segunda-feira, julho 18, 2011

O Brasil deve avançar contra as trevas!!!


Luiz Carlos Antero


Um fato saudável. Na linhagem da mais generosa tradição do
pensamento marxista criador, Renato Rabelo (1) levantou questões
fundamentais acerca do futuro do movimento revolucionário, essencial
a um futuro exitoso para a humanidade e o Brasil. Sua pedagógica
intervenção coincide com um momento nacional que requer das
forças avançadas uma inteligente postura diante das tentativas de
glorificação de um nebuloso passado derrotado no plano eleitoral com
a contribuição do PCdoB.

Por Luiz Carlos Antero*

Ao considerar “indispensável manter a identidade comunista e ao mesmo
tempo atuar no curso real da luta política” numa “realidade de defensiva
estratégica e numa fase de acumulação de forças num sentido
revolucionário”, Rabelo examinou os desafios da atualização do
pensamento marxista e as alterações na correlação de forças no mundo.

Quando é avaliado o papel da China e dos países emergentes nas
circunstâncias da profunda crise dos EUA, Europa e Japão, aflorou-me à
memória uma entrevista realizada (ao lado de José Carlos Ruy) com um
dirigente do PC da China em dezembro de 2001 — durante o 10º
Congresso do PCdoB, realizado no Rio de Janeiro.

O comunista chinês ali tangenciou a possibilidade de restauração da
bipolaridade e exaltou as excelências de um mundo multipolar. Foi
também no Rio, quase dez anos depois, no recente Encontro
Internacionalista realizado na UFRJ, que Renato pronunciou sua
esclarecedora conferência que confirma tais rumos.

Novo ciclo, nova influência

É nas circunstâncias dessa “nova realidade internacional e de mudança do
cenário nacional, levando-se em conta o ciclo político aberto por Lula e
continuado por Dilma Rousseff”, que o Brasil é promovido a “uma nova
dimensão” também no quadro mundial, realçando-se, no pensamento de
Renato Rabelo, “a importância de atualizar a teoria revolucionária”. É
quando o movimento comunista “começa a recuperar sua influência no

processo de acumulação de forças (no sentido ideológico, político e prático
da influência concreta na sociedade)”.

Uma reflexão assim posta é um vigoroso sopro renovador num País que
vive hoje um ambiente auspicioso, mas ameaçado, aqui ou acolá, pelo
velho pensamento neoliberal que busca a estagnação e a imbecilização da
política. Por vezes, tacitamente assimilado pela fase inercial que sucedeu
ao desaparecimento de circunstâncias e lideranças que marcaram o curso
histórico significativo da trajetória republicana — a exemplo de João
Amazonas de Sousa Pedroso, Mauricio Grabois, Leonel de Moura Brizola,
Miguel Arraes e outros tantos exemplares do pensamento nacional e de
extração patriótica e popular. Boa parte deles eliminada com a ferocidade
planejada para que nada restasse desse pensamento.

FHC: o ocasional paladino

Neste elo, entre as tarefas mais atuais coloca-se uma, muito especial, que
trata de resgatar o gigantesco atraso proporcionado pelas quatro décadas
perdidas que se remontam aos períodos do regime militar (1964-1985) e
neoliberal que acometeu o País (ao longo dos anos 1990 até 2002).

São períodos na essência complementares, articulados e siameses, e raros
intervalos nos quais trataram de consagrar a transição negociada — que, da
Nova República a Fernando Henrique Cardoso, transitando pela vitória de
Fernando Collor, já em 1989, lograram barrar a efetivação de avanços a
uma transição de ruptura. Um desdobramento cirúrgico à destruição do
pensamento nacional alcançado na ditadura.

Emblemática da atual presença deste velho pensamento derrotado em 2002,
2006 e 2010, foi a recente (e bizarra) glorificação do mesmo FHC, que
reaparece “forçando a barra” como ocasional paladino da (possível)
descriminalização da maconha. Mas o que se torna impossível à nação é
tragar seu conservador perfil fisiológico de entreguista e embusteiro da
chantagem inflacionária.

Em seu conjunto, destacaram-se, neste cenário, sinais dessa pasmaceira
plasmada de ternura cínica e que, na plácida “maresia”, ainda subsiste às

transformações requeridas e aos avanços acenados nas três recentes
eleições presidenciais.

Tudo em nome de uma “estabilidade” que custa ao país uma maquiada
instabilidade e sua ruptura com o prodigioso passivo construído pela
mesma elite de estelionatários que “pensou” o Plano Real e, na tradição,
aqueles 502 anos de solidão, concentração fundiária, cidades infladas e
apartadas, perversa e secular espoliação do trabalho, vandalismo,
truculência, miséria e agudas contradições.

Genuflexa “renovação”

Carece de sinergia a desconstrução da herança nascida do casamento entre
a era neoliberal e o regime militar: a concentração da renda e a blindagem
dos espiões e torturadores fascistas, os sagrados frutos das privatizações, a
política macroeconômica e suas elevadas taxas de juros, ciladas cambiais,
restrições estruturais à elevação da massa salarial dos trabalhadores,
sangria da poupança nacional rumo ao centro hegemônico financeiro
mundial, discutíveis investimentos do FAT (BNDES) aos muito ricos,
manutenção dos gargalos ao pleno desenvolvimento — no contexto da
afirmação e prosperidade da tendência multipolar.

É como se tudo isso fosse um intocável pacote cenográfico da TV Globo
financiado pelo governo, sem contestação, na vigência do perfil
subordinado — e instituído no coração do movimento progressista. Esse
pacote de maldades, derrotado pelo povo brasileiro em três eleições
consecutivas, prorroga assim seu espaço no vácuo das alterações na
correlação de força e preservação dos fundamentos da estagnação
conservadora com a religiosa manutenção dos “contratos” — postulados
caninos de uma genuflexa “renovação” política do Brasil.

Alterando o rumo da prosa

Neste ambiente, a deposição de Antonio Palocci — pela qual se pediu
desculpas ao mercado e se teceu elogios a sua perniciosa “contribuição” —
não tem significado além do tilintar dos brindes no reduto do “fogo
amigo”. E os propósitos comemorados na vitória eleitoral de 2010

permanecem num proverbial e envergonhado lugar.

Salvo a atuação (tacitamente silenciada pela mídia imperial) dos
movimentos sociais e a atividade irrequieta das mídias alternativas, a
população, de quem depende o rumo da prosa, assiste àquele pronunciado
pregão do fim da história. Mesmo porque — não obstante altos índices de
aprovação — o que cresce, no espaço contraditório de governo, é a
simpatia no campo dominante pelas ações de retrocesso democrático
quanto, por exemplo, ao fim das coligações proporcionais ou à capitulação
aos interesses “florestais” do imperialismo.

Em busca da luz

Nessa estragada viagem de FHC, o Brasil persiste como o confortável salão
que dá lugar à festa do capital especulativo, da pax dos banqueiros onde
gingam os agiotas, brincam os doleiros e lucram os lobistas e aventureiros
em geral; o país da blindagem a Daniel Dantas et caterva, aos torturadores
do regime militar, aos faceiros (e facínoras) proprietários do império da
mídia.

É ainda o país onde corre solta a folia das multinacionais concessionárias
da (criativamente nossa) energia, da (lucrativa) telefonia; onde dominam as
agências reguladoras, a exemplo da ANEEL e demais proteções de Estado
aos interesses privados, abarcando uma infinidade de emergências sociais
— dos convênios de saúde, que prosperam à sombra da renovada sangria
do SUS, à superexploração tarifária que transfere lucro às potências
imperiais.

Certamente não foi para isso que, ao longo de décadas, lutou-se e enlutou-
se tanto a nossa terra, que se plantou e cultivou-se a plataforma de um
próspero projeto nacional e social de desenvolvimento. Urge a
inauguração, de preferência com Dilma, de um amplo e atento movimento
de atualização dos avanços no Brasil. De uma enérgica, criativa, habilidosa
e renovada Frente Brasil Popular.

(1) Renato Rabelo, presidente do PCdoB (Partido Comunista do Brasil)
palestrou sobre “Os desafios dos Partidos Comunistas no século 21”:

http://www.pcdob.org.br/noticia.php?id_noticia=157648&id_secao=1 ; e,
no seminário "Governos de esquerda e progressistas na América Latina e
no Caribe - Balanço e perspectivas", aprofundou sua análise acerca da
natureza, do atual estágio e das agudas repercussões da crise do
capitalismo: http://www.vermelho.org.br/noticia.php?
id_noticia=157830&id_secao=7 .

* Luiz Carlos Antero é sociólogo, jornalista, escritor e membro da Equipe
de Pautas Especiais do Vermelho

Um comentário:

fotos do doi-codi rj disse...

Com alegria incontida, após 45 anos da tortura, ele, Espedito de Freitas, um dos responsáveis pela liberdade e democracia que vivemos hoje, extravasa em mensagem ao nosso VERDENOVO.NET...
29/7/2011


Em 28 de julho de 2011, a Justiça Federal resolveu dar provimento, por unanimidade à apelação de um cidadão brasileiro, amigo particular da equipe do VERDENOVO.NET, que lutou contra a ditadura, foi preso e torturado, guardando sequelas até hoje.


Cidadão nordestino de Pernambuco, hoje morando em São Paulo, técnico em informática, enfrentou a ditadura com coragem, como poucos o fizeram. Por que publicar aqui seu desabafo? Para que sirva de exemplo de coragem, de persistência, de perseverança, e de pessoa que ontem lutou contra a ditadura, e hoje luta contra o preconceito, fazendo de suas origens seu próprio escudo.


Pena, amigo e companheiro, que não estejamos perto para um abraço fraterno e afetuoso que enviamos à distância. Parabéns pelas muitas lutas que ainda não terminaram.


Com alegria incontida, após 45 anos da tortura, ele, Espedito de Freitas, um dos responsáveis pela liberdade e democracia que vivemos hoje, extravasa em mensagem ao nosso VERDENOVO.NET:


“Essa foi à luta deste velho guerrilheiro aqui, que nunca se curvou nas ações para melhorar esse nosso imensurável Brasil cheio de companheiros que foram sacanas nos usando na época dos anos de chumbo e hoje se dizem ser santos usando os ditames daqueles que realmente hoje ganham causa na corte de justiça por "UNANIMIDADE".


Cultivado entre os cascalhos do chão seco e as cercas de aveloz que se perdem no horizonte, cresceu, forte e robusto, o meu orgulho de pertencer a esse pedaço de terra chamado Nordeste.


Sou nordestino. Nasci e me criei em vários estados do Brasil, correndo o nosso imensurável território, sofrendo o frio do sul nos cafezais, comendo melancia, amendoins, mamão dos pés e despertando com o primeiro canto do galo para, ainda com os olhos tapados de remela, desabar pro curral e esperar pacientemente a ordenha, encher o meu copo de leite, morninho e espumante, direto das tetas da vaca para o meu bucho.


Sou nordestino. Sou apaixonado pela minha terra, pela minha cultura, pelos meus costumes, pela minha arte, pela minha gente. Só não sou apaixonado por uma pequena parcela dessa mesma gente que se enche de poderes e promete resolver os problemas de seu povo, mentindo, enganando, ludibriando, apostando no analfabetismo de quem lhe pôs no poder, tirando proveito da seca e da miséria para continuar enchendo os próprios bolsos de dinheiro.


Mas, apesar de tudo, eu ainda sou nordestino, e tenho orgulho disso. Não me envergonho do meu Brasil, da minha história, não disfarço o meu sotaque, não escondo as minhas origens. Eu sou tudo o que escrevi, sou a dor e a alegria dessa terra. E tenho pena, muita pena, dos tantos nordestinos que vejo por aí, imitando chiados e fechando vogais, envergonhados de sua nordestinidade. Para eles, ofereço estas linhas”.