sábado, agosto 31, 2013

MÉDICOS CUBANOS: A VELHA CLASSE MÉDIA PIRA!

Médico cubano, negro, vaiado pela pequena burguesia

*Carlos Pompe

No livro  Nova classe média?, o economista Marcio Pochmann mostra que

foram criados 21 milhões de novos postos de trabalho nos últimos dez anos,

sendo 94,8% deste total com salários equivalentes a 1,5 mínimo. Estes

trabalhadores estão sendo chamados de “nova classe média” pelos oligopólios

da comunicação brasileira. Na verdade, não integram a classe média”. Mas a

velha classe média continua atuante no país, e é ela que, servil aos interesses

da classe que lhe é superior, a burguesia, hostiliza os médicos cubanos que

vieram atuar no Brasil e se enoja das políticas sociais que beneficiam a classe

que considera “inferior” a si – a classe proletária, trabalhadora.

 “Seja pelo nível de rendimento, pelo tipo de ocupação, pelo perfil e atributos

pessoais, o grosso da população emergente não se encaixa em critérios sérios

e objetivos que possam ser claramente identificados como classe média”,

escreve Pochmann. Seja pelo nível de rendimento, pelo tipo de ocupação,

pelo perfil e atributos pessoais, o grosso dos médicos e demais pessoas que

participaram dos protestos contra o programa + Médicos e outras ações sociais

do governo e contra a política e os políticos podem ser claramente identificados

com a velha classe média brasileira, a pequena burguesia.

Aquela pequena burguesia que compôs o Integralismo, no início do século

passado; que apoiou a ditadura getulista durante o Estado Novo; que marchou

“com Deus e pela liberdade” (na verdade, pelo golpe militar) em 1964. Essa

pequena burguesia que não se conforma em perder a relação de criadagem

dos trabalhadores domésticos, que herdou das centenas de anos em que a

escravidão imperou no país, agora que eles conquistaram direitos trabalhistas.

Essa gente que acha que os médicos cubanos “tem cara de empregada

doméstica” – talvez achando que sua própria cara pequeno burguesa seja

mais assemelhada à burguesia estampada na revista Caras do que à cara do

trabalhador que vê amontoado no ônibus, no congestionamento, ao passar

com seu carro último tipo (financiado).

No segundo semestre de 1946, numa reunião de sua Organização de Base

no Partido Comunista, o escritor Graciliano Ramos questionou que a pequena

burguesia seja realmente uma classe. “É uma camada vacilante, e diremos

talvez sem contrassenso que o que a caracteriza é a falta de caráter. Subindo

um pouco, tenta insinuar-se no capital – e é favorável à violência, detesta

reuniões, pensa em conformidade com a polícia, teme a foice, o martelo, a cor

vermelha, afeiçoa-se ao golpista e ao delator; largando o emprego, esgotada a

caderneta da caixa econômica, avizinha-se do proletariado – e entra nas filas,

é pingente de bonde, assiste a comícios, descompõe a Light, excede-se em

parolagem demagógica”.

Marx considerava, no  Dezoito Brumário, a pequena burguesia “uma classe

de transição”  (assim, em itálico), na qual os interesses da burguesia e do

proletariado perdem simultaneamente suas arestas. O livro do fundador do

socialismo científico foi escrito quase 100 anos antes do pronunciamento do

escritor brasileiro – como se vê, a classe média é velha de séculos, apesar de

hoje usar a alta tecnologia para difundir seus preconceitos arcaicos e ódio “aos


de baixo”.

*Carlos Pompe é jornalista, militante comunista revolucionario, editor do "Vermelho/DF" e dirigente do PCdoB do Distrito Federal

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