Natasha Pitts
Jornalista da Adital
Publicado em “Outras Midias”
Na última quarta-feira, o Comitê da Verdade,
Memória e Justiça do Amazonas fez chegar às mãos do Ministério Público Federal
(MPF) deste estado brasileiro e à Comissão Nacional da Verdade um relatório que
conta detalhadamente as violações de direitos e o massacre sofrido pelo povo
indígena Waimiri-Atroari durante a construção da BR-174 (Manaus - Boa Vista) no
período da Ditadura Militar.
Egydio Schwade, indigenista e membro do Comitê da
Verdade estadual, explica que sua motivação para começar a investigar o que
aconteceu com os Waimiri-Atroari se deu porque nunca se falava em desaparecidos
políticos indígenas.
"Eu fiquei intrigado porque só se falava dos
desaparecidos políticos não indígenas. E os povos indígenas que sofreram
genocídio neste período? Então quando a Dilma [Rousseff – presidenta] lançou a
Comissão da Verdade Nacional comecei a levantar a questão dos Waimiri-Atroari e
fui postando artigos no blog. No 4º artigo fui processado pelo Programa
Waimiri-Atroari. Em março, quando a Comissão da Câmara começou a forçar a
criação da Comissão da Verdade eles começaram a investigar a questão indígena e
me chamaram”, explicou a criação do Comitê, ressaltando que não apenas os
Waimiri-Atroari foram dizimados neste período.
O relatório, o primeiro do Comitê da Verdade, Memória e Justiça do Amazonas, conta com mais de 100 documentos anexados e 200 documentos referenciados. A primeira parte faz um levantamento de dados demográficos e mostra como os indígenas foram desaparecendo rapidamente após a penetração do Exército nas terras indígenas Waimiri-Atroari. "Em 1968 eles eram três mil e em 1973 menos de mil. Já em 1983 detectou-se que eles somavam-se apenas 332 pessoas”, contou.
O relatório, o primeiro do Comitê da Verdade, Memória e Justiça do Amazonas, conta com mais de 100 documentos anexados e 200 documentos referenciados. A primeira parte faz um levantamento de dados demográficos e mostra como os indígenas foram desaparecendo rapidamente após a penetração do Exército nas terras indígenas Waimiri-Atroari. "Em 1968 eles eram três mil e em 1973 menos de mil. Já em 1983 detectou-se que eles somavam-se apenas 332 pessoas”, contou.
Alguns capítulos são reservados para constatações
demográficas e outros para relatos detalhados dos próprios indígenas. Egydio
explica que na oportunidade de contar sua história, os indígenas denunciaram
bombardeios, uso de metralhadoras, granadas e assassinatos de outros indígenas,
sobretudo homens, por eletrocussão.
Também é relatada a verdadeira motivação para a
construção da rodovia BR 174, que liga Manaus a Boa Vista e atravessa o
território Waimiri-Atroari. O indigenista relata que a intenção era chegar a
minas e fontes de energia. Como os indígenas foram contrários à obra, se
converteram em empecilho e consequentemente foram sendo rapidamente eliminados.
O documento também analisa o método de pacificação da Fundação Nacional do
Índio (Funai) à época, considerado repressivo.
"Nós queremos apenas que se mude a história de
relacionamento da sociedade com este povo. Hoje, segue a mesma política de
ocultamento dos povos indígenas e de sua história de luta e resistência.
Queremos que este povo seja ouvido e que seja protegida e garantida a posse de
suas terras e territórios daqui para o futuro. Queremos que eles possam sentir
que a sociedade não é contra eles”, manifestou Egydio Schwade.
Esta denúncia foi apenas a primeira. O Comitê da
Verdade do Amazonas já está trabalhando na investigação de dois casos de não
indígenas amazonenses mortos no período da ditadura militar, e no genocídio de
outros povos indígenas como os Cinta Larga e os Piriutiti.
Nenhum comentário:
Postar um comentário