O ateísmo tem andado em pauta. Brasileiros e brasileiras realizam, no próximo dia 12,
domingo, o 1º Encontro Nacional de Ateus, em 25 cidades espalhadas por 23 unidades da
federação. Na Europa, o filósofo e escritor suíço Alain de Botton propôs a construção de uma
espécie de templo ateísta, com mais de 45 metros de altura, no coração financeiro de Londres.
A proposta foi criticada por Richard Dawkins, o mais conhecido ativista do materialismo na
atualidade.
Os ateus brasileiros articularam as manifestações do dia 12 a partir das mídias sociais e,
naturalmente, não sabem o resultado que terão. Também desconhecem se contarão com a
repercussão da convocação e do evento na mídia monopolista, sempre pronta a estardalhaçar
qualquer murmúrio direitista, conservador ou oposicionista ao governo federal postado na
rede.
A data é uma referência ao aniversário de nascimento de Charles Darwin, a quem Karl Marx
enviou um exemplar d´O Capital, manifestando sua admiração pelo biólogo, e a quem
Friedrich Engels se referiu como o homem que descobriu “a lei do desenvolvimento dos
organismos naturais”, assim como Marx descobriu “a lei do desenvolvimento da História
humana”.
Para os organizadores do Encontro, o importante é colocar o ateísmo em discussão, na
sociedade e na imprensa, refletir e fazer refletir, falar com amigos e enviar emails, lembrar que
o ateu não está sozinho. Porém, se aplicado ao censo de 2010 levantamento anterior do IBGE
sobre ateus e agnósticos (2% da população), somos apenas 3,8 milhões dos 190,7 milhões de
brasileiros.
Já o templo londrino consagrado (!) ao ateísmo é, na verdade, uma contraposição que Alain
de Botton quer fazer à militância ateísta, que ele acha destrutiva, de Richard Dawkins. O suíço
considera que seu templo “poderia significar um templo ao amor, amizade, tranquilidade e
perspectiva”. O britânico Dawkins redarguiu: "Ateus não precisam de templos. Eu acho que há
formas melhores de se gastar este tipo de dinheiro. Se você vai gastar dinheiro com ateísmo,
você poderia melhorar a educação secular e construir escolas não-religiosas que ensinam
pensamentos racionais, céticos e críticos."
O debate mostra que o fato de não acreditar em deuses e outros mitos não corresponde
a uma unidade de pensamento ou de projeto social e político. Poucos ateus, por exemplo,
colocam-se na perspectiva marxista, que incorpora a luta de ideias e econômica à luta política
classista, por um novo tipo de sociedade, socialista, em que os religiosos e as religiões não são
criminalizados, mas também não gozam das benesses estatais.
Iniciativas como o encontro de ateus, no dia 12, reforçam a discussão democrática sobre a
religião – tema anatematizado por alguns, que consideram uma manifestação de sectarismo e
hostilidade para com os religiosos o simples fato de ser pautado. Num país em que os nomes
mais usados pela população têm origem bíblica (Maria, 13.356.965; José, 7.781,515; João,
2.988.744; Paulo, 1.416.768; Pedro, 995,254 – levantamento feito pela proScore, a partir
dos 165 milhões de Cadastros de Pessoas Físicas), o Partido Comunista do Brasil, que em seu
Estatuto afirma guiar-se “pela teoria científica e revolucionária elaborada por Marx e Engels,
desenvolvida por Lênin e outros revolucionários marxistas”, defende, desde sua primeira
participação numa Constituinte, em 1946, o Estado laico e a mais ampla liberdade religiosa.
Sintoniza-se, assim, com o sentimento do povo, mas sem abster-se de divulgar sua visão de
mundo, dialética e materialista.
Carlos Pompe é jornalista, comunista, revolucionario e um curioso do Mundo!
Encontre-mo-nos, ateus ou não, também no twitter: @Carlopo
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