Não existe fundamentalismo ateu!!!
Reproduzo a resposta de Daniel Sottomaior, presidente da Associação Brasileira dos Ateus
e Agnósticos, ao artigo de integrante da Opus Dei que critica o “fundamentalismo ateu”
brasileiro.
O fundamentalismo de cada dia
Segundo Ives Gandra, em recente artigo nesta Folha ("Fundamentalismo ateu", 24/11), existe
uma coisa chamada "fundamentalismo ateu", que empreende "guerra ateia contra aqueles
que vivenciam a fé cristã". Nada disso é verdade, mas fazer os religiosos se sentirem atacados
por ateus é uma estratégia eficaz para advogados da cúria romana. Com o medo, impede-se
que indivíduos possam se aproximar das linhas do livre-pensamento.
É bom saber que os religiosos reconhecem o dano causado pelo fundamentalismo, mas resta
deixar bem claro que essa conta não pode ser debitada também ao ateísmo.
Os próprios simpatizantes dos fundamentos do cristianismo, que pregam aderência estrita a
eles, criaram a palavra "fundamentalista". Com o tempo, ela se tornou palavrão universal. O
que ninguém parece ter notado é que, se esses fundamentos fossem tão bons como querem
nos fazer crer, então o fundamentalismo deveria ser ótimo!
Reconhecer o fundamentalismo como uma praga é dizer implicitamente que a religião só se
torna aceitável quando não é levada lá muito a sério, ideia com que enfaticamente concordam
centenas de milhões de "católicos não praticantes" e religiosos que preferem se distanciar de
todo tipo de igrejas e dogmas.
Já o ateísmo é somente a ausência de crença em todos os deuses, e não tem qualquer
doutrina. Por isso, fundamentalismo ateu é um oximoro: uma ficção ilógica como "círculo
quadrado".
Gandra defende uma encíclica papal dizendo que "quem não é católico não deveria se
preocupar com ela". No entanto, quando ateus fazem pronunciamentos públicos preocupa-se
tanto que chama isso de "ataque orquestrado aos valores das grandes religiões".
Parece que só é ataque orquestrado se for contra a religião. Contra o ateísmo, "não se
preocupem".
Aparentemente, para ele os ateus não têm os mesmos direitos que religiosos na exposição de
ideias.
A religião nunca conviveu bem com a crítica mesmo. Já era hora de aprender. Se há ateus
que fazem guerra contra cristãos, eu não conheço nenhum. Nossa guerra é contra ideias, não
contra pessoas.
Os ateus é que são vistos como intrinsecamente maus e diuturnamente discriminados
pelos religiosos, não o contrário. Existem processos movidos pelo Ministério Público e até
condenação judicial por causa disso.
O jurista canta loas ao "respeito às crenças e aos valores de todos os segmentos da
sociedade", mas aqui também pratica o oposto do que prega: ele está ao lado da maioria que
defende com entusiasmo que o Estado seja utilizado como instrumento de sua própria religião.
Para entender como se sente um ateu no Brasil, basta imaginar um país que dá imunidade
tributária e dinheiro a rodo a organizações ateias, mas nenhum às religiosas; que obriga
oferecimento de estudos de ateísmo em escolas públicas, onde nada se fala de religião.
Um país que assina tratados de colaboração com países cuja única atividade é a promoção do
ateísmo; cujos eleitores barram candidatos religiosos; que ostenta proeminentes símbolos da
descrença em tribunais e Legislativos (onde se começam sessões com leitura de Nietzsche) e
cuja moeda diz "deus não existe".
E depois os fundamentalistas que fazem ataque orquestrado somos nós.
2 comentários:
Os verdadeiros "Ateus" são como o bom samaritano... Todos assim sendo, eu também sou!
Muito bom li quase todos os textos! Sou Comunista e ateu e tento ter um coracao justo.
Parabens pelo otimo blog!
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