sexta-feira, maio 22, 2009

Reencontros!!

REENCONTRO E CONVERSA DE CONTERRANEOS VELHOS DE GUERRA!!!!

Através do inefável guerreiro Celso Lungaretti, reencontrei um conterrâneo de Penapolis/SP o Antonio Rodrigues do Amaral. e iniciamos um diálogo virtual que este BLOG passa a reproduzir a partir de hoje. São lembranças e inicio de um contato que pode ainda render muitos frutos. Segue abaixo as correspondências:

1- Do Amaral para mim!
Companheiro Luiz:
Ao acessar o blog do Lungaretti, li a "mensagem de um companheiro querido, veterano de muitas lutas pela liberdade e justiça social - Luiz Aparecido", no qual você conta um pedaço de sua vida, sua história de lutas, seu enfrentamento com a ditadura militar, seus projetos futuros de lançamento de um documentário relatando tudo isso, do lançamento de um livro, da sua infância, etc.. Fiquei muito feliz e ao mesmo tempo surpreso por saber que um companheiro tão aguerrido, tem tanta identidade comigo (nas lutas, nos sonhos, nos projetos futuros), inclusive por ser meu conterrâneo de PENÁPOLIS -SP. Nasci em Penápolis em 04/03/1950 e lá morei até 12/08/1961, quando me mudei com a família para Brasília, seguindo os passos de papai, que por sua vez estava seguindo os passos de Jânio Quadros, eleito Presidente da República com uma votação estrondosa para a época. Papai era janista roxo a ponto de apostar até a casa em que morávamos, na vitória do homem da vassoura, e fez campanha para ele em Penápolis. Nossa casa foi transformada em comitê de campanha e todos os dias papai acordava a vizinhança com a música símbolo da campanha: "O homem vem aí". Concorrendo com Adhemar de Barros e com o General Henrique Teixeira Lott, Jânio esteve em nossa casa, de passagem por Penápolis, tendo desembarcado de trem na Estação Ferroviária, para mais um comício pela região Noroeste. Papai conheceu Jânio nas suas andanças por Mato Grosso, como motorista da caminhão de carga (Jânio era vereador em Campo Grande) e acabaram se encontrando em um bar (Jânio gostava de uma marvada pinga como papai). Mas o Presidente viria decepcionar e deixar papai doente de cama, com a renúncia no dia 25 de agosto de 1961, exatamente no dia em que se comemora o Dia do Soldado. Alegando pressões de forças ocultas, que até hoje ninguém conseguiu decifrar que forças eram essas, Jânio deixaria milhões de viúvas pelo país, e um ciclo de desestabilização da democracia. Continuo na 2a parte. A história é longa.. Um grande abraço. Amaral

2-Minha reposta
Meu caro Antonio!
Não recebi a primeira parte do seu relato. Se puder me mandar de novo agradeço. Veja um pouco de minha história nos meus blogs
www.luiz-aparecido.zip.net
www.luizap.blogspot.com
Sou da geração do Celso Lacava, Eninho, Floriano Pastore, Paulo Sergio Mucoucah e outros. Conheci os Valente e o pessoal do Teatro e do cineclube de lá. Fiz política estudantil e comecei a militar na política lá, com o Dr. Francisco Ramalho e outros, conheci o Nagib e outros políticos da época, mas logo fui para São Paulo, junto com o Joel Pereira Gomes, e os irmãos Palhares, Walter Pini, Ruy e Jose Eduardo. Agora tem um amigo de Brasília que esta escrevendo um livro sobre minha vida política e estamos gravando um vídeo documentário sobre a época e minha trajetória. Depois de anos em São Paulo como estudante, jornalista, trabalhei nos Diários Associados, MetroNews, Folha de São Paulo e Diário Popular. Fui preso político da ditadura durante uns cinco anos e até hoje sou militante do PCdoB.
Mas estou agora em Fundão no Espirito Santo me recuperando de uma terrível doença que me deixou quase totalmente paralisado, mas fui salvo pelo hospital Sara de Brasília. Morei depois que sai da prisão no Espírito Santo, depois voltei a São Paulo e depois fui para Brasília onde fiquei muito tempo, trabalhando no Congresso, no Jornal de Brasília e no governo do Cristovan Buarque.
Mande-me a primeira parte e o terceiro de seu relato e se me autorizar vou colocar esta nossa correspondência nos meus Blogs.
Um forte abraço.
Luiz Aparecido

3-Do Amaral para mim
Companheiro Luiz:
Como te falei, sou de Penápolis e morava na esquina da Avenida Santa Casa com a Rua Siqueira Campos, que desemboca no Estádio Municipal Tenente Carriço. Nos mudamos para Brasília também porque papai, na época, era desafeto do então Prefeito de Penápolis Nagib Sabino, irmão do vereador Mário Sabino. Papai pertencia ao grupo político do ex-prefeito Joaquim Araújo, Dr. Ramalho Franco etc...O Nagib Sabino estava sendo investigado por uma CPI na Câmara Municipal, acusado de desviar dinheiro público e material de obra da construção da Escola Técnica (os caminhões de material entravam na construção, eram apontados e saiam com a mesma carga para despejar na obra que o Nagib estava construindo - um prédio de dois andares que existe até hoje lá - no centro da cidade perto da igreja matriz.O clima ficou tão tenso entre os dois que já não podiam se encontrar na cidade, era briga na certa.Assim, aproveitando a eleição do Jânio, a briga com o Prefeito Nagib Sabino e o fato de que o chefe de gabinete do Prefeito de Brasília (naquela época não havia ainda a figura do Governador do DF) era meu padrinho de crisma, portanto compadre de papai, e nos convidou para vir morar por aqui,viemos para Brasília.O Prefeito de Brasília era o embaixador Paulo de Tarso Flexa de Lima, amigo do meu padrinho José Xavier de Oliveira - Juquinha, também de Penápolis.Voltando um pouco no tempo, talvez você conheça, ou já ouviu falar no companheiro Walter Nei Valente, filho do Antonio Valente, é também nosso conterrâneo de Penápolis, é médico e foi dirigente do Sindicato dos Professores do DF, militante e fundador do PT, é meu amigo de infância e morou um pouco abaixo da minha casa na Rua Siqueira Campos, em Penápolis. O Walter hoje pelegou e está no PSDB, desiludido com o PT - mas bem que podia ter escolhido um partido mais a esquerda. Tinha também o Airton Marçal - de Penápolis - que era dirigente do Sindicato dos telefônicos do Rio de Janeiro. Êta cidade para parir celebridades ! Além da Sabrina Satto, do Pânico na TV.Chegando em Brasília, em 1961, fui estudar na Escola Classe 504, onde concluí a 5a Série - Admissão ao curso ginasial, hoje conhecido como ensino fundamental.O ensino fundamental concluí no Colégio Dom Bosco.No dia 01/04/1964, ao chegar ao Colégio Dom Bosco, me deparei com a Av. W/3 infestada por tanques do exército. Era o início do golpe militar que infelicitou o país por mais de 20 anos e deixou atrás de si um país totalmente aniquilado sob todos os aspectos. Segue depois a 3a etapa. Abraços. Amaral
4-Do Amaral para mim
Companheiro Luiz:
Fico feliz por ter recebido minhas mensagens. Pode me chamar de Amaral que é como sou conhecido no movimento sindical e político em Brasília. Quanto a colocar minhas mensagens no seu blog está plenamente autorizado. Pois bem, continuando: Após ter as aulas suspensas no Colégio Dom Bosco, me dirigi à Rodoviária com o objetivo de voltar para casa - morava na Asa Norte Quadra 403, bem no início - entretanto ao chegar lá percebi uma intensa movimentação no Teatro Nacional, à época ainda em construção. Quando entrei no Teatro, o mesmo estava lotado, lá estavam deputados, senadores, populares, estudantes. Logo na entrada estava o pessoal da UNE com pranchetas colhendo o nome do pessoal que se dispunha a resistir ao golpe militar, atendendo ao chamado de Leonel Brizola que estava no Rio Grande do Sul organizando a resistência. O pessoal estava pedindo que aguardássemos a chegada do armamento para a resistência (o armamento mais moderno na época era a metralhadora INA, de fabricação Nacional, e era a promessa do pessoal da UNE). Dei meu nome e fiquei aguardando a chegada do armamento, escutando os discursos que se revezavam na tribuna em apoio a João Goulart e a Brizola. Brasília não possuia um efetivo militar capaz de segurar uma rebelião. Assim, o exército solicitou a vinda de um contingente de Minas Gerais, aerotransportado, que chegou rapidamente à Capital. Sei que por volta das 15 horas, resolvi respirar um pouco fora do teatro por conta do calor intenso, quando avistei a chegada de dezenas de caminhões do exército lotados de soldados que imediatamente se puseram a construir casamatas nas imediações da Rodoviária. Entrei correndo no teatro e o pessoal da UNE também já tinha avistado a movimentação das tropas e foi aquele sufoco. Saímos correndo pelos fundos do teatro, tendo arrombado as portas, e nos metemos a correr cerrado adentro. Depois ficamos sabendo que Jango estava voltando do Rio de Janeiro para Brasília e tinha decidido, por aconselhamento do general chefe da casa militar a se render. Partindo de Brasília, Jango voou para Porto Alegre e imediatamente após, para o Uruguai, lá se exilando. Esse episódio (fuga de Jango e medo de resistir) resultou na briga entre Jango e Brizola, cunhados que eram, por muitos anos. Hoje penso que Brizola estava certo pois os golpistas não estavam ainda estruturados para vencer uma possível resistência, mas com a atitude de Jango o golpe se consolidou. Jango, como ele mesmo relatou, teve receio de que a resistência pudesse levar ao derramamento de um banho de sangue entre irmãos.Tinha muita admiração por Jango e o conheci à porta do Colégio Dom Bosco onde seus filhos também estudavam (faziam o pré-escolar). Era muito simpático, comunicativo, nos cumprimentou sem formalidades. Não possuía aparato de segurança, andava pelas ruas normalmente. Maria Thereza, sua bela mulher também era muito simples, muito elegante, discreta como convinha ao posto que ocupava. Vestia-se muito bem, com roupas da grife Denner, o costureiro da onda. Ia buscar pessoalmente as crianças no Colégio, encontrávamos com ela todos os dias. Jango, com seu programa de reforma de base certamente revolucionaria o país, era um nacionalista, amava o seu país e seu povo e morreu de forma solitária porque mesmo doente, os militares o impediram de voltar ao país, tendo morrido na sua fazenda no Uruguai. Voltando um pouco na história, esse episódio da resistência no Teatro Nacional é contado muito rapidamente no Livro do udenista/golpista Carlos Lacerda intitulado Depoimento, que é uma coletânea de entrevistas que o dito cujo concedeu, se não me engano, ao Jornal Correio da Manhã. Em agosto de 1967(sou muito ruim para guardar datas) resolvi abandonar os estudos e atender ao chamamento do CHE, que estava organizando a revolução nas matas da Bolívia e requisitava combatentes. Saí de Brasília, sem um tostão no bolso, viajando de carona, com uma pequena mochila de roupas nas costas e consegui chegar a Três Lagoas no Mato Grosso. Lá fiquei perambulando pelas ruas por dois meses, dormindo em praça pública, comendo de favor pelos transeuntes e residências que me ofereciam. Desesperado, sem chances de evoluir para o meu objetivo, decidi retornar para casa em Brasília. Você não pode adivinhar o desespero de meus pais, sem notícias, sem contato comigo. Quando cheguei em casa, era um mu lambo em pessoa. Penso que a morte de papai, em 1968 se deveu um pouco pelos meus arroubos revolucionários. Com minha irmã casada, tive que tomar conta de mamãe. Assim tratei de arrumar um emprego e mergulhei de corpo no trabalho porque minha cabeça estava constantemente ligada na ação dos companheiros que nas organizações de esquerda estavam trocando chumbo com a ditadura. A cada notícia de vitória dos companheiros contra a ditadura eu vibrava como se estivesse lá ajudando. Sonhei várias noites com os companheiros que via nos cartazes espalhados pela cidade: Lamarca, Joaquim Câmara Ferreira -Toledo (o velho), Carlos Marighela, Eduardo Leite - o Bacuri, Yara Iavelberg, Vera Sílvia Magalhães, etc...Aliás estive quase com o pé na luta porque pertencia, quando estudante aos quadros da UBES. Na escola seguíamos a orientação do pessoal da UNE, cujo Presidente era o Honestino Guimarães, primo do Sebastião Lopes (Tião) que era meu colega no colégio e vizinho de apartamento na SQN 4l3. A mãe do Tião (Hermione) era professora e colega de minha irmã no mesmo colégio que lecionavam. O Tião seguiu na luta enquanto eu me voltei para o trabalho para sustentar mamãe, recém viúva. O Tião esteve preso no PIC da Polícia do Exército no Setor Militar Urbano durante muitos anos.Hoje está em São Paulo, fazendo movimento sindical em Osasco.A última vez que o encontrei foi num ônibus na L2 Sul. Estava voltando do trabalho para casa (4l3 Sul) quando uma pessoa bateu no meu ombro. Era o Tião. Ficamos visivelmente emocionados com o reencontro. Descemos e ficamos conversando numa parada de ônibus até o limite das horas que o Tião possuía para ficar na rua. Estava com liberdade condicional. Nunca mais o ví, só tenho notícias através do pessoal do movimento sindical. Para encurtar a história, em 1984 entrei para o PT onde estou até hoje. Pertenço à corrente Democracia Socialista. Fui Presidente do Sindicato da minha categoria: urbanitários (CEB,FURNAS, ELETRONORTE e ELETROBRÁS) por três mandatos: (1985/1988), (1989/1991) e (1991/1995). Fui dirigente da CUT e hoje sou dirigente da zonal do PT do Núcleo Bandeirante. No Governo Cristovam, trabalhava na CEB e fui assessor da Presidência. O Presidente era o Luiz Carlos Vidal, ex-preso político, pertencia aos quadros da ALN. Sou socialista e luto pela construção de uma nova sociedade. Não desistirei da luta e nem me afastarei dela um só segundo. Me inspiro muito na figura de João Amazonas, exemplo de luta, dignidade e honradez. Atualmente estou trabalhando na ELETRONORTE, na área de meio ambiente.Estou tentando escrever um Livro, contando também minhas histórias. O título provisório é: Política não se Discute, mostrando, de forma irônica, que a política, mesmo que se queira negar, está impregnada em nossas vidas, desde o nascimento, e quem ignora isso, acaba sendo manipulado pelos espertalhões de plantão. Vamos continuar a nos falar. Precisamos nos unir. Mandei um email para o Lungaretti parabenizando pela iniciativa de criar uma espécie de Centro da Memória Revolucionária. Citei inclusive o caso da Vera Sílvia, que morreu de forma solitária, revoltada por ter passado pelo que passou, demonstrando ter vivido uma vida solitária, longe das pessoas e companheiros a quem amava e com quem lutou. Ousar lutar, ousar vencer. Abraços. Amaral.
5- Minha resposta ao Amaral
Amaral!!!!
Foi uma feliz surpresa você ter me achado agora, apesar de termos nos roçado por estes anos todos. E noto que você é um baita memorialista que vai acabar me ajudando no livro e no documentário que estamos as duras penas produzindo.
No governo Cristovan devemos ter nos cruzado porque fui subsecretario de Comunicação junto com o Moa e o Hélio Doyle e no seu ultimo ano fui para a administração do Gama que era dirigida pelo meu partido. Estou vendo aqui como coloco este nosso diálogo nos meus Blogs e continuarmos a nos falar.
Agora estou as voltas com meu pedido de anistia e auxilio doença que o INSS não me paga neste um ano e meio que estou doente. Mas a vida continua. E como digo sempre aos amigos que vacilam, "a revolução triunfara, apesar de nós".
Forte abraço
Luiz Aparecido

3 comentários:

disse...

Luiz, este mundo é mesmo pequeno. Sou a filha mais velha do Juqinha. Viemos para Brasília em 1961. Só uma pequena correção: o Prefeito de Brasilia era PAULO DE TARSO SANTOS, e não Flecha de Lima. Ele foi Prefeito de Brasília, Ministro da Educação e Deputado Federal caçado, ameaçado, perseguido e exilado no Chile. Ainda está vivo em SP infelizmente com Alzheimer. Meu pai, José Xavier (Juquinha), faleceu em 2.000. Jô.

Anônimo disse...

Meu nome é Walter Miranda de Almeida, mais conhecido como Walter Miranda. Nasci em Penápolis no dia 27/02/1949 aonde morei até o ano de 1976. Fui para Jundiaí aonde morei até 1992 e atualmente resido em Araraquara. Sou Auditor Fiscal da Receita Federal, infelizmente ainda na ativa. Em Jundiaí fui fundador do PT, primeiro suplente de vereador entre 1983 a 1986, tendo assumido por três meses. Sou sindicalista, militante, filiado no PSTU e militante da CSP-Conlutas. Conheço parte do que você fala sobre o Nagib Satino, Dr. Ramalho Franco, Joaquim Veiga de Araújo e vai por ai afora. Sempre estou por ai em atividades política e sempre me hospedo no San Marco ou Carlton.No próximo dia 20 estarei ai em Brasília num Ato Político no Nereu Ramos, no Congresso. Ai em Brasília tem um penapolense que se chama José Angelo Amado. Sua mãe, falecida, era integrante da família Filipin. Quando estiver por ai precisamos conversar. Meu telefone é (16) 9964.8337 e o telefone do Amado, ai em Brasília, é (061) 8126.5506 e 3397.2767. Adorei ler o que você escreveu. Sou articulista do Diário de Penápolis, aonde escrevo todas as quartas-feiras. Vou falar de você.

Anônimo disse...

Olá,

Encaminhei o endereço do seu blog para o FLoriano, Everaldo, GIlberto e Rui Tavares, para conhecimento. Teria ido ao encontro dos penapolenses em Campinas, mas não deu. A propósito, você ainda mora aqui no DF? Caso positivo, me passe o endereço pois estou combinando com o Ninho fazer-te uma visita. Gostaria ainda de manter um contato com o Antonio Rodrigues do Amaral, liguei para a Eletronorte e me informaram que ele está na CEB. Sou da turma do científico de 69. Abraços, José Angelo Amado, celular (61)8126 5506.