O DEBATE DO FIM DO MUNDO”.
Luiz Carlos Antero*
Até o momento me abstive da participação neste debate por
considerar que: (1) o seu nível está rebaixado ao nível da mais obscura
pendenga eleitoral; (2) a vida não se resume a eleições como também não repousa
em festivais, dizia o poeta, ou nos eventos apaixonantes e fugazes do futebol;
(3) para debater racionalmente é necessário o respeito, a serenidade, a
parcimônia e a sapiência que determina a nossa condição humana. É isso que nos
distingue dos orangotangos do reino animal. Emocionalmente não se consegue
conclusões no elevado rumo requerido pela política e pela sociedade. Depois das
urnas a realidade glorifica os vitoriosos e desaba sobre os derrotados de modo
implacável. Quem está preparado apenas para vencer (em quaisquer modalidades)
entra em crise e emerge depois com raiva da humanidade, a quem atribui seu
infortúnio e mazelas de um modo geral. E não consegue contribuir com a vida
real e com suas transformações, limitando-se a esperar a hora do revanche... ou
da vingança. A reação de uma parcela dos petistas (ou de seu entorno) à posição
adotada pelo PCdoB tem sido de fato entre o bizarro e o patético e, por sua
natureza antidemocrática (como a atitude de forçar as pessoas a fazer campanha,
sem opção), de direita. Não indica a postura de quem confia na vitória (que não
se descarta) e, pelo contrário, parece em desespero pela iminência de uma
inaceitável derrota. Os xingamentos, impropérios, ofensas, enfim, o desrespeito
a um aliado que exerceu um papel decisivo nas mudanças verificadas no país no
atual século e no século passado, apoiando o Lula desde a primeira eleição e
estimulando a unidade popular em torno de uma frente enfim vitoriosa em 2002,
revelam um primitivismo antropofágico e uma absoluta irracionalidade. (Segue o
pensamento noutra postagem).
Parte 2
O debate do "fim do mundo" (II). Prossigo
informando que o lúcido exame do momento político (eleitoral), embora rebaixado
pela agressividade, não requer que se responda com ofensas, xingamentos e mais
impropérios mesmo o mais tosco e desinformado dos argumentos. Mas alguns
aspectos da vida precisam ser relembrados para que se possa avançar. O Partido
Comunista do Brasil, não obstante qualquer incompreensão, nasceu ainda no
primeiro quartel do século passado, participou de todas as lutas relevantes do
povo brasileiro e não veio ao mundo, portanto, para servir ao PT ou a qualquer
outra força política. Muito embora, note-se, tenha como valores de extrema
centralidade a solidariedade, a lealdade, o respeito aos seus aliados na
construção de uma nova sociedade soberana, justa e democrática, isso não o
torna capacho de dinastias ou oligarquias de qualquer extração. Entre erros,
que serviram a um duro aprendizado, e acertos, construiu seu perfil de partido
político e seu caminho. Juntamente com outras organizações que resistiram à
ditadura militar, é responsável, na linha de frente, na vanguarda, pelo
ambiente de liberdades políticas que vivemos e compartilhamos hoje, do qual o
PT, nascido há pouco mais de 30 anos, é um destacado beneficiário. Dezenas de
comunistas, mártires e heróis do povo brasileiro, foram os protagonistas desta
epopeia libertária que percorreu episódios marcantes, pacíficos ou armados, como
a Semana de Arte Moderna, a Revolta do Forte de Copacabana, a Coluna Prestes, o
levante de 1935, as lutas em defesa do monopólio estatal do petróleo, a
Guerrilha do Araguaia e inúmeros outros. Em 90 anos, foram poucos os momentos
de legalidade e participação eleitoral, destacando-se o atual período, desde
1985, como o mais prolongado. Firmou-se como a força política das liberdades
democráticas: seu presidente de honra, João Amazonas de Souza Pedroso,
costumava dizer que "o PCdoB não faz proselitismo da luta armada, mas onde
houver ameaça às liberdades, lá estarão os comunistas de armas na mão para
defendê-las". E foi o peso dessa determinação que abreviou a vigência do
regime militar, após três anos de resistência nas selvas do Araguaia e o temor
da existência de um novo planejamento estratégico neste rumo - da violência
revolucionária. Entre seus acertos, conduzidos por sua linha política de
princípios, ampla e flexível, de radicalizar ampliando e ampliar radicalizando,
estiveram a defesa de todas as bandeiras democráticas até as eleições diretas
para presidente, apoiando em seguida a candidatura Luiz Inácio Lula da Silva em
1989, 1994, 1998, 2002, 2006 e a candidatura Dilma em 2010. Entre seus erros,
destaca-se o de não ter lançado candidatura própria à Prefeitura de Fortaleza
em 2008, ao avaliar a gestão pública que marcou a cidade a partir de 2004.
Parte 3
O debate do "fim do mundo" (III). Dos partidos
políticos que compõem a base parlamentar dos governos Lula e Dilma, o PSB é o
segundo mais antigo da História da República. Socialistas e comunistas, sem
examinar as características internas de um e de outro, e longe do absurdo de
pretender ou praticar ingerência nos assuntos internos de um ou de outro,
conviveram em inúmeras lutas, entre as quais esteve a da defesa da soberania
nacional e do monopólio estatal do petróleo. O PDT, se levarmos em conta suas
origens no trabalhismo, é ainda mais antigo. Foi a inspiração de João Amazonas
que protagonizou a amplitude da Frente Brasil Popular, atraindo José Paulo
Bisol, do PSB, lá no Rio Grande, para ser o vice-presidente de Lula em 1989. E,
em seguida, de unir Leonel Brizola e Lula, que haviam perdido em 1989 e 1994,
aproximando-os nas eleições de 1998, quando um foi o vice do outro, numa
aliança até ali inimaginável. Desde a vitória de 2002, os três partidos (PCdoB,
PSB e PDT), entre outros, caminharam unidos na base governista de Lula e Dilma
e, sem nenhuma interferência presidencial, chegaram a se articular num bloco
popular do qual o PT não participou. Nas eleições municipais em curso, Lula e
Dilma estão pessoalmente envolvidos na campanha de Vanessa Grazziotin, do
PCdoB, para a Prefeitura de Manaus, em choque aberto com o candidato da
direita, Arthur Virgílio. E foram (e vão) a capital do Amazonas, além de gravar
para o programa de TV e participar de comício. Então, nenhuma tendência (das
diversas) do PT tem legitimidade para desacatar uma força política assim
respeitada por sua História e que, mesmo nas circunstâncias da disputa
eleitoral, não descuida de sua lealdade, solidariedade e respeito à verdade. No
episódio da farsa denominada "mensalão", denunciou a prosaica obra da
eclética elite conservadora brasileira (a mais vagabunda do planeta, de acordo
com os sábios), herdeira do contratador geral do império, do banqueiro Daniel
Dantas, da turma neoliberal de Serra e FHC et caterva. Também denunciou a
coincidência entre o julgamento, as eleições e a sintonia fina da alta corte
com a sórdida grande imprensa e sua igualmente sórdida iniciativa de determinar
o rumo das eleições e seus resultados.
E, mais que isso, a iniciativa de reprisar no Brasil, os golpes
institucionais que derrubaram os presidentes (constitucionalmente eleitos e
empossados) Manuel Zelaya e Fernando Lugo, de Honduras e do Paraguai. Mas, aqui
em Fortaleza, uma tendência do PT pensaria em reconstruir o mundo a sua imagem
e semelhança? Não seria melhor aproveitar a próxima visita de Lula para
conhecer sua opinião sobre o PCdoB, a relação histórica e atual, as
perspectivas que temos concertado acerca da consolidação da vitória contra as
forças reacionárias e neoliberais? E até procurar saber por que a vice
candidata na chapa do Haddad pertence ao PCdoB? Enfim, compreender melhor a
estupidez reativa à aliança com o PSB neste segundo turno. É Roberto Cláudio 40
e o PCdoB nem precisa explicar suas razões, pois, há muito e desde o berço, é
uma força política soberana e independente.
*Antero é jornalista, sociólogo, veterano comunista e revolucionário,
morador de Fortaleza e cidadão do mundo!!
Um comentário:
Bela aula de história e de política, reafirmando nossa independência e nossas convicções.
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