Seu Anivaldo conta como a Ditadura, além de tentar liquida-lo, o impediu de vivenciar a infancia do Filho Alexandre Padilha(abaixo),hoje Ministro da Saude!!
Vale
a pena ler esta entrevista. Mostra como a Ditadura triturou família, rompeu laços, fez-se perder infâncias e
vivencias entre famílias.Emocionante a entrevista com o pai de Alexandre
Padilha, ministro da Saúde, obrigado a fugir do país depois de torturado e
abandonar a mulher grávida. Seu Anivaldo só conheceu Padilha aos 8 anos, perdeu
toda a primeira infância de seu primeiro filho devido à ditadura militar.
Ao iG, pai
de ministro narra a dor de viver longe do filho durante a ditadura
Anivaldo
Padilha, pai do ministro da Saúde, Alexandre Padilha, teve de fugir do País
quando a mulher estava grávida e só conheceu o filho oito anos depois. Ele diz
que a distância foi a pior das torturas: ‘É uma dívida que a ditadura tem
comigo’, e cobra punição dos torturadores
Por:Nara Alves, iG São Paulo
Com voz suave e afável, Anivaldo Padilha narra com precisão como foi amarrado nu a uma cadeira elétrica durante dias consecutivos no presídio Tiradentes – o mesmo onde a presidenta Dilma Rousseff esteve detida – no centro de São Paulo em fevereiro de 1970. Em entrevista ao iG, ele conta como fugiu do Brasil quando sua companheira estava grávida do filho mais velho, o agora ministro da Saúde, Alexandre Padilha. “As dores da tortura não foram tão fortes nem tão severas quanto as dores de sair nessas circunstâncias”, lembra.
Com voz suave e afável, Anivaldo Padilha narra com precisão como foi amarrado nu a uma cadeira elétrica durante dias consecutivos no presídio Tiradentes – o mesmo onde a presidenta Dilma Rousseff esteve detida – no centro de São Paulo em fevereiro de 1970. Em entrevista ao iG, ele conta como fugiu do Brasil quando sua companheira estava grávida do filho mais velho, o agora ministro da Saúde, Alexandre Padilha. “As dores da tortura não foram tão fortes nem tão severas quanto as dores de sair nessas circunstâncias”, lembra.
No último
dia 22 de maio, mais de 40 anos depois, a União reconheceu oficialmente que
errou ao torturar aquele jovem militante da causa cristã e democrática. Por
unanimidade, a Comissão de Anistia pediu perdão, declarou a condição de
anistiado político a Padilha e o indenizou em R$ 230 mil. Agora, seu processo
foi encaminhado à Comissão da Verdade e ao Ministério Público, para que os
responsáveis pelas torturas e pelo seu exílio possam ser julgados.
“É uma
dívida que a ditadura tem comigo e com meu filho que jamais vai ser paga porque
eu fui privado de ter contato com ele na primeira infância. Só pude conhecê-lo
pessoalmente quando ele já estava com oito anos de idade”, afirma emocionado.
No exílio, Padilha se casou com uma americana e teve dois filhos, que se
correspondiam com o meio-irmão brasileiro por meio de gravações em fitas k7 e
desenhos.
Com a Lei da Anistia, em 1979, Padilha voltou ao Brasil e trouxe a
nova família, mas sua mulher não se adaptou e retornou aos EUA, abrindo mão da
guarda dos dois filhos. Há 15 anos, ele se casou novamente e hoje, aos 72 anos,
é pai de uma pré-adolescente. A militância continua a fazer parte da vida de
Padilha. Em junho, participou da conferência Rio+20 com um grupo
da Igreja Metodista – denominação protestante da qual é membro desde a infância
–, Anivaldo Padilha pede mudanças no desenvolvimento econômico. “O atual modelo
de desenvolvimento é predador, sem quase nenhuma preocupação sócio-ambiental”,
diz.
A noção de
que sua vida pertence a Deus e às causas populares o salvou de cometer suicídio
em 1970 e o mantém na ativa até hoje. Sempre vinculado às ações da igreja, mas
com posições nada conservadoras, Padilha segue defendendo os mesmos princípios
de liberdade de expressão. Na Parada Gay, ajudou a criar um bloco de religiosos
contra a homofobia e de incentivo à distribuição de preservativos. São passos
importantes em direção à consolidação da democracia, segundo ele.
Padilha
considera que ainda há no País uma herança da ditadura militar que permeia o
cotidiano de todo cidadão, impedindo que a sociedade dê um ponto final nesse
passado precariamente esclarecido. “Precisamos acelerar o processo de
redemocratização”, diz. Para isso, defende, são necessárias a revisão da Anistia,
a divulgação de documentos, a abertura de arquivos, a Comissão da Verdade e,
como espera há décadas, a condenação dos culpados.
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