Dossiê destaca participação civil no golpe de 1964
Edição da Revista de História, da
Biblioteca Nacional, mostra como setores sociais, entre eles a grande imprensa,
foram decisivos na derrubada de Goulart e na legitimação da ditadura
Publicado em 12/08/2012
São Paulo – A edição deste mês da Revista
de História, da Biblioteca Nacional, traz um especial discutindo a
participação civil no golpe contra o presidente eleito João Goulart, em abril
de 1964. A publicação reconstrói a memória do período demonstrando como setores
da classe média, religiosos, políticos, setores da imprensa, empresariado e
militares se uniram em uma ampla campanha para derrubar o governo de Jango,
sobretudo em reação contra as reformas de base e à participação das classes
populares na política.
O dossiê trata de temas voltados à
compreensão da articulação do golpe e de seus momentos iniciais.
Não são objeto de discussão as questões
relativas a cassações de direitos políticos ou violações de direitos humanos
durante o regime. Uma das questões discutidas é a definição de "ditadura
militar" para o período, ocultando o registro histórico da participação de
empresários, religiosos e imprensa, entre outros setores civis, que atuaram
como financiadores, apoiadores ou que foram beneficiários do regime.
A publicação defende o uso da definição
"ditadura civil-militar" como forma mais apropriada de denominar o
regime. Embora não traga fatos novos, o dossiê tem importância no momento
em que se discute a memória recente do país, através da atuação da Comissão
Nacional da Verdade.
De acordo com a editora da revista,
Vivi Fernandes de Lima, o momento é oportuno para a publicação, que contribuirá
para o acesso a essa história por diversas pessoas. “Este tema é pedido pelos
leitores há anos e acredito que a revista deve contribuir bastante não apenas
para a formação de historiadores, mas principalmente para a de estudantes da
educação básica”, diz.
A revista trata dos temas de forma
pouco comum à cobertura da imprensa tradicional e mostra como essa mesma
imprensa atuou ativamente na articulação do golpe e na desestabilização do
governo Goulart. E demonstra a participação dos dois principais jornais
paulistanos, Folha de S.Paulo e O Estado de S.Paulo,
na campanha para derrubada do presidente João Goulart e de legitimação do
regime autoritário que se instalou depois, através de sua manchetes e
editoriais.
Entre os temas tratados, estão o início
do levante militar em Minas Gerais, a negativa de Goulart de atacar os
golpistas, a atuação de políticos e ministros na organização do golpe, o apoio
de setores da sociedade — como o de parte da Conferência Nacional dos Bispos do
Brasil por meio das Marchas da Família com Deus pela Liberdade — e a
importância de tratar do tema de forma clara nas escolas de educação básica,
por meio dos livros didáticos e outras publicações.
Entre os especialistas que contribuíram
na produção estão o professor de história contemporânea da Universidade Federal
Fluminense Daniel Aarão Reis, o pesquisador Luiz Antonio Dias, o professor
Mateus Henrique de Faria Pereira e o professor Jorge Ferreira, biógrafo de João
Goulart.
Link:
http://www.redebrasilatual.com.br/temas/cidadania/2012/08/revista-trata-da-atuacao-civil-no-golpe-de-64
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