quarta-feira, fevereiro 24, 2010

Juventude no comando da Revolução!!!

Julio Vellozo:

Desafio do PCdoB é deixar contentamento comodista

Paulista e tocador de cuíca, corintiano e historiador, Julio Vellozo transita bem em universos variados como o do samba, da academia e do movimento estudantil. Aos 33 anos, dos quais 14 são de militância comunista, ele chega à Secretaria de Juventude tendo em seu currículo passagens pela direção da UJS e do comitê paulistano. Agora, assume o desafio de fazer com que o PCdoB saia do “contentamento comodista” que por vezes tem marcado sua atuação na juventude e vá além das vitórias já alcançadas.
Julio Vellozo

Vellozo: PCdoB prioriza a juventude
Nesta entrevista concedida ao Partido Vivo, o novo secretário diz que “a grande questão agora, diante dos grandes êxitos que conquistamos, é como abrir um novo período de crescimento”. Para ele, “isso se torna ainda mais importante se considerarmos que o Brasil vive um momento muito positivo, onde as oportunidades para a esquerda socialista são muito grandes”. E destaca: “ainda temos muito por fazer” na área da juventude frente aos objetivos estratégicos e revolucionários do PCdoB.

Por isso, quer aplicar a política de quadros de maneira a incrementar a formação dos jovens militantes comunistas, ampliar quantitativamente as fileiras do partido na juventude e, ao mesmo tempo, contribuir para que esse público tenha papel protagonista nas próximas eleições. “Conhecemos a força da direita e sabemos que ela ainda não mostrou nem o começo de suas garras”, alerta.

Partido Vivo: Que virtudes e que fraquezas você destacaria no que diz respeito à atuação do PCdoB junto à juventude?
Julio Vellozo: O PCdoB tem muita força entre os jovens e isso é reconhecido nacional e internacionalmente. A União da Juventude Socialista (UJS) – que é a principal frente de trabalho do PCdoB nesse meio – é a maior organização de juventude política do Brasil; é respeitada como tal e atingiu grande protagonismo na cena jovem brasileira especialmente depois de seu relançamento em 1996, quando passou a viver uma trajetória de ascensão. A partir do governo Lula esse crescimento ganhou maior velocidade. Além da UJS, destaco a atuação do partido com relação às Políticas Públicas para a Juventude, um trabalho que começou a crescer no governo Lula e que também tem sido positivo.

A grande questão agora, diante dos grandes êxitos que conquistamos, é como abrir um novo período de crescimento. Isso se torna ainda mais importante se considerarmos que o Brasil vive um momento muito positivo, onde as oportunidades para a esquerda socialista são muito grandes.
Para isso é necessário que não nos contentemos com as vitórias que tivemos até agora, que saiamos do que vem sendo chamado entre nós de um “contentamento comodista”. Hoje, no trabalho de juventude, ainda medimos os nossos êxitos sempre de maneira relativa, ou seja, em comparação com os de outras organizações políticas; isso é um jeito viciado de encarar as coisas. O certo é medirmos nossas vitórias em relação a nossos objetivos estratégicos. Pensando assim vemos que ainda temos muito por fazer.

Partido Vivo: Como deve ser a atuação da Secretaria levando em conta dois dos principais pontos aprovados no 12º Congresso, a defesa do Novo Projeto Nacional de Desenvolvimento (NPND) e a nova política de quadros?
JV: A juventude tem papel fundamental em ambos os casos. No caso do NPND, tem papel central, especialmente no que diz respeito a trabalhar para fazer com que esse ciclo aberto por Lula tenha continuidade em 2011. A juventude, inclusive, tem tido importante participação nesses dois governos. Um exemplo foram as manifestações do dia 16 de agosto de 2005 – que ficaram conhecidas como “Fica, Lula” – quando o governo estava em dificuldades, enfrentando uma série de acusações e a direita preparava uma saída golpista. A juventude deve continuar ocupando posição central na política nacional, o que neste momento significa influenciar as eleições de 2010. Tenho a impressão de que o movimento social como um todo – e dentro dele o de juventude – terá papel fundamental para vencermos as eleições que serão difíceis, apesar de as últimas três pesquisas serem bastante positivas. Conhecemos a força da direita e sabemos que ela ainda não mostrou nem o começo de suas garras.

Sobre a Política de Quadros, aqui na Secretaria de Juventude vemos esta questão como ponto fundamental do que chamamos de estruturação partidária. Trata-se, neste momento, de dar consequência ao que foi discutido e aprovado no 12º Congresso: a necessidade de dirigir o partido pelos quadros, de preparar a nova geração dirigente do partido. Aí o papel da juventude é absolutamente fundamental. Afinal, essa frente é uma grande fornecedora de quadros do partido. Nomes como Orlando Silva Jr. (ministro do Esporte); Luciana Santos (vice-presidente do partido e secretária de Ciência e Tecnologia de Pernambuco); Renildo Calheiros (prefeito de Olinda); Ricardo Abreu “Alemão” (secretário de Relações Internacionais), entre tantos outros, vieram da atuação no movimento estudantil. Em resumo, se não cuidarmos de nossos jovens, teremos uma política de quadros capenga. Um jovem chega à UJS com 15 anos, por exemplo, e sai com 29, portanto, um período em que é definido o futuro dessas pessoas. É nessa fase que se desenvolve a posição política, a profissão, as habilidades e muito da personalidade dessas pessoas. Por tudo isso, pretendo dar uma ênfase especial à questão de quadros na Secretaria de Juventude.

Partido Vivo: Dentro desse universo de itens aprovados no 12º Congresso – e do qual o NPND faz parte – está o Programa Socialista. Como avalia esse documento?
JV: Vejo que o grande mérito do Programa é enfatizar o caminho para o socialismo, retirando a ênfase sobre o que seria sua primeira fase. Quando colocamos a ênfase no caminho, isso tem um efeito imediato de tornar o programa mais factível aos olhos das pessoas. O partido passa, assim, a ter mais possibilidade de convencer o povo de que o objetivo é possível. No programa anterior, ficava sempre aquela pergunta no ar: mas como chegaremos ao socialismo? E o programa atual faz justamente isso: mostra o caminho. E ao fazer isso, ele reforça a convicção socialista porque essa convicção não é como a fé religiosa que – com todo respeito – é absoluta, incondicional. A adesão à nossa causa tem cunho científico, pressupondo, portanto, certa prova e demonstração de que aquilo é factível. Na medida em que o novo Programa mostra um caminho concreto, ele reforça as convicções no rumo estratégico e a ideia de que é possível vencer.

Outra marca fundamental no novo Programa é o fato de coroar todo um esforço que o partido tem feito de compreender melhor o Brasil. É injusto achar que isso é coisa recente porque desde Otávio Brandão, de Agrarismo e Industrialismo, o partido faz um esforço nesse sentido. Esta ideia de que compreender o Brasil era fundamental sempre apareceu, ainda que com menor ênfase nas elaborações do partido.

O diferencial é que desta vez colocamos isso no centro e construímos um caminho brasileiro. O Programa representa, concretamente, uma tentativa de fazer o caminho brasileiro para o socialismo calcado na realidade do país e não emanado de uma teoria abstrata, ou de um modelo importado.
Agora acho também que tudo isso só terá um efeito ampliado se fizermos um grande esforço de divulgação do Programa Socialista. Ele não pode ir para a estante ou para um link do Partido Vivo e ficar ali. Iniciativas como a que está sendo proposta, de imprimir um milhão de livretos do Programa Socialista, devem ser abraçadas pelo partido. Acho que só podemos pôr um ponto final no processo congressual quando fizermos um grande esforço de divulgação do que o congresso decidiu.

Partido Vivo: Voltando à questão da juventude, apesar de ser um partido pequeno, o PCdoB consegue destaque nessa frente, ainda que com limitações. Qual acredita ser o segredo para esse desempenho?
JV: São vários os fatores. O primeiro é que o PCdoB, depois dos trabalhadores, prioriza de fato a juventude, fazendo um grande investimento nessa frente. Isso revela muito do caráter do partido porque uma agremiação política mais pragmática, que tem como objetivo fazer pequenas reformas, não tem necessidade de ter uma frente de juventude forte. Agora, uma sigla como a nossa, de característica revolucionária, com um objetivo estratégico que consiste em construir o socialismo, necessita de uma organização robusta e atuante. Desde que a UJS foi lançada em 1984, a atenção que o partido dá à juventude é muito maior que a das outras legendas.

O segundo aspecto é que uma ideologia revolucionária, que busca mudanças radicais, atrai a juventude. Tem peso também o fato de o partido investir em quadros jovens. E faz isso inclusive em momentos em que o sujeito ainda não está absolutamente pronto, mas está quase. Ou seja, é uma aposta. Por fim, para não me alongar, colocaria o fato de o partido ter uma política justa em relação à juventude. Acredito que nada disso teria força se o PCdoB não tivesse, por exemplo, uma política ampla em relação às entidades estudantis, uma política de não aparelhamento, de diálogo, tratando essas entidades como instrumentos de frente única de luta e não como instrumentos partidários. Portanto, é uma receita de vários ingredientes.

Partido Vivo: Você tocou num ponto importante. O PCdoB por vezes é criticado por um suposto aparelhamento dessas entidades...
JV: Primeiramente, existe uma ideia errada de que o PCdoB comanda a UNE. O PCdoB é minoria na direção da entidade. Fazem parte dela as mais diversas forças do espectro político nacional, como DEM, PSDB, PSol, PT etc. A UNE é, portanto, uma entidade plural dentro da qual estão diferentes forças políticas e inclusive jovens que não fazem parte de nenhuma organização.

Outra crítica que a UNE recebe diz respeito à sua relação com o governo Lula. A entidade sempre teve independência, mas sabe aproveitar o fato de que o Brasil tem um governo democrático e popular e, em defesa dos interesses dos estudantes, aproveita todas as brechas possíveis de negociação para ter conquistas concretas. O que a UNE se recusa – e que a direita e a grande imprensa querem a todo o custo – é a ser um instrumento das tentativas golpistas de setores conservadores para desestabilizar o governo. Existe hoje um bloco de forças que dirige a entidade – da qual a UJS faz parte – que tem muito clara a ideia de que a UNE, para ser independente e defender os interesses dos estudantes, precisa aproveitar as oportunidades que um governo como o de Lula abre para conquistar vitórias para os jovens. A UNE critica o governo no que é necessário, mas ela não vai cumprir o papel que a direita gostaria: ser um instrumento de desestabilização do governo para a própria direita voltar ao poder.

Partido Vivo: Quais devem ser os próximos passos da secretaria, especialmente levando em conta as eleições deste ano?
JV: Um dos pontos tem a ver com o que coloquei antes. Para não deixarmos que a turma durma sobre os louros, a secretaria estabeleceu, há algum tempo, uma data-símbolo: o ano de 2022, centenário do PCdoB e bicentenário da Independência do Brasil. O objetivo é chegarmos – se possível até antes dessa data – a um trabalho de juventude de qualidade superior, a uma posição de hegemonia no Brasil entre a juventude.

Para isso, trabalhamos com dois vetores: ter uma UJS de massas e ter um trabalho de juventude o mais diversificado possível, que aborde esse público em suas mais diferentes áreas. Esse seria o nosso ponto de chegada. A ideia é trabalhar com esse horizonte, mas ao mesmo tempo com foco porque quando temos somente o horizonte, ficamos diletantes; por outro lado, se tivermos apenas foco, perdemos o horizonte. Nosso foco para o período mais imediato é a realização do Congresso da UJS em junho, em Salvador; queremos que a UJS reúna ao menos 100 mil jovens num mês em que estaremos na boca do gol da campanha eleitoral. Queremos que esse congresso seja um momento de inflexão da campanha entre os jovens.

Do ponto de vista do partido, nosso esforço será ganhar conjunto de nossas direções para esta concepção e esses objetivos. Vamos ter uma postura “campanhista” na secretaria para que o PCdoB como um todo se aproprie dessa estratégia.


Da redação,
Priscila Lobregatte

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