráticas do "Cansei", que vê nele o embrião de uma articulação golpista. Como a que pretendeu em abril de 2002 na Venezuela tirar, pela força, o presidente Hugo Chávez do poder. Tudo isso é do jogo. A opinião é livre. Só não vale ficar choramingando diante da agressividade alheia. Desde Isaac Newton sabe-se que a força aplicada por um corpo sobre outro produz como efeito outra força de mesma intensidade, só que aplicada pelo segundo corpo no primeiro. E o interessante nesse princípio da física clássica é que, ao contrário do que poderia supor o senso comum, as forças não se anulam. Porque os pontos de aplicação são diferentes. Eu repito, não acho ruim que as múltiplas insatisfações transbordem para as ruas. Os países não ficam piores quando as pessoas saem às ruas para atuar politicamente. Eles ficam melhores. O problema maior do "Cansei" é que por enquanto ele é um movimento restrito à classe média. Nada contra a classe média. Eu sou de classe média. Meus amigos são de classe média. Mas se eu tivesse projeto político, se tivesse projeto de poder, não investiria meu tempo e minhas melhores energias organizando movimentos de classe média. A classe média tem um problema. Ela tem grande dificuldade para enxergar além dos seus próprios limites de classe. Antigamente a classe média era chamada de pequena burguesia. A pequena burguesia (ou classe média) de hoje agrupa empresários e assalariados. A espinha dorsal do discurso dela e de sua ideologia é a rejeição ao estado. Sintomaticamente, essa rejeição cresce na medida que o Estado é penetrado por novas forças sociais e políticas -e à medida em que as massas de trabalhadores e pobres conseguem arrancar do estado benefícios que antes eram exclusivos da classe média e dos ricos. É comum ouvir de representantes da pequena burguesia que "antigamente a escola pública era boa". Em geral, o comentário omite que "antigamente" a escola pública atendia meia dúzia de pessoas e que a maioria dos pobres estavam condenados ao analfabetismo. Mas a reclamação mais freqüente vinda da pequena buguesia é que o estado não devolve, na forma de bons serviços, os impostos que o contribuinte paga. A reclamação em muitos casos é justa. Só que a decorrência costuma ser tipicamente pequeno-burguesa: se o estado gasta mal o dinheiro dos impostos, então o sujeito deduz que o certo é pagar menos imposto. Você não vê por aí movimentos de classe média pelo fortalecimento e pela melhoria da qualidade da educação e da saúde públicas. Por que motivo eu digo que essa conclusão (vamos então pagar menos imposto) é pequeno-burguesa? Porque seus efeitos práticos esgotam-se no limite dos interesses imediatos da pequena burguesia. A classe média pagar menos imposto é uma solução para a classe média, mas não é uma solução para a maioria das pessoas. Para o trabalhador que não é de classe média o mais conveniente é que o imposto pago pelo pequeno-burguês (e pelo grande burguês, por que não?) resulte em educação grátis e boa para o filho do trabalhador que não é de classe média. E em atendimento médico bom e grátis para a família do trabalhador que não é de classe média. Anos atrás tomei conhecimento de uma pesquisa que me abriu os olhos para certas coisas. Acho que foi feita pelo ministério da Saúde quando o ministro era José Serra. A pesquisa mostrou na época que a avaliação do atendimento médico na rede pública era bem melhor entre os usuários do serviço do que entre a população em geral. Ou seja, a classe média xinga o atendimento prestado pelo Sistema Único de Saúde (SUS), do qual ela não precisa, mas o pobre que depende do SUS defende e valoriza o SUS. Porque a pequena burguesia tem plano de saúde, mas o trabalhador que não é de classe média só tem o SUS. Enquanto a oposição não entender coisas como essa, vai ficar do jeito que está, com um ar apalermado a cada nova pesquisa de opinião sobre a avaliação do governo.

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