quinta-feira, agosto 18, 2011

O enigma chines visto por Giovanni Arrighi e comentado por Emir Sader!!



Giovanni Arrighi, pensador italiano recentemente falecido
Por Emir Sader

Giovanni Arrighi, um dos maiores pensadores contemporâneos, recentemente falecido, teve a ousadia de tentar pensar a China realmente existente aos olhos das teorias elaboradas para contextos distintos. Seu livro, publicado pela Boitempo, ousa avançar na abordagem de um tipo de socialismo de mercado.

A mercadoria, átomo do capitalismo, evidentemente tem uma marca que a remete a um sistema social determinado, como destacava Marx na abertura d’O Capital: “As sociedades contemporâneas nos aparecem como um imenso arsenal de mercadorias”. Não por acaso, Marx começa sua obra essencial fazendo a anatomia da mercadoria, dissecando seus valores de uso e de troca para, a partir daí, ir deduzindo as leis gerais da acumulação capitalista.

O que Arrighi realça é o conjunto das relações de mercado: a economia mercantil existiu muito antes do capitalismo, surgiu com o comércio e sobreviveu com ele em todas as sociedades pré-capitalistas. Apela para o próprio Adam Smith para se ancorar.

O caso da China seria um caso significativo e paradigmático. Para resolver a questão da acumulação socialista primitiva, para dar o salto que possibilite a construção do socialismo na periferia do capitalismo, a partir de sociedades atrasadas, a China não repetiu a via soviética de expropriação violenta e maciça dos camponeses, mas apelou a capitais externos, primeiro da diáspora chinesa, depois do mercado internacional em geral. Para os chineses é a via concreta de tirar da miséria centenas de milhões de pessoas, de construir um amplo mercado interno de consumo e alavancar o desenvolvimento econômico do país. O apelo ao mercado demanda um Estado forte, que o regulamente e discipline.

Nessas condições, o mercado poderia ser utilizado com essas funções: gerar as condições do salto histórico herdado do capitalismo. O espetacular desenvolvimento das forças produtivas na China tem, para eles, esse papel. Se vive um período histórico de duração indefinida no tempo, mas delimitada pelo objetivo estratégico fundamental, que continua a ser o socialismo.

A aposta está colocada e seu enigma é, desde já, o maior do século XXI, aquele que, em grande medida, vai dar o significado do novo século. Que será um século chinês, não há duvida. O significado disso é que está aberto. A leitura do livro de Arrighi dá boas pistas do enigma.

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Emir Sader nasceu em São Paulo, em 1943. Formado em Filosofia pela Universidade de São Paulo, é cientista político e professor da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (FFLCH-USP). É secretário-executivo do Conselho Latino-Americano de Ciências Sociais (Clacso) e coordenador-geral do Laboratório de Políticas Públicas da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj). Coordena a coleção Pauliceia, publicada pela Boitempo, e organizou ao lado de Ivana Jinkings, Carlos Eduardo Martins e Rodrigo Nobile a Latinoamericana – enciclopédia contemporânea da América Latina e do Caribe (São Paulo, Boitempo, 2006), vencedora do 49º Prêmio Jabuti, na categoria Livro de não-ficção do ano. Colabora para o Blog da Boitempo semanalmente, às quartas-feiras.
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Vamos esperar o estudo que esta sendo elaborado pelo pensador e militante comunista Elias Kahil Jabbour, que se espera jogara outro forte facho de luz sobre esta questão.Em breve seu estudo vira livro e estara nas bancas, mas postagens de parte dele já estão sendo feitas no Facebook e no Portal Vermelho.

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