Página de comentários e registros do cotidiano de Luiz Aparecido, sua familia e amigos. Opiniões sobre o que ocorre no Brasil e no Mundo e claro, com as pessoas!
quinta-feira, agosto 08, 2013
SAÚDE É PAZ
JAIME SAUTCHUK*
Outro dia, em meio aos embates sobre as reformas que o governo
federal pretende fazer no campo da saúde do País, aceitei encarar
um exercício simples, mas muito expressivo, chocante até. Foi uma
passada de olhos nas fotos das turmas de formandos em Medicina da
Universidade Federal da Bahia (UFBA), nos últimos 20 anos.
A sociedade baiana é a que tem maior densidade de negros, ou
afrodescendentes, entre todas as unidades da federação. Ao
visualizarmos as fotos, contudo, o que chama a atenção na lata é a
quase completa ausência de rapazes e moças negras nas fulgurantes
turmas de formandos.
Fica claro, pois, tratar-se até os dias atuais de um privilégio de
branquelas, filhos de gente rica, jovens que no mais das vezes
cursam o ensino fundamental e médio em colégios privados, com
reforços de cursinhos preparatórios. E entram em universidades
públicas. Mas isso vem de longe.
A Medicina da UFBA é o primeiro curso de ensino superior do Brasil.
Foi criado por D. João VI, quando da chegada da família real ao
Brasil, e funciona desde 18 de fevereiro de 1808. Formava, já no seu
nascedouro, filhos da aristocracia e, depois, da surgente burguesia
brasileira. O mesmo processo se deu no resto do país, ao longo da
história, pois assim sempre formamos os profissionais da Medicina.
Isso explica as distâncias que existem em nosso sistema de saúde, a
começar pelo acesso do cidadão a esses serviços, já que os médicos
formados vão, na maioria, para o setor privado. Vão cuidar da sua
vida. Embora boa parte descambe para a pesquisa e para a Medicina
de ponta, esta também acaba servindo a poucos.
Explica, de igual modo, a maior parte das posições que temos visto
nas mais diversas manifestações desses profissionais, contrárias aos
acenos de mudanças que surgem no País. São, no fim das contas,
posturas conservadoras, por mais argumentos que usem tentando
justificá-las.
Aliás, alguns desses arrazoados, vistos isoladamente, têm até base,
como é o caso do plano de carreira. Ou a falta de estrutura física.
Mas, isso não altera o conteúdo central das manifestações, que é de
manter as coisas como estão. Até porque, neste aspecto mesmo, o
setor privado tampouco tem plano de carreira para médicos e outros
profissionais.
O fato é que as medidas agora adotadas pelo Governo Federal neste
campo vêm em um momento em que o País já não suporta mais a
precariedade do atendimento de saúde. São ações mais do que bemvindas pela maior parte da população brasileira, mesmo a parcela que
mora nos grandes centros urbanos.
Tudo começa, em caráter emergencial, pelo programa Mais Médicos,
que objetiva atrair profissionais para áreas desprovidas desse
serviço, mesmo que esses tenham que vir de outros países, onde
não haja carência deles. Também de imediato, a ideia é formar mais
profissionais e incluir a atividade prática nos currículos universitários.
Neste ponto, a proposta inicial do governo era a de acrescentar
dois anos de residência médica dirigida aos currículos dos cursos.
Contudo, esse tempo a mais já foi deixado pelo caminho, mas a
exigência de dois anos de atividade prática, na forma de residência,
no Sistema Único de Saúde (SUS), junto a comunidades país afora,
ficou mantida, e é considerada essencial.
Já no ano que vem, serão gastos R$ 5,5 bilhões para construir e
equipar mais hospitais e postos de saúde, como forma de criar
estrutura para a atividade do médico e demais profissionais de saúde.
E será duplicado o número de faculdades de Medicina no País, não se
saber com que nível de qualidade.
Contudo, prossegue a gritaria e protestos de entidades que falam em
nome da categoria, quando deveriam ser elas as primeiras a atentar
para um drama que é inquestionável. Uma realidade que fica cada
vez mais evidente por meio das novas formas de comunicação, que
desmontam alguns tabus e simulações bastante tradicionais.
As novas mídias escancaram o fato de que o exercício da Medicina
não está vinculado a algum talento excepcional ou dom quase místico
de poucos eleitos. É, isto sim, uma possibilidade de todos, desde que
quebradas as barreiras que impedem o acesso do cidadão negro da
Bahia, por exemplo, ao mais antigo curso do Brasil.
As entidades deveriam se aperceber, também, de que elas tampouco
ainda representam verdadeiramente suas categorias. É vergonhoso
lembrar o caso do Conselho Regional de Medicina de São Paulo
(Cremesp), que pagou horas extras e bônus de taxi para seus
funcionários vestirem branco e irem a uma manifestação que seria de
médicos, na Avenida Paulista.
Ou seja, cair na real de agora em diante seria o melhor que essa
gente faria. Caso contrário, irá bater de frente não apenas com o
governo, mas com o próprio cidadão até hoje privado dos serviços
de saúde, só que mais bem informado. Para haver embates de rua, é
daqui pra acolá. O bonde da história está passando.
É, pois, o momento de se construir e consolidar um consenso de que
saúde, além de ser um direito de todos, estejam onde estiverem, é
fator de bem-estar social e significa paz.
*Jaime Sautchuk é jornalista, ambientalista e cidadão brasileiro
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Um comentário:
Bom dia, Companheiro e Amigo Luiz Aparecido, me parece que uma parte da classe Médica que até então prestavam os seus relevantes serviços como queriam, onde queria, ganhando o quanto queria e trabalhando o quanto lhes convinham; o projeto mais médico está abalando esta estrutura, que parecia algo intocável, porém prejudicial as nossas comunidades de menos favorecidas, o que achou desta decisão do nosso Governo Dilma e Padilha?
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