Legenda: Senador Renan entrega ao neto do senador Chermont diploma
do mandato
*Carlos Pompe
Semanas atrás, o Senado devolveu simbolicamente os mandatos
do senador Luiz Carlos Prestes e seu suplente, Abeu de Abreu Chermont, ambos do
Partido Comunista do Brasil, arbitrariamente cassados por uma decisão da Mesa
da Casa em janeiro de 1948. Prestes foi representado por sua viúva, dona Maria.
Chermont, por seu neto, Carlos Eduardo. Na emocionante cerimônia realizada, o
senador cearense Inácio Arruda, líder do PCdoB e autor da proposta da devolução
dos mandatos, fez um pronunciamento com uma avaliação política da decisão e
breves esboços biográficos de Prestes e Chermont.
A vida e lutas de Prestes têm sido estudadas e divulgadas em
várias obras, inclusive cinematografias. Já sobre Chermont pouco tem sido
divulgado. Por isso, reproduzo aqui o trecho do pronunciamento do senador
Inácio Arruda sobre o também senador e, depois, suplente de Prestes:
Abel de Abreu Chermont foi eleito suplente de Prestes nas
eleições complementares realizadas em 19 de janeiro de 1947. Advogado e
jornalista, nasceu em Belém, em 21 de junho de 1887. Participou do levante
militar no Pará em 1916, que depôs o governador Enéas Martins para ascensão do
governador Lauro Sodré em 1917. Foi deputado federal de 1918 a 1920, pelo
Partido Republicano Federal, prefeito de Belém, em 1921, deputado federal de
1933 a 1934, pelo Partido Liberal Paraense, e senador, pela União Popular do
Pará, de 1935 a 1936. Fundou o Grupo Parlamentar Pró-Liberdades Populares que
enfrentou os integralistas.
Foi ele, como advogado, quem impetrou, no dia 2 de março de
1936, habeas-corpus em favor de Harry Berger, militante alemão enviado ao
Brasil pela Internacional Comunista, que fora preso em dezembro do ano anterior
e torturado até a loucura. Dezenove dias depois, o próprio Abel Chermont foi
preso, episódio que é referido por Graciliano Ramos nas suas Memórias do
Cárcere, onde narra que ele foi “arrancado
violentamente de casa, entrado em luta física desigual, levado a braços como um
fardo resistente, metido no cárcere e aguentado sevícias, por se haver oposto,
no Senado, aos desmandos selvagens da ditadura policial reinante”. Seu
filho, Francisco Chermont, também foi preso pela ditadura varguista.
Libertado em maio de 1937, reocupou seu posto no Senado,
onde denunciou as arbitrariedades de que foi vítima: foi preso por 16 detetives
que obrigaram sua mulher e dois filhos menores a acompanhá-lo à polícia, onde
foi espancado. Exerceu o mandato até 10 de novembro de 1937, quando, com a
decretação do Estado Novo, foram fechados todos os órgãos legislativos do país.
Nas eleições de 2 de dezembro de 1945, candidatou-se a
senador pelo Distrito Federal na legenda do Partido Comunista, ao lado de Prestes,
mas não conseguiu o mandato. Em 19 de janeiro de 1947, nas eleições
complementares, conquistou a vaga de suplente de Prestes.
Ainda em
1947, Chermont depôs na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) sobre os crimes
do Estado Novo, presidida por Plínio Barreto. De 1949 a 1950, integrou a
primeira comissão diretora do Centro de Estudos e Defesa do Petróleo e da
Economia Nacional. Abel Chermont faleceu no Rio de Janeiro, em 19 de setembro
de 1962.
***
Assim como a
família Prestes, a família Chermont enviou ao senador Inácio mensagem de
agradecimento:
Exmo. Sr.
Senador da República Inácio Arruda,
A família do Senador Abel de Abreu Chermont a
quem, por projeto de iniciativa de V.Exa aprovado unanimemente, foi devolvido o
mandato de suplente de Senador dele arbitrariamente cassado no ano legislativo
de 1948, vem agradecer-lhe a acolhida calorosa que nos foi dispensada e louvar
a grandeza do gesto que fez restaurar os valores da Democracia que ele, V.Exa.
e essa Casa tanto prezaram e prezam.
Com esses sentimentos suas palavras traduziram
o profundo idealismo que norteia a vida pública de V.Exa e expressaram sua fé
inabalável em defesa do Estado de Direito como única forma de serem alcançados
os valores sociais que podem dar ao povo condições de vida e dignidade, através
de uma distribuição de riquezas mais justa.
Peço ainda que transmita aos demais Senadores,
seus pares, também nossos agradecimentos pela homenagem realizada na memorável
sessão de 22 de maio último.
Subscrevendo-nos atenciosamente,
Carlos Eduardo A. Chermont e família
* Carlos Pompe é jornalista, comunista, editor do Vermelho/DF e da direção regional do PCdoB/DF
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