Aqui um dos ultimos textos de Mauricio Grabóis, escrito nas selvas do Araguaya. Um hino de amor ao Partido e ao povo brasileiro!!
Há 40 anos, nas selvas do Araguaia, no seu Diário de Campanha, o nosso comandante escrevia um texto tão pungente, impregnado de amor ao seu Partido e à revolução.
"2/10/72 – Completo 60 anos. Não é uma idade própria para um guerrilheiro. Mas esforço para cumprir meu dever de revolucionário. Dois terços de minha vida, precisamente 40 anos, dediquei ao Partido (...) Agora, estou nas matas do Araguaia, ao lado de jovens e bravos lutadores, enfrentando forças militares da ditadura. De todas as tarefas que tive a meu cargo, esta missão é a que eu mais gosto, apesar de ter a saúde abalada pelo peso dos anos e por longa e febril atividade revolucionária.
Orgulho-me do meu partido e por ele estou disposto a dar minha vida. Somente o PC do Brasil pode conduzir o nosso povo à vitória na luta pela liberdade, a emancipação nacional e o socialismo. Em contato com os corajosos combatentes que aqui se encontram, rapazes e moças, refaço minhas energias, inspiro-me em seu desprendimento e cada vez mais confio no radioso futuro de nosso glorioso destacamento de vanguarda do proletariado.
No meu 60 Aniversário, volto-me com carinho e admiração para os velhos dirigentes do Partido, em especial para o camarada Cid (refere-se a João Amazonas), a quem ligam sólidos e inquebrantáveis laços de amizade, forjados, ao longo de dezenas de anos, em duras e difíceis lutas. Lembro-me também da minha companheira de mais de 30 anos, comunista como eu, pronta para todos os sacrifícios. Nesta hora, eu penso nesta dedicada amiga. Estou certo de que ela pensa igualmente em mim. Do mesmo modo, orgulho-me dos meus filhos, militantes abnegados, que atuam em diferentes setores da atividade partidária. Recordo-me do meu neto, a quem quero tanto bem, convencido de que, no futuro, será também um revolucionário a serviço da grande causa do socialismo e do comunismo.
Após quatro décadas de militância ininterrupta, mantenho o mesmo otimismo e ardor revolucionário de meus 19 anos. Mais dia menos dia a revolução brasileira triunfará. E vale a pena contribuir para a sua vitória (...)". Maurício Grabois
O dia 2 de
outubro de 2012 assinalou a passagem dos cem anos de nascimento de Maurício
Grabois, um dos principais pilares da história do Partido Comunista do Brasil.
Nascido na cidade paulista de Campinas e acidentalmente registrado pela segunda
vez em Salvador (BA), ele era filho de judeus vindos da Ucrânia fugindo das
perseguições antissemitas e dos castigos da guerra do Império Russo com o
Japão.
Em 1930, Maurício Grabois desembarcou
no Rio de Janeiro para fazer o “Curso Anexo” da Escola Militar do Realengo,
onde ingressou em 1931. Mandado para o 1º Regimento de Infantaria em 1932,
neste mesmo ano integrou-se à Federação da Juventude Comunista e logo assumiu a
direção nacional de comunicação da organização. Por esta porta, Maurício
Grabois entrou para o Partido Comunista do Brasil, à época com a sigla PCB.
No levante da Aliança nacional Libertadora (ANL) de
1935, Maurício Grabois estava no olho do furacão. Em seguida, mergulhou fundo
na clandestinidade para ajudar a manter o fio que sustentaria o mínimo de
organização do Partido Comunista do Brasil — o jornal A Classe Operária. Mesmo
nos tempos mais duros da repressão do Estado Novo, ele e mais alguns jovens
intrépidos — entre eles, Amarílio Vasconcelos — mantiveram na ativa o órgão
central do Partido.
Com a prisão de todo o Comitê Central, Maurício
Grabois e Amarílio Vasconcelos começaram a articular a Comissão Nacional de
Organização Provisória (CNOP), que seria integrada, mais tarde, por João
Amazonas e Pedro Pomar, vindos do Pará; Diógenes Arruda Câmara, vindo da Bahia;
e Luis Carlos Prestes, que estava na prisão. O objetivo era reorganizar o
Partido Comunista do Brasil, meta alcançada com a realização da Conferência da
Mantiqueira, em 1943.
A vitória da democracia na Segunda Guerra Mundial
criou as condições para o fim da estrutura do Estado Novo. Maurício Grabois e
seus camaradas organizaram um fantástico movimento de massas que conquistou a
anistia aos presos políticos — entre eles, Prestes —, a convocação da
Assembleia Nacional Constituinte e a realização de eleições em 2 de dezembro de
1945. Em 1º de fevereiro, ele e mais quatorze deputados, além do senador Luis
Carlos Prestes, entraram no Palácio Tiradentes, no Distrito Federal — Rio de
Janeiro, à época —, para tomar posse como constituintes eleitos. Quase oito
meses depois, o país recebeu a Constituição que enterrou os entulhos do Estado
Novo.
Imediatamente depois, Maurício Garbois assumiu a liderança
da bancada comunista na Câmara dos Deputados, onde liderou uma batalha
gigantesca contra o que ele chamava de “restos fascistas”.
Nesse período, escreveu intensamente para
desmascarar as manobras anticomunistas. Além da Tribuna Popular, propôs o relançamento
d’A Classe Operária, o que ocorreu em 9 de março de 1946.
Ao final da refrega iniciada logo nos primeiros
dias de 1946, o Partido Comunista do Brasil perdeu seu registro legal no
Tribunal Superior Eleitoral e todos os comunistas eleitos foram cassados. Em
meados de 1955, Maurício Grabois chefiou o terceiro grupo, de 51 integrantes,
que fez um curso de duração de mais de um ano em Moscou, ministrado pela Escola
Superior do Comitê Central do Partido Comunista da União Soviética (PCUS).
Em 1960, no processo do V Congresso, ele iniciou a
série de artigos de um grupo que recusou a revisão da linha revolucionária do
Partido Comunista do Brasil, iniciada com a publicação da Declaração de Março,
em 1958. Maurício Grabois foi o primeiro a escrever e deixou bem claro que
havia no Partido “Duas Concepções, Duas Orientações Políticas” — título do seu
artigo inicial.
Na “Tribuna de debates”, publicada no jornal Novos
Rumos, cristalizaram-se duas posições antagônicas: de um lado ficaram, além de
Maurício Grabois, entre outros, João Amazonas, Pedro Pomar, Carlos Nicolau
Danielli e Ângelo Arroyo; de outro, estavam nomes como Luis Carlos Prestes,
Mário Alves e Jacob Gorender. A polêmica evoluiu para a criação do Partido
Comunista Brasileiro e a reorganização do Partido Comunista do Brasil — agora
um PCB e outro PCdoB.
A chegada do golpe de Estado em 1964 fez com que o
PCdoB optasse pelo caminho da luta armada. Maurício Grabois, João Amazonas,
Ângelo Arroyo e Elza Monnerat foram para a selva do Araguaia, no Sul do estado
do Pará, preparar a implantação de um núcleo do que seria a guerra popular.
Além das tarefas práticas, Maurício Grabois e João Amazonas escreveram os
estratégicos textos Atualidade do pensamento de Lênin e Cinquenta anos de Luta
— o primeiro uma crítica à tese do “Pensamento de Mao Tse-tung” como “nova
etapa do marxismo” e o segundo um retrospecto das atividades ininterruptas do
Partido Comunista do Brasil.
Para João Amazonas, Maurício Grabois foi o grande
amigo, o grande camarada. “O Maurício Grabois foi um dos maiores propagandistas
que o Partido já teve, um homem de muitas ideias”, afirmou. Em sua sala, na
velha sede nacional do PCdoB na Rua Major Diogo, em São Paulo, João Amazonas
conservava um quadro com a foto de Maurício Grabois em posição mais destacada
entre outras referências comunistas. Ele também lembrou da constituinte de
1946, “na qual Maurício Grabois teve uma presença de espírito muito grande”.
Nas entrevistas que fiz para o livro Maurício
Grabois — uma vida de combates, a admiração por ele foi unânime. Segundo Renato
Rabelo, atual presidente nacional do PCdoB, João Amazonas lembrava do Maurício
Grabois em tudo. “Era, na opinião dele, talvez o maior dirigente que o Partido
teve”, disse. “Eles deviam ter uma ligação de amizade muito forte”, afirmou.
Edíria Carneiro, a companheira de João Amazonas, ao
buscar na memória lembranças de Maurício Grabois estampava no rosto um
semblante de carinho e bom humor. “Ele era muito engraçado”, disse ela, com o
pensamento longe. Armênio Guedes, que morou com ele nos tempos da revista
Continental, lembrou: “Era de um temperamento afável no trato com as pessoas,
um sujeito de muita compreensão com o lado humano do militante. O Grabois e o
Amarílio eram educados, não eram mandonistas.”
Do mesmo modo, Jacob Gorender lembrou de Maurício
Grabois com reverência. “Tenho dele as melhores recordações. Era afável, fácil
de se conversar. Foi um grande camarada, isso é fora de dúvida”, disse. Na sala
de sua residência repleta de livros, de pé na porta, com a entrevista já
encerrada, Gorender disse: “Não esqueça de registrar minha grande admiração por
Maurício Grabois. Foi uma pessoa distinta. Estivemos em campos diferentes, mas
isso nada tem a ver com sua integridade, simpatia e camaradagem.”
Diógenes Arruda Câmara, em artigo publicado no
jornal A Classe Operária de setembro/outubro de 1978, disse que “considerável
foi sua atividade, tanto político-ideológica como prática, no trabalho de
reorganização marxista-leninista do Partido de 1961 a 1962, contribuindo de
forma destacada, juntamente com o camarada Amazonas, para o esclarecimento de
importantes problemas da revolução brasileira e na elaboração do Programa do
Partido, aprovado na Conferência Nacional Extraordinária de fevereiro de 1962”.
Sobre a atuação de Maurício Grabois na Guerrilha do
Araguaia, Arruda afirmou: “Ali esteve desde os primeiros momentos, ali conviveu
com as massas exploradas e oprimidas e sentiu sua grande revolta, ali atuou
abnegadamente ombro a ombro com todos os camaradas, ali colaborou na elaboração
de valiosos documentos políticos e militares, ali comandou as Forças
Guerrilheiras do Araguaia, ali tombou como um bravo. Caiu com glória, caiu de
arma na mão naquele campo de batalha da luta de classes, no Araguaia — ponto
alto da referência da luta revolucionária e libertadora de nosso povo.”
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