segunda-feira, agosto 17, 2009

Batalhasverbais e outras!

Brigas & Encrencas

Luiz Aparecido

Muitos dos que me conhecem, bem ou mais ou menos, me consideram briguento e encrenqueiro. Isto vai da minha vida profissional, pessoal e até partidária. Não é sem motivo, claro, esta visão que alguns têm de mim. Sou da Paz, mas também preparado para a luta, estando bem ou mal armado ou até mesmo desramado. Mas esta historia de briguento e encrenqueiro acaba virando folclore, distorce a verdade dos fatos muitas vezes e cria uma imagem que não corresponde à verdade da vida.

Já fui mais encrenqueiro que hoje, em que a idade e á vida me deram um pouco de sabedoria. Mas não gosto de mentiras, injustiças e falsidade e, muito menos de violência contra os despossuidos de força e poder. Agora eu acho que ficar brigando por coisas pequenas e insignificantes não vale a pena. Você fica colecionando um monte de pequenos inimigos, que as vezes são até gente boa, que hora ou outra pisou na bola e lhe desagradou ou ofendeu.

Decidi há tempos, que “só vou brigar agora com quem merecer que eu o mate”. Para não ficar colecionando desafetos e perder tempo com picuinhas que não valem o sacrifício de uma boa briga. Mas não quer dizer isto que deixarei de lutar pelo que acredito e defender quem ou o que merece.

Rememorando

Lembro-me de uma primeira briga minha que podia ser evitada, quando eu iniciava a carreira de jornalista no “Jornal da Tarde”, em São Paulo. Numa redação cheia de estrelas eu era iniciante e aprendiz. Perdi a estribeiras um certo dia em que o “genial” e genioso editor chefe, Murilo Felisbeto, rasgou na minha cara o texto de uma reportagem que fiz e ele achou mal escrita. Em vez de me pedir que refizesse a matéria, ele estrelissimo e autoritário como as vezes em que estava atacada ficava, me ofendeu rasgando a matéria na frente de toda redação.

Não tive duvidas de pegar uma das máquinas escrever (na época ainda não havia computador nas redações) e lhe jogar na cara. Bateu no peito de e caiu no chão a peça de ferro. Não causou muitos danos não. Apenas escoriações e um chilique do Murilo que era dado a estes estremiliques. È claro que fui chamado à sala do diretor do jornal, o gentilíssimo Ruy Mesquita e demitido imediatamente, depois de um sermão contra minha violenta atitude.

Poderia usar como desculpa a vida que vivia, com a adrenalina a mil, pois estudava de manha na Universidade, trabalhava no jornal e ainda por cima militava numa organização da luta armada, a ALN, tudo ao mesmo tempo. Mas foi uma atitude burra e infantil a minha. Ainda bem que não atrapalhou meu avanço profissional,pois dali fui para os Diários Associados e passei por outros veículos, nunca mais repetindo aquele tipo de ato.

Encrencas
Mas entrei em varias encrencas na militância política, tanto dentro das organizações que militei e até no PCdoB em que milito até hoje. Algumas valeram apena porque defendi pessoas e idéias que considerava corretas. Quando Fui para o Espírito Santo, comprei brigas de outros em campanhas eleitorais e na luta política. Briguei e ofendi adversários, que eram apenas adversários e não inimigos como os tratei na época. Houve também equívocos de minha parte ou erro de tratamento na disputa. Um deles foi com o hoje deputado Lelo Coimbra, numa época em que ele foi candidato a vice-governador na chapa do governador Paulo Hartung. Misturei alhos com bugalhos e ele se sentiu ofendido porque ataquei um irmão dele de forma virulenta. Falta de discernimento meu. Já com José Carlos Gratz o ataquei pelo que ele representava na época em que o chamado crime organizado mandava no Estado. Desta briga não me arrependo e nem faço reparos.

Também tive uma pinimba que acabou em processo com o atual senador pernambucano e então governador Jarbas Vasconcelos. Ele não me processou diretamente, mas colocou aliados em cima de mim. Apenas denunciei esquemas de favorecimentos no governo dele para empresas que haviam bancado sua campanha. Quem me alimentou de dados para meus ataques, simplesmente me deixaram na mão. Mas é a vida.

Encrencas tive no PCdoB também por defender idéias e pessoas que considerava estarem corretas. Mas tudo isto são águas passadas. Volto aquela máxima lá de cima: agora só vou brigar com quem for matar.

Um comentário:

Unknown disse...

Estimado companheiro e amigo Luiz:
As brigas e encrencas que enfrentamos ao longo de nossas vidas tem muito à ver com a ética, com o inconformismo que trazemos desde a juventude, em função das tragédias humanas que assistimos, patrocinadas pelo sistema em que vivemos ( sistema capitalista), excludente, preconceituoso, perverso, desafiador, e que nos faz pagar muito caro pela nossa rebeldia. A ética, por exemplo, está muito próxima de se tornar apenas verbete de dicionário. Acordos são rompidos, compromissos são quebrados, juras são desfeitas, com a maior desfaçatez, sem o mínimo de culpa ou lapso de consciência.Seja na política, nas relações de sociedade, nos meios de comunicação, na ciência, nos lares, nas escolas, a escassez da ética vai contaminando tudo, tal qual um virus, cuja mutabilidade veloz vai tomando conta da sociedade e sufocando. O resultado disso tudo é que cada vez mais as pessoas de boa índole, de caráter, vão se fechando em copas, lhes restando apenas duas opções: explodir ou se conformar. Para os conformistas resta a opção do silêncio ou da adesão ao que está estabelecido. Para os rebeldes, a luta por mudanças. Não sei medir estatísticamente qual dos lados está vencendo. O lado que assumi, desde jovem, até por herança, é o da ética, sabendo que o caminho é longo e sinuoso, mas consciente de que sòmento por ele haveremos de construir uma nova sociedade, mais humana, mais fraterna, mais igualitária. Essa é a tarefa que compete aos briguentos e aos encrenqueiros como nós. Porque eles, os donos do poder, não são briguentos, nem encrenqueiros, nem precisam disto, eles tem as leis e a espada e as colocam nas mãos daqueles que se prestam ao papel de carrascos. Tramam na calada da noite, operam às escuras, para que, quando surgir os primeiros raios de sol, estejam convenientemente limpos, banhados, trajados, perfumados e travestidos de homens de bem. Não tenho pressa, meu aliado é o tempo, e mesmo que não tenha tempo, outros me substituirão nessa tarefa, porque sempre haverá alguém se levantando contra as injustiças, carregando a nossa bandeira de luta e de vitórias. Saudações socialistas. Amaral