quinta-feira, outubro 18, 2012

Segundo turno em Fortaleza provoca instigante debate!!


O DEBATE DO FIM DO MUNDO”.
Luiz Carlos Antero*

Até o momento me abstive da participação neste debate por considerar que: (1) o seu nível está rebaixado ao nível da mais obscura pendenga eleitoral; (2) a vida não se resume a eleições como também não repousa em festivais, dizia o poeta, ou nos eventos apaixonantes e fugazes do futebol; (3) para debater racionalmente é necessário o respeito, a serenidade, a parcimônia e a sapiência que determina a nossa condição humana. É isso que nos distingue dos orangotangos do reino animal. Emocionalmente não se consegue conclusões no elevado rumo requerido pela política e pela sociedade. Depois das urnas a realidade glorifica os vitoriosos e desaba sobre os derrotados de modo implacável. Quem está preparado apenas para vencer (em quaisquer modalidades) entra em crise e emerge depois com raiva da humanidade, a quem atribui seu infortúnio e mazelas de um modo geral. E não consegue contribuir com a vida real e com suas transformações, limitando-se a esperar a hora do revanche... ou da vingança. A reação de uma parcela dos petistas (ou de seu entorno) à posição adotada pelo PCdoB tem sido de fato entre o bizarro e o patético e, por sua natureza antidemocrática (como a atitude de forçar as pessoas a fazer campanha, sem opção), de direita. Não indica a postura de quem confia na vitória (que não se descarta) e, pelo contrário, parece em desespero pela iminência de uma inaceitável derrota. Os xingamentos, impropérios, ofensas, enfim, o desrespeito a um aliado que exerceu um papel decisivo nas mudanças verificadas no país no atual século e no século passado, apoiando o Lula desde a primeira eleição e estimulando a unidade popular em torno de uma frente enfim vitoriosa em 2002, revelam um primitivismo antropofágico e uma absoluta irracionalidade. (Segue o pensamento noutra postagem).
Parte 2
O debate do "fim do mundo" (II). Prossigo informando que o lúcido exame do momento político (eleitoral), embora rebaixado pela agressividade, não requer que se responda com ofensas, xingamentos e mais impropérios mesmo o mais tosco e desinformado dos argumentos. Mas alguns aspectos da vida precisam ser relembrados para que se possa avançar. O Partido Comunista do Brasil, não obstante qualquer incompreensão, nasceu ainda no primeiro quartel do século passado, participou de todas as lutas relevantes do povo brasileiro e não veio ao mundo, portanto, para servir ao PT ou a qualquer outra força política. Muito embora, note-se, tenha como valores de extrema centralidade a solidariedade, a lealdade, o respeito aos seus aliados na construção de uma nova sociedade soberana, justa e democrática, isso não o torna capacho de dinastias ou oligarquias de qualquer extração. Entre erros, que serviram a um duro aprendizado, e acertos, construiu seu perfil de partido político e seu caminho. Juntamente com outras organizações que resistiram à ditadura militar, é responsável, na linha de frente, na vanguarda, pelo ambiente de liberdades políticas que vivemos e compartilhamos hoje, do qual o PT, nascido há pouco mais de 30 anos, é um destacado beneficiário. Dezenas de comunistas, mártires e heróis do povo brasileiro, foram os protagonistas desta epopeia libertária que percorreu episódios marcantes, pacíficos ou armados, como a Semana de Arte Moderna, a Revolta do Forte de Copacabana, a Coluna Prestes, o levante de 1935, as lutas em defesa do monopólio estatal do petróleo, a Guerrilha do Araguaia e inúmeros outros. Em 90 anos, foram poucos os momentos de legalidade e participação eleitoral, destacando-se o atual período, desde 1985, como o mais prolongado. Firmou-se como a força política das liberdades democráticas: seu presidente de honra, João Amazonas de Souza Pedroso, costumava dizer que "o PCdoB não faz proselitismo da luta armada, mas onde houver ameaça às liberdades, lá estarão os comunistas de armas na mão para defendê-las". E foi o peso dessa determinação que abreviou a vigência do regime militar, após três anos de resistência nas selvas do Araguaia e o temor da existência de um novo planejamento estratégico neste rumo - da violência revolucionária. Entre seus acertos, conduzidos por sua linha política de princípios, ampla e flexível, de radicalizar ampliando e ampliar radicalizando, estiveram a defesa de todas as bandeiras democráticas até as eleições diretas para presidente, apoiando em seguida a candidatura Luiz Inácio Lula da Silva em 1989, 1994, 1998, 2002, 2006 e a candidatura Dilma em 2010. Entre seus erros, destaca-se o de não ter lançado candidatura própria à Prefeitura de Fortaleza em 2008, ao avaliar a gestão pública que marcou a cidade a partir de 2004.
Parte 3
O debate do "fim do mundo" (III). Dos partidos políticos que compõem a base parlamentar dos governos Lula e Dilma, o PSB é o segundo mais antigo da História da República. Socialistas e comunistas, sem examinar as características internas de um e de outro, e longe do absurdo de pretender ou praticar ingerência nos assuntos internos de um ou de outro, conviveram em inúmeras lutas, entre as quais esteve a da defesa da soberania nacional e do monopólio estatal do petróleo. O PDT, se levarmos em conta suas origens no trabalhismo, é ainda mais antigo. Foi a inspiração de João Amazonas que protagonizou a amplitude da Frente Brasil Popular, atraindo José Paulo Bisol, do PSB, lá no Rio Grande, para ser o vice-presidente de Lula em 1989. E, em seguida, de unir Leonel Brizola e Lula, que haviam perdido em 1989 e 1994, aproximando-os nas eleições de 1998, quando um foi o vice do outro, numa aliança até ali inimaginável. Desde a vitória de 2002, os três partidos (PCdoB, PSB e PDT), entre outros, caminharam unidos na base governista de Lula e Dilma e, sem nenhuma interferência presidencial, chegaram a se articular num bloco popular do qual o PT não participou. Nas eleições municipais em curso, Lula e Dilma estão pessoalmente envolvidos na campanha de Vanessa Grazziotin, do PCdoB, para a Prefeitura de Manaus, em choque aberto com o candidato da direita, Arthur Virgílio. E foram (e vão) a capital do Amazonas, além de gravar para o programa de TV e participar de comício. Então, nenhuma tendência (das diversas) do PT tem legitimidade para desacatar uma força política assim respeitada por sua História e que, mesmo nas circunstâncias da disputa eleitoral, não descuida de sua lealdade, solidariedade e respeito à verdade. No episódio da farsa denominada "mensalão", denunciou a prosaica obra da eclética elite conservadora brasileira (a mais vagabunda do planeta, de acordo com os sábios), herdeira do contratador geral do império, do banqueiro Daniel Dantas, da turma neoliberal de Serra e FHC et caterva. Também denunciou a coincidência entre o julgamento, as eleições e a sintonia fina da alta corte com a sórdida grande imprensa e sua igualmente sórdida iniciativa de determinar o rumo das eleições e seus resultados.  E, mais que isso, a iniciativa de reprisar no Brasil, os golpes institucionais que derrubaram os presidentes (constitucionalmente eleitos e empossados) Manuel Zelaya e Fernando Lugo, de Honduras e do Paraguai. Mas, aqui em Fortaleza, uma tendência do PT pensaria em reconstruir o mundo a sua imagem e semelhança? Não seria melhor aproveitar a próxima visita de Lula para conhecer sua opinião sobre o PCdoB, a relação histórica e atual, as perspectivas que temos concertado acerca da consolidação da vitória contra as forças reacionárias e neoliberais? E até procurar saber por que a vice candidata na chapa do Haddad pertence ao PCdoB? Enfim, compreender melhor a estupidez reativa à aliança com o PSB neste segundo turno. É Roberto Cláudio 40 e o PCdoB nem precisa explicar suas razões, pois, há muito e desde o berço, é uma força política soberana e independente.
*Antero é jornalista, sociólogo, veterano comunista e revolucionário, morador de Fortaleza e cidadão do mundo!!

Um comentário:

nereu Ceni disse...

Bela aula de história e de política, reafirmando nossa independência e nossas convicções.