terça-feira, janeiro 03, 2012

Começar o ano questionando e procurando os caminhos da luta!!!



por William Aguiar  

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O impacto mental e espiritual por haver passado quinze dias envolvido em Conferências Nacionais – participando delas – não é algo que se dilua facilmente na vida de uma pessoa, até mesmo porque o objetivo não é esse. Porém, há um grande problema, que persegue qualquer pessoa que tenha entendido a lógica do sistema capitalista disfarçado de democrático-popular: o que as pessoas querem realmente? Nas três conferências que eu participei, percebi que as pessoas estavam reproduzindo pensamentos que não lhes pertenciam. Pior que isso, nem haviam parado para pensar no que aquelas coisas significavam.

Eu vi e vivi cenas absolutamente absurdas nas três conferências. Na Conferência Nacional de Juventude (logo eu, que daqui a dois anos terei 50) vi uma invasão de jovens cristãos, conservadores, caretas, intolerantes, fundamentalistas e vazios politicamente. Os pontos culminantes desses “vácuos mentais” puderam ser percebidos em alguns momentos das plenárias finais dessas conferências. Na de Juventude, foram dois momentos: na discussão sobre o aborto e na discussão sobre a Hidroelétrica de Belo Monte. Nos dois momentos, a juventude cristã fez questão de mostrar que estava contra os direitos humanos de mulheres e dos povos indígenas. E todos(as) – eu disse todos(as) –achavam aquilo perfeitamente normal.

Na Conferência Nacional de Políticas Públicas para as Mulheres a situação foi mais tenebrosa ainda. Eu vivi uma situação ridícula no estande em que eu estava. Eu distribuía dois materiais: o jornal “Sinpro Mulher”– uma publicação da Secretaria de Políticas para a Mulher Educadora do Sindicato dos Professores e Professoras do DF – e um folder da Campanha do Laço Branco (Homens pelo Fim da Violência contra as Mulheres). Fui ao banheiro e, quando voltei, havia uma mulher no estande. Sem falar nada, coloquei-me no lugar que eu estava ocupando antes. Ela começou a sugerir que aquele não era o meu lugar e, de uma maneira bem educada, eu lhe disse que aquele estande estava sendo utilizado por duas instituições e uma delas era o Sinpro-DF. No final da minha frase, eu toquei no ombro dela, num gesto carinhoso. A reação daquela mulher foi impressionante. Ela disse: “não faça isso, rapaz”, de uma maneira ríspida. Eu imediatamente lhe pedi desculpas, mas solicitei que me deixasse fazer o meu trabalho em paz. Ou seja, quem estava no lugar errado era ela.

Essa situação me fez ver que a paranóia de algumas pessoas com relação ao toque, ao carinho e ao controle do próprio corpo alcança dimensões desastrosas. Logo após essa situação, as mulheres lésbicas realizaram o melhor ato político cultural daquela conferência, que foi tirar a parte de cima de suas vestimentas, tocar e cantar o refrão de uma música: “a carne mais barata do mercado é a carne negra”. Os olhares de reprovação das outras mulheres e em especial dessa que me fez a grosseria eram mais do que evidentes. Eram sintomáticos. E pensar que há quase um século as mulheres foram às ruas para queimar seus soutiens e mostrar que a liberdade é uma atitude radical. Nessas horas eu me pergunto: avançamos em que sentido? Em termos tecnológicos podemos ter avançado sim, mas e intelectualmente? Humanitariamente? Como diria Krishnamurti, a ciência e a tecnologia evoluíram, mas o homem continua ignorante de si mesmo e escravo histórico do poder instalado. Em outras palavras, humanamente falando, as pessoas não conseguem avançar e a maioria delas acha que é assim que as coisas funcionam.

A percepção que essas pessoas têm da vida é o que não lhes permite ir além do que é possível ou do que lhes está posto como verdade. Basta um pastor ou um padre dizer a esses jovens e a essas mulheres que “o demônio habita o corpo e a mente das feministas e dos indígenas”, que toda a reflexão feita a respeito da ampliação de direitos desaparece. Esse é o cenário terrível das Conferências Nacionais, onde se misturam conceitos e valores. Depois da manifestação das mulheres lésbicas, eu escutei frases muito preconceituosas e conservadoras, do tipo: “como elas podem exigir respeito desse jeito?” ou “eu não vim aqui para ver essas fanchonas mostrando o peito pra todo mundo, me agredindo moralmente com isso”. Deu vontade de perguntar: mas senhora veio aqui para o que mesmo? Recuei, pois talvez fosse mal interpretado naquele momento. A crise de percepção é bem mais ampla do que as pessoas possam imaginar.

Esse “fazer político” defendido por muitas pessoas que se dizem de esquerda me dá ojeriza, pois ele destrói o pouco de avanço conseguido até aqui. De nada adiantou o esforço de Gilberto Gil e Juca Ferreira em terem acabado com o famoso “balcão de FHC”, no Ministério da Cultura. Pouco adiantou o esforço de Celso Amorim, no Ministério das Relações Internacionais, ao se recusar a continuar explorando a Bolívia e o Equador. Esses atos de bravura foram completamente suplantados pelos acordos feitos com empresários do agronegócio e com a bancada evangélica. As propostas de defesa de direitos são poeira, se comparadas com os acordos políticos entre PMDB e PT, para salvar esse ou aquele político da tal base aliada. Aliada de quem?

E qual era a preocupação de algumas lideranças na Conferência LGBT? Eu digo: o orçamento da Secretaria de Direitos Humanos, do Ministério da Cultura e do Ministério do Turismo, entre outros. São esses ministérios que bancam projetos de várias ONGs pelo Brasil afora, assim como as paradas do orgulho LGBT (que se transformaram no maior acordo comercial feito com grandes empresários, com a anuência de ONGs e governo). Aliás, alguém pode me explicar o significado da palavra “N” nesta sigla? Outra pergunta: qual é mesmo a preocupação real dessa militância? Volta-se ao que foi colocado como questionamento inicial, ou seja, o que querem as pessoas nessas conferências? A quantidade de questões é imensa e isso tudo só é confuso para quem não consegue perceber a conexão que existe entre todas as coisas citadas aqui.

Crítica ao modelo capitalista? “Isso é coisa de gente que não entende a evolução da política”, como dizem alguns militantes metidos a intelectuais de esquerda, que sequer conseguem disfarçar seus mergulhos para a direita. Ter participado dessas três conferências nacionais deu-me um excelente panorama do movimento social e sua relação com o Estado. Foi possível constatar, entre outras coisas que, para alguns militantes, essa condição foi um bom investimento; seja nos cargos que conseguiram assumir (e seus DAS maravilhosos), seja nos financiamentos de projetos por parte do Executivo Federal. Esse movimento social cooptado só faz a critica – sempre comedida – às ações do Executivo quando lhe é conveniente.

Essa talvez seja uma das maiores vitórias do Capitalismo: fazer com que a consciência humana perdesse o senso crítico e, com isso, sustentasse a visão mecanicista do mundo, na qual o ser humano é visto como parte de uma engrenagem e impedido de ter iniciativa, sob o risco de comprometer o funcionamento de um sistema. Esse “trabalho”, vale lembrar, não é sustentado por trabalhadores do campo e da cidade. Ele é mantido e fortalecido por coisas pensantes – res cogitans – que fizeram uma opção voluntária. É muito fácil acabar com a crítica ao modelo de exploração que há séculos vem condenando à morte milhares de pessoas. Basta pagar um bom salário para os intelectuais “frágeis”, transformando-os em defensores das mudanças indispensáveis para o sistema, dando a essas mudanças uma aparência de evolução inevitável e necessária, criando argumentos que tentam eliminar as verdadeiras necessidades das pessoas.

O movimento social, ao aceitar esse jogo perverso, passa a preocupar-se com o fragmento do problema, uma pequena parte da máquina, no sentido de reajustá-lo e fazer com que o sistema continue a funcionar da maneira como está. Essa visão mecanicista também impede o sujeito de perceber que a engrenagem está ali, daquela maneira, para usá-lo ate o momento de considerá-lo obsoleto. Apesar de reconhecer toda a genialidade de René Descartes e sua importância para o pensamento científico moderno, sou obrigado a admitir, na mesma medida, o desastre de seu método analítico, que afirmava que tudo no mundo material poderia ser explicado em função do movimento de suas partes e, portanto, governado por leis matemáticas – exatamente como uma máquina.

Essa relação perversa entre o movimento social e o Estado expõe a falha estrutural, mas essa condição é percebida apenas por alguns poucos insurretos, que terão suas vozes caladas pela grande máquina, ou pelo “grande pai”, conforme a conveniência de alguns sistemas políticos e econômicos. Um bom exemplo disso foi o debate sobre o PLC 122/06 e as mudanças propostas por parlamentares identificados como esquerda e direita (juntos). O objetivo deixou de ser a criminalização da homofobia, mas a aprovação do projeto sob a égide da possibilidade dentro do sistema. Mudou-se tanto o projeto que ele foi completamente descaracterizado. Ainda assim, a quantidade de pessoas que defendiam as mudanças com argumentos pseudoesquerdistas era impressionante.

Nesse sentido há de se perguntar: para que servem essas Conferências Nacionais? Qual será a real aplicabilidade das ações propostas por esses fóruns? Na Conferência Nacional LGBT havia um grupo grande de “militantes” do PSDB, da chamada Diversidade Tucana. Alguém acredita que essas pessoas estavam mesmo interessadas em mudar a estrutura opressiva e assassina? Alguém acredita que essas pessoas querem fazer alguma coisa? No entanto, elas estavam lá, representando essa parte do movimento social, que sempre tem como resposta às indagações feitas de forma crítica a mesma frase: “não é bem assim...” E é como?

A juventude candomblecista, as lésbicas feministas radicais com os seios à mostra, as consciências críticas LGBT que não se deixam silenciar (menos os que viram socialistas por conveniência), os intelectuais solitários e perseverantes, não podem deixar de existir nesses espaços, bem como fora deles, por mais maquiados que esses fóruns possam ser. O papel desses segmentos é o de fazer exatamente o que não é permitido: pensar. Analisar as situações de maneira crítica e, ao mesmo tempo, passional. Não na medida do possível, mas na medida do que é justo e necessário. Não pela oportunidade de “se dar bem” de alguma forma, mas pela ampliação dos direitos coletivos e valorização da vida.

Há alguma possibilidade disso acontecer sem a revolução do pensamento e a radicalização de ações? Lembro-me de uma frase absolutamente socialista que vi pichada em um muro de Lisboa: “O Capitalismo não se reforma, destrói-se!!!”Já passou da hora de escrevermos outra História. Então, vamos a isso.

William Aguiar é  Assessor Político do SINPRO-DF - Sindicato dos Professores no Distrito Federal

Um comentário:

Anônimo disse...

Esse Willian é uma fraude! preconceituoso e prepotente. cuidado!