O Partido Comunista nos
livros de Jorge Amado
By Carlos Pompe*
By Carlos Pompe*
Em
10 de agosto foi celebrado o nascimento de Jorge Amado, um dos mais conhecidos
e lidos escritores brasileiros, de aberta militância política e que foi eleito deputado
constituinte, em 1945, pelo Partido Comunista do Brasil, que então adotava a
sigla PCB. Em parte de sua literatura, o escritor baiano apresentou
personagens, reais ou fictícios, vinculados ao Partido, lutadores por um Brasil
avançado, socialista.
Num
de seus livros mais conhecidos, Capitães de Areia, que iniciou em março de
1937, trata de um grupo de crianças pobres ou abandonadas que vivem nas praias,
brincando, praticando pequenos furtos, malandrando. Ao longo da história, os
pequenos capitães vão crescendo, desenvolvendo caminhos próprios. O líder do
grupo, Pedro Bala, ingressa numa organização clandestina que o autor não
nomeia, mas insinua ser o Partido Comunista. Cita “os jornais de classe,
pequenos jornais, dos quais vários não tinham existência legal e se imprimiam
em tipografias clandestinas, jornais que circulavam nas fábricas, passados de
mão em mão, e que eram lidos à luz de fifós” (pequenos lampiões de querosene), “publicavam
sempre notícias sobre um militante proletário, o camarada Pedro Bala, que
estava perseguido pela policia de cinco estados como organizador de greves,
como dirigente de partidos ilegais, como perigoso inimigo da ordem
estabelecida”.
Registra
que no Estado Novo getulista, quando “todas as bocas foram impedidas de falar,
no ano que foi todo ele uma noite de terror, esses jornais únicas bocas que
ainda falavam clamavam pela liberdade de Pedro Bala, líder da sua classe, que
se encontrava preso numa colônia. E, no dia em que ele fugiu, em inúmeros
lares, na hora pobre do jantar, rostos se iluminaram ao saber da notícia. E,
apesar de que fora era o terror, qualquer daqueles lares era um lar que se
abriria para Pedro Bala, fugitivo da polícia. Porque a revolução é uma pátria e
uma família”.
Um ano depois, indo
de ônibus de Estância a Aracaju, Sergipe, prometeu a si escrever sobre a vida
de Prestes, depois que o chofer, que havia sido da Coluna Invicta e da Aliança
Nacional Libertadora, sugeriu-lhe a empreitada. O Cavaleiro da Esperança – Vida
de Luiz Carlos Prestes, escrito em 1942, era um instrumento para servir à causa
da anistia do líder da Coluna e de inúmeros outros comunistas e democratas
perseguidos, encarcerados, torturados e mortos pela ditadura getulista.
Proibido após o golpe militar de 1964, a obra foi novamente editada em 1979,
quando o autor considerou que ela cumpriu “o objetivo visado, concorrendo para
popularizar e intensificar a campanha pela anistia naquele então apenas
iniciada” e afirmou que a sua volta às livrarias servia “ao mesmo objetivo que
o inspirou: servir à causa da anistia aos presos (e exilados) políticos,
campanha que é novamente a mais urgente e generosa bandeira de nosso povo”.
Os Subterrâneos da
Liberdade, trilogia romanesca que se passa durante o Estado Novo e se centra na
luta do Partido Comunista, em especial, e demais democratas contra a ditadura,
foi escrito em 1954. Antes, em 1951, Amado, em O Mundo da Paz, relatou e opinou
favoravelmente sobre o que viu da construção do socialismo na União Soviética e
países do Leste Europeu recém-saídos da ocupação nazista.
Após os ataques
feitos por Nikita Kruschev a Stalin e à orientação que, sob sua direção, o
Partido Comunista adotou à frente da União Soviética, o escritor brasileiro
continuou defendendo o socialismo, porém se distanciou da política partidária e
nos seus livros deixou de construir personagens com atuação revolucionária
partidista. Não mais permitiu reedições de O Mundo da Paz, mas manteve os
outros livros aqui citados no seu catálogo. A crise na União Soviética e no
Leste Europeu, no final do século passado, também o afetaram, mas não o fizeram
abandonar a convicção da necessidade de um mundo novo, sem exploradores e
explorados, de plena realização do ser humano.
Jorge Amado faleceu
em 6 de agosto de 2001. Talvez se possa afirmar, sobre as obras aqui citadas, o
que uma pessoa amiga lhe disse sobre o livro O Cavaleiro da Esperança e que ele
registrou no prefácio da edição de 1979: “achou-o ingênuo; a classificação não
me desgosta. A ingenuidade não representa um mal maior; perigoso é o cinismo
que vem se transformando em hábito no pensamento político do país. A condição
ingênua destas páginas, escritas quando Hitler ameaçava dominar o mundo e a
ditadura do Estado Novo parecia inabalável, nasce de minha obstinada crença no Futuro”.
*Carlos Pompe é jornalista, comunista revolucionario, editor do Vermelho/DF e curioso do Mundo e das coisas!
*Carlos Pompe é jornalista, comunista revolucionario, editor do Vermelho/DF e curioso do Mundo e das coisas!
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