terça-feira, outubro 09, 2012

SE REALIZAMOS COM COMPETENCIA UMA GRANDE ELEIÇÃO, PORQUE NÃO REALIZARMOS A "COPA DO MUNDO" E OUTROS EVENTOS!


Competência nós Temos


JAIME SAUTCHUK (*)

Foram mais de 500 mil urnas eletrônicas que chegaram ao seu destino no prazo certo e funcionaram direitinho tanto no centro de São Paulo quanto na mais recôndita comunidade da Amazônia. Milhares de pessoas trabalhando para que quase 140 milhões de brasileiros tivessem a possibilidade de votar. E para que duas horas depois de fechadas as urnas o país já soubesse seus resultados.

Foi encantador o sucesso das eleições municipais do último domingo, sob a coordenação do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Ocorrências de quebras de regras, como a boca de urna ilegal, e falhas em equipamentos foram tão poucas e tão prontamente resolvidas que passaram despercebidas. E a eficácia do sistema não deixou margens a qualquer dúvida sobre os resultados das urnas.

É certo que o sistema eleitoral brasileiro, de pouca idade, é tido hoje como o mais moderno e confiável do mundo. O que se fez agora foi introduzir novos melhoramentos que facilitam o processo para o eleitor e ao mesmo tempo o tornam mais ágil e seguro para quem cuida da parte operacional, o que inclui a segurança das informações e das pessoas envolvidas no gigantesco evento.

É certo que a abstenção foi além do que se esperava e das marcas históricas. A média nacional de eleitores que deixaram de votar foi de 16% e, em cidades como São Luiz, Salvador e São Paulo chegou a 19%. No Rio, foi a 20%. Em 2008, a média nacional foi de 14% e já era tida como alta.

A nova legislação eleitoral, que restringe a ação de cabos eleitorais, por exemplo, talvez tenha contribuído para a queda na mobilização. Mas é um mal necessário. A mobilização se corrige, já corrupção, como o voto de cabresto, é mais complicada.

Na Venezuela, que teve eleições presidenciais no mesmo dia e onde o voto é facultativo, a abstenção foi de apenas 12%. E levando-se em conta que o vizinho país implantou de vez a tecnologia brasileira de urnas eletrônicas e sistema de apuração. Também lá, duas horas após o fechamento das urnas sabia-se o resultado, que deu vitória ao presidente Hugo Cháves.

No frigir dos ovos, portanto, tira-se disso um sentimento de que nós, brasileiros, temos capacidade de organizar qualquer tipo de evento, nas dimensões que se fizerem necessárias. E isso vale, pois, para os eventos esportivos que vêm por aí, em especial a Copa do Mundo de Futebol, em 2014, e as Olimpíadas, em 2016.

Ao fazermos uma analogia entre as eleições e os eventos esportivos, entretanto, vemos que neste outro setor o buraco é mais embaixo. Também nos esportes, quem traça as linhas de ação e financia os eventos é o poder público. Mas, neste caso, quem põe a coisa para funcionar são as entidades esportivas, ainda eivadas de cartolas incompetentes e corruptos, mas ricos. E que se agarram aos seus poleiros com unhas e dentes, décadas a fio.

No futebol, o comando da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) é do histórico antro de cartolas da dinastia de João Havelange e seu ex-genro Ricardo Teixeira, que há seis décadas mantêm a entidade nas listas de fichas sujas. As falcatruas que praticam, usando entidades como biombos, são por demais conhecidas e condenadas mundo afora, mas não há quem os coloque atrás das grades.

Nos esportes olímpicos, quem dá as cartas por aqui é o Comitê Olímpico Brasileiro (COB), há décadas também controlado por outra dinastia, a de Carlos Arthur Nuzmann. Aliás, seu grupo acaba de ser reeleito, em pleito de chapa única, para mais um mandato, que vai até 2017. Ou seja, até depois das Olimpíadas de 16.

Os cerca de R$ 550 milhões investidos pelo TSE nestas eleições municipais – o que mereceu críticas de diversos setores -- são fichinha perto do que se gasta em esportes. Mesmo levando-se em conta que parte desses recursos vai para a sustentação de atletas já formados nas modalidades olímpicas. Mas, ainda faltam políticas de universalização do acesso, que deveria ocorrer principalmente na escola.

Em ambos os casos, as atividades e os atletas envolvidos nas competições são frutos de escolha dos cartolas. No futebol, a prioridade é a seleção principal, onde corre muita grana. Até mesmo no comércio de jogadores. Afinal, um convocado tem seu valor de passe multiplicado por muitas vezes de uma hora para outra.

É público e notório o jogo de interesses que envolvem a convocação de jogadores para selecionados. Isso explica, também, porque o Brasil armazena bons resultados em copas do mundo, por exemplo, mas não consegue ganhar campeonatos de categorias inferiores ou mesmo faturar o esperado ouro olímpico no futebol.

Nos esportes olímpicos é a mesma coisa. Algumas modalidades são tratadas com muito mimo e muita grana. É o caso do vôlei, por exemplo, esporte de origem de Nuzmann e da maior parte dos demais dirigentes do COB. E que também tem um forte mercado de jogadores e jogadoras.

O atleta individual (um fundista, por exemplo), contudo, surge ao acaso, por esforço próprio e não por mérito de alguma política que de fato torne o acesso universal. São meninos e meninas laçados ao acaso, por pura sorte.

Ou seja, para que a gente demonstre nossa competência também em eventos esportivos, há que se jogar pesado com essas entidades e seus cartolas.

Ou, então, convoquemos o TSE!

*Jaime Sautchuk é jornalista, escritor, lutador pela Paz, ambientalista e revolucionário de primeira hora





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